Fabiano Oliveira [*]

Foto: Monique Eidy

 

A violência é de fato uma chaga social. Na escola, ainda nos anos 90, ela era apenas tema de redações ou capítulos de livros, mas, nessa mesma década, começa a frequentar as instituições de ensino. Hoje, tem cadeira cativa na sala de aula. Mas, que fatores estão relacionados com a presença constante dela em nossas salas?

Foto: Divulgação /Arquivo Pessoal – Fabiano Oliveira

Costumo dizer que a sala de aula é uma continuidade da sociedade, ou seja, é um reflexo e representa-a em todos os aspectos. A impressão que tenho é que ela (a violência) está sempre lá, pronta para surgir num cerne que deveria ser de amor e de aprendizagem. Está matriculada como qualquer outro aluno. Alguns estudiosos tentam procurar os fatores, os culpados e motivos. Diante da complexidade e como sujeito atuante, noto que já não há mais fronteiras entre a escola e a violência das ruas. Os muros que protegiam alunos e professores foram derrubados e pela escola espalham-se agressões, roubos de celulares e confrontos entre facções. Ninguém está livre de ser a próxima vítima. A pergunta que fica é: Por que o ambiente escolar, visto como local de segurança nos anos 90, tornou-se um ambiente do medo na atualidade?

A resposta pode ser sintetizada da seguinte forma: A escola está na sociedade, é parte dela e tem em seu bojo todas as personalidades. A sociedade está doente, a escola, por sua vez, também. O comportamento violento de alguns alunos vira tema de debates e o que não sobram são tentativas de encontrar os culpados.

Psicólogos (alguns) e educadores apontam como culpada a educação recebida em casa, principalmente nesta década. Os pais são permissivos em relação ao comportamento de seus filhos ou muito agressivos e a cultura da permissividade ou da agressividade acaba sendo implantada na sala de aula. O conceito de educação mudou e os pais (alguns) acabam transferindo para a escola, um papel que deve ser deles. Cabe à escola ensinar o conhecimento científico e não “ensinar conceitos de comportamento como ‘não pode bater, não pode gritar e não pode machucar o próximo”. Na atualidade, quem se habilita a ‘exigir’ uma atividade de um aluno? Quem se habilita a mandar um recado para alguns pais? Quem se habilita pode ser a última.

No passado, os pais visitavam a escola para saber como estavam os filhos, hoje, as visitas acontecem para saber como “estão os professores”. É a cultura da inversão de princípios, tão em voga em todos os setores de nossa sociedade. No entanto, o que se nota é que, no ambiente escolar, há falta de valores familiares para muitos e isso é de fato um dos motivos de tanta violência.

Neste contexto conflituoso, a figura do professor, de modo geral, é vista como empecilho, é vista como barreira para o aluno “chegar ao diploma”. É ele o alvo do ódio e o primeiro a ficar frente a frente com a indesejada da sala. Isso fica evidente quando somos procurados por familiares e ouvimos frases como: “Ele só ficou reprovado em você”, como se o professor tivesse “reprovado o aluno” e não “o aluno se reprovado”. Desta forma, tudo vira arma, a cadeira, a caneta, a maçaneta da porta, as palavras.

O que se pode afirmar diante da complexidade do problema é que fatores de exclusão social e a falta de perspectivas em relação ao futuro profissional e acadêmico, bem com o uso de drogas em geral, são pontos importantes que contribuem para a permanência da violência no ambiente escolar. E assim, a sala de aula, outrora, ambiente de amor à aprendizagem, torna-se um campo de guerra, em vez de conhecimento, o terror. – E atenção para a chamada:  Violência! – Presente, professor.

[*] É especialista em Língua Portuguesa e Produção textual. Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Sergipe. Professor da Rede Estadual de Ensino e Especialista em Concursos e Enem.