Fabiano Oliveira [*]

As palavras são impacientes como seus falantes, não são? Muitas mudam de sentido e nós nem nos damos conta disso. Vocábulos comuns aos nossos ouvidos e que trazem histórias curiosas. No artigo de hoje, o Evidencie-se.com traz a história de algumas termos e seus sentidos. Vamos viajar?

Você já parou para pensar que as palavras são semelhantes aos seres humanos? Elas envelhecem, mudam, transformam-se ou desaparecem. A evolução e a forma como as palavras se apresentam são estudadas pela etimologia. Não raro, o sentido atual em nada lembra a origem, chegando a ser contraditório. Tomemos como exemplo o adjetivo “formidável”, considerado um elogio, seu sentido atual opõe-se à origem: 1 Pavoroso temeroso. 2 Que impõe respeito. 3 De extraordinárias dimensões. 4 Que desperta admiração ou entusiasmo. 5 Excelente, ótimo. Com o passar dos séculos, os vocábulos vão mudando e ganhando novos significados em contextos diversos, no entanto, esta mudança não é perceptível aos usuários dá língua que já a encontra em estado sempre atual.

As palavras estão sempre disponíveis para serem reutilizadas. Um povo tem a língua de que precisa e quando uma palavra não é mais usada, acaba em desuso e desaparecendo ou perdendo seu sentido de origem. “Armário” é um bom exemplo, note que traz na estrutura a ideia de “local para guardar armas”, hoje, local para guardar vários utensílios de cozinha ou compras de supermercado ou parte da expressão “sair do armário”, relacionada à pessoa que revela orientação sexual.

Fotos: Monique Eidy

Na Roma antiga, “piscina” nunca foi para nadar e sim para criar peixe, observe o radical da palavra. O mesmo aconteceu com “aquário” que apresenta a ideia de “água” em seu radical. Em outras palavras, em português tiveram seus sentidos trocados: Nadamos onde criávamos peixe e criamos peixe onde deveríamos nadar. Outro termo interessante é “almofadinha”. Além de diminutivo de almofada, também pode fazer referência a “homem que se veste elegante demais”. O novo sentido surgiu por volta de 1919, no Rio de Janeiro, devido a um concurso somente para rapazes elegantes e delicados. O que eles tinham que fazer? Pintar a mais bela almofada! O vencedor tornou-se “almofadinha”. Eu, hein!?

“Temos rameiras”, já imaginou uma placa com este anúncio? A terminação “eira” designa quem exerce uma profissão, principalmente, no português de Portugal. Assim, temos enfermeira, cozinheira, engenheira e “rameira”. Na terra de nossos antigos colonos, se uma taberna queria mostrar que oferecia mulheres para serviços sexuais remunerados, pendurava ‘ramos’ de árvore no lado de fora da porta, assim, era um sinal mais sutil que pendurar uma placa informando “temos prostitutas no cabaré”, bem melhor, não acha?

Uma coisa é fato: Mesmo diante das ofertas, economize seu ‘salário’, pois, sempre foi difícil de ser conquistado. A palavra “salário” nasceu do simples ato de “homens que faziam a segurança das burguesias (nos burgos) receberem “sal” como pagamento. O sal era dado ao “segurança” que recebeu o nome de “saldado”, logo depois “soldado”. Esse sal era o pagamento, o salário”. Mas, difícil mesmo é reconhecer os termos sal, soldado, salário e salada são da mesma família etimológica com tão pouco sentido ou nenhum entre eles.

E por fim, história da palavra que é o sonho de todo brasileiro: “apartamento”. O que ele não sabe é o sentido original dela que significava “afastamento ou separação”, agora faz sentido, não é? Apartar. Foi só por influência do falante francês – mais especificamente da palavra “appartment” — que “apartamento” se transformou em casa, moradia. Trocando em miúdos, a língua é do povo e esse faz dela o que quiser e assim, nem tudo que parece é.

[*] É especialista e mestre em Linguística em Linguística pela Universidade Federal de Sergipe. Professor da Rede Estadual de Ensino e Especialista em Concursos.