Fabiano Oliveira [*]

“Tudo passa, tudo sempre passará”, esse verso resume muito bem a ideia de transformações pelas quais passamos todos os dias. Assim, como nós, as palavras também sofrem diversas transformações no sentido, no uso e até na escrita. Em sala de aula brinco dizendo que elas “nascem, crescem, reproduzem-se e morrem”.  Quem nunca ouviu falar que o famoso “vosmecê” passou por “você” e hoje é “cê”, na língua oral? Mas, por que algumas palavras caem no esquecimento popular e tantas outras nascem todos os dias? Na estreia da coluna “Língua, pra que te quero?! conheça algumas expressões e palavras que já não existem mais em nosso vocabulário e foram esquecidas no tempo.

Deve-se saber que língua é um sistema vivo e organizado;  um acordo entre seus falantes; é um instrumento vivo que está em consonância com a sociedade e  seu tempo. Se os hábitos mudam, a língua muda também (sua realização através da fala, principalmente). Essa mudança quase não é percebida de forma consciente. Se a ideia a ser transmitida é a mesma, uma nova palavra surge para representa-la. ‘Jaburu’ um dia foi mulher feia; a mulher bonita/gostosinha foi “brotinho”;  hoje, “cremosinha”. Sua amiga lambisgoia tornou-se “piriguete” e quiprocó virou a treta! A língua é dinâmica como seus falantes.

Fabiano: “palavras possuem histórias como nós” Fotos: Monique Eidy

Alguns dos pronomes do caso reto e tratamento já se encontram em UTI.  Quem usa o Vós ou “Vossa Senhoria”? Pouca gente. Outro que está com os dias contados é o “Tu” empregado em escassez e de forma “errada gramaticalmente” na língua do cotidiano. No entanto, assim, como a moda, um estilo de roupa, as palavras podem reaparecer com novos significados. Popozuda retornou como “mulher do glúteo bonito”, no dicionário está lá “glúteo grande e caído”. Isso é prova de que quem dá sentido à palavra é o povo, seu dono, seu usuário.

Se quiprocó virou treta, a palavra “chapoletada” era utilizada quando se ia bater em algúem. Quem nunca levou uma chapoletada do pai, não sabe o que ser educado! Não é?  Neste momento, era impossível não acontecer uma “fuzarca”, com muitos gritos e correrias, ou seja, uma grande ‘bagunça’. Essas palavras possuem histórias como nós.

Chumbrega, expressão usada por sua avó, tornou-se cafona, demodê, fora de moda, hoje, sem estilo. A amiga da lambisgoia era a sirigaita, aquela que não tinha muita educação e tinha atitudes constrangedoras. Mas, quando alguma coisa era bacana, o nome era supimpa! E quando se desconfiava de algo, usava-se “marmota”, “Tem marmota aí nessa história”, ou seja, algo estranho e que não convenceu.

Sair para a “balada” e virar a madrugada na bebedeira, então, você estava na “carraspana” e ao retornar seu pai esperava você com ‘ceroulas’, que eram aquelas cuecas compridas, que iam até abaixo dos joelhos, usadas pelos homens para que o tecido das calças não subisse e dava um “safanão”, lembra? Aquela “puxada violenta no braço” que dava medo. Como vimos, palavras são como a moda, viram “coqueluche”, algumas ficam, outras, morrem.

Assim, vocábulos como pinoia (uma porra!), avia (ir rápido), acunhar (arrochar, sarrar), bufento (sem cor) e abigobéu que significava ‘doido’ (sai daí, abigobéu!) sumiram das falas (e da escrita) do brasileiro.  Mas, Fabiano, quem é o culpado por esse sumiço? O tempo, o tempo é o grande agente transformador do comportamento social, tecnológico e linguístico de uma sociedade. Afinal, Língua, pra que te quero?! Para comunicar, evoluir e acompanhar o meu tempo, responderia.

[*] É Especialista em Língua Portuguesa e Produção textual. Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Sergipe, professor da Rede Estadual de Ensino e Especialista em Concursos. Contatos nas redes: Facebook: Fabiano Oliveira, Instagram: fabbiano_oliveira