Fabiano Oliveira [*]

A imagem da mulher, social e culturalmente enquanto objeto sexual ou como reprodutora,  submissa aos homens, prevalecente em nossa sociedade, alimentada pela mídia que apesar de não ser partidária ao casamento enquanto instituição social, tem apresentado, não poucas vezes, mulheres em condições de degradação física e moral. Raríssimas vezes aparecem sem “aspectos negativos”, mesmo quando surgem das letras de autores intelectuais consagrados. Seriam eles meros reprodutores culturais de seu tempo? O preconceito em Jorge Amado, a falsa idealização da prostituição em José de Alencar e a possível traição em Machado de Assis, acabaram por imortalizar personagens como Tieta, Gabriela, Lucíola e Capitu, mas, como pervertidas.

Assim, seja na TV, no teatro, em revistas, na música… a banalização do corpo e do sexo feminino é bastante evidente. Podemos citar como exemplos a grande exposição de mulheres seminuas na TV, músicas com letras que agridem a imagem da mulher, atribuindo-lhes figuras desmoralizadas.  Quais papéis nossas “heroínas” desempenharam em nossas letras? Pensando essa perspectiva, a literatura, que já foi vista como forma de denúncia de realidade, em alguns momentos, também, idealizou ou difundiu imagens que não condiziam com os fatos de seu tempo.

 

Foto: Monique Eidy

O papel da mulher da literatura brasileira é objeto de estudo de diversos intelectuais. Uma Capitu cínica, uma Macabéa passiva ou uma Tieta ousada? Passear pelas páginas da literatura é importante para conhecer os diversos perfis femininos de autores tão distantes como Alencar e Jorge Amado, mas, que se encontram em temáticas atuais como prostituição.  Analisar um problema social do ponto de vista de diversas lentes é um desafio para quem faz da literatura seu objeto de trabalho. Unir a literatura ao cinema, ao teatro, à dança e à música é redescobrir novas formas de re-contar A hora da Estrela, Lucíola, Tieta e Amor de Capitu. Estaria a literatura recriando a realidade ou idealizando através da ficção?

Abordar Literatura em sala de aula sob o prisma de outras artes torna-se desafio, a partir do momento em que o tradicionalismo do ensino da disciplina cai por terra para dar lugar ao novo, ao concreto. Não é mais interessante saber a data da morte do autor ou os nomes das personagens, nem tampouco, reconhecer características de escolas literárias para reproduzir na prova. A didática mais aceita é mostrar ao aluno o porquê de se estudar literatura, mostrar um caminho em que pontes sejam feitas com realidade, e principalmente, tornar a disciplina concreta aos olhos de quem lê. Como? Unido à arte como cinema, música e dança. Ler para fazer a prova já não desperta interesse; nunca despertou. Por este prisma, a temática da mulher e seu papel nas páginas dos livros tornam-se interessante pelo viés de que a mulher tem trajetória que diverge dos fatos, ela é objeto oscilante nas páginas.

Heroína nos livros e submissa na realidade ou seria o contrário? De uma forma ou de outra, estudar literatura, é relevante para que o aluno e público em geral, possam reconhecer, através das palavras, os pontos de encontros (e desencontros) entre o real e o ideal e, assim, como película girar junto com a terra, com o cinema, com a música e com as artes.

[*] É especialista em Língua Portuguesa e Produção textual. Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Sergipe. Professor da Rede Estadual de Ensino e Especialista em Concursos e Enem.