Fabiano Oliveira [*]

Eu odeio literatura, grita uma voz. Ler é de fato tarefa árdua para grande parte dos nossos alunos. Para professores, certamente, o maior desafio na sala de aula é enfrentar o desestímulo dos alunos para a leitura, principalmente dos textos de literatura.

A disciplina, muitas vezes, é relegada ao segundo plano e posta, muitas vezes, como vilã. Ler um paradidático de literatura é visto como castigo por muitos alunos. Mas, por que a literatura é vista como algo chato, sem interesse e sem utilidade para grande parte dos alunos? Uma das respostas pode estar ligada as práticas de outrora. A disciplina carrega um fardo pesado. Durante muito tempo datas, nomes de obras e autores eram os pontos a serem decorados para a prova. A sua verdadeira função, a de denúncia da realidade social, em alguns momentos, não era explorada. Cabia ao estudante ler por ler, decorar era a ordem.

Com a evolução das metodologias, dos gêneros textuais e do livro didático, a literatura ressurge para dialogar com a realidade social, com a música, com a arte, com a sociologia, com filosofia, porém, continua o seu embate maior: a rejeição dos alunos. Quando me perguntam o que fazer para que uma aula de literatura aconteça na prática, costumo responder que é preciso “transformá-la em espetáculo, arrancá-la das páginas dos livros e colocá-la em choque com a realidade diante dos olhos dos nossos alunos/leitores. É preciso mostrar a função social e o porquê de estudá-la. É de fundamental importância dar a ela status de arte”. Incutir no aluno que a literatura não é somente uma disciplina escolar, é mais que isso, é uma disciplina que dá à palavra o poder de transformação. E ele pode transformar através da palavra, através da literatura.

Fotos: Monique Eidy

No entanto, a leitura de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, pode ser um “castigo” se não forem feitas pontes com o estilo das favelas cariocas, com comportamentos, linguagens e expressões culturais apresentadas através dos personagens. Tornar o aluno um leitor crítico através da literatura pode ser uma boa arma contra a alienação imposta pelas ideologias vigentes. Não se pode negar parentesco da disciplina com a história e é na sala de aula que essa relevância deve ser abordada. As duas podem relatar o mesmo fato com lentes diferentes e isso deve ser explorado em sala de aula com o objetivo de instigar e responder a pergunta feita pelos estudantes “Literatura pra quê?”.

A falta de interesse começa cedo. Há a errônea ideia de que a leitura só deve ser iniciada na escola. Ela não é aguçada pela família; o livro não é presente, muito menos de aniversário, assim, cabe ao professor a tarefa quase impossível de instigar a necessidade de ler, não apenas no sentido de decodificar, mas, no sentido real de fazer sentido o que se lê. Outro ponto negativo é a presença do texto literário, muitas vezes, como pretexto para questões gramaticais de análise sintática, por exemplo, ou então, visando apenas conhecer as características das escolas literárias, deixando à margem,uma análise mais profunda, num viés mais crítico e social. Ao professor cabe “ousar”, propor uma nova metodologia, experimentar e explorar a criatividade. Alternativas metodológicas precisam deixar de ser um “terreno inexplorado” no campo do ensino de textos literários. Então, Fabiano, qual é o seu tipo predileto de leitor? E o que você quer com a literatura? Como dizia o Mario Quintana, “o leitor que mais admiro é aquele que não chegou a presente linha. Que neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria”. E o que eu quero com ela? Provocar, nada mais, apenas, provocar. Eis, a intenção!

[*] É Especialista em Língua Portuguesa e Produção textual. Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Sergipe. Professor da Rede Estadual de Ensino e Especialista em Concursos.