PAGAR MICO NAS REDES SOCIAIS É…

Fabiano Oliveira [*]

Em tempos de redes sociais, vemos muitos amigos cometendo vários tipos de “desvios linguísticos” em suas postagens. Alguns são muito feios. É bem verdade que chegam a incomodar, outros nos despertam o riso e acabam virando piadas. O que alguns não sabem é que muitos desses erros provêm da língua falada – que é bem diferente da escrita –, justamente pelo fato de as redes promoverem a informalidade. É neste abuso da informalidade que mora o perigo. No Língua pra que te quero?! Desta semana, fique por dentro das expressões “erradas” mais comuns nas mídias digitais.

Usar a norma padrão da língua na hora de escrever demonstra que você é capaz de usá-la adequadamente quando necessário – ainda que não fale assim. O falante ideal é aquele que é habilitado a usar as várias modalidades do nosso código linguístico de acordo com o momento, com a situação, todavia, isso não implica desleixo ou avacalhar o uso da língua, inclusive, a informal, por vezes, discriminada.

Você não precisa escrever “difícil” , só precisa escrever sem cometer erros. Então, quais são os erros mais comuns nas redes sociais? Quais os mais “discriminados” pelos usuários? Pensando nisso, seguem palavras, expressões e os erros mais comuns que são verdadeiras armadilhas para os mais desatentos.

Fabiano: usa-se “Há” para fazer referência ao passado”. Agora, se a sentença indicar “futuro”, use a preposição “a”     Fotos: Monique Eidy                

Um dos mais comuns é emprego do “a gente”. Quem nunca teve um amigo próximo escrevendo “Agente” – junto – na internet? E para agravar a situação escreve “Agente pedimos, a gente chegamos e agente vamos”. Entenda uma coisa: Aqui há um duplo erro, pois agente (junto) é o James Bond 007. Quando se quer denotar a ideia de pessoas (nós, por exemplo) o correto é a gente (separado). Além disso, “a gente” requer o verbo concordando em terceira pessoa do singular (vai), não do plural (vamos). Então, é correto dizer e escrever: A gente vai! E não dizer e escrever “A gente tamo juntos” para o melhor amigo, pois, isso enfraquece a amizade, com certeza. Então, que tal um pouco mais de atenção?

Uma palavra que viralizou na internet é “Concerteza”. É aquela expressão que nos faz rir e duvidar da pessoa que escreve. Sinceramente, não sei de onde tiraram essa palavra. Criatividade linguística de brasileiro, na melhor das explicações. Não é raro vermos nas redes sociais: “Concerteza, meu amor, estarei ao seu lado”. A vontade que dá é responder com um “Çei”, mas, corremos o risco de não nos fazermos notados. Parece enraizado, todavia, há coisas que temos de ficar atentos na língua escrita.

Possuem o mesmo som, mas, escrita e sentidos diferentes, afinal de contas, como usar Há ou a? Para os desavisados nas redes, tanto faz, contudo, para os sentidos e significados das frases, a troca destas palavras deixa a sentença comprometida aos olhos do nosso livro de regras. Assim, usa-se “Há” para fazer referência ao passado”, por exemplo “Estive na Europa há quatro anos”. Agora, se a sentença indicar “futuro”, use a preposição “a”: Daqui a três anos irei casar. Antes que esqueça, o “há” dispensa o uso do “atrás”, ou seja, nada de sair por aí falando ou escrevendo “Há cincos anos atrás viajei”. Pura redundância, notou? Então, quem disse que a gente não pode ser simples e elegante ao mesmo tempo.

Trocar o mas (conjunção adversativa) por mais (advérbio de intensidade), atrapalhar-se com o uso do onde (local fixo) e aonde (para verbos que indiquem movimentos) ou, até mesmo, o uso quase sempre errado dos ‘porquês’ são comuns nas redes, mas, nada incomoda tanto quanto um “mim diga”. É dele o troféu de erro mais tosco da internet.

Então, o que usar: me ou mim? O que dizer de frases como “Você mim ama, amor? Queria que mim amasse. Meu sonho era mim casar com você”. Declarações de amor como estas são corriqueiras e despertam o riso de alguns e o desespero de outros, principalmente, dos professores de português. Para não cometer “este delito”, é preciso entender de uma vez por todas que “mim não conjuga verbo; mim não sabe o que fazer com quem escreve mim no lugar errado; mim ‘grita’ na gramática que é um pronome oblíquo e não pode assumir a função de sujeito de uma frase; em outras palavras, mim não faz nada! Mim não pode fazer ações! Assim, não pague mico e antes de usar o mim, fique atento para não usar “mim liga, mim diga ou mim ama”. Desta forma, o sentimento não tem como resistir.

[*] É Especialista em Língua Portuguesa e Produção textual. Mestrando em Linguística pela Universidade Federal de Sergipe. Professor da Rede Estadual de Ensino e Especialista em Concursos. Contatos: Facebook: Fabiano Oliveira, Instagram: @fabbiano_oliveira