Noite do último sábado, 7, os protagonistas do Centro de Excelência Dom Luciano entraram em cena para presentear o público com dramas, sucessos e angústias de autores da literatura naturalista. Com mistura de cinema, teatro, música e jornalismo, a V edição da Vitrine Literária apresentou em praça pública a temática “Favela ê, favela! Respeite a literatura que vem dela: Do cortiço à comunidade”, e foi coordenada e dirigida pelo mestre em Linguística, Fabiano Oliveira, professor do Ensino Médio em Tempo Integral.

O espetáculo começou com o professor fazendo um número ao vivo com a música “Barracos” da Banda Beijo, acompanhando por um corpo de dançarinos do Grupo Nova Era. “Antes de apresentar o show na rua, fiz laboratório na comunidade Maria do Carmo, conversei com os meninos que fazem arte e dançam para combater a violência em seus bairros. Foi um momento emocionante para mim, pois, vi na prática, a força que a arte tem”, afirmou Fabiano Oliveira.

Em seguida foi a vez do show dos alunos que foi assistido pelos olhares atentos e emocionados dos pais e convidados.  O alto da Colina do Santo Antônio, em Aracaju, foi o lugar escolhido para que as histórias, memórias e literatura fossem narradas para o público que acompanhava as apresentações baseadas em três obras do escritor Aluísio Azevedo: O Cortiço, O Mulato e Casa de Pensão.

“Depois de três meses de ensaios com grandes profissionais do teatro, os alunos se sentem seguros e tornam-se sujeitos de suas ações. Cada atitude, cada detalhe de cenário ou do discurso deles é pensado em torno do combate contra o preconceito para com as pessoas que vivem em comunidades. As obras são pano de fundo para reflexões críticas”, disse o professor.

Fabiano Oliveira, destacou ainda que a culminância do projeto é ponto alto das atividades desenvolvidas em sala de aula. “Nós preparamos o maior evento da escola pública sergipana, trouxemos a literatura para o povo; um verdadeiro show de rua. Esse é o nosso objetivo despertar neles o poder de transformação através da leitura crítica. Aqui, vamos contar as histórias de gente oprimida, mostrando como se dá opressão e a redenção por meio da cultura como um todo”, explicou ele.

A literatura e o contexto da realidade

O projeto é pensado para que o aluno, após leituras de obras, possa dialogar com o cotidiano. As obras trabalhadas têm uma visão do homem dos anos de 1870 e, agora, serão comparadas com a contemporaneidade.  “As favelas ou espaços periféricos das obras naturalistas foram descritas de forma científica e deixaram marcas de preconceitos. Na releitura pode-se refletir sobre esses efeitos”, ressaltou.

Os donos da festa

Antes de subir ao palco, a aluna Weslayne Monteiro Vieira, do 2º ano do ensino médio em tempo integral, contou que entraria em cena em três momentos: na abertura do show, na apresentação de teatro e recitando um poema. A jovem protagonista considera importante o envolvimento dos estudantes nessas ações que mostram o protagonismo e compromisso das equipes. “A gente vai além do que está nos livros, mostrando o que há de melhor na literatura por meio da dança, teatro e a arte de forma geral”, pontuou.

Outro aluno participante, Luís Felipe Santos Andrade, revelou que o projeto Vitrine Literária desmistifica a visão de pré-julgamento da sociedade para com a realidade das favelas. “Infelizmente as pessoas só sabem julgar, e nosso trabalho é justamente mostrar o oposto, mostrar o lado bom, a cultura, a dança, entre outras manifestações que estão na favela”, disse o protagonista de O Mulato, que levou o destaque de melhor ator da V edição, na opinião dos

Prêmio

Em 2019, foi também o terceiro ano do Prêmio Vitrine Literária. Os alunos artistas apresentaram teatro, shows de samba, poesias e danças sob os olhares atentos de nove jurados espalhados entre o público. “Todos são vencedores, o objetivo do Prêmio é destacar os que se destacam em suas atividades, é uma forma de reconhecimento”, comentou Fabiano Oliveira. Os premiados deste ano foram:

Melhor peça: O cortiço, 2B

Melhor Figurino de Peça: O cortiço, 2B

Aluno (a) revelação: Monalisa Victória, 2 G

Melhor ator: Antônio Marcos, 2G

Melhor Poesia: Favela ê, Favela, 2G

Melhor Atriz: Elys Monise, 2G

Melhor Roteiro de Peça: O cortiço, 2B

Melhor show de Samba: Samba de barzinho, 2B

Melhor coreografia: Ginga, 2B

Melhor figurino de coreografia: 2B

Aluno destaque: William Nascimento, 2B

Show musical

A quinta edição do Vitrine Literária também contou com o show do cantor sergipano Junior Brava, que levou para a praça pública uma apresentação especial com ritmos que desceram do morro, dentre eles os sambas surgidos nos anos 90 e 2000.

Parcerias

A grandiosidade do evento se deve a parcerias importantes como Secretaria do Estado da Educação – Seduc -, que apoia o projeto desde a I edição, o Grupo do Café Santa Clara, a Loja Espaço do Estudante e a equipe diretiva, representada pela gestora,  Lidiane Moreira.  Em 2019, a grande conquista do projeto foi a parceria com o Grupo Santa Clara. A empresa nacional presenteou os pais com kits e isso fortalece a importância do evento.

“O espetáculo cresceu e hoje temos patrocinadores e parceiros fundamentais para o projeto. Levá-lo à rua com uma magnitude desta requer apoio de vários setores e todos são importantes. Minha ideia é aumentar em 2020 para que possamos alcançar voos mais altos”, disse Fabiano Oliveira.

Segundo o professor, cerca de 110 pessoas, entre estudantes, pais de alunos e colaboradores, estiveram envolvidos na produção do projeto. “A gente trouxe a família dos alunos para dentro do evento. Os pais mandaram vídeos, ajudaram na divulgação, porque esse é o objetivo do projeto. O evento é feito para a sociedade”, comentou.

Parceira desde a primeira edição do Vitrine Literária, a figurinista Conceição da Silva Vieira, mãe de ex-aluna do Dom Luciano, faz questão de a cada ano dar sua contribuição nesse evento, que, segundo ela, tem a missão de mudar o olhar dos estudantes. “É uma forma diferente de ensinar. Minha filha até hoje é grata a ele (Fabiano) pelos seus ensinamentos”, afirmou.

O professor relata, ainda, que para o sucesso do evento contou com a participação de jovens profissionais do teatro que coordenaram as peças e foram base para o sucesso do evento. Participaram deste momento os professores Lúcio Oliveira, Wellington Gomes, Darielle Dayse, Fabrícia Naiane e Luís Rodrigues. Para 2020, a equipe já pensa em repetir o sucesso buscando sempre profissionalizar o show dos alunos da escola pública.