Foi uma epopeia, cheia de sobressaltos, drama e reviravoltas. Mas, no final, deu tudo certo. A Seleção Brasileira de Conjunto de Ginástica Rítmica, que entrou para a elite planetária da modalidade, conseguiu a façanha com a qual sonhava há anos: a conquista de uma vaga olímpica num evento de nível mundial. Na quinta-feira, após a improvável recuperação do tornozelo direito da capitã Duda Arakaki, o grupo comandado pela treinadora Camila Ferezin conseguiu a sexta colocação no Mundial, ao somar 65.000 pontos no conjunto das séries mista e simples, e vai aos Jogos de Paris-2024.

Havia cinco vagas em jogo. Bulgária, Israel e Espanha, que subiram ao pódio no Mundial de Sófia, no ano passado, já estavam classificadas. Na edição de Valencia-2023, os países que obtiveram a vaga são, pela ordem, China, Itália, Ucrânia, Brasil e França.

Depois de cometer um erro mais evidente na série mista, o Brasil ficou em situação delicada. A apresentação valeu a nota 30.100, apenas a 11ª entre as 24 equipes. Na segunda rodada, no entanto, as ginastas brasileiras brilharam muito. Registraram a nota 34.900 na série simples, de cinco arcos. Foi o suficiente, depois de uma longa e tensa espera, no aguardo dos resultados das outras equipes, para garantir o conjunto brasileiro em Paris.

Duda, exultante depois da histórica conquista, disse que nunca duvidou da possibilidade de entrar em quadra, mesmo quando viu seu tornozelo parecendo uma bola de GR. E conta o que pensou quando viu o estado em que ele ficou depois da torção. “Pensei que ia competir, que precisava competir. Que eu ia fazer físio, que eu ia rezar e fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para competir. Foram dias muito tensos…dúvidas, medos. Mas minha equipe não me permitiu que eu desacreditasse em momento algum. A gente rezou muito, ajoelhou, à noite, todos os dias, e deu certo”.

A ginasta alagoana não economizou nos agradecimentos à comissão multidisciplinar e às companheiras de equipe. E, sobretudo, a Paulo Márcio P. Oliveira, o craque da fisioterapia que não largou a mão de Duda – e nem o pé direito – até que a atleta reunisse condições de entrar em quadra.

“Sabia que nossa equipe toda era muito competente, mas eles provaram que são muito mais do que isso. O apoio que recebi foi muito mais do que de fisioterapia e médico. Eu me senti acolhida. Pegaram na minha mão e me ajudaram a acreditar. Criamos uma relação muito especial e só tenho gratidão”, acrescentou a atleta. “Neste momento, minha sensação é de alegria e de realização, e de que tudo que fizemos valeu a pena”.

A treinadora Camila Ferezin também abordou o seu ponto de vista ao longo dessa trajetória repleta de emoções. “Foi uma semana muito difícil. Em momento nenhum imaginamos que a Duda, nossa capitã, a protagonista de nossas coreografias, fosse se lesionar logo no primeiro dia de treino aqui em Valência. Mas a gente conseguiu manter a equipe unida, e com a cabeça forte, porque nos preparamos para várias situações: plano A, plano B… A gente tem uma equipe reserva que se prepara diariamente junto com a equipe principal em Aracaju. A ginasta reserva (Gabriella Coradine) então veio do Brasil, nem dormiu direito e veio treinar, na quarta-feira. A gente fez um Treinamento de Pódio que jamais imaginei que fôssemos superar, porque foi muito difícil entrar na quadra e ter outra ginasta no lugar da Duda. A Bárbara e a Giovanna foram incríveis. Elas entraram em quadra e ajudaram o Brasil a fazer um Treinamento de Pódio digno. A Duda ficou do lado de fora, dando todo o apoio. A gente se reuniu dia a dia, ajoelhando, clamando a Deus para que fosse feito um milagre. O milagre foi feito, o resultado foi alcançado e estamos muito felizes por termos mais uma vez feito história na GR”, acrescentou Camila.

Mais do que nunca, Camila necessitou de seus dotes de estrategista. Ela modificou o início da série, de forma que Duda, que originalmente arremessava o aparelho com o pé, passou a arremessar com a mão, abrindo mão de décimos da nota. O prêmio individual da comandante foi a vaga para participar de sua quinta Olimpíada – uma série que começou em Sydney-2000, ainda nos tempos de atleta.

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Fonte: CBG

Foto: Divulgação / CBG