Silvaney Silva Santos [*]
A reunião das fontes primárias de “Lampião no Diário Oficial”, de autoria do sergipanista, jornalista, professor universitário e pesquisador incansável, GILFRANCISCO; é mais um presente aos pesquisadores, historiadores e apreciadores do assunto. Nas entrelinhas, as dezenas de telegramas, mensagens e ofícios trazidos na citada obra deixa-nos escapar as estratégias de ambos os lados, do Estado e do que poderemos chamar de Estado paralelo. A imprensa a serviço do Estado, e nesse aspecto, a importância da comunicação como uma arma tão importante quanto à carabina.
Por outro viés, temos também as diversas “fake news” que alimentavam o imaginário cotidiano e construíram cenários aterradores para comunidades interioranas. Logo, estamos diante de um processo de construção de “memórias coletivas afetivas e traumáticas” e da legitimação do “banditismo” em Sergipe. Estas mensagens falsas constituíram disputas de narrativas entre as seguranças públicas locais. Ter Virgulino Ferreira da Silva (o Lampião) nas redondezas expressava insegurança e consequentemente, ineficiência administrativa.
Portanto, não foram poucos os telegramas dizendo: “o cangaceirismo não existe dentro do Estado”, “nenhuma novidade”, “não há a menor notícia a respeito”, “nem notícia se tem bandoleiros”, “desfaz tal boato”, “nossa situação excelente”, “voltou dizendo ser tudo falso”, “diz não ser verdadeiras notícias”, “mentirosa notícia”, “informação nenhuma”…. Através de uma rede de sociabilidade estatal confidencial, que funcionou através das mensagens telegrafadas, se construiu e se legitimou conceitos como “banditismo”. Em um olhar de relance sobre as transcrições, contabilizamos quase uma centena desta; em segundo “bandoleiros” e minimamente cangaceiros. Logo, naquele período já se legitimava as chacinas, o poder do Estado, através do discurso genocida de que “bandido bom é bandido morto”.
Por fim, aqui não se trata do endosso da verdade. Mas de versões produzidas através do Diário Oficial longe da neutralidade e dos confrontos com outras tipificações documentais, como a oral, por exemplo. Como disse o autor em áudio via WatsApp, a obra apresenta aos leitores “assuntos confidenciais […]”. Feitos no “calor da hora”; de “sangue quente. Se Lampião é um bandido, é um bandido na hora. O jornal como fonte de pesquisa”.
Concluindo, longe de querer entrar no mérito dual do herói e do bandido, temos em “Lampião no Diário Oficial” fontes importantes para novos estudos e contribuições sobre esse período da história nacional.
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[*] É historiador e professor das redes estadual e municipal de Santo Amaro das Brotas.
Foto: Reprodução da capa do livro Lampião no Diário Oficial
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