No próximo dia 7 de dezembro, será realizada na Colina do Santo Antônio, das 17h40 e irá até as 21h30 a V Edição da Vitrine Literária do Centro de Excelência Dom Luciano. O evento terá como temática central “As Favelas Brasileiras, seus Costumes e suas Culturas através das diversas Linguagens”. Os expectadores poderão conhecer os dramas, sucessos e angústias de personagens e autores da literatura naturalista. Capitaneada pelo professor Fabiano Oliveira, a Vitrine será uma mistura de artes cênicas, cinema, música e jornalismo.

Segundo Fabiano, o evento irá mostrar a linha tênue entre a ficção e a realidade. “O objetivo central é fazer do aluno do Ensino Médio Integral um pensador crítico acerca das histórias de um povo marginalizado e estigmatizado através das lentes naturalistas do século XIX. Em 2019, o espetáculo é pautado em torno do tema “Favela ê, Favela! Respeita a literatura que vem dela: Do Cortiço à comunidade” e traz as obras O mulato, Casa de Pensão e o Cortiço como base para toda a programação.

De acordo com o coordenador, no que diz respeito às práticas pedagógicas, a produção textual será o resultado de pesquisas que envolvem tanto conhecimentos científicos, quanto conhecimentos partilhados do mundo dos estudantes.

Diálogos

“Linguagens diversas irão dialogar entre si, devolvendo ao público releituras importantes do ponto de vista político-social e literário de personagens como Rita Baiana, João Romão, Jerônimo, Amâncio, Raimundo e Amélia. Seria o ambiente o responsável por comportamentos desregrados na sociedade? Rita baiana e Pombinha seriam personagens nascidas e fadadas aos destinos fracassados? Amâncio e Raimundo são homens fracos diante dos problemas do mundo? Hereditariedade, preconceito e liberdade são abordados através das luzes do século XXI, o que se pode esperar de releituras de obras que perpetuaram preconceitos em nossas letras?  Tudo isso será visto no espetáculo que leva a literatura para as ruas”, diz Fabiano.

A música nascida na favela dialogará com a literatura naturalista.  “O propósito é combater o preconceito e exibir a arte produzida em morros, favelas e bairros periféricos. Músicas como “Mais que nada”, de Jorge Benjor se junta a Eu sou favela de Parangolé, unindo épocas e visões de mundo diferentes, o mesmo acontece com  Samba do avião, País tropical, Canto das três Raças e diversas outras canções que  mostram como sonoridades aproximam literatura e música e denunciam pensamentos sociais”, pontuou.

Segundo Fabiano, o samba que nasceu no morro e ganha espaço nos grandes salões não ficará fora do espetáculo. Para tal, os alunos irão transformar as linguagens, tornando-se assim, protagonistas críticos. “Entender e desmistificar o que é cultura e produção cultural, como elas se constroem e como refletem a nossa identidade, além da falta de visibilidade da realidade das periferias no Brasil, são alguns dos pontos programados para contextualizar a V vitrine”, enfatizou.

Com as lentes do olhar histórico-social, um dos fundamentos é perceber como as personagens marginalizadas pelo ambiente em que vivem, de modo geral, estão sempre rodeadas de preconceitos. Um dos objetivos é notar como a literatura reproduz esse costume brasileiro através de suas páginas. Quem nunca ouviu o preconceito em “frases feitas” como “Filho de peixe, peixinho é!”,  “Diga com quem andas, que digo quem tu és”.

Os alunos envolvidos fazem do projeto uma fonte de pesquisa que traz o embate entre as letras naturalistas e a realidade gritante que transforma o morador da favela em ‘favelado’, no pior sentido da palavra.

Temas do espetáculo

O coordenador do Vitrine afirma ainda que o perfil marginalizado teve a ajuda da literatura para ser perpetuado em suas páginas. No entanto, é hora de fazer releituras de personagens e dar novo sentido cognitivo a esses perfis desumanizados.

“ Quem foi Rita baiana? Quem foi Pombinha? Por que assassinar Amâncio em Casa de Pensão? Como se comportam as personagens naturalistas e como vivem homens as mulheres de favelas reais? Seria o naturalismo a estética mais preconceituosa do século XIX ou apenas uma extensão do Realismo levado ao extremo?  Favela ê, favela! Respeite a literatura que vem dela é um tema provocante, num momento em que a sociedade parece estar dividida fortemente em classes e assim, faz questão de permanecer”, afirma Fabiano.

Ele diz ainda que a ideia é dialogar, provocar e mostrar a relação tênue, que aproxima a vida real da vida ideal e assim, mostrar o quão a arte produzida nas periferias possui valores para a formação social.

Apoio

A V vitrine trouxe os pais para a escola e este ano o projeto contará com pais na produção que envolve mais de 90 alunos. A participação dos pais é vista como ponto positivo pelo professor que recebeu vídeos de apoio para o projeto. Para que o evento fosse concretizado Fabiano contou com o apoio Secretaria de Estado da Educação e  estagiários  do Curso de Teatro da Universidade Federal de Sergipe para que auxiliassem os alunos na construção de personagens. Wellington Gomes, Fabrícia Lima, Lúcio de Oliveira Darielle Deyse acompanham as três turmas e assinam a produção teatral.

Além dos pais, esta edição coloca em praça pública o show do cantor sergipano, Junior Brava que fará uma apresentação especial com ritmos que desceram do morro, dentre eles os sambas dos anos 90 e 2000. O evento é gratuito e aberto à população sergipana que conta ainda com a participação especial de uma estudante do Dom Luciano.