Ivan Alves Filho

Historiador e documentarista, autor de Memorial dos Palmares, Brasil, 500 anos em documentos, Giocondo Dias – uma vida na clandestinidade, O caminho do alferes Tiradentes – uma viagem pela Trilha dos Inconfidentes, A saída pela Democracia e Os nove de 22, entre outras obras.

Este Democracia de Ocasião?, que agora chega ao leitor, reúne os textos de combate do Professor Fernando Sá, da Universidade Federal de Sergipe. E não vai aqui nenhuma ousadia minha, mas apenas uma constatação: a nossa Democracia precisa tanto de ação quanto de reflexão para se firmar e avançar cada vez mais. A transmissão de experiência, um objetivo inadiável da ciência histórica e dos historiadores, é parte integrante da luta por uma sociedade mais humana. A leitura atenta de livros e documentos não pode prescindir da vida lá fora. O historiador, como o antropólogo, precisa fazer um trabalho de campo também.

Primeiramente, eu diria que os textos aqui estampados são muito bem escritos, fluentes mesmo. Eles compõem quase uma conversa de papel. E isso é próprio de quem busca estabelecer uma comunicação para além do público mais restrito da Academia. Esse é um grande mérito dessa obra, sem dúvida. Importante destacar ainda que o autor não se esquiva de examinar os mais diferentes momentos e aspectos da Democracia brasileira, ligando sempre os problemas da conjuntura às questões de corte mais estrutural, como que fincando o atual no permanente. Finalmente, sua concepção de Democracia se inscreve de forma plena, a meu juízo, no bojo daquilo que o médico sanitarista Sergio Arouca denominava por radicalidade democrática. Ou seja, uma visão que abarcava praticamente todas as áreas da atuação humana, da atividade econômica à realidade do tecido social e deste ao campo institucional propriamente dito.

Sob essa ótica, nada parece ter escapado à certeira observação do Professor Fernando Sá. Assim, ele examina não só as trajetórias militantes – pecebismo, brizolismo – como a literatura, as artes plásticas, os embates identitários e a política de direitos humanos entre nós. A inclusão no livro de um estudo exemplar sobre o Jornal do País Nas Bancas, uma das vozes mais plurais e consequentes do jornalismo brasileiro em toda sua história, revela a seriedade com que Fernando Sá aborda seus assuntos. E, de quebra, a obra questiona as nossas carências democráticas, uma vez que tem consciência do momento delicado por que passa o país, tão marcado pelo autoritarismo e pela corrupção.

Hoje, mais do que nunca, é preciso entender que alguns possuem mais sensibilidade democrática no tocante ao funcionamento da política. Outros, no que tange ao mundo da economia ou das conquistas sociais. Eu diria que isso é quase natural. Porém, uma base democrática comum pode e deve unir todos os democratas. Vale dizer, é necessário combinar a esfera institucional com a vida concreta, o cotidiano das pessoas.

O que está em jogo é a luta da civilização contra a barbárie. Aprendi isso ainda na juventude, com o estudo das obras do dirigente búlgaro Giorgi Dimitrov, o extraordinário estrategista da Frente Ampla que permitiria derrotar o fascismo no mundo. E aprofundei essa compreensão em contato com o saudoso Giocondo Dias, então secretário geral do Partido Comunista Brasileiro, sempre atento à irrupção da irracionalidade na política.

Escrevi uma vez que a Democracia é um substantivo que dispensa adjetivos. Fora dela não há solução. Ainda que seja necessário democratizar a própria Democracia, isso se dará a partir do aprimoramento do sistema de representatividade com base nos instrumentos de que dispomos hoje, sobretudo na área da tecnologia. É interessante observar que cibernética vem do vocábulo grego kubernethes, que significa guia, de onde se origina o termo latino gubernare.

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Lançamento

Dia – 31 de maio de 2023

Horário – 17 h

Local – Museu da Gente Sergipana