Iracide Marques de Oliveira
Licenciada em História/UFS e professora SEMED/Pinhão
O município de Pinhão no próximo dia 25 de novembro completará 70 anos de emancipação política. Um acontecimento histórico que diz muito da cultura daqueles munícipes. A respeito, segundo o censo do IBGE (2022), o município conta com 5.577 moradores – número que aumenta quando se considera o fluxo de migração de seus residentes (de outras cidades e estados) para seu território.
Pinhão está situado na região do agreste central, entre os rios Vaza-barris e Sergipe, limita-se com os municípios sergipanos de Simão Dias, Pedra Mole, Carira e Frei Paulo e na sua divisa Oeste com o município baiano de Paripiranga. O município está a 100 km de Aracaju, e, a exemplo das demais regiões do agreste e do sertão, a ocupação de seu território teve início com a expansão da pecuária por volta dos séculos XVII e XVIII, consolidou-se com a lavoura algodoeira a partir do final do século XIX e primeiras décadas do século XX e, nas últimas décadas do século XXI tem potencializado sua vocação agropastoril na produção de feijão, milho e na criação de gado de corte e leiteiro.
Até em 1912, seu território fazia parte da chamada Itabaiana Grande, e até 1953 integrava o município de Campo do Brito. Nesse contexto de um pouco mais de quatro décadas, entre 1912 a 1953, o então povoado de Pinhão – assim denominado pela presença em seu bioma de uma planta de igual nome –, passou a alimentar o sentimento de autonomia administrativa que logo culminou em sua emancipação política e elevação à categoria de município.
Evidentemente esse processo político foi tecido a várias mãos, mentes e corações. Nesse texto, optamos por resgatar apenas as contribuições de um partícipe dessa história: José Melquíades de Oliveira – mais conhecido por Zé Melquíades, nascido em 14/03/1917, no atual município de Pinhão, filho de Melquíades Eduardo de Oliveira e de Maria José de Oliveira. O agricultor José Melquíades, casou-se em 1937 com a dona de casa Paulina Marques de Oliveira, com quem teve 17 filhos e com quem tocou suas atividades agropastoris.
Esse homem do campo, logo cedo enveredou pelos caminhos da política tendo sido eleito uma vez para a Câmara de Vereadores de Campo do Brito – onde representou os interesses dos moradores do então povoado Pinhão. Enlaçado por essa dinâmica, em 1950, aos 33 anos, ele recebeu a votação mais expressiva da referida câmara legislativa municipal com 463 votos. Exatos 2 votos a mais que o segundo mais votado.
Essa votação conferia a José Melquíades a preferência para presidir a Câmara Municipal de Vereadores de Campo do Brito na legislatura 1951-1954. Entretanto, ele optou por declinar da prerrogativa em favor de um horizonte de expectativas políticas mais amplas – em cujo horizonte estava o desmembramento do território de Pinhão do município de Campo do Brito e, consequentemente, emancipá-lo politicamente.
Focado em torno desse propósito, José Melquíades trabalhou para estruturar no povoado um posto policial, um ponto de apoio do IBGE, uma unidade da exatoria do fisco estadual, um talho de carne, dentre outros benefícios necessários a atender a legislação que regulamentava as condições de elevação de um povoado à categoria de município. Nessa empreitada, Zé Melquíades teve vários parceiros, como José Emigdio da Costa Filho que, posteriormente, veio a ser o primeiro prefeito do futuro município, e o apoio do então prefeito de Campo do Brito – Francisco Vieira da Paixão.
A propositura para criação do município de Pinhão foi de autoria do deputado estadual João Melo de Oliveira, aprovada sob o título de Lei nº 525-A de 25 de novembro de 1953. Emancipado, o município realizou sua primeira eleição em 03 de outubro de 1954, no qual fora eleito José Emigdio da Costa Filho como prefeito. No mesmo pleito, Zé Melquíades é eleito vereador, desta feita, pela Câmara de Vereadores do Município de Pinhão, da qual se tornou o seu primeiro presidente.
Assim, a trajetória política de Zé Melquíades é reveladora dos esforços, negociações e caminhos percorridos para a emancipação de Pinhão. De vereador mais votado que abdica da prerrogativa de presidir a Câmara de Vereadores do Município de Campo do Brito em 1951, para condição de um dos articuladores que concretizou o desmembramento e emancipação do território de Pinhão em relação ao de Campo do Brito. Protagonismo, resiliência e estratégia que o conduziu a presidência da primeira legislatura da Câmara de Vereadores do Município de Pinhão em 1955 e, posteriormente, viria a comandar o executivo municipal por dois mandatos (1959-1963 e de 1973-1977) e a ocupar o cargo de vice-prefeito de 1967 a 1971. Quatorze anos depois, em 29 de abril de 1985, vítima de diabetes, Zé Melquíades veio a falecer. Em reconhecimento aos seus feitos, uma das avenidas de Pinhão e o centro de abastecimento do município recebem o seu nome como homenagem de seus conterrâneos.
O exemplo de Zé Melquíades influenciou quatro de seus filhos a trilharem o caminho da política: Eduardo Marques de Oliveira, prefeito de Pinhão em quatro mandatos, e em um mandato como deputado estadual; Irailde Oliveira Souza, no sétimo mandato como vereadora em Simão Dias, onde também já ocupou o cargo de vice-prefeita e a presidência da câmara de vereadores; Humberto Marques de Oliveira, vereador por três mandatos em Paripiranga, onde também chegou a presidir a câmara daquele município; e Josefa Marques de Souza, vereadora por um mandato em Pinhão.
A história desse personagem sertanejo, a exemplo de tantos outros, nos ajuda a compreender uma parte da dinâmica política dos municípios de Sergipe – um pequeno pedaço desse imenso Brasil. Em síntese, Pinhão, emancipado há 70 anos, agora está merecendo efusivos aplausos pela força, protagonismo e resiliência de seu povo e pela riqueza de sua cultura.
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