GILFRANCISCO 1

É a inquietação de uma mocidade intelectual que procura, numa hora de definições, o seu caminho. Vários críticos que têm escrito sobre minha obra, naturalmente desconhecendo aquele meu primeiro romance, costumam apresentá-lo como um livro de sátira aos intelectuais brasileiros que vivem em função da literatura europeia, especialmente da francesa. No entanto não há naquele romance nenhuma intenção de sátira. Existe, sim, o desejo de focar um momento vivido pela mocidade mais ou menos intelectual ou intelectualidade do Brasil, momento em que as correntes sociais e políticas começaram a se esboçar a definir.2

Jorge Amado

(1912-2001)

Sinopse

Regressando da Europa num transatlântico de luxo, após sete anos de estadia em Paris onde se formara em Direito, Paulo Rigger, filho de rico cacauicultor recém-falecido (Godofredo Rigger), antes de fixar-se na cidade da Bahia realiza viagem a Ilhéus para visitar sua fazenda de cacau, levando consigo a amante, uma francesinha chamada Julia, que se entrega no campo ao trabalhador Honório, negro hercúleo, dando causa ao castigo de ser o empregado despedido depois de espoliado de seus parcos haveres e ela abandonada num hotel na capital baiana. Nessa cidade, Paulo Rigger, então com vinte e sete anos de idade, blasé, muito elegante, instala-se na chácara da mãe viúva (cujo nome não é indicado), no bairro do Garcia, e passa a frequentar ao lado de três amigos também jovens as rodas jornalísticas e a boêmia literária em que pontifica o intelectual céptico Pedro Ticiano, agravando sua insatisfação de moço cerebral e sibarita, fase intercalada pelo hiato de romântico noivado com a modesta jovem Maria de Lourdes a quem renuncia por preconceito (a ela lhe confidenciar não ser virgem). O abalo emocional coincide com a agitação político-social da Revolução de 1930 e com a dispersão do grupo de amigos – morte de Ticiano, regresso do piauiense Ricardo Brás à sua terra natal, volta de Jerônimo Soares à rotina burocrática e afastamento ideológico do bacharel – resultando, desses acontecimentos, profundo desencanto no insatisfeito Paulo Rigger que com sua genitora viaja para a Europa, embarcando no Rio de Janeiro, a cidade alucinada em pleno carnaval.

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1 Jornalista, Escritor e professor, Doutor Honoris Causa, título outorgado pela Universidade Federal de Sergipe -UFS.

2 Jorge Amado, Vida & Obra. Miecio Tati. São Paulo. Livraria Martins Editora. 1961.

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Capa do livro O País do Carnaval – Foto: Reprodução

O romance conta com 56 personagens, das quais 16 anônimos. Teve sua redação concluída, no Rio de Janeiro, em dezembro de 1930, e primeira edição, de estreia bem acolhida pela crítica literária, com carta-prefácio do poeta Augusto Frederico Schmidt, publicada por Schmidt Editor, Rio de Janeiro, em setembro de 1931, constituída de 217 páginas e mil exemplares, seguida de nova edição, com tiragem de duas mil unidades, em julho de 1932. Depois de reeditado pela Livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro, o livro, a partir de 1941, passou a ser editado pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, integrando, com os romances Cacau e Suor, o primeiro tomo da coleção “Obras Ilustradas de Jorge Amado”, volume I, com capa de Carybé 3 e ilustrações de Darcy Penteado4. Continuou sendo reeditado pela Livraria Martins Editora até a 29ª edição, tendo a aludida empresa desaparecido em 1975. Já em 1976 a Editora Record, do Rio de Janeiro, atual detentora da exclusividade de editoração das obras amadianas, lançava a 30ª edição, com 183 páginas, capa de Di Calvacanti5, as antigas ilustrações de Darcy Penteado, retrato do autor por Flávio de Carvalho e foto do autor por Zélia Amado, em volume separado, como originalmente. A edição consultada para este ensaio, foi a 33ª, de 1978, em que a Record manteve as mesmas características indicadas. No estrangeiro, foi publicado em edição portuguesa pela empresa Editores Associados, na coleção Livros Unibolso, Lisboa, 1975.

A 19 de novembro de 1937, na antiga praça em frente à Escola de Aprendizes Marinheiros, na cidade da Bahia, foram queimados em público 214 exemplares de O País do Carnaval junto com 89 exemplares de Cacau, 93 exemplares de Suor, 267 exemplares de Jubiabá, 223 exemplares de Mar Morto, e 808 exemplares de Capitães da Areia, além de mais alguns livros de outros autores, igualmente considerados perigosos, apreendidos nas livrarias locais, tudo por ordem do Comando da 6ª Região Militar, conforme termo lavrado pela Comissão Executora do Estado de Guerra.

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3 Héctor Julio Páride Bernabó Carybé – Pintor argentino (1911-1997), naturalizado brasileiro. Radicado em Salvador desde 1950, contribuiu para a renovação das artes plásticas baianas. De expressão figurativa, com uma estilização gráfica que por vezes se aproxima da abstração, fixou cenas da cultura popular baiana, criou diversos murais (Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Nova York); dedicou-se à ilustração (obras de Jorge Amado, de Pierre Verger); publicou volumes de desenhos. Participou da Bienal de Veneza (1956), realizou numerosas exposições.

4 Darcy Penteado – Pintor de tendência figurativista (1926-1987), praticou o desenho, a gravura e a pintura; fez numerosos retratos. Dedicou-se também à cenografia e à ilustração. Expondo individualmente desde 1948, participou de várias Bienais de São Paulo, e expôs no exterior. Foi escritor e militante do movimento gay.

5 DI CAVALCANTI, Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque (1897-1976), estreou em 1916, como participante do Salão dos Humoristas. Em São Paulo, expôs caricaturas (1917) e foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna (1922). Em 1923 seguiu para Paris, onde conviveu com os grandes artistas da época, recebendo influências principalmente do Expressionismo, Cubismo e Surrealismo. De volta em 1925, passou a fazer desenhos para revistas e escrever reportagens. Expôs como artista convidado na I Bienal de São Paulo (1951), conquistando, na bienal seguinte, juntamente com Volpi, o prêmio de melhor pintor nacional. Sua obra caracteriza-se pela temática brasileira, de cenas e tipos exuberantes e sensuais centrada na figura feminina, mais precisamente, na mulata.

Receptividade Crítica

Sabemos que Jorge Amado (1912-2001) é o romancista mais popular do Brasil, além de ser o escritor brasileiro mais conhecido e traduzido no exterior. Sua obra já foi publicada em mais de 50 línguas estrangeiras, tendo sido lembrado várias vezes para o Prêmio Nobel de Literatura. Para as comemorações do seu centenário de nascimento, preparamos uma edição minuciosamente com todos os detalhes da construção do romance de estreia. Com o título de O País do Carnaval & a Receptividade Crítica, após dez anos de intensiva pesquisa em vários estados da federação, reuni 40 textos: capítulos de dissertações, resenhas, artigos e ensaios desde a sua publicação em 1931, escritos por grandes intelectuais do jornalismo e da literatura brasileira da época: Luís da Câmara Cascudo; Marques Rebelo; Dias da Costa; Alves Ribeiro; Edison Carneiro; Otávio de Faria, Medeiro e Albuquerque; Brito Broca; Frederico Schmidt; Sosígenes Costa; Da Costandrade; Eduardo Portela; Miécio Táti; Roberto DaMatta; Amadeu Amaral e outros.6

Capa do livro O Paiz do Carnaval – Foto: Reprodução

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O agravamento das tensões no curso da década de vinte, as peripécias eleitorais das eleições de 1930, a crise econômica propicia a criação de uma frente difusa, que traduz a ambiguidade da resposta à dominação da classe hegemônica. Vitoriosa a revolução, abre-se uma espécie de vazio de poder, por força do colapso político da burguesia do café e da incapacidade das demais frações de classe para assumi-lo em caráter exclusivo. Habilidoso (fortalece o poder pessoal) Getúlio Vargas, soube se transformar no árbitro das forças em disputa, ou ainda no único individuo capaz de manter coesa a aliança que havia se formado em 1930. Entretanto, não evitaria descartar este ou aquele grupo político quando as circunstâncias o exigissem. Apesar do seu aspecto autoritário, o longo governo Getúlio Vargas foi o período em que os nossos símbolos populares mais cresceram e apareceram. O samba desceu do morro para a cidade. O carnaval transformou-se na grande festa nacional. O futebol se popularizou. O rádio, que havia sido inaugurado em 1922, somente nos anos 30 ganhou projeção, atingindo todo o território através da potente Rádio Nacional.

O Brasil testemunhou, na década de 1930, uma explosão do romance. Preocupados com o país em que viviam, escritores usaram a narrativa como instrumento de denúncia de uma realidade que, principalmente na região Nordeste, condena milhares de brasileiros à miséria. O País do Carnaval introduz algumas das questões mais relevantes do período em que foi publicado, ou seja, o romance é extraído do cenário brasileiro do momento, do qual a Bahia estava inserida. Neste romance de estreia, o autor persiste uma posição de dúvida, de busca entre alternativas possíveis. As indecisões e buscas, naturalmente acompanharam o autor na elaboração do livro, que narra à chegada e fixação na Bahia de um intelectual, Paulo Rigger, que se educara em Paris, de onde traz a alma saturada do conhecimento pleno da sensualidade. Em Salvador Rigger passa a frequentar os círculos boêmio-literários, desiludido da salvação que acreditava alcançar regressa à Europa. A metáfora do título (O País do Carnaval) é bem explícita: o Brasil,

Capa livro O País do Carnaval – Foto: Reprodução

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6 O País do Carnaval & a Recepção Crítica. GILFRANCISCO (inédito).

representado pela geração do personagem Paulo Rigger, é uma reação que ainda não se definiu que ainda não tomou partido, alienando-se da realidade. Este é o clima de incerteza de sua própria geração. Não seria coincidência a chega e partida de Paulo Rigger num período carnavalesco.

O romance O País do Carnaval consta de 56 personagens e teve início sua redação em Salvador e conclusão em dezembro de 1930, no Rio de Janeiro, época em que Jorge Amado, mudara-se para fazer os exames preparatórios do curso de Direito. Os originais do livro chegaram às mãos do editor Schmidt por intermédio de Otávio de Faria, acadêmico como Jorge da Faculdade de Direito. Otávio gostou e levou-os a Livraria Schmidt que ficava numa travessa da Rua do Ouvidor. Durante dois meses Jorge procurou Schmidt para saber se o livro seria ou não editado. Dizia o editor: “estou lendo, estou gostando muito, já estou na página 70”. Na verdade, não estava lendo. Graças a Tristão da Cunha (1878-1942) jornalista e escritor renomado, colaborador do Mercure de France, muito ligado ao poeta Frederico Schmidt, certa feita ao visitar o amigo e não o encontrando, sentou-se enfrente a mesa, pegou os originais e começou a ler. Quando Schmidt chegou, conversaram com o que tinham de conversar, em seguida perguntou quem era o autor dos originais. Schmidt respondeu que era do primo de Gilberto Amado. Ao sair, Tristão levou os originais para ler e alguns dias depois enviou uma carta para Jorge Amado, parabenizando e outra para Schmidt aconselhando-o o publicar o livro. E foi assim feito. O romance é dedicado a seu pai e à memória do médico e companheiro da Academia dos Rebeldes, João Evangelista de Oliveira.

A primeira edição de O País do Carnaval publicada em setembro de 1931, por Schmidt Editor, com tiragem de mil exemplares, vem acrescida de uma carta-prefácio assinada pelo poeta/editor Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), responsável pelo lançamento de alguns dos maiores escritores brasileiros contemporâneos (Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, Marques Rebelo, Gilberto Freyre, Afonso Arino de Melo Franco, Alceu Amoroso Lima, Plínio Salgado e outros). Schmidt era um verdadeiro descobridor de talentos literários. Em 1931 inaugurou sua carreira de editor publicando os primeiros livros de três jovens autores. O primeiro foi Oscarina, livro de contos de Edi Dias da Cruz, um caixeiro viajante de 24 anos que se assinava Marques Rebelo. O segundo, um livro de ensaios políticos, Maquiavel e o Brasil, o autor; o autor, um ano mais jovem que o anterior, chamava-se Otávio de Faria. O autor do terceiro livro tinha apenas dezenove anos, e na verdade já havia publicado meses anos a novela Lenita, em parceria com dois outros autores.

Capa do livro O País do Carnaval – Foto: Reprodução

A insistência de Frederico Schmidt em publicar autores nacionais, na maioria novos, e sua decisão em fazer tiragem pequenas, provavelmente levaram ao declínio de sua editora. A partir de 1933 os autores começam a abandoná-lo, indo à maioria para a Editora Ariel, de Agripino Grieco e Gastão Cruls, que publicava o Boletim de Ariel, mensário de literatura que era também um meio de divulgar as obras da editora. De modo que, ao publicar – e também prefaciar – O País do Carnaval, Schmidt foi também o primeiro editor de Jorge Amado. Em sua apresentação, Schmidt diz: “O país em que nascemos pesa sobre nós. É bastante olhar o Brasil de hoje, no seu aspecto político, por exemplo, nossos olhos. O caos de todos os lados. E perdidas no caos algumas ameaças terríveis. O mais é apenas inexistência e sono. A mocidade não tem um sentido, não tem uma direção, não tem uma causa. A única aspiração da nossa mocidade é a velhice”.

O cronista Dias da Costa em artigo publicado em 1931, comenta a tormenta enfrentada por sua geração, frente à política brasileira: “A terrível angústia de uma geração de homens inteligentes, que se sente naufragar por não crer em coisa alguma e que anseia acreditar em alguma coisa, e na esperança de evitar o naufrágio. O pior dos naufrágios, o naufrágio no vazio. É muito cruel a luta desses homens contra o ceticismo. Esse ceticismo mórbido que lhes insufla. Pedro Ticiano, sexagenário! “blague!” e aristocrata, intoxicado de Voltaire e saturado de Anatole France que vive semeando paradoxos a Wilde e que adora o convencional satanismo de Baudelaire”. 7

Convenhamos que o romance escrito por um jovem de dezoito anos, carregado de pessimismo, traduzia uma cidade decadente, onde tudo fenece numa imensa tristeza, a lixópolis como os “rebeldes” chamavam Salvador: ”Praça Rio Branco. Cinco, seis horas da tarde… Movimento. Toda a cidade está ali, à espera do bonde, a discutir política, a falar de literatura, a comentar a vida alheia. Para ali aflui gente de todos os pontos. Há a miss cheia de graça e de beleza que vai à Lapinha ou para Santo Antônio. Há o trabalhador humilde que se pendura no seu bondezinho de Calçada. Há o ricaço que segue para o seu palacete magnífico da Barra ou da Vitória. Há o burguês rotundo que, depois de achar que a Revolução não veio salvar o Brasil, vai bocejar nos bancos do bonde, a caminho de Nazaré. Há de tudo, ali. Há, até os desocupados, os filhos-família, que se exibem fazendo o footing dentro da tarde morrente… O coração da cidade, a Praça Rio Branco. Um coração que fica pulsando sempre, talvez de ódio, talvez de amor… Talvez, também , por não saber fazer outra coisa…” 8

Por este e outros motivos é que Jorge Amado, juntamente com um grupo de jovens: Dias da Costa, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Da Costandrade, Aydano do Couto Ferraz, Clovis Amorim, João Cordeiro, Emanuel Assemany, Machado Lopes, Sosígenes Costa, Otávio Moura e Pinheiro Viegas (satânico jornalista), fundam a Academia dos Rebeldes (1929/1932), período em que publicaram em Salvador dois periódicos, Meridiano (1929) e O Momento (1931/1932). Dias da Costa diz que “A Academia teve vida efêmera, mas agitada e pitoresca. Reunia-se de favor na sede de uma sociedade esotérica, presidida por um português puritano chamado Sr. Carvalho”.9

Jorge havia tido anteriormente uma péssima experiência com a publicação da novela Lenita (Rio, A. Coelho Branco Filho, junho, 1931), escrita conjuntamente com Dias da Costa e Edison Carneiro, ambos companheiros da Academia dos Rebeldes. Vejamos o que diz Otávio de Faria sobre ele: “O Sr. Jorge Amado tinha para com todos nós uma dívida pesada; as horas gastas com a novela com que estreou a alguns meses em colaboração com dois outros autores: Lenita.

O fato era mesmo curioso. Três rapazes, evidentemente inteligentes, e capazes, tinham reunido os seus esforços para dar vida a uma história que lhes parecia de interesse.

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7 Diário da Tarde. Ilhéus, 29 de dezembro, 1931. Pedro Ticiano, personagem de Pinheiro Viegas (1865-1937), poeta e jornalista com vários panfletos publicados, além de ser presidente espiritual da Academia dos Rebeldes.

8 Lixópolis, Edison Carneiro. Salvador, O Momento, Ano I, nº 3- 15 de setembro, 1931. 9 O Grupo de Pinheiro Viegas fez o Movimento Modernista na Bahia, Santos Morais. Rio de Janeiro, jornal Para Todos, Ano II, nº31 – 2ª quinzena de agosto, 1957.

Capa do livro O País do Carnaval – Foto: Reprodução

O resultado era a novela mais falsa e vazia que é possível conceber. Apesar de todo o esforço ser nesse sentido, nem originalidade tinha conseguido.

Quem já o conhecesse o Sr. Jorge Amado facilmente poderia fazer crédito – e tanto a ele como aos dois outros novelistas. Foi o meu caso. Dos Srs. Edison Carneiro e Dias da Costa ainda espero prova positiva – de que não duvido aliás.

Do Sr. Jorge amado nenhuma poderia ser mais decisiva do que a que acaba de dar com O País do Carnaval, um romance de carne e de sangue, grande romance de verdade e de sentimento, que anda escandalizando os gramáticos e apavorando os defensores do poder público, grande perturbação no simplismo das classificações dos comunistas, causa de irritação para muitos, dadas as “blagues”, as faltas de bom gosto que explodem aqui e ali com a preocupação de usar palavras escandalosas e de fazer frases que são as únicas recordações que parecem ter ficado da coautoria de Lenita”.10

Jorge transporta para o romance O País do Carnaval o pensamento do grupo que é um romance de ideias, de tese, em que a discussão de questões social, políticas ou religiosas, se defendem uma “tese” oriunda das Ciências da Filosofia ou da Teologia. Segundo o autor o romance é uma crítica de adolescente, uma crítica ingênua, o grupo de jovens não eram cético, estavam céticos, se comportavam com tal. O romance foi bem recebido pela crítica de vários estados brasileiros: Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Piauí, Minas Gerais, Natal, Rio Grande do Sul. O velho Viegas disse-lhe que ali (Rio) venceria fatalmente. Mas, somente em 1933, com a publicação do seu segundo romance Cacau, consagrado pelo enorme êxito de venda e perseguição pela polícia do Estado Novo. A 19 de novembro de 1937, na antiga praça em frete à Escola de aprendizes Marinheiros em Salvador, foram queimados em público 214 exemplares de O País do Carnaval, junto com 89 exemplares de Cacau, 93 exemplares de Suor, 267 exemplares de Jubiabá, 223 exemplares de Mar Morto e 808 exemplares de Capitães da Areia, além de mais alguns livros de outros autores, igualmente considerados perigosos, apreendidos nas livrarias locais, tudo por ordem do Comando da Sexta Região Militar, conforme termo lavrado pela Comissão Executora do Estado de Guerra.

A agitação político-social da Revolução de 1930, a dispersão do jovem grupo de intelectuais e o afastamento ideológico do bacharel – resultando, desses acontecimentos, profundo desencanto no insatisfeito Paulo Rigger que com sua genitora viaja para a Europa, embarcando no Rio de Janeiro, a cidade alucinada em pleno carnaval.

Capa do livro O País do Carnaval – Foto: Reprodução

A segunda edição de O País do Carnaval ocorreu em julho de 1932, com tiragem de dois mil exemplares. Depois de reeditado pela Livraria José Olympio Editora, o livro, a partir de 1941, passou a ser editado pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, integrando, com os romances Cacau e Suor até 1975. A partir da 30ª edição em 1976, a

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10 O País do Carnaval, Otávio de Faria. São Paulo, A Razão, 1931.

obra de Jorge Amado passa a ser publicada pela Editora Record, do Rio de Janeiro. Atualmente toda sua obra é editada pela Companhia das Letras. 11

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11 III Webinário Estudos Amadianos – UNEB, 2022.