Silvaney Silva Santos. Mestre em História, pesquisador/professor dos sistemas de ensino estadual e municipal de Santo Amaro das Brotas.
Em 7 de setembro próximo o Brasil completará 200 anos de emancipação política administrativa de Portugal. Deste bicentenário, 49 anos foram governados por D. Pedro II, que começou antes mesmo de completar 15 anos de idade. O texto em tela faz um pequeno recorte de evidências que inserem Sergipe no contexto da formação de uma nobreza nos trópicos no século XIX.
Se hoje temos os disfarces nas redes sociais, a ostentação e a exibição… no oitocentos práticas ritualísticas foram usadas como estratégias de dominação e distinção; regras de etiqueta que incluíam festas, titulações e desfiles. Um verdadeiro vale tudo pela valorização e preservação da imagem de uma nobreza poderosa.
Para sustentação desse quadro, usamos “As barbas do imperador”, de Lilia Moritz Schwarcz; a qual diz que: “a etiqueta, por sua vez, transforma-se em elemento fundamental para essa coletividade da exibição, cuja influência implicava possuir uma série de privilégios”. Utilizamos também o jornal Correio Sergipense para ilustrar e perceber a província sergipana neste cenário de teatralização e reafirmação da corte no império brasileiro.
Longe de querer entrar no estudo da heráldica e suas simbologias que remontam o século XII na Europa, mas os distintivos da Guarda Nacional brasileira estavam inseridos como símbolos de prestígio nessa construção da nobreza à brasileira (ver tabela construída com base no decreto de nº 812 de agosto de 1851, instituído pelo Ministério da Justiça sob o comando de Euzebio de Queiroz Coutinho Mattoso Camara, ministro e secretário de Estado dos Negócios da Justiça).

A Guarda Nacional brasileira foi criada em 18 de agosto de 1831 em um contexto conturbado da abdicação de Pedro I e início da experiência das regências; instituição essa vinculada ao Ministério da Justiça. Com a sua criação foram extintos os corpos de milícias e ordenanças, submetidas ao Ministério da Guerra.

Os uniformes, os desfiles, as festas de aniversário, as titulações, entre outros, formaram a práxis instituída e determinada pelo governo imperial. Abaixo transcrição de um ofício dirigido ao então comandante da Guarda Nacional de Santo Amaro e Laranjeiras, Antônio Diniz de Siqueira e Mello (Senador do Império por Sergipe) sobre o fardamento da Guarda Nacional dos municípios sob seu comando (ver imagens da Guarda e seus uniformes):
Ao comandante da Guarda Nacional dos Municípios de Laranjeiras e Santo Amaro. – Approvo a escolha que v.s. fez do uniforme de cor azul para os Batalhões do seu Commando Superior convindo que o mesmo não seja alterado, e igualmente que se não use de outro sem especial determinação do Governo Imperial […].
As festas e solenidades em homenagem ao imperador dom Pedro II, quando da passagem do seu natalício, foram momentos de “consagração” da nobreza e do monarca no Brasil. Tudo fazia parte de um projeto de formação, instituição, deificação da imagem do grande redentor do Brasil.

Em Sergipe a dinâmica foi a mesma do que acontecia em todo império. O 2 de dezembro de 1860, quando Pedro II completava 35 anos de idade, foi marcado por uma parada militar dos batalhões das Guardas Nacionais de Sergipe para o “te-Deum” defronte a Igreja de São Salvador na capital (um espaço de memórias da história de Sergipe) e do perfilamento das tropas defronte ao Palácio do Governo. Abaixo um trecho desse ritual:
Palácio do Governo de Sergipe, 22 de novembro de 1860
Sendo o dia 2 de dezembro próximo vindouro de Festividade Nacional por ser o aniversário do natalício de S.M. o senhor D.Pedro II; o Presidente da Província de Sergipe, desejando que um dia tão memorável, e de tanta glória para o Império de Santa Cruz, não passe desapercebido entre bons e leaes Sergipanos, que tanto amor, dedicação, e respeito consagrão ao mesmo Augusto Senhor, tem resolvido que no referido dia se formem em grande parada compondo uma Divisão com duas Brigadas do Batalhão nº 1 da Guarda Nacional da Capital, os de nº 2 e 3 da cidade de São Cristóvão, e Villa de Itaporanga, o nº 6 da cidade de Laranjeiras, e o 7º da villa de Santo Amaro, bem como os praças da companhia fixa, que houverem disponíveis.
[…] O Presidente da província espera do reconhecido patriotismo, perícia, e zelo do Exm. Barão de propriá, comandante da Divisão […] (Correio Sergipense, 28 de dez. de 1860).
O recorte acima mostra que os “bons e leaes Sergipanos” participaram da consagração da imagem de Dom Pedro II. Que venham as festas, os banquetes, as celebrações e os desfiles… Mas não esqueçam dos indígenas, dos negros, das mulheres. “Eu quero o Brasil que não está no retrato”!!!
Referências:
Correio Sergipense, 31 de dez. 1851.
Correio Sergipense, 28 de dez. de 1860.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
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