O mundo assistiu nesse sábado a um dos momentos mais marcantes da história do esporte, protagonizado pela Seleção Brasileira. Um jogo de futebol entre as equipes principais de dois países, Brasil e Guiné, com o objetivo de mandar uma mensagem clara ao planeta: o racismo é um mal secular que está por todos os cantos e tem que ser combatido, denunciado e severamente punido.

Em campo, cinco jogadores negros fizeram os gols da goleada por 4 a 1 do Brasil: Joelinton, Rodrygo, Eder Militão e Vinicius Jr e, pelo time de Guiné, Guirassy. A partida foi disputada no Estádio Cornellà-El Prat, em Barcelona.

Brasil e Guiné se enfrentaram em Barcelona

A cor da pele também esteve no centro de outro momento épico do esporte. Foi em 1936, na Olimpíada de Berlim.

Lá, o atleta norte-americano Jesse Owens, velocista negro que chegou ao topo do pódio quatro vezes, ganhou notoriedade na hora da entrega do prêmio da prova de 200m rasos.

Naquele instante, ele deslocou seu olhar para onde se localizavam os dirigentes do Comitê Olímpico Internacional e não para a Tribuna de Adolf Hitler. O gesto foi aclamado por milhares de pessoas de vários países.

Jesse Owens foi o grande nome dos Jogos de 1936 – Foto: Reprodução

Mais recentemente, Nelson Mandela conseguiu levar a primeira Copa do Mundo para o continente africano, competição realizada em 2010. Alcançava ali uma façanha sem precedentes. O homem que dedicou sua vida à luta contra o apartheid recorreria ao futebol, com êxito, para denunciar a segregação em seu país, a África do Sul.

Movida por um presidente negro e nordestino, Ednaldo Rodrigues, o primeiro em 109 anos de existência, a CBF e mais especificamente a Seleção abraçaram Vinícius Jr e os demais atletas vítimas de atos de racismo para promover várias ações que dizem respeito à causa.

“Foi um espetáculo, embora o tema seja muito triste. Nós, da CBF, nos sentimos orgulhosos de ter iniciado essa saga. Nosso enfoque não mudará e continuaremos difundindo nossa mensagem de igualdade, inclusão e transparência”, ele disse.

Troca de camisas entre o presidente da CBF e os dirigentes da federação de futebol de Guiné

Pela primeira vez na história da Seleção Brasileira o time jogou com o uniforme todo preto. Foi assim na etapa inicial. Depois do intervalo, os jogadores voltaram com a tradicional camisa amarela e o calção na cor azul.

As menções de combate ao racismo nortearam o evento no Cornellà-El Prat. Placas em volta do campo exibiam o slogan da CBF, “Com racismo não tem jogo”. A mesma mensagem se dava pelo sistema de som do estádio, que trouxe vozes conhecidas de músicos negros do Brasil para entreter a plateia.

Poucos minutos depois de atletas de Brasil e Guiné cruzarem um túnel todo adesivado com a campanha antirracista da CBF e antes de a bola rolar, jogadores das duas seleções e o trio de arbitragem sentaram-se no gramado, como uma forma de protesto ao racismo.

Vinicius Jr: “Foi um momento muito importante. Histórico para mim também, para os que querem combater o racismo” – Fotos: Joilson Marconne/CBF

No jogo em si, superior a maior parte do tempo, o Brasil venceu um adversário difícil, de muita força física e que explora bem os contra-ataques.

Pode-se dizer, na verdade, que as duas seleções deram uma goleada na violência e na discriminação.

“Foi um momento muito importante. Histórico para mim também, para os que querem combater o racismo. Espero que possamos estar muito próximos do fim disso. Sei que é difícil. Mas vamos seguir na luta todos juntos, a CBF, os jogadores, todos os clubes do Brasil”, declarou Vinicius Jr, ainda no gramado, após os 4 a 1.

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Fonte: CBF