GILFRANCISCO [*]
Fujam dele!…
(Acaba de ser posto à venda mais um livro
De versos de Saturnino Barbosa, intitulado
A Morte de Deus)
Saturnino Barbosa, escritor, poeta e professor cubatense (SP), sarcástico, irônico, trovador e anarquista, conhecido por romper com a métrica tradicional e pelo uso simplificado da ortografia. Apesar dessas qualidades, em geral atribuídas mais recentemente, sofreu bastante em vida com as críticas que eram dirigidas a seus textos e a sua conduta. Há, ainda indicações de que como professor, tenha trabalhado em escolas literárias vinculadas ao movimento anarco-sindicalista brasileiro tenha sido professor em escolas anarquistas.
Saturnino ocupou cargos importantes no magistério paulista, sendo laureado “em pedagogia e pedologia” pela correspondence School, da Filosofia. Na verdade, Saturnino Barbosa é cientista, positivista e além de tudo pessimista. Veja o que ele diz dos brasileiros, seus compatriotas e consanguíneos:
Raça má que saiu dos presídios da Espanha
E o sangue ruim cruzou com o povo aventureiro
De Portugal e mais o caboclo traiçoeiro,
Famoso guarani de atlética façanha.
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Político a valer o homem brasileiro,
Que do alvar africano a pacatez apanha
E a mostra na mornes de calculada manhã,
Estoico no viver e no vestir faceiro.
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Da raça traços tem da terra Kiosque;
E como disse Ferri, este país ingente
É uma bela senhora a ressonar no bosque…
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Terras e terras há para uma Geografia
Colosso e quanto ao mais, é uma esquisita gente,
Tão anárquica como a sua ortografia!
Com seus versos duros, filosóficos e sábios, prega algumas verdades amargas. Vejamos este soneto:
Olhos pardos, azuis ou verdes, pouco importa
A cor, – que o rosto tenha as cores da saúde
E o animal seja são! Eis a grande virtude
Que em matéria de amor nos anima e conforta.
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Essa que anda a sofrer, que a humanidade ilude:
Clorótica mulher que a natureza exorta,
Com artifícios mil! Tétrica, semimorta,
A custo conduzindo o seu ataúde!
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Não nasce por amar: sacrifica à prole
A terra de seu copo mórbido, infecundo!
Antes deve pedir à ciência que a console…
//
Casar seus filhos ter, o coração nos parte:
É o maior atentado à sociedade e ao mundo;
Si é que não julgais ser o amor somente uma arte!
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Na época, a censura também se dava pela via a perseguição de autores, como é o caso do professor Saturnino Barbosa, que passou a ser perseguido após a publicação de um livro anticlerical, A Morte de Deus. Basta ler o artigo publicado em 1913 em A Lanterna (Ano III, nº 215), intitulado O Professor e o Jesuitismo dos Governantes, realiza uma enfática denúncia com severas críticas à censura acerca das perseguições que o professor Saturnino sofreu. Vejamos um trecho:
Sr. Redator
Tendo lido na vossa excelente folha anticlerical um diálogo que afeta de certo modo, a honorabilidade do meu distinto amigo, professor Saturnino Barbosa, resolvi escrever-vos esta a fim de dar ao público alguns esclarecimentos sobre o assunto.
Esse professor ainda não foi colocado no lugar a que tem direito, no magistério público por dois motivos:
Primeiro: Quando surge na classe, um professor independente, ativo e bastante preparado, os seus próprios colegas tratam de isolá-lo, e para isso, lançam mão de todos os meios infamantes de que podem dispor; apregoam, por exemplo, de modo que chegue aos ouvidos do governo, que o professor escreve artigos atacantes contra o governo, conta a moral e contra a religião; que, como tal, é um elemento de discórdia no seio da classe, que plantará, portanto, a desordem entre os colegas e no seio social, etc.
Segundo: Sendo o professor em questão, homem de muitas luzes, não convém ser graduado, pois irá dominá-los e, portanto, preencher algum lugarzinho ambicionado e para o qual já se está ajeitado um candidatozinho político. Está claro que para ser candidato de êxito, não precisa levar uma bagagem de excelentes obras literárias; pelo contrário, isso até serve de empecilho, principalmente se for anticlerical!
Para tal gente, vigora este cômodo aforismo: “homem calado por sábio é tomado”.
Daí o mutismo comprometedor dos nossos professores, que nada escrevem para não serem malvistos ou então para estarem bem com deus e com a santa religião!…
Como o professor Saturnino é homem desabusado, que só compreende os gozos da vida subjetiva e não veio ao mundo unicamente para ganhar dinheiro, traçou com mão de mestre, esses belos livros anticlericais, que constituem a minha delícia e a todos quantos, espíritos emancipados, têm a inaudita felicidade de os ler.
Ora, porque o professor Saturnino tem talento e escreve, merece o despreza do governo?
Infelizmente é o que se dá, Sr. Redator. E é por isso que a instrução está mistificada. Os que a dirigem, só brilham na folha de pagamento do tesouro…
Não se lê um livro de verso, não se vê um rasgo de civismo a Cesário Mota, não se goza da generosidade de uma nobre ação pedagógica!
Toda a nossa educação se funde na materialização pedantesca dos suntuosos palácios, que o dinheiro da politiquice engendrou para deslumbrar o estrangeiro incauto!
A educação e o prepare ministrado nos colégios oficiais, são chinesices fosfóricas…
Os meninos fumam, bebem álcool, esbofeteiam-se, injuriam-se, impunemente, à vista dos seus próprios educadores; o próprio governo não ignora essas coisas!
Que nobre geração dará este povo de bandidozinhos, carecedores ainda de educação doméstica!
Depois, num país onde só se cuida de política, que tempo resta para a formação da alma e coração dos alunos?
Não será esse, acaso, o mister mais nobre do pedagogo?
Pois bem, essa parte tão importante da pedagogia, é, entre nós, completamente desprezada!
De modo que o que se ensina em São Paulo, não é a nobre aplicação da pedagogia, ciência da educação; mas um mistifório de religião, ciência e politiquice…
Daí o efeito dessa nefasta causa: as acusações entre cortinas, os ódios mal contidos, os despeitos inconfessáveis gerando mesquinhas perseguições de secretários jesuítas, como no presente de um distinto amigo professor Saturnino.
Como tal sistema, sr. Redator, a pedagogia paulista longe de produzir, como nos Estados Unidos, uma geração forte, integralmente educada e feliz, gerará uma população de aflitos, inclinada à perversidade de costume e às guerrilhas de emboscadas.
Inácio de Loyola ocupará o lugar de Cesário Mota e Saturnino Barbosa será queimado numa fogueira de ódios por cometer o gravíssimo erro de escrever, em pleno século XX, obras anticlericais!
Vosso admirador
Dr. Faustino Ribeiro
A Lanterna. São Paulo, 1º de novembro de 1913.
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Perseguido pelo O Pirralho
Revista predominantemente literária e política lançada em São Paulo (SP) em 12 de agosto de 1911, fundada por Oswald de Andrade e Dolor de Brito com o objetivo de questionar e repensar a arte brasileira. Enquadrado na excitação cultural que culminou no Modernismo – que, por sua vez, encontrou seu expoente na Semana de Arte Moderna de 1922 – a publicação era propriedade formal de José Oswald N. de Andrade, pai de Oswald de Andrade, sendo, no entanto, dirigida pelos fundadores.
1. O poeta Saturnino Barbosa, pausadamente, compassadamente, como uma jiboia após a refeição, entra pelo Guarany adentro. O elegante chile, bem por cima dos crespos e negros cabelos, equilibra-se elegantemente no cocuruto do vate. S. exa.
Senta-se formalizado a uma mesa em que o Wenceslau come torradinhas e o Cardim faz trocadilhos.
2. O famigerado Saturnino Barbosa atirou à sua as suas Críticas Irracionais, escouceando Vicente e Amadeu. Parabéns às vítimas.
3. No Guarany – Peleja Literária
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Emílio de Menezes versus Saturnino
É com o orgulho de paulista, abatido, que vamos noticiar um fecha intelectual, ocorrido no café Guarany, na noite de quarta-feira, em que se bateram no terreno da Literatura e da piada o Sr. Emílio de Menezes e Sr Saturnino Barbosa.
O Sr. Saturnino Barbosa, já o dissemos muita vez, como poeta, é um coitado.
Mas é pedagogo, cientista, anarquista intelectual, etc.
4. Saturnino Barbosa pro domo sua
Do vate Saturnino Barbosa recebemos uma importante Carta, da qual damos abaixo alguns tópicos:
“As suas tempestuosas críticas arremessadas contra a minha já firmada reputação literária, têm dado motivos a que eu receba inúmeros cartões de colegas e amigos pelo triunfo que o meu nome vai alcançando na esplêndida trajetória das letras. Obrigado pelos reclames! ”
5. O professor Saturnino Barbosa seguirá em novembro, para o interior do Estado afim de aconselhar os criadores de muares anão venderem burros para o estrangeiro. O Sr. Saturnino receia que a São Paulo suceda o que aconteceu à Argentina. O poeta Vitruvio Marcondes logo irá fazer idêntica propaganda.
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Lógica de Jesuíta e… do Governo
Um autêntico e curioso diálogo
Quando o professor Saturnino Barbosa residia em Santos, o dr. José de Freitas Vale foi à secretaria do Interior solicitar do dr. Altino Arantes a vinda daquele professor para S. Paulo, fazendo-lhe ver que era uma boa medida, que o mesmo devia ser promovido, etc., etc.
– Esse professor é um grande imoral; escreveu o Poema Transcendente, a Morte de Deus e o Ensaio de Crítica Racionalista; livros anticlericais e de educação sexual… não pode vir para S. Paulo, disse o dr. Altino Arantes.
– Mas eu já escrevi coisa pior, retrucou o dr. Freitas Vale…
– V. Exa. Não é professor, responde o secretário
– Mas sou excelente chefe de família, continua o dr. Freitas, como o é o meu bom amigo, professor Saturnino.
– Bem… nesse caso, vou removê-lo para uma escola isolada, adianta o secretário.- É pouco, volve o dr. Freitas. Se v. exa. Acha que um professor imoral deve ir para uma escola isolada, para onde deverá ir um que seja completamente moralizado?
– Para a Escola Normal, conclui logicamente o dr. Secretário.
– Para onde foi o René Barreto, que nunca escreveu sobre educação sexual… V. exma. Procede muito bem. Assim pensava o grande santo Ignácio de Loyola, que Deus conserve na sua santa Glória, terminou o deputado, retirando-se.
Um anticlerical
A Lanterna. São Paulo, 25 de outubro de 1913.
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Pedagogo Anarquista
Em 1915, realiza-se a criação da Universidade Popular da Cultura Racional e Científica. O curso superior achava-se sob a direção de intelectuais de reconhecida competência, figurando entre eles o professor Saturnino Barbosa, Drs. Roberto Feijó, Passos Cunha, A. de Almeida Rego, Alfredo Junior, além de Fernando de Andrade, um dos fundadores da instituição, os quais lecionavam matérias de sua respectiva especialidade.
Vejamos Carta de Saturnino ao amigo Edgard Frederico Leuenroth (1881-1968), tipógrafo, jornalista, arquivista e propagandista, um dos mais notáveis anarquista do período da Primeiro República brasileira. Fundou diversos jornais e colaborou em diferentes funções junto a tatos outros. Foi responsável direto pela constituição de um dos maiores arquivos existentes sobre a memória dos movimentos operário e anarquista que hoje está sob os cuidados da Universidade de Campinas, levando o seu nome.
Caro amigo Edgard Leuenroth
Muito saudar
Há muito torno da minha vida um mistério que não posso compreender, por mais tratos que dê a bola. Ei-lo: Em 1904 formei-me pela Escola Normal de S. Paulo, tendo vindo cá para Santos iniciar a carreira do magistério numa escola isolada.
Perlo regulamento da instrução, deve o professor permanecer apenas dois anos em tal escola, que constitui os primeiros passos do mestre na escola a percorrer.
Entretanto, 8 anos são passados e eu continuo ainda como o recruta insubordinado, no mesmo ponto de partida, como se tivesse iniciado agora a vida do magistério público.
Dos meus colegas de turma não existe um só nas minhas condições: uns são diretores de grupo-escolar, outros são lentes de escola normal e outros ainda, adjuntos de grupo.
De todos eles o mais desprezado, o que nada conseguiu até hoje, é o subscritor destas linhas.
Qual será, pois, o motivo do meu insucesso?
Amizades políticas não me faltam, pois possuo até o do que, pois, e dispõe das escolas estaduais de Santos, o senador Cesário Bastos. De talento e preparo creio que também disponho, aí então as minhas obras a comprová-lo. Crimes e distúrbios, nunca os pratiquei, que me conste; prezo-me de ser um excelente chefe de família. Os dias da minha vida preencho-os trabalhando de manhã a noite, no ensino público e particular.
Com relação à moral, adoto a de Augusto Comte: “Viver às claras”.
Ignoro, pois, o motivo que tem determinado esse indiferentismo do governo em relação as minhas aspirações no magistério.
Verdade é que uma colega distinta escreveu duas cartas, que foram publicadas no semanário independente A Capital, que vê a luz ai, atribuindo a minha falta de êxito, na carreira do professorado, às ideias independentes que expendo nas minhas obras. Será bem isso? Parece-me que não. A Constituição garante a liberdade de pensamento e o governo nada ter que ver com as ideias filosóficas dos seus funcionários.
A que atribuir pois, meu Edgard, senão ao dedo misterioso do padre!
Possuo uma carta preciosa de um católico ilustre, onde se pede seja exercida a maior perseguição possível ao nefasto autor da obra mais execrável que se tem escrito no Brasil – A morte de Deus”
Atribuo, pois, ao padre o meu insucesso.
Todo teu
Saturnino Barbosa
Santos, 25-8-1912
(A Lanterna. São Paulo, 14 de setembro de 1912)
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Emílio Versus Saturnino
Um duelo em verso
Quando era vivo Emílio de Menezes, de uma vez que foi a São Paulo, atirou-lhe umas ironias mais ou menos rimadas, o celebre vate Saturnino Barbosa. Emílio de Menezes como é de ver, repontou desfechando-lhe o soneto que transcrevemos, revidando o poeta santista como o outro que logo segue. Parece que as únicas consequências do encontro foram os sonetos que publicamos abaixo.
Emílio Nunes Correia de Menezes, jornalista e poeta parnasiano de veia crítica e satírica, nasceu em Curitiba (PR), em 4 de julho de 1866, e faleceu no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 1918:
A Saturnino Barbosa
Um poeta Ateu
Pedadogo pernóstico e pedante
Com vasta pretensões a literato;
Barrigudinho, cético, insensato,
Portador de uma cara extravagante.
//
Eis o poetastro trêfego e barato
Que o chicote da crítica ululante
A zero reduziu no mesmo instante
Em que passou a residir no mato.
//
Hoje não vibra mais, é letra morta,
Nem sonetos, nem livros maltrapilhos:
Passa o tempo a pedir, de porta em porta.
//
Há de acabar assassinado os seus
Como Saturno a devorar seus filhos,
O matador sacrilégio de Deus.
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Emílio Menezes
Bojudo latagão de longas guias
No carão rubicundo e petulante.
Quando caminha lembra um elefante
Que prelibasse whisk nas orgias
//
Gosta das musas; fala a todo o instante
Da vida alheia; é um poço de arrelias
De onde pululam finas ironias
Quando cheio de um líquido espumante…
//
Eis p grande poeta celebrado
Que por descuido ao mundo foi lançado
Para terror dos homens e dos bichos
//
Em guarda engenhos maus! Alerta, oh gente!
Abram alas à sátira mordente,
Chuços, calinos, rótulas, esguichos..
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Obras
Espírito culto, o autor do Poema Transcendente (1909), combate nesse trabalho as velharias e abusões que ainda imperavam na época, entravando a roda do progresso social e revela-se um fervoroso crente dos conceitos modernos que a filosofia de Comte, Hobes e Hackel nos ensina.
Sobre o livro A Capital Artística, publicado em 1919, a revista A Vida Moderna nº 356 de 8 de abril de 1919, registra:
O Sr. Saturnino Barbosa, autor impune d’A Morte de Deus, pertence a uma escola literária, cujos fundamento, entre nós, foram lançados pelo Sr. Freitas Valle (Jacques d’Avray), com os Rebentos, e definitivamente estabelecidos pelo comendador Gil Pinheiro com O Roteiro de Lisboa e pelo Sr. Joaquim de Queiroz com o Incenso.
O Sr. Saturnino Barbosa, que é professor público e candidato a uma vaga na Academia Brasileira, com efeito, ainda misto se revela autêntico discípulo do Sr. Freitas Valle – é igual de princípio ao fim.
Afirma Saturnino Barbosa no prefácio de O Canto do Cisne, publicado em 1913:
Agora, porém me apresento diante dos senhores professores e mortais, humilde como uma irmã da caridade, entregando-lhes, para ser julgado, O Canto do Cisne um livrinho de versos piegas, vasado nos moldes do alambicamento da santa madre igreja católica.
Vejamos o primeiro poema do livro:
Quero um canto que vibre, ondas revoltas quero
No mármore graval e, altissonante, um misto
De dor e raiva, um grito atroz de um peito austero
Que persista na dor, assim como eu persisto.
//
Um canto não sonhado ainda! Um canto fero
Que cuspa ao mundo o horror que me tortura, visto
Que não possa deitar-lhe fogo como Nero
A Roma, irado e mau, escarnecendo a Cristo!
//
Um canto que azorrague essa canalha – o povo!
Fonte de todo o mal, de toda a lama infecta
E a quem, guerra de morte, eternamente, novo.
//
Povo torpe, sem fé, famélico, indefeso!
Que canto mais infame e nauseabundo o poeta
Há de vos ofertar, em nome do disperso?
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Segundo Saturnino Barbosa em seu artigo, Como escrevem os nossos homens de letras, publicado n’O Pirralho nº 82, 15 de março de 1913, afirma:
Nos meus livros A Morte de Deus e o Poema Transcendente, eu tive intenção de mostrar que tudo é matéria, que a ideia de Deus não passa de uma divinização da matéria e não mais.
Daí o barulho que se fez em torno d’aquelas duas obras.
No Canto do Cisne, modifiquei por completo o lirismo e mostrei que não só é poeta lírico aquele que fala com o coração na mão, mas mesmo o que tem algum pensamento grandioso e novo, capaz de reformar princípios sociais e extinguir preconceitos.
Vejamos a Nota da Razão, do Rio de Janeiro, edição de 16 de abril de 1920, sobre o provável sucesso do livro A Morte de Deus:
Um livro que fará sucesso.
Está de parabéns o Sr. Saturnino Barbosa, pelo magnífico reclamo que o clero de São Paulo está fazendo do seu poema A Morte de Deus.
Sem esse reclamo, s. s. talvez não conseguisse esgotar a tiragem da primeira edição do seu livro. Agora, porém, trate s. s. de fazer uma edição popular, para dar vasão às encomendas.
As excomunhões têm essa vantagem. Chamam a atenção do público para a obra amaldiçoada. Foi assim com Guerra Junqueiro e com todos os que souberam incorrer nas iras da padralhada.
Quanto ao mais, não se incomode o Sr. Saturnino Barbosa. Mesmo porque, no dia em que quiser voltar ao seio da “Santa madre igreja romana”, basta fazer o que fez Gomes Leal, que, não obstante haver sido amaldiçoado, é hoje o enlevo do clero português.
Pois é, Don João Nery, Bispo de Campinas, excomungou o poeta Saturnino Barbosa e proibiu terminantemente aos seus fiéis, católicos, a leitura de seu poema A Morte de Deus, obra que, no dizer de Vicente de Carvalho, notável poeta e jurisconsulto paulista, levanta assustadoramente a poeira do escândalo em torno da santa crença.
Aproveitando o ensejo, o Sr. Júlio Conceição, opulento livre pensador, residente em Santos, mandou editar 20.000 exemplares dessa obra e distribuir em todos os estados do Brasil.
Saturnino, publicou as seguintes obras:
Poema Transcendente (São Paulo, Typ. Cunha, 1909)
A Morte de Deus – poema filosófico (1911), raríssima publicação
O Cosmopolitismo dos Carrapatos (1912)
A Capital artística – biografia (1919)
Ensaios de Critica Racionalista (São Paulo, Typ. A. Carvalho)
O Canto do Cisne (1913)
Filosofia da Morte (1950)
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Academia de Letras
Em 1919, com o falecimento do poeta Olavo Bilac, abrira-se vaga para ocupar sua cadeira, na Academia Brasileira de Letras e tiveram vários concorrentes: Heitor Lima, Hermes Fontes, Pereira da Silva, Amadeu Amaral, Barbosa Lima, Joaquim Queiroz e Saturnino Barbosa. Para a Vaga, foi eleito Amadeu Amaral em 2 escrutinios.
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Poemas
Entrai para avida!
O. DE A.
In Pulvis
História de uns Olhos
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[*] É jornalista e escritor. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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