Silvaney Silva Santos [*]

Escrevendo essas linhas tortas com um sentimento de saudades. Saudades do que não vivi em terras santoamarenses. O texto em tela tem como objetivo apresentar impressões de um frequentador e propagandista assíduo de SANTO AMARO DAS BROTAS, o capelense, jornalista, poeta e escritor das VARIAÇÕES EM FÁ SUSTENDIDO, Zózimo Lima. Devido à atuação do supracitado em nossas paragens, o mesmo tornou-se nome de praça, PRAÇA ZÓZIMO LIMA, no bairro Tabuleiro.

Em uma das suas “Variações em fá sustendido” Zózimo descreve o “gostoso passeio à Santo Amaro”. Observa a datação da fundação da nossa Matriz (1728), a qual “abrigou centenas de revolucionários acuados pelas tropas de Caldeira Boto e Barbosa Madureira”.

Conhecedor da história de Sergipe, cita o frontispício do templo do século XVIII e relembra que “lá está, encimado a porta principal da Igreja, a imagem do orago, Santo Amaro, que teve o braço partido por uma bala mandada pelo facínora João Soares Soledade, – o desgraçado João Bolacha, que o povo matou a tiros e a cacete, em represália, no mesmo local, a praça da Matriz”. Esta passagem citada pelo cronista, alude sobre a chamada Revolução de Santo Amaro das Brotas no Período Regencial brasileiro, quando se vivia um vazio de poder.

Foto: Reprodução

Zózimo Lima lê Santo Amaro como poucos dos seus filhos. Sobre o poderio econômico no século XIX do que chamo de lendária Santo Amaro, o jornalista apresenta a estrutura social da antiga vila composta por “dezenas de engenhos de propriedade de fidalgotes orgulhosos e semianalfabetos. As matronas eram gordas, respeitáveis e autoridade na fatura dos doces e saborosas feijoadas. Implacáveis, porém, na perseguição das mulatas escravas que aplacavam à força a sensualidade dos senhores brutamontes”.

Em sua crônica histórica Zózimo observa: “Houve até imprensa em Santo Amaro. Lá se publicavam “A VOZ DA RAZÃO” e o “CONCILIADOR”. Ambos os jornais de propriedade do Comendador Antônio José da Silva Travassos. Estas folhas oposicionistas tiveram vidas efêmeras pela censura e truculência da época”.

Desconsiderando anacronismos, distanciando-se dos fatos históricos e voltando à realidade daquele “gostoso passeio”, Zózimo cita alguns nomes que podem tocar a memória afetiva de alguns familiares, Zeca Maia, “baronete do Porto das Redes”, de quem recebeu um presente, o Dicionário Português, de Moraes, de 1858, editado em Lisboa; a Madre Maria Luiza, a qual dirigiu a nossa COLÔNIA DE FÉRIAS, local que presenciou várias reuniões republicanas e progressistas; a exemplo da presença do educador Paulo Freire, quando produziu a Carta de Santo Amaro, documento que defendia a criação da Universidade Federal de Sergipe. João Costa, prefeito naquele ano de 1968, o mesmo ofereceu em sua residência um lauto almoço e possivelmente teria falado sobre a importância de se implantar, em Santo Amaro, o Ginásio, empreendimento que já existia em Maruim, nossos vizinhos autônomos.

De regresso do passeio o adjetivo “gostoso” se justificou pelos “4 cachos de bananas, um litro de camarões graúdos e uma corda de gaiamum”. Por fim, a saudação a Santo Amaro e a sua gente.

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[*] É Mestre em História, pesquisador/ professor dos sistemas de ensino estadual e municipal de Santo Amaro das Brotas.