GILFRANCISCO [*]
[É jornalista, pesquisador, autor de vários livros e funcionário do TCE/SE. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com]
Ranulfo Prata vida & obra, EDISE, 2019, 333 páginas. Desde que cheguei a Sergipe em janeiro de 1996, minha intenção era conhecer as obras dos escritores sergipanos que se destacaram no passado. Um dos primeiros livros consultados foi Prosa Sergipana – uma antologia, organizada por José Olyntho e Márcia Maria, publicada pela editora Thesaurus, 1992. Do livro listei alguns autores, entre eles estavam o de Ranulfo Prata (1896-1942), Alina Paim (1919-2011) e Paulo de Carvalho Neto (1923-2003), mas a pesquisa só teve início em 2004, sendo interrompida logo em seguida, para dar prioridade a outros projetos, considerados mais importantes. Lembro-me perfeitamente da profunda emoção e surpresa que senti ao ler Lampião, de Ranulfo Prata, foi minha primeira investida em sua obra.
Preparei um livro para principiante, capa de ser entendido por todos, pelos que estudam pelos que ensinam e também por aqueles que aguardam um primeiro encontro com a obra de Ranulfo Prata, escritor pioneiro, o mais famoso romancista sergipano da época. No entanto, pouco se conhece da vida-obra desse homem revelador, que através da sua obra denunciou a paisagem sertaneja marcada pelas grandes extensões pediplanizadas, drenadas por rios temporários e cobertas pela caatinga.
Escritor profundamente humanista, homem cheio de bondade e compreensão, Ranulfo Prata vive ainda na memória dos que o conheceram pessoalmente, mas pouca reação provoca no espírito das novas gerações. Nesse livro estão reunidos pela primeira vez vários artigos, discursos, entrevistas, correspondências, conferências, prefácios sobre a obra de Ranulfo Prata, além de três contos esparsos perdidos ou esquecidos em velhos jornais. O livro tem ainda Prefácio de Claudefranklin Monteiro Santos, professor da UFS; abas do presidente da Academia de Letras de Sergipe, José Anderson Nascimento, Posfácio do professor da UFS Luiz Eduardo Oliveira, contracapa do conselheiro do TCE-SE Carlos Pinna de Assis, e Apresentação do governador do Estado de Sergipe Belivaldo Chagas. Vejamos o texto deste último.
Uma Dívida em Resgate
Belivaldo Chagas [*]
O livro que iremos ler é fruto do trabalho cuidadoso e intenso de um pesquisador. O historiador GILFRANCISCO, dotado de intenso fôlego para remexer os anais do tempo pretérito, estimula o que será começo apenas, do resgate de uma divida imensa do Governo de Sergipe, em relação à memória de um dos mais ilustres literatos sergipanos.
Ranulfo Hora Prata, romancista, contista, médico, professor, na sua simplicidade e timidez, às quais se refere GILFRANCISCO, o autor deste livro, antecipou – se aos agitos da Semana de Arte de 1922, dos quais estava distante, mas, já avançara na transformação da nossa literatura, enraizando-a com a terra brasileira, nordestina, sergipana.
Ranulfo, um lagartense com raízes na nossa Simão Dias, viveu pouco, mas deixou um legado de virtuosos resultados em todos os setores de atividades às quais se dedicou. Foi criativo e inovador na literatura, precursor nas ciências médicas, e exemplar como sacerdote da solidariedade humana, que aprofundava, indo ao âmago da esperança cristã.
Seus descendentes lhe seguiram as exemplares pegadas. Um dos seus filhos, também médico, Paulo, voltou suas atenções para o atendimento aos pacientes oncológicos, e fez avanços, numa época em que a doença ainda era uma fatalidade quase insuperável. Seu filho, Henrique, não seguiu a tradição da família, não foi atraído pela medicina, tornou-se empresário. Dedicou-se, então, a concretizar o sonho do pai. Foi muito além do sonho, instalou, não só um portentoso sistema de atendimento, pesquisa e prevenção na área oncológica, mas, sobretudo, uma filosofia de trabalho, de ação filantrópica, que é hoje um destaque brasileiro no campo da oncologia. O Hospital de Barretos é referência mundial.
O Governo de Sergipe inicia com a publicação deste livro um percurso pela obra de Ranulfo Prata, o avô paterno de Henrique; e que terá continuidade com outras publicações, para demonstrar, também, a adesão do poder público ao fervilhar da inteligência sergipana, que cuida do presente, e vai ainda ao passado, encontrar-se com a seiva mater da criatividade, inspiração e sonho, que nos alimenta.
[*] É governador do Estado de Sergipe
Foto Destaque: Arquivo Pessoal
Deixar Um Comentário