“Quem sempre lutou por Aracaju merece ser cidadão desta terra. E a vida de Milton Coelho é uma vida de dedicação não apenas a Aracaju, mas a Sergipe e ao Brasil. Por isso, nada mais justo que conceder o título de cidadania aracajuana”, disse a vereadora Professora Ângela Melo (PT).

Esse reconhecimento histórico mencionado pela parlamentar acontecerá na tarde desta terça-feira, 28/3, às 16h, na Câmara Municipal de Aracaju. A concessão do título de cidadania foi uma iniciativa de Professora Ângela Melo, aprovada pelos vereadores e vereadoras da capital sergipana.

Sobre Milton Coelho

A biografia de Milton Coelho de Carvalho dá razão a Angela Melo. Nascido em 1942, em Salvador, Milton migrou com a família para Aracaju na década de 1950. O motivo? As constantes perseguições políticas que o seu pai – por ser comunista – sofria. Aqui, Milton Coelho estudou no Ateneu e foi aprovado em concurso público para trabalhar na Petrobras, exercendo, a partir de 1966, a função de encarregado do almoxarifado.

Membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Milton também enfrentou perseguição e dificuldades até mesmo para tomar posse na Petrobras. Afonso Nascimento, professor de direito da UFS, conta que Milton “precisou se deslocar diversas vezes em busca de tal atestado na Secretaria de Segurança Pública de Sergipe, sempre recebendo um documento que relatava seu passado de comunista e suas duas prisões ocorridas em 1964. O prazo para fazer a entrega do atestado estava acabando e, assim acontecendo, o próximo candidato na fila dos aprovados seria convocado. Foi então que alguém lhe deu uma ideia. Que tal ele ir a um cartório e pedir esse atestado? Conseguiu uma declaração segundo a qual ele não tinha nenhuma condenação na Justiça Criminal e Civil de Sergipe. Era, portanto, um operário ficha-limpa. Aí deu tudo certo. Virou petroleiro”.

Dez anos após iniciar as suas atividades como petroleiro e com posição estratégica no PCB, Milton Coelho foi alvo de um dos episódios mais violentos da história brasileira: a Operação Cajueiro, ação da Ditadura civil-empresarial-militar, deflagradaem fevereiro de 1976, que prendeu e torturou dezenas de sergipanos.

Pancadas na cabeça, choques nas partes mais sensíveis do corpo, tentativas de afogamento e golpes nas alturas dos rinseram algumas das táticas de torturas a que esses sergipanos eram submetidos. Todos eram também obrigados a usar um capuz que pressionava fortemente os olhos com borracha. Um dos resultados? Milton Coelho perdeu a visão dos dois olhos.

“Até hoje tenho a marca das algemas de ferro nos pulsos, a mão inchou. Saí dali sem visão, passei um mês num hospital de Salvador, depois fui encaminhado para Belo Horizonte onde fiz tratamento, cirurgias. Em 1º de novembro de 1977 fui aposentado por invalidez”, declarou Milton, em depoimento à Comissão Estadual da Verdade.

“O Estado brasileiro torturou Milton Coelho, um trabalhador e militante que vivia nesta cidade. Agora, décadas depois, esta cidade lhe concede o título de cidadania. E com este título queremos dizer a Milton: muito obrigado por resistir ao autoritarismo e por defender a democracia. Só estamos aqui porque gente como você existe”, declarou Professora Ângela Melo.

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Fonte: Assessoria de Comunicação

Foto: Ascom / Comissão Estadual da Verdade