Por GILFRANCISCO

[É jornalista e funcionário do TCE/SE. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com]

Paulo de Carvalho Neto vida & obra, EDISE, 2019, 415 páginas. Infelizmente não conheci o escritor sergipano Paulo de Carvalho Neto (1923-2003), apesar de encontrar-me já residindo em Aracaju desde o início do mês de janeiro de 1996, época em que dirigia e coordenava o Departamento do curso de Letras da Universidade Tiradentes – UNIT -, além de lecionar em alguns cursinhos de pré-vestibular. Eram anos de intensas atividades e envolvimento com o magistério, ficando impossível de comparecer aos Encontros Culturais de Laranjeiras, onde Paulo esteve por várias vezes como conferencista. Mas foi através das inúmeras conversas com o jornalista Luiz Antonio Barreto e as constantes consultas ao acervo de Paulo de Carvalho Neto adquirido na época por Luiz, de quem recebi três artigos de Paulo sobre o poeta sergipano Enoch Santiago Filho (1919-1945), os quais incluir no livro “Flor e Rochedo Rubro – o poeta Enoch Santiago Filho, publicado em 2006 pela Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe. Foram a partir desses contatos com Luiz Antonio Barreto, que me interessei pela obra do antropólogo simãodiense Paulo de Carvalho Neto, homem com toda a sua grandeza e possibilidades.

Capa do livro Paulo de Carvalho Neto, de autoria de GILFRANCISCO Fotos: Arquivo Pessoal

Procurei reunir nesse trabalho somente os contos, artigos literários e folclóricos além das entrevistas literárias realizadas por Paulo de Carvalho Neto em sua primeira fase, publicadas em periódicos, que ficaram esquecidos ou perdidos com o tempo, além de apresentar alguns textos de importância para elaboração da sua fortuna crítica. O livro acha-se dividido em sete  partes: Apresentação; A morte de Paulo de Carvalho Neto na Imprensa; Entrevistas; Julgamento crítico; Esparsos; Entrevistas: Falam os nossos intelectuais e Subsídios biográficos.  Na fase final da pesquisa recebi uma valiosíssima colaboração do escritor e pesquisador Jackson da Silva Lima, que me forneceu uma relação elaborada por Paulo de Carvalho Neto de parte dos seus artigos escritos e com indicação dos órgãos em que foram publicados, mas com muitas informações incorretas. Das mãos de Jackson recebi ainda três cópias de textos, que eu não havia localizado durante as pesquisas.

Paulo de Carvalho Neto Vida & Obra, não é um livro de análise literária, e sim uma amostragem que reúne como já foram mencionados: artigos, contos, entrevistas e estudos sobre folclore escritos pelo homenageado, cuja trajetória intelectual levou-o de diretor de um jornalzinho escolar, para o seio universitário que ocorreu de forma gradativa e deste para o romance. Neste livro, o leitor encontra cerca de quatro dezenas de fascinantes trabalhos que abordam os mais e diversificados aspectos mostrando a evolução de Paulo de Carvalho Neto, singular escritor sergipano cuja literatura cresce de importância dia a dia.

O tem prefácio da antropóloga e professora emérita da UFS Beatriz Góis Dantas, abas do Conselheiro do TCE-SE e membro da Academia de Letras de Sergipe, Carlos Pinna de Assis, contracapa de Clóvis Barbosa de Melo, Conselheiro do TCE-SE e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas, alem da apresentação do governador do Estado, Belivaldo Chagas.

Paulo de Carvalho Neto e as vizinhanças

Belivaldo Chagas [*]

Nós, simãodienses, temos um hábito que, aliás, deve ser o de todos os sertanejos. Vivendo em comunidades pequenas, vilarejos, fazendas, cidades miúdas, buscamos nos aproximar dos vizinhos, e também ampliar as vizinhanças. Seria um gesto de fraternidade, e também de autoproteção. Ampliando os relacionamentos, nos entendemos  e melhor nos identificamos, elaborando os elos de solidariedade que fazem também convergir interesses. Essa, talvez seja ainda uma visão dos meus tempos de menino. Agora, a internet rompeu  as barreiras das distancias, tornou a todos vizinhos bem juntos, embora,  como se estivéssemos a formar uma legião de autômatos.

Paulo de Carvalho Neto é de uma geração mais distante, nasceu em 1923, tempos ainda de isolamentos a amplidões de espaços entre as pessoas. Veio à luz em Simão Dias, na cepa ilustre de uma família de intelectuais.

Seu pai, um dos maiores juristas de Sergipe, Antônio Manoel de Carvalho Neto (1889-1954).

O pai elegeu-se deputado federal, e lá se foi ele, bem menino, a residir na capital da República, o Rio de Janeiro. Na cidade grande surgiu a alma cosmopolita, e logo Paulo ganharia o mundo.

Seus estudos de folclore e antropologia, o credenciaram a ser adido cultural do Itamaraty em diversos países latino-americanos. Então, se fez o intelectual que, seguindo a seara aberta por outro sergipano de gênio, Manuel Bonfim (1868-1932), começou a “descobrir” a América Latina; os vizinhos que nos cercam, e aos quais temos sido na nossa monolítica dimensão continental tão indiferentes.

Paulo, tanto avizinhou-se  dos nossos fronteiriços, ou quase, que se fez um grande estudioso e conhecedor das suas características, do folclore, da antropologia, da História, das diversidades nas quais nos identificamos. E fez literatura tendo como cenário a  latinoamérica.

Distante, ele nunca deixou de avizinhar-se da sua terra.  Professor da Universidade da Califórnia, após seu périplo pela América Latina, o sergipano de Simão Dias, na sua cadeira de Antropologia, nunca deixou de incluir temas sergipanos, e estudos sobre o folclore brasileiro aos quais dedicou-se  durante toda a vida. Aposentado, Paulo retornou ao Brasil na década de 80, mas não conseguiu fazer ressurgir na UFS a cadeira de Antropologia que tinha intenções de ministrar. Desistiu da terra, e foi terminar seus dias no Rio de Janeiro.

Desde então, temos um impagável debito a ser cuidado em relação à memória desse ilustre e  desbravador sergipano.

Mais uma vez,  GILFRANCISCO faz uma das suas notáveis incursões, e nos oferece, por inteiro e em minuciosos detalhes a indispensável biografia de Paulo de Carvalho Neto.

Como governador, tenho a honra e a sorte de,  neste período, ter autorizado a publicação pela EDISE, desta, e de mais uma biografia,  de outro luminar da cultura sergipana, Ranulfo Prata.

Talvez, por esta e por outras, é que possa explicar de peito inflado, porque me ufano de ser simãodiense, e, mais ainda sergipano.

[*] É governador do Estado de Sergipe