GILFRANCISCO: jornalista, pesquisador e escritor. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com . Membro do GRUPO PLENA/CNPq/UFS GPCIR/CNPq/UFS

“A crônica parece o gênero mais fácil e realmente é para os que não ousam ou não merecem tentar uma existência literária mais duradoura”.

Fernando Sabino (1923-2004)

Etimologicamente, a palavra grega chronos, que significa “tempo”, encontra-se, em nossa língua, como radical de muitos termos que se ligam ao sentido original. Assim, rastreando dicionários, acabamos sabendo, por exemplo, que “cronômino” é um designativo de divisões do tempo; que um “cronograma” é um gráfico que prevê prazos para a execução de um trabalho; e que obedecer a uma ordem “cronológica” é dispor fatos na ordem temporal em que se deram.

Assim também é a palavra crônica. O mesmo radical das palavras citadas nela está presente, relacionando-a com a ideia de tempo. Designativo de um gênero específico de textos, o termo crônica mudou de sentido em sua evolução, mas nunca perdeu os vínculos com o sentido etimológico que lhe é inerente e que está em sua formação.

No início da era cristã, chamava-se crônica relação de acontecimentos organizada cronologicamente, sem nenhuma participação interpretativa do cronista. Nessa forma, ela atinge o seu ponto alto na Idade Média, e nesse sentido, lembramos cronistas como Fernão Lopes, Rui de Pina, Zurrara, João de Barros, Diogo do Couto, entre outros. Mas no século XVI, o termo cronista começa a ser substituído por história. Somente a partir do século XX é que a crônica apresenta um trabalho literário que à aproxima do conto e do poema, impondo-se, porém, como uma forma especial.

A pré-história literária brasileira começa com uma crônica. A Carta de Pero Vaz de Caminha. o escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, é o auto ofício do nascimento do “Brasil” e da própria crônica brasileira, inaugura a primeira fase e a corrente dos cronistas apaixonados divulgadores das grandezas do Brasil. Enviada a El-Rei D. Manuel, o Venturoso, em 1500, assinala o momento em que, pela primeira vez, a paisagem brasileira desperta o entusiasmo de um cronista, marcando impressões da terra recém- descoberta, seu clima e a atitude dos nativos, erroneamente chamados de índios.

O texto da Carta é indiscutível, e criado por um cronista no melhor sentido literário do termo, pois ele recria com engenho e arte tudo o que registra no contato direto com os índios e seus costumes, demonstrando ser um cronista de estilo ágil, vivo, perspicaz.

Outros cronistas portugueses redescobrem o Brasil, depois de Caminha, dando notícias da nova terra aos europeus e detendo-se, principalmente, no seu aspecto exótico e pitoresco e nas suas possibilidades de exploração. Entre eles só para citar alguns exemplos. Pero Lopes de Souza, Diário da Navegação… (1530-1532); Pero de Magalhães Gândavo, Tratado da Terra e Gente do Brasil, no qual se contém a informação das coisas que há nestas partes e História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil; Gabriel Soares de Souza, Tratado Descritivo do Brasil em 1587.

O estudioso Edison Carneiro, num artigo publicado na revista gaúcha Província de São Pedro, nº5, 1951 (anos depois incluído no livro A Cidade do Salvador 1549 – uma reconstituição histórica -, Organização Simões, 1954), descreve sobre os cronistas mais importantes que se ocuparam com a fundação da Cidade do Salvador: Gabriel Soares, Frei Vicente do Salvador e Jaboatão e aponta alguns erros que os historiadores que vieram depois, aceitaram sem maior exame. Diz o baiano Edison Carneiro:

Alguns dos erros desses cronistas são tão palmares que podem ser corrigidos com a ajuda do senso comum. Os outros não exigem maior esforço, pois têm a sua origem nos erros anteriores, decorrem do descobrimento de fatos que hoje estão ao nosso alcance ou resultam do desejo de passar por conhecedores de todas as coisas do Brasil. Erro que não se compreende como puderam permanecer.

Esses fatos são os riscos que alguns cronistas correm por falta de investigar as informações recolhidas, verificar documentação, lê relatos anteriores de outros cronistas, muitas coisas são omitidas, são esquecidas ou pelas circunstâncias em que foram escritas.

Analogicamente a essa chamada “crônica leiga”, também existe a crônica dos missionários e religiosos, especialmente a dos jesuítas, como Manuel da Nóbrega, Cartas do Brasil, 1549-1569; Fernão Cardin, Tratados da Terra e Gente do Brasil; ou José de Anchieta, Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões, 1554-1594, que, tento como finalidade principal documentar os passos da catequese, não podem deixar de dar notícias e tecer comentário sobre a terra e as gentes que nela habitam.

É certo que a crônica é uma narração do instante do acontecimento, que recriação e compreensão da estrutura fatual e espiritual, tarefa da História. Seu relato é fiel às circunstâncias, onde todos os elementos se tornam decisivos para que o texto transforme a pluralidade dos retalhos em uma unidade bastante significativa.

Assim, a partir do Romantismo, século XIX, a crônica, no sentido em que o termo é comumente usado até hoje para designar um texto jornalístico que aborda os mais diversos assuntos, nasceu de um filão chamado folhetim. Um espaço livre no rodapé do jornal destinado a entreter o leitor e a dar-lhe uma pausa de descanso em meio à enxurrada de notícias graves e pesadas que ocupassem as páginas dos periódicos. Desta forma, a crônica foi crescendo de importância, assumindo personalidade de gênero literário, com características próprias.

Atualmente, a crônica é uma espécie de conto curto ou narrativa condensada, que capta um flagrante da vida, pitoresco e atual, real ou imaginário, com ampla temática e num tom poético, embora coloquial da linguagem oral. Muitas dessas crônicas envelhecem devido à sua excessiva circunstancialidade, porque a narrativa curta, focalizando os episódios da vida cotidiana se vincula fundamentalmente ao jornalismo, dele extraindo suas características principais.

Exatamente móvel e individual, a crônica é de grande popularidade, encontrando o gênero ressonância, ocupando colunas regulares de jornais e revistas. Grandes nomes da literatura brasileira cultivam ou cultivaram a crônica: José de Alencar, Machado de Assis, Raul Pompéia, Manuel Bandeira, Sosígenes Costa, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony, Stanislaw Ponte Preta, Carlos Eduardo Novaes, João Ubaldo Ribeiro, Hélio Pólvora, Rui Espinheira Filho, Guido Guerra, dentre outros.

Guilherme Freitas Dias – Foto Reprodução

Sem dúvida que todos os cronistas aqui apresentados, preservam a forte dosagem em seus relatos de fatos do dia-a-dia, utilizando uma linguagem pessimista seguindo os passos do seu guru espiritual, o satânico jornalista, Pinheiro Viegas (1865-1937). 11 No meio desse grupo extraordinário de cronistas brasileiros, situa-se os quatro jornalistas: Pinheiro Viegas, José Bastos, Dias da Costa e Octávio Moura. Cinco médicos: Emanoel Assemany, Machado Lopes, Hosannah de Oliveira, Guilherme Freitas Dias

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¹Finalmente recolhida por GILFRANCISCO: Pinheiro Viegas & o Espírito Revel, aguardando publicação.

Gomes e José Evangelista de Oliveira. Seis advogados: Aydano do Couto Ferraz, Jorge Amado, Alves Ribeiro, De Souza Aguiar, Edison Carneiro e Da Costandrade que também era agrônomo, que se tornou político no Piauí. Dois funcionários públicos: Sosígenes Costa e João Cordeiro, todos integrantes da Academia dos Rebeldes. Neste volume, estão presentes somente cinco desses cronistas: Hosannah Oliveira, José Evangelista de Oliveira, Machado Lopes, De Souza Aguiar (colaborador do grupo Poetas da Baixinha) e Emanuel Assemany, diretor da revista O Momento, órgão de divulgação do grupo.

Foto: Reprodução

É marcante nesses cronistas o olhar pessoal, vista de um ângulo de observação: comovido e comovedor, às vezes risonho, melancólico, irônica ou terno. São homens da noite e das auroras, das ruas, dos bares e dos bordéis. Essas personalidades das mais expressivas na vida cultural de Salvador e Ilhéus sejam como jornalistas, médicos, advogados, acadêmicos ou boêmios, merecem maiores atenção. Todos os cincos cronistas, de aguda sensibilidade, cumpriram o papel do artista, aquele de completar a existência com o mundo da experiência definitiva, com a imaginação e as palavras que nos incitam a viver.

O livro Cronistas da Liberdade, Edições GFS – Série Academia dos Rebeldes número 5, reúnem cinco cronistas: De Souza Aguiar – Sobre esse “rebelde” que colaborou na revista Meridiano com dois textos, e também atuou no grupo dos poetas da baixinha, colaborando nos números de Samba, não temos muitas informações. Sabemos que militou na imprensa baiana e fez parte da Academia Manoel Vitorino, presidida em 1933, pelo Dr. Caldas Coni. De Souza Aguiar colaborou em O Social, Samba, Meridiano, O Momento, A Luva, A Tarde e Única.

O segundo cronista, trata-se de Emanoel Assemany – acadêmico do curso de Direito da Faculdade da Bahia na época, bacharelou-se em 1935, na turma dos amigos Alves Ribeiro, Edison Carneiro e Aydano do Couto Ferraz. Dirigiu a Revista O Momento até o número 8, conforme nota apresentada no nº 9, justificava seu afastamento da direção da revista:

Por motivo de doença, que o impede de nos continuar emprestando o seu concurso valioso, afastou-se da direção intelectual desta revista, bem assim de sua administração interna, o jovem acadêmico de Direito e nosso prezado amigo E. Assemany, que a vinha dirigindo, com brilho invulgar, desde a sua fundação […] Em virtude do afastamento de E. Assemany, assumiu a direção desta revista o acadêmico de Direito Alves Ribeiro, que, há alguns meses, vinha exercendo as funções de redator chefe da mesma, carga este que ficará sob o controle do acadêmico de Medicina Machado Lopes, nosso estimado companheiro de redação.

Assemany era membro de uma rica família de comerciantes locais, tinha loja que se chamava F. Assemany & Cia…, destinava-se a vendas de tecidos por atacado, situada à Rua Conselheiro Dantas, 30. Em 1935, após três anos de terrível padecimento faleceu na madrugada do dia 13 de maio a ginasiana filha de Faez Assemany e Rosa Santa Barbara Assemany, querido irmão do poeta, tendo o féretro saído da residência dos pais, em São Pedro, 55. A perda da sobrinha o deixou muito abalado.

Hosannah de Oliveira, filho do capitão Leopoldino Ferreira de Oliveira e D. Francisca Sampaio de Oliveira, nasceu em Belmonte a 22 de setembro de 1902, colou grau de doutor em Medicina em 27 de dezembro de 1927, pela Faculdade de Medicina da Bahia, aposentando-se em 07 de novembro de 1972, como professor catedrático de Pediatria e diretor da Faculdade de Medicina da UFBA.

Precocemente, demonstrou a vocação pelo magistério, exercendo-o no então Ginásio da Bahia, quando ainda acadêmico de Medicina, em 1925. No ano seguinte foi interno de Pediatria e doutorando em 1927, recebendo o Prêmio Alfredo Brito, sendo aluno laureado e também o orador oficial na solenidade de diplomação. Dr. Hosannah de Oliveira, era especialista em moléstias das crianças e tinha consultório na Rua do Tesoura, 76.

Hosannah de Oliveira – Foto: Reprodução

Em 1935, conquistou a docência-livre de Clínica Pediátrica Médica e Higiene Infantil. Em 1941 exerceu a Cátedra interinamente, em 1943 foi Assistente Extranumerário, e um ano depois ocupou a chefia da Clínica. As ações do mestre Hosannah foram muito diversificadas pontificando, dando exemplos e lições de vida em todas elas. O mestre Hosannah foi também Superintendente do Hospital das Clínicas, deixando impressão invejável, igual comportamento também, ocorreu quando Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia.

Embora, um homem politizado, rejeitou o convite de seu amigo Antônio Balbino de Carvalho Filho, governador da Bahia, para ocupar a Secretaria de Saúde do Estado. Foi professor da Faculdade de Medicina, por mais de três décadas. O grande intelectual baiano, faleceu em 29 de abril de 1997. O centenário de nascimento do professor Hosannah em 2002, foi marcado por evento promovido pela Reitoria da UFBA, que reuniu, em setembro, em Salvador, familiares, ex-clientes e representantes de várias entidades. Na ocasião, Dr. Nelson Barros, membro do Conselho Acadêmico da SBP, falou sobre o trabalho do Dr. Hosannah.

Deixou algumas publicações: O Fígado na hipoestesia. Salvador, Livraria Econômica, 1927. (tese); A Incidência da Sífilis Congênita no Lactente na cidade do Salvador, 1947. (tese de concurso); O Cravo e a Rosa – A Psicanálise e a Pediatria: um diálogo possível. (textos de J. Lages e Hosannah de Oliveira) e Centenário do Dr. Hosannah de Oliveira. Salvador. Secretaria da Cultura e Turismo do Estado, 2002. (biografia). Outro médico integrante da Academia dos Rebeldes foi José Evangelista de Oliveira.

João Evangelista, nascido em 11 de maio de 1902 no Ceará, filho de José Raimundo Evangelista e Maria de S. José Evangelista, colou grau de doutor pela Faculdade de Medicina da Bahia em 20 de dezembro de 1930. Foi interno da cadeira da Clínica Neurológica, diretor da Sociedade de Beneficência Acadêmica e Sócio da Sociedade Acadêmica Alfredo Britto. Colaborou no Diário da Tarde, de Ilhéus. Amigo de Jorge Amado dedicou a este seu livro de estreia, O País do Carnaval, publicado em 1931 e registrou:

João Evangelista de Oliveira: purista da língua, admirador de Vieira e Herculano, há feito na Bahia o verdadeiro modernismo necessário. O modernismo das ideias. Sem controverter maus sonetos em péssimos poemas, como os meninos “frangos novos” da nova literatura verde-amarela, João Evangelista, jornalista e conteur, mostra-se um dos intelectuais brasileiros de pensamento mais moderno e da prosa mais agradável. Publicou a tese Do Fenômeno de Piotrovski. Salvador, Livraria e Tipografia do Comércio, 1930.

E finalizando o quinteto dos cronistas, apresentamos Machado Lopes, médico e jornalista, era membro de uma família de comerciantes, proprietária da firma Machado Lopes e Comp. (armazéns de couros), situada na rua Dr. J. J. Seabra, nº. 57.

Essas páginas de interesses da história da crônica baiana, tornando-se sua leitura elemento indispensável para um melhor conhecimento da vida das cidades de Salvador e de Ilhéus. Por isso, um repositório de suas observações, impressões e reações das duas cidades. É toda uma série de detalhes que iluminam a história e formam a motivação das criaturas humanas ao se movimentarem dentro do contexto histórico em que vivem. Os Cronistas da Liberdade, obra essencial para se entender o jornalismo cultural ou literário do início dos anos 30 na Bahia, praticado por um grupo de jovens baianos, “rebeldes” são comentadores de episódios e acontecimentos, observadores fiéis e sensíveis dos fatos na sucessão dos dias, na cidade de Tomé de Souza.

A maioria das crônicas aqui enfeixadas foram publicadas nas revistas Meridiano (1929), O Momento (1931-1932), ETC. e no Diário da Tarde, de Ilhéus. Usando uma linguagem despojada, com nitidez e objetivos, sem floreios para justificar o momento histórico, chama-nos a atenção o jornalista José Carlos Teixeira Gomes, em abordagem no ensaio Presença do Modernismo na Bahia – Camões contestador e Outros Ensaios. Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1979, sobre a linguagem apresentada na crônica A maior blague da Segunda República, O Momento nº1 (15.07.1931), de Machado Lopes:

O tom de mordacidade e crítica está presente em várias outras passagens: num violento ataque de Machado Lopes contra a reforma de ensino planejada pelo Governo Federal e contra o jurista Francisco Campos, tratado desabusadamente de Chico Ciência.

O jovem romancista João Cordeiro, autor do romance Corja (1933), desaparecido prematuramente, aparece nesse mesmo número 1 com a crônica A Sinfonia do Ódio, dedicada ao amigo Alves Ribeiro. Vejamos um trecho:

Dentro da noite invernal, bêbado e faminto, eu o vi encostado à porta do velho templo, encharcada a alma e o corpo encharcado pelo álcool que ingerir e pela chuva que apanhava.

E sorri.

Sorri o meu melhor sorriso e mil vezes bem disse o meu ódio imenso.

Depois, tocando-lhe o corpo magro com a ponteira da bengala, despertei-o de sua letargia. E ele me fitou longa e profundamente com os seus olhos inexpressivos de alcoólatra……

O poeta Sosígenes Costa, também registra presença com a crônica Os Centauros, dedicada ao jornalista Pinheiro Viegas. Centauros são seres míticos da mitologia grega cujo corpo é formado por parte de um homem, que corresponde ao tronca, braço e cabeça e o restante do copo de um cavalo. Eles representam o instinto animal em junção com a inteligência humana, metáfora das ações dos homens numa situação de perda de controle. Vejamos um pequeno trecho:

São duzentos os centauros. Todos têm os olhos verdes. Mas cada qual tem olhos verdes de um matiz particular. Há centauros de olhos verdes cor de bronze. Há centauros de olhos verdes cor de musgo. E de olhos verdes cor de cana. E de olhos verdes cor do mar. De sorte que, ao pôr do sol, quando os duzentos centauros se deitam em fileira nas estradas para admirar os efebos, os seus olhos parecem quatrocentas joias verdes em que houvesse Jade escuro, jade claro e pedras que fossem verdes cor de musgo, cor de bronze, cor de cana, cor do mar…

Foi com grande satisfação e acalorada adesão que chega a agremiação dos rebeldes, o poeta itabunense José Bastos (1905-1937), autor do livro “Horas Líricas” (1930), que publica a crônica Considerações Dum Recruta, a propósito da Academia dos Rebeldes, Diário da Tarde (06.05.1930). O texto sai em defesa do grande epigramista baiano, mestre Pinheiro Viegas que liderava em Salvador um pequeno grupo de jovens intelectuais, principiantes nas letras, mas preocupados com seus destinos, por isso questionava a buscar uma saída para aquela geração. Vejamos na íntegra:

A mocidade intelectual de hoje não descansa. Não dorme. Terror dos mosquitos clássicos, vaporiza sem piedade, sem “fly tox” na alcova bolorenta da literatura nacional. Os mata-mosquitos do Sr. Barros Barreto agradeçam-me as honras da comparação. Como dizia cada literato que surge é um comunista do pensamento. Eu, por exemplo, sou assim. Apesar de grão de areia no deserto de nossas letras, embora não passe dum João Ninguém na multidão anônima dos “quarenta milhões de poetas do Brasil”, tenho veleidade de agitador espiritual. O bom senso, porém, este desgraçado bom senso, convencional, arrolha-me a boca irreverente e eu fico apenas a resmungar. Não digo o que penso. Digo o que os outros pensam. Do contrário, estou certo, levaria pedrada como quê…

Escrevo meus versinhos segundo o Tratamento de Versificação do Bilac; e fico por aí, sem uma produção feliz. Sonetos ocos apenasmente. Baladinhas amorudas como diria o Antonio Torres. A semelhança duma cobra empanturrada de carne fresca levo os meus dias na mais profunda modorra intelectual.

Vocês sabem pacientes leitores, o meio é tudo. E eu vivo num recanto provinciano, onde há pouco “charleston” e pouquíssimos escândalos. Não há inspiração “a la” Maurice Dekobra ou “a la” Benjamin Costallat. Desculpem-me juntar esses dois nomes que, literariamente, estão muito distantes um do outro. Não passo duma crisálida no seu casulo prosaico. É possível que mais tarde vire uma borboletinha de pomar.

Com certeza, virarei.

Vou dizer por quê.

Com Pinheiro Viegas, o sempre moço, à frente, acaba de se levantar na Bahia um punhado de literatos rebeldes contra ainda não sei, ao certo. Possivelmente, contra os pajés do passadismo indígena. Enfileirados prontos (esta palavra está no sentido próprio) preparam armas para o combate. Eu sou alistado como recruta por minha bondade e gentileza dos nobres soldados do pensamento. Ora vejam! Um pobre diabo que não sabe manejar um fuzil quanto mais uma pena! Em todo o caso, se a luta é contra as velharias literárias dos poetas de borla e capelo, estou pronto (aqui a palavra também está no sentido próprio). Contem comigo os vibrantes prisioneiros da Academia dos Rebeldes; que assim se chama o luminoso batalhão de Pinheiro Viegas, embora o vocábulo “academia” cheire doutoralmente a ranço e pernosticismo. E a passadismo também. Contem comigo, para o que der e vier!

Jorge Amado – Desenho: Jordão de Oliveira / Reprodução

A crônica A dança dos olhos, publicada na revista O Momento nº 6 (em 15/12/1931) de Machado Lopes, valoriza a nova moda do século, o jazz-band como a chama das ilusões diabólicas que despertam n’alma a paixão dos amantes, ao afirmar que este: “movimento musicado do homem para a mulher, na embriaguez da esperança que os anima”.

Estão presentes também algumas crônicas “críticas-literárias”, como O País do Carnaval, que analisa o livro de estreia de Jorge Amado, publicado em 1931, escrita por Emanuel Assemany, em O Momento nº8 (15/04/1932).

Dias da Costa – Foto: Reprodução

O Sr. Jorge Amado que, de colaboração com os Srs. Dias da Costa e Edison Carneiro, escreveu Lenita, novela bem recebida pela crítica, agora, com O País do Carnaval, o maior e o mais trágico documento da nossa geração, veio ocupar um posto de destaque na literatura nacional.

Libertação, texto publicado em A Tarde, (11/04/1935), do jornalista De Souza Aguiar, que escreve sobre o poeta baiano Carvalho Filho, que acabara de publicar mais um livro, Plenitude:

Eu não reparo o Carvalho Filho, poeta da natureza, fauno de sons, do Carvalho Filho, do “Amor que roube a morte” – na revelação dos seus segredos de homem. Se o primeiro encanta, o segundo deslumbra. Não existe é espaço suficiente à defesa da nossa tese, mas alhures, assim o queria Deus, voltaremos ao assunto.

N’ O Momento de (15.08.1931), Edison Carneiro publica uma bomba contra a velha e triste Bahia, ao qualificá-la de Lixópolis:

Foi a primeira Cidade do Brasil.

Agora está aqui, a não sei quantos metros acima do nível do mar. Fundou-a, outrora, quando o presunto sul americano ainda mamava nas tetas mirradas de Portugal, um certo senhor qualquer que lá pelas Índias, defendendo a bandeira da sua pátria, fizera – assombro! – isto e aquilo…

Mas não foi nada feliz.

Teve filhos retóricos, teve oradores, teve poetas, teve estadistas. Teve tudo, mas não tem nada. Esgota as reservas do Passado. Não foi ela quem expulsou os portugueses do Brasil? Não foi ela que viu nascer Rui Barbosa?

Dizem que é uma grande terra. Entretanto, eu só vejo nela ruas tortas, pasmaceira, aspecto brasileiro de cidade de interior… Talvez tenha, de fato, uma consciência. Mas ninguém a vê. Está em estado latente. Talvez também tenha uma literatura, uma arte, uma ciência. A literatura, a arte e a ciência dos pequenos velórios do Oeste.

Aqui, o Conselheiro Acácio e o cidadão Brederodes estão em casa. Podem andar a gosto, sem serem importunados, as pernas metidas nas calças largas do pijama, a fumar um charuto e a beber pequenos goles de vinho nacional.

É a Cidade da Tradição.

Tudo aqui é a História, a Lenda, o Mito.

– A História da Bahia é uma História!

– Sim, a história da Bahia é uma história…

Ninguém duvida. É folhear os calhamaços do Passado. Bah!

Aí vem Maria Quitéria, Joana Angélica, Caramuru, Tomé de Souza, Moema, Rui Barbosa… Cairu! O grande ministro de D. João VI! É preciso mostrar que todos esses nomes tiveram uma grande influência no destino do Brasil! O respeito pelo Passado é uma lei, a que não se pode fugir. A “Mestra da Vida” não admite insurreições. Para os revoltosos, para os que se rebelarem contra ela, essa senhora emprega um sucedâneo do knut russo. Banca a Santa Inquisição, obriga-o a desdizer o que disse. Todos aqui têm que curvar a espinha diante de S. M. a História, essa mesma História que é, na opinião de Renan, uma petit science conjecturale…

E eu fiquei pensando que a minha cidadezinha burguesa e ridícula era igual-igual à linguagem empolada dos filólogos, cheia, como é, de lamentáveis arcaísmos em desuso…

Cidade em que o último bonde parte à meia-noite. Cidade onde a vida noturna, os cabarés, as lindas orgias dionisíacas são sonhos irrealizáveis. Cidade parada em 1500. Cidade morta. Cidade que ficou paralítica e abismada a contemplar a vida dos Santos, através das suas setenta e poucas igrejas… A primeira cidade do Brasil. E tudo porque, um dia, o senhor Acaso fez um almirante português descobrir o Brasil e um certo senhor qualquer fundar essa Cidade, um certo senhor qualquer que, lá pelas Índias, defendendo a bandeira da sua Pátria, fizera – assombro! – isto e aquilo…

Cidade feita com os sujos pés de meia inúteis da Civilização da Europa.

Lixópolis…

Dias da Costa comparece com a crônica O Momento que serve de editorial de abertura da revista desse número:

– Ainda existe alguém, na Bahia, que se atreva a fazer revistas?

– Existe, sim, senhores. Nós fizemos “O Momento”.

O nosso momento não é esse instante fugaz e efêmero, mais de segundo, menos de minuto, grão de areia da gigantesca, ampulheta do tempo. Não é essa fração minúscula de infinito, essa molécula invisível da eternidade.

Não é o momento quase-nada. Pretende ser o instante quase – tudo.

É o registro da hora que passa. A hora que vivemos. Rápida, febril, apressada, mas cheia de vida. O século da síntese. Não mais banquetes pantagruélicos. Não mais compêndios indigeríveis. Não mais tortuosidades retóricas. O belo simples. O útil ameno. A verdade sem rebuscamentos.

Eva sem a folha de parra é menos imoral do que a mulher de Putifar com toda a sua roupagem.

“O Momento” pretende ser prático.

Informará com algumas palavras. Julgará com alguns conceitos. Ensinará com algumas linhas. Simplesmente. Modestamente. Sinceramente.

A verdade dentro da beleza. A beleza dentro da arte.

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Enfim, marchemos para a frente. Sem nada prometer. A promessa é o prólogo do não cumprir. A realidade é tudo. Diante dela, os incrédulos dirão:

– Hein? Quem o diria? Na Bahia!…

E ficarão satisfeitos porque a frase saiu rimada.

Jorge Amado (1912-2001) aparece com Samba, publicada em O Momento nº 5 (15/11/1931), em apreciação do novo livro de Marques Rebello (1907-1973) Oscarina (1931), afirmando que o romance “iria em busca dos fazedores do bom samba carioca e diria então que a literatura de Marques Rebello nada mais é do que a estilização do samba”. Marques Rebello é um dos grandes escritores da primeira metade do século 20, pinta um painel não só do Rio de Janeiro, mas do Brasil.

O rebelde José Evangelista de Oliveira se faz presente com o texto Esforcemo-nos para que os nossos colonos tenham famílias, escrito especialmente para o Diário da Tarde, de Ilhéus, (25.07.1928) onde critica a política do governo estadual sobre os colonos que se encontravam vivendo no Sul, afastados de seus familiares:

Torna-se de mister que nossos governadores tomem o caso em consideração e resolvam o problema pelo lado mais prático, que não senão o transporte das famílias pobres do Norte para o sul do Estado.

Octávio Moura comparece na revista Meridiano nº1, (setembro. 1929), com a crônica O elogio do Grande Homem, vejamos:

Fazendo o elogio de Sócrates, Platão considerou-o uma estátua. Eu vou fazer o elogio de certa estátua que se julgou maior do que Sócrates e Platão.

Antes de ser estátua, porém, foi um grande homem que viveu trancado a setenta chaves na torre de aço do seu egoísmo inexpugnável, edificada sobre a rocha do seu soberbo ódio universal. Nesse refúgio extraordinário, guardava sempre um horror sagrado por todos os profanos e ocultava um invencível asco por toda a humanidade, ao tempo em que ia alimentar uma admiração enorme por si mesmo, admiração que se tornava cada vez mais viva e cada vez mais forte. O único grande amor verdadeiro da sua vida – conservou-o sempre inalterável – foi o amor próprio!

Começou a ficar estátua no dia em que descobriu que um simples gesto seu poderia ter uma influência decisiva nos destinos de todos os humanos e, como a todos calorosamente detestava, nunca pôde suportar a ideia de ensaiar um gesto, um gesto só, em favor dos milhões de idiotas que o criador, mal humorado, cuspirá à face da terra, com um desprezo jehovahnico.

Mas, antes de ficar definitivamente estátua, o grande homem foi um grande literato. É certo que nunca escreveu para o público, mas falava mal de todos os literatos, desanimava todos os indicados e dizia de si mesmo: “Eu sou um estranho pescador de pérolas no oceano emocional da Arte”. Ouvindo isto, alguém teve a ideia de perguntar: “Mas onde estão as pérolas?” ao que o grande homem retrucou impávido: “Néscio! Queres que as atire aos porcos?”

Disse-me uma vez que era, ele próprio, um alquimista da ideia à procura de uma estranha pedra filosofal. “Encontrou-a, mestre?” – perguntei. E o grande homem sorriu superiormente.

Outra vez afirmou que era, ainda ele, um perdulário de talento. Ninguém sabia, porém, onde ele gastava a sua moeda…

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Só para evitar confusões com a mulher de Lot não ficou mudado em estátua de sal. Uma estátua simplesmente. Mas, como uma inscrição no pedestal: “Foi um grande homem…” Dizem que a reticência era eloquente. Eu acredito.

Sobre a bela cidade de Ilhéus, o poeta de Belmonte, Sosígenes Marinho Costa, escreve a crônica O Pródigo do Dragão, em O Momento nº3, (15/12/1931):

Desde que Ilhéus, a cidade que tanto amas, deixou de ser a lucumbeca dos Tupiniquins, começou o dragão de São Jorge a ficar com escamas de ouro amarelo e a vomitar ouro mulato.

Esse fato que causaria surpresa à princesa Sabra, filha de Ptolomeu e esposa de São Jorge que a salvou do dragão, logo adquiriu fama que criou asas e voou pelo céu.

Então se tornou frequente a quem viaja pela costa da Bahia ouvir de súbito, por cima de sua cabeça, a fama, suspendida nas duas asas, gritar dizendo isto.

– O dragão de São Jorge de Ilhéus vomita ouro!

Muita gente, ó elóim das mãos de jaspe, querendo certificar-se de tal prodígio, vem, pois, a esta cidade que as ondas beijam e em que apareceu Nossa Senhora da Vitória que te ama e me ouve e por isso há de dar-te a quem te deseja.

E, com efeito, ao entrar a barra, se vê que o dragão de São Jorge, em vez de expelir da garganta o mal e a fumaça como o do Egito, lança ao contrário o estranho ouro que enriqueceu outrora Montezuma e faz agora a fortuna da Bahia.

Encerrando esta apresentação sobre os cronistas da Academia dos Rebeldes, temos a crônica do médico Hosannah Oliveira, intitulada, Educação e instrução sexuais, onde ele trata alguns pontos da sexualidade infantil, publicado em Meridiano, n°1 (setembro. 1929):

A princípio combatidas, depois toleradas, conseguiram as teorias de Freud penetrar em quase todos os departamentos do saber humano. Revistas e sociedades de psicanálise fundam-se em toda parte. Dia a dia aumenta o número dos seus partidários. Psiquiatras, pedagogos, psicólogos, literatos formam em suas fileiras, à medida que decresce o exército dos opositores…

Não vamos fazer aqui um estudo detalhado das concepções do sábio de Viena. Mas lembrarmos, sumariamente, alguns pontos da sexualidade infantil que é, sem dúvida, a parte mais combatida do pansexualismo. Na opinião dos que a negam, o menino deixaria de ser o símbolo mesmo da inocência e da pureza, para se nos apresentar, libidinoso precoce, com todos os “vícios” do adulto. Estes críticos, supomos, são vítimas de lamentável equívoco que “consiste em confundir a fome sexual, isto é a força de atração que faz unir-se o homem à mulher, a libido dos fisiólogos, com o instinto sexual, muito mais amplo e nobre que aquela” (Maranõn). O “sexual” não corresponde aqui ao “genital”.

Nos primeiros tempos da vida, as manifestações sexuais são vagas, indefiníveis, obscuras mesmo, não havendo predominância dos órgãos da geração como no adulto acontece. O prazer sexual advém da excitação de certas regiões do corpo, por isso mesmo chamada “zonas orogênicas”. Destas, umas têm caráter fixo, predestinado, e estão intimamente relacionadas com o instinto de conservação do indivíduo que, filogenicamente, se superpõe ao da conservação da espécie. Outras são transitórias, acidentais.

Neste “período pré-genital”, a sexualidade evolve segundo determinadas fases, por isso que varia, com a idade da criança, a localização da zona orogênica, no momento, predominantemente. A mais primitiva é a “fase oral”, sendo a sucção o primeiro elemento erótico. Nesta fase, os dois instintos soberanos (conservação do indivíduo e da espécie) se confundem, vendo-se a filogênese mais uma vez repetida pela ontogênese.

Logo depois, a criança volta a atenção para a parte final do tubo digestivo e para a defecção, procurando neste ato prazer sexual. Muitos meninos apresentam evidente satisfação quando defecam, sendo-lhes agradável manipular os próprios excrementos. Após a sublimação, estes são substituídos pela areia, argila, etc. É nesta fase, “fase anal”, que se acentuam as tendências sadistícas: crueldade, autoritarismo, são apanágio desta idade.

Dos 6 aos 8 anos, a sexualidade entra num período de adormecimento, embora não se anule de todo. Os fenômenos anteriores sofrem tão intenso recalcamento que são completamente esquecidos nesta “fase de latência”.

Além dessas tendências auto eróticas, observa-se que a criança dirige também o seu afeto a pessoas do ambiente. É natural que o alvo primeiro do afeto infantil seja a pessoa mais próxima, mais em contato, a própria mãe, por consequência. Cedo, porém, surgem preferências. O menino quer mais à mãe e a menina o pai. É a esta atitude preferencial da criança pelo genitor de sexo oposto que se dá o nome de complexo de Édipo. Todavia, casos há de ambivalência, em que ambos os genitores são igualmente queridos.

Não há dúvida, a sexualidade infantil existe. E se o instinto desperta com o desbrochar mesmo da vida, compete-nos guiá-lo, orientá-lo, de princípio, para sua finalidade que é, ao mesmo passo, o mais elevado e nobre destino do homem: a perpetuação da espécie.

Primeiramente, a educação sexual, depois, a instrução sexual. Educar a criança, do ponto de vista sexual é uma tarefa que a si devem chamar os pais e os mestres, os quais empregarão todos os meios a fim de evitar a fixação da libido numa daquelas fases, anteriormente lembradas. A excitação das “zonas orogênicas” será traduzida ao mínimo indispensável. Depois, virá a instrução sexual. Esta não deve ficar a cargo dos fâmulos e companheiros maliciosos. Combatamos a rotina. Digamos aos pais e aos mestres que semelhante incumbência lhes pertence.

Antes da idade escolar, já a criança se interessa pelos órgãos sexuais, verificando a diferença entre os dois sexos. E se ela nos ergue sobre tal dissemelhança, por que a enganar com respostas falsas? Se lhe nasce um irmãozinho, quer saber como veio e donde veio. Diga-se-lhe que do ventre materno! Naturalmente, a instrução será dosada de acordo com a idade não havendo necessidade de antecipar os fatos. A criança se encarregará das perguntas. Só nos resta dar-lhe as respostas.

Na idade escolar, os mestres se incumbirão do mais. A zoologia e a botânica oferecerão os meios. A fecundação das plantas e dos animais, sua reprodução, servirão de pretexto. Daí ao homem passa-se insensivelmente. O que é preciso é ensinar com seriedade, não deixando transparecer malícia, mesmo nos chamados assuntos escabrosos.

A menina, no período que precede a puberdade, deve merecer cuidados especiais de jeito que a primeira menstruação já a encontre preparada para a receber. Deixá-la na ignorância é uma falta grave, porque, a emoção, tanto maior se inesperada, pode deixar sulco indelével. São comuns as precoces ligadas à puberdade.

Eduquemos e instruamos a criança nas coisas do sexo, mas com naturalidade, seriedade, respeito, sem malícias. Eduquemos e orientemos o instinto sexual para a sua nobre missão, de jeito que os meninos e as meninas de hoje, sejam amanhã verdadeira e profundamente mulheres.

A atualidade das ideias do Dr. Hosannah se reflete, em pleno século XXI, num dos principais conflitos sociais, estabelecidos na educação pública. A questão da educação sexual ainda é muito polêmica, e se mistura com discursos de outra natureza, que não a educacional, a política. A visão de Hosannah, apresentada publicamente no final da década de 1920, poderia ter sido observada pela sociedade brasileira, que teria como resolvido o espinhoso tema da Educação Sexual. Sendo assim, podemos dizer que a informação traz liberdade, autonomia e responsabilidade. Mas, para isso, é preciso ter opinião dos outros e dialogar. Do contrário, é obscurantismo.