Profª. Dra. Valéria Aparecida Bari [*]

Valendo-se da pesquisa e da crítica literária, Gilfrancisco nos faz sentar à mesa de amigos e conversar, na cálida tarde sergipana. Além de três crônicas próprias, Gilfrancisco revela artigos pesquisados na imprensa sergipana e baiana, nos quais a crítica do risível se combina com a consagração do processo já maduro sobre um carismático e polêmico intelectual brasileiro. O assunto principal desses escritos, dentre muitas peripécias, é o coração de um grande escritor brasileiro: Jorge Amado.

Esse coração, expressivo, transforma letras e palavras em narrativas vibrantes, que nos fazem viajar no tempo e no espaço, passando a viver muitas vidas nas grandes paragens do nordeste brasileiro. Não são meros romances de cavalaria, aventuras sem laços com a realidade, o que temos na obra de Jorge Amado. Quando estamos presos à sua leitura, queremos falar ao mundo sobre aquela narrativa que nos cativa, sem artifícios, só com a riqueza de uma realidade que podemos tocar com as mãos. Até os fantasmas do realismo fantástico amadiano, como o nosso querido Vadinho, nos trazem uma identidade que poderíamos atribuir a nós mesmos. Então, estamos aqui, com Gilfrancisco, buscando a série de fatos e causas que concorrem para a formação de escritor tão querido, a gênese desse Jorge Amado que nos é tão próximo.

Óbvio para os especialistas e oculto aos leitores, que um grande escritor começa sempre pequeno em sucessos, mas possui um grande coração de ferro. A forja para esse coração se inicia na coexistência, na socialização, nas primeiras letras. Não é um coração de ouro, por isso resistirá aos baques e tremendos fracassos, já que a escrita precisa vencer o mistério do gosto leitor, para que se consagre. Vai sendo polido e cromado, aquele metal duro e escuro, pelas vivências, amizades e amores que nos fazem mais humanos. Por fim, se transforma num espelho, onde cada escritor pode observar o mundo a partir de si mesmo.

Mirando no espelho, Jorge Amado vislumbrou o Brasil e sua gente, com virtudes e defeitos apaixonantes, tão humanos. Romanceando Sergipe e Bahia, escreve sobre o significado da experiência humana. Quando tomou posse de sua pena, Jorge Amado não deixou de ser o menino que brincava nas ruas de Ilhéus, ou aquele jovem que vinha ver seus avós e dançar o São João em Estância. O que dirá aquele adulto que se reunia com os amigos para celebrar qualquer coisa e discutir literatura olhando para o Mercado Modelo de Salvador? Na verdade, ele está agora mesmo entre nós. Temos todos um pouco de Jorge Amado em nossa própria imagem. Vamos aproveitar!

Foto: Reprodução capa do livro A obra Amadiana entre Bahia & Sergipe, de autoria de GILFRANCISCO

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[*] É Docente de Graduação em Biblioteconomia e Documentação e do Mestrado em Gestão da Informação e do Conhecimento, da Universidade Federal de Sergipe

Foto: Arquivo Pessoal da Profª. Dra. Valéria Aparecida Bari