GILFRANCISCO: jornalista, pesquisador e escritor. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com

Professor e diretor de algumas escolas do seu estado, jornalista, promotor público, escritor e político, José Severiano da Costa Andrade, ou simplesmente Da Costandrade, poeta que nasceu numa simples vila: tudo começou na Fazenda Formiga, que passou a ser o principal núcleo da região, recebendo o nome de Caridade por estar em terreno de uma Associação de Caridade do Estado do Ceará. Em homenagem ao ilustre piauiense, médico Simplício de Souza Mendes (1823-1892) pela Lei estadual nº 376, de 15 de julho de 1905, desmembrando de Oeiras e o povoado foi elevado à categoria de Vila. O pequeno município de Simplício Mendes (Piauí), tem uma área de 1.399 km² e segundo o Censo – IBGE de 2010, tinha uma população de 12 mil habitantes.

José Severiano da Costa Andrade – Foto: Reprodução

Único filho do comerciante Severino Francisco Carneiro de Andrade e Odorica Benício da Costa. Nascido em 12 de dezembro de 1906 e falecido em Brasília (DF) a 12 de abril de 1974, deixando viúva e dez filhos. Órfão, três meses antes de nascer, o poeta passou a infância e a adolescência em companhia da mãe, na casa de seus avós maternos, Henrique Alves da Costa e Balduína Coelho, na fazenda “Paracatuá”, do mesmo município. Em 1924 aos dezoito anos de idade vai morar em Salvador onde estuda agronomia, mas longo ingressaria no curso de direito da Faculdade de Direito da Bahia. Na capital baiana conhece Pinheiro Viegas, Edison Carneiro, Dias da Costa, João Cordeiro e Jorge Amado, juntos fundariam a “Academia dos Rebeldes”, sendo um dos editores da revista “Meridiano”, órgão divulgador dos ideais do grupo.

Foto: Reprodução

Em 7 de setembro de 1927, participa da fundação do Cenáculo Piauiense de Letras (1927-1932) uma espécie de Academia dos Novos, que tinha como órgão divulgador A Revista. Nessa agremiação literária, Da Costandrade ocupou a cadeira de número 1, patrocinada pelo acadêmico padre Cirilo Chaves. Três anos depois retorna ao Piauí, sendo nomeado promotor público das Comarcas de Oeiras e Floriano, cidades onde lecionou. Em 1930, os alunos da Escola Agrícola da Bahia, encabeçado por Costa Andrade, encaminha requerimento ao Ministério da Educação solicitando os favores do decreto nº 19.346 de 24 de novembro. Impossibilitado de continuar no curso de agronomia, retornou ao Piauí, onde se formou em Direito e exerceu a promotoria pública em Floriano (PI), foi diretor da Imprensa Oficial do Estado e do Instituto de Educação Antônio Freire.

Em 5 de novembro de 1936, casou-se com Anayde Mendes de Carvalho, filha do bem-sucedido agropecuarista e comerciante Antônio Mendes de Carvalho (membro da 1ª Câmara Municipal de Simplício Mendes) e de Maria de Souza Mendes. E consagrou-se vitorioso para prefeito do município de Simplício Mendes, nas eleições de 27 de março de 1936. Em 1945 engajou-se na Comitiva Cívica do deputado federal Helvécio Coelho Rodrigues, na campanha das eleições democráticas, que elegeram o governador José da Rocha Furtado. Neste ano recebeu o prêmio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Conselho Nacional de Geografia) com a monografia Histórico-Geográfica do Município de Simplício Mendes. (PI).

Eleito deputado estadual pela coligação UDN/PSP (1955-1959) foi líder da bancada da União Democrática Nacional – UDN, e atuante deputado que apresentou vários projetos nas áreas sociais, sempre beneficiando o trabalhador rural e em especial os “palheiros”. Na área educacional, criou novas escolas, além da criação de vários municípios. Fundou juntamente com o senador José de Mendonça Clark, com o então prefeito de Teresina Agenor Barbosa de Almeida e o médico Antonio Chysippo de Aguiar em 1958 o Partido Republicano – Seção do Piauí. Entre 1959-1963, concorreu a uma vaga na Assembleia Estadual, ficando como suplente pela coligação PSP/PR/PRP.

Com a fundação de Brasília, foi nomeado chefe do escritório da Novacap, (designação da nova capital do Brasil quando da sua inauguração, em 1960) em Recife, transferindo-se posteriormente com a família para a capital federal, onde foi chefe do gabinete do Ministro da Educação e Cultura, Clóvis Salgado, do Sistema Educacional de Brasília – Caseb –, e tesoureiro da Fundação Educacional do Distrito Federal.

Da Costandrade, foi um dos principais líderes da sua geração na Bahia. Segundo Jorge Amado, era um bom sonetista, cuja personalidade intelectual, de alto nível e poeta de elevada estrutura que impressionou o amigo romancista desde os primeiros contatos, que inspirado nele esculpiu personagens de sua romanística. José Severiano da Costa Andrade é Ricardo Braz, personagem do Baiano Amado, no livro de estreia, O País do Carnaval, publicado em 1931, no Rio de Janeiro. A ele Jorge Amado dedicou seu segundo livro, Cacau.

Revista Meridiano – Foto: Reprodução

Vencedor em 1927 do concurso da revista O Século, com o soneto A Dor, Da Costandrade publica seu primeiro livro de poemas em 1929, Rosal da Vida. Em Salvador trabalhou na Prefeitura Municipal, foi editor da revista literária A Semana, colaborou em Meridiano, Samba, ETC. e O Momento. Entre os anos de 1949 a 1950, colabora nos jornais O Piauí, A Libertação e A Revista. Usava os pseudônimos de: Charles Albert e Pierre Àbion. Rosal da Vida e outros poemas, antologia poética que reúne o melhor da poesia de Da Costa Andrade, lançado em 1996, somente recentemente despertou a curiosidade de estudantes de literatura e acadêmicos do curso de Letras. Para alguns críticos, Da Costa Andrade é um grande reflexo da poesia piauiense, ele conseguiu ser clássico e moderno ao mesmo tempo. A poesia do poeta simpliciomendense é tão original e enigmática que brevemente pode vir a ser defendida em monografia.¹

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¹ Jornal da Cidade. Aracaju, 6 de janeiro, 2006. Texto do livro Dois Rebeldes Poetas (Da Costandrade e Guilherme Dias Gomes). Edições GFS, Série – Academia dos Rebeldes.