Tânia Carvalho Leite (*)
Quando o machismo fala pela boca das mulheres a gente percebe que ele é estrutural.
É fácil apontar o machismo quando ele vem de homens. Difícil é reconhecê-lo quando somos nós, mulheres, que o reproduzimos.
A primeira-dama Janja é atacada com frequência. Não por corrupção, não por escândalos, mas porque ousou ter voz e mostrar para o que veio. Por se posicionar. Por criticar o que precisa ser criticado. Porque se recusa a ser apenas um enfeite ao lado do marido. É como se seu papel fosse apenas sorrir, qualquer palavra além disso incomoda. E o mais cruel: as críticas mais duras costumam vir de outras mulheres. É terrível essa situação.
O mesmo aconteceu com a atriz Bella Campos. Ela denunciou um comportamento inapropriado de um colega de trabalho. Mas, em vez de apoio, foi julgada, atacada e desacreditada nas redes sociais. E, de novo, muitas das ofensas vieram de mulheres que nem conheciam os fatos.
É duro dizer… mas a verdade é que muitas de nós ainda aprendem a repetir o machismo sem perceber. A criticar antes de acolher. A defender homens sem questionar, e a julgar mulheres com todas as pedras na mão.
Isso tem nome: machismo estrutural.
Não está só nas leis ou nas instituições.
Está nas falas do dia a dia, nos comentários inocentes, nas piadas, nos julgamentos apressados.
Está quando chamam uma mulher de “mandona” por ser firme.
Ou de “barraqueira” por não aceitar calada.
O que esses dois casos revelam é o que chamamos de machismo estrutural. Um sistema tão enraizado que age mesmo sem percebermos. Está nas falas do dia a dia, nos comentários inocentes, nas piadas, nos julgamentos apressados. Ele ensina que mulheres devem competir entre si e não se apoiar. Triste realidade. Ensina que devemos desconfiar umas das outras, enquanto aceitamos o silêncio e a conduta dos homens como algo natural. Essa naturalização é cruel demais.
Nos bastidores da política, da cultura, do trabalho e da vida, esse sistema ainda dita regras. Ele nos acostumou a ver mulheres fortes como arrogantes. Mulheres críticas como problemáticas. Mulheres que denunciam os problemas como “barraqueiras”.
Nós, mulheres, precisamos romper com isso.
Apoiar umas às outras.
Ouvir. Refletir. Desaprender o que nos ensinaram.
É hora de quebrar esse ciclo. Ciclo secular… Porque enquanto formos nós a repetir o que nos fere, o machismo segue vivo — e confortável.
O machismo não sobrevive só porque homens o sustentam. Ele vive porque muitas mulheres também o repetem.
É hora de parar de apontar o dedo. E começar a estender a mão. Sigamos na estrada correta e consciente. Mudar, eis a tarefa!
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Aracaju, 15/5/2025
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(*) É graduada em Letras (Português/Inglês), com Mestrado em Comunicação. Professora de Língua Inglesa e Literaturas. Tradutora.
Foto: Arquivo Pessoal
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