GILFRANCISCO [*]
Juventude
Agliberto Vieira de Azevedo nasceu na fazenda das Oitocentos de propriedade da família, situada nas proximidades da cidade de Rosário do Catete (SE), no dia 19 de outubro de 1906, filho de José de Azevedo Sá, dono de um pequeno engenho de cana-de-açúcar, e Cecília Vieira de Melo, tinha dois irmãos, Pericles e Themistocles Vieira de Azevedo. Segundo ficha de Identificação da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Sergipe de 1964, Agliberto Vieira de Azevedo era filho de João Paes de Andrade e Cecília Vieira de Sá, nascido em 1909, tendo como profissão o jornalismo e encontrava-se foragido. Em março de 1967 ainda continuava foragido, sendo procurado pela Polinter.
Em 1920 concluiu os estudos básicos na cidade vizinha de Maruim e no ano seguinte segue para o Rio de Janeiro, onde residiam seus irmãos mais velhos, Péricles e Themistocles Vieira de Azevedo. Em março desse ano, presta exame de admissão do 1º ano no Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde estudava Themistocles. Tendo concluído o curso em 1926, sentou praça no ano seguinte.
Nesse período já havia aderido aos ideais socialistas, influenciado pelo amigo sergipano e ex-militar Odilon Cardoso Machado (1899-1944), que além de formado em letras era médico popular na capital federal. Teve importante envolvimento político, chegando a ser preso algumas vezes por manter sua convicção ideológica comunista. Em 1929 Agliberto optou pela aviação, sendo transferido para a Escola de Aviação Militar – EAM de Campos dos Afonsos (RJ) e logo em seguido passou a colaborar financeiramente com o jornal comunista A Classe Operária e filiou-se ao Socorro Vermelho, associação organizada pelo PCB, que tinha como objetivo prestar auxílio a militares e seus familiares que se encontravam em necessidade.
Anos trinta
No Brasil, como no resto do mundo, na década de 30, enfrentavam-se duas correntes ideológicas irreconciliáveis, provindas de modelos europeus – o Comunismo e o Fascismo. No inicio de 1930 foi declarado aspirante a oficial da arma de aviação. Promovido segundo-tenente em julho, em outubro aderiu ao movimento armado promovido pela Aliança Liberal Nacional que depois o presidente Washington Luis, assumindo posteriormente uma postura crítica em relação à Revolução de 30. Dois anos depois, em junho encontrava-se como primeiro-tenente, trabalhando ao lado do segundo-tenente Ivan Ramos Ribeiro e Sócrates Gonçalves Silva na organização do jornal comunista Asas Vermelhas. No ano seguinte ingressava nas fileiras do PCB. Chefe de pista na Escola de Aviação Militar em 1934, em junho de 1935 foi promovido a Capitão. Ainda nesse ano, filiou-se à Aliança Nacional Libertadora – ANL -, movimento de caráter anti-imperialista, antilatifundiário e popular, fundado no inicio desse ano, e que reunia representantes de vários seguimentos da sociedade brasileira identificados na oposição ao presidente Getúlio Vargas.
O Levante
Na madrugada do dia 27 de novembro iniciou-se o levante nas duas unidades militares cariocas. Agliberto participou do grupo de assalto à EAM, onde penetrou de automóvel. Após um pequeno combate, o grupo rebelde assumiu o comando da escola, passando, então, a atacar as instalações do 1º Regimento de Aviação, comandado pelo coronel Eduardo Gomes. Repelidos, os aliancistas retornaram à EAM, onde foram dominados pelas tropas legalistas vindas da Escola Militar do Realengo. No 3º Regimento de Infantaria, o levante também foi prontamente dominado por forças comandadas pelo comandante da 1ª Região Militar, general Eurico Dutra.
Preso, Agliberto Azevedo perdeu a patente e o posto pelo Decreto-Lei nº 558 homologado em 31 de dezembro de 1935. Julgado em 7 de maio de 1937 pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN), recebeu a maior condenação dentre os réus da EAM — 27 anos e seis meses de prisão —, acusado da morte do tenente legalista Benedito Lopes Bragança que ficara sob sua guarda durante a insurreição.
Escola de Aviação Militar
Desde setembro de 1935 a Escola de Aviação Militar vivia um clima de crescente inquietação, com o aparecimento, entre os alunos, de boletins de propaganda comunista, que procurava aliciar novos adeptos. Os lideres do Movimento na Escola de Aviação, Capitães Sócrates Gonçalves da Silva e Agliberto Vieira de Azevedo, tenentes Ivan Ramos Ribeiro França, Benedito Carvalho, aspirantes a oficial Walter e Fallet. Entre os réus são arrolados líderes comunistas como Agliberto, apontado como veterano do levante de 1935, quando era Capitão:
Com 26 réus, este processo aborda uma variedade imensa de atividades políticas consideradas subversivas no Estado do Paraná, e especialmente em Curitiba, no período do final do Governo Goulart. A parte da denúncia do Procurador do Tribunal de Segurança pedindo a condenação de 30 anos de prisão para o capitão Agliberto Vieira de Azevedo por ter assassinado, com um tiro na boca, o tenente Benedito Lopes Bragança, no dia 27 de novembro do ano de 1935. Há quem diga que Bragança se encontrava preso, desarmado e incapaz de qualquer reação.
Decreto
O Decreto nº558 de 31 de dezembro de 1935, assinado pelo Presidente, determina a perda de patente e posto de oficiais que participaram de movimento subversivo das instituições políticas e sociais:
O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil atendendo:
Que a sublevação ocorrida na Escola de Aviação Militar e no 3º Regimento de Infantaria a 27 de novembro de 1935 faz parte de um plano geral de subversão das instituições políticas o sociais;
Que, apesar de dominada militarmente essa sublevação, elementos extremistas ainda procuram novas sedições; as munições, explosivos e documentos apreendidos confirmam e revelam essas atividades criminosas – o que tudo caracteriza a continuidade do delito;
Que, segundo dispõe a emenda nº2 da Constituição da Republica, o oficial que participar de movimento subversivo das instituições políticas e sociais perderá patente e posto, por ato do Executivo, sem prejuízo de outras penalidades, resalvados, porém, os efeitos da decisão judicial que no caso couber;
Que os oficiais abaixo indicados foram presos de armas na mão, no ato de sublevação a que se fez referencia, conforme se apurou em inquérito militar;
Decreta:
Art. 1º E’ cassada a patente, com consequente perda do posto, dos seguintes oficiais: capitão Agildo da Gama Barata Ribeiro, capitão Álvaro Francisco de Souza, capitão José Leite Brasil, 1º tenente Celso Tovar Bicudo de Castro, 1º tenente Anthero de Almeida, 1º tenente David Medeiros Filho, 1º tenente Manoel da Graça Lessa, 1º tenente Durval Miguel de Barros, 1º tenente Dinart Silveira, 2º tenente Mario de Souza, 2º tenente Joaquim Silveira dos Santos, 2º tenente Antonio Bento Monteiro Tourinho, 2º tenente Francisco Antonio Leivas Otero, 2º tenente Raul Pedroso, 2º tenente José Gutman, 2º tenente Humberto Baena de Moraes Rego, capitão Sócrates Gonçalves da Silva, capitão Agliberto Vieira de Azevedo, 1º tenente Benedicto de Carvalho, 2º tenente Ivan Ramos Ribeiro, 2º tenente Dinarco Reis, 2º tenente José Gay da Cunha e 2º tenente Carlos Brunswich França.
Art. 2º Ressalvam-se os efeitos da decisão judicial que no caso couber pela Justiça comum (lei n. 38, de 4 de abril de 1935).
Art. 3º A execução do presente decreto compele ao Ministro da Guerra, que, para este fim, determinará todas as providencias necessárias.
Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1935, 114º da Independência e 47º da Republica.
Respondeu a dois Crimes
Em 17 de maio de 1937, O Estado, de Santa Catarina publica artigo sobre os crimes atribuídos a Agliberto:
O ex-capitão Agliberto Viera de Azevedo, condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional à pena de 27 anos de prisão, lançou no espírito público uma interrogação: – então a lei de Segurança comina penas tão elevadas?
A realidade, porém, é bem outra: – o ex-militar Agliberto matou, com um tiro na boca, o tenente Benedicto Lopes Bragança, na madrugada trágica de 27 de novembro de 1935, morrendo aquele oficial, imediatamente.
Por isso, além do crime político que lhe foi atribuído e pelo qual foi condenado a 10 anos d prisão, o acusado respondeu, também, por esse crime de homicídio, porque a morte por ele causada, por arma de fogo, não se verificou na vigência da luta, mas, sim, quando a sua vitima se encontrava com outros colegas, sentado em um automóvel.
O pai do tenente Bragança coronel Bragança, foi encontrado morto, em idênticas condições, no quartel do II Regimento; porém enquanto este morre e não se soube quem foi o autor de seu assassinato, com o filho ocorreu o contrário.Coincidência de defesa: a defesa do ex-militar Agliberto Vieira de Azevedo foi confiada ao advogado Jorge Severiano Ribeiro, indicado pela Ordem dos Advogados, à vista da recusa do acusado em se defender perante o Tribunal de Segurança. Esse causídico, porém defendeu, no ano passado, um primo-irmão desse condenado, que foi Felisberto Vieira de Mattos, o autor do homicídio do edifício Avelino, matando a própria esposa. Eronildes, com 28 facadas, pelo que foi condenado a 12 anos de prisão.
Julgados os Embargos
O Supremo Tribunal Militar mantém as condenações impostas a Prestes, Berger, Agildo Barata, Agliberto Azevedo e outros – redução de penas – envolvidos no movimento comunista de 1935:
Finalmente foram mantidas as condenações de Luis Carlos Prestes a 16 anos e 4 meses, Berger a 12 anos e 4 meses, Agildo Barata a 9 anos, Agliberto Vieira Azevedo 20 anos, Macieira Bonfim, Rodolpho Ghieldi, José Medina, Ivo Meireles a 4 anos e 6 meses, Cascardo a a 6 meses. Pelo voto de Minerva, o Tribunal reduziu as penas impostas a Álvaro de Souza de 9 para 7 anos, Benedicto Carvalho e Ivo Ribeiro para o Mesmo tempo.
A condenação de Sócrates Gonçalves foi confirmada. Leivas, Otero, Raul Pedroso Moraes Rego e David Medeiros e outros tiveram a sua condenação reduzida de 7 anos e 3 meses para 7 anos.
O julgamento foi iniciado às 13 horas sob a Presidência do Ministro General Andrade Neves, com a presença de todos os Ministros daquela alta Corte de Justiça Militar e do Procurador Geral, Washington Vaz de Melo. Os trabalhos foram muito debatidos. Falaram alguns dos defensores mais de duas horas, terminando cerca das 22 horas, quando foi proclamado o resultado, pelo Presidente do Tribunal.
PC Sergipano
Conforme o Correio de Aracaju, em abril de 1945 as esquerdas em Sergipe congratulam-se com Luiz Carlos Prestes e o capitão Agliberto Azevedo. Vejamos o teor do telegrama enviado:
Dr. Campos da Paz para Luiz Carlos Prestes, Edíficio Odeon, Cinelândia, Rio – Esquerdistas de Sergipe congratulam-se vivamente grande líder demais companheiros conquista anistia vg vitória popular fundamental redemocratização pais pt
É evidente alta significação política para as esquerdas vg para o Brasil vg mesmo para toda America Latina vg libertação mais coerente líder antifascista continente pt
Povo sergipano por todas suas correntes opinião realizou ontem vibrantes manifestações regozijo decretação anistia vg acorrendo a tarde passeata que percorreu Ruas centrais cidade vg visitando jornais e afinal indo até residência pais Agliberto pt
Noite teve lugar grande comício no qual vários oradores esclareceram povo profundo alcance democrático medida pt Saudações pt (a a) Hernane Prata, Jose Anastácio, Carlos Garcia, Armando Domingues, Daniel Oliveira
Liderança
Em julho de 1945, a convite dos numerosos operários, o Capitão Agliberto Vieira Azevedo, como já ocorrera com os estudantes, se submeteu na sede do Sindicato dos Estivadores, a uma sabatina política por parte de trabalhadores de várias profissões. Visitando inicialmente a sede do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Fiação e Tecelagem, onde acabava de se realizar uma assembleia geral para pedido de aumento de salário, o Cap. Agliberto teve ali entrada acompanhado do Dr. Hugo Farias, Delegado do Trabalho e do Dr. Carlos Garcia, advogado daquele sindicato, sob estrondosa salva de palmas das muitas centenas de operários presentes. Vejamos a reportagem “A sabatina do cap. Agliberto Azevedo nos sindicatos de Aracaju” do Sergipe-Jornal:
O Dr. Carlos Garcia, em breves palavras, fez a apresentação do visitante, enaltecendo-lhe as qualidades de lutador antifascista.
Falando aos operários, o Cap. Agliberto, em linguagem, mostrou a repercussão na política interna de todos os países da aliança entre a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a União Soviética. Fixou os grandes problemas nacionais, por cuja solução se interessam todas as classes, para concluir pela necessidade da união nacional, abrangendo classes e partidos políticos.
O discurso do nosso ilustre conterrâneo foi muitas vezes interrompido pelos aplausos da assistência.
Encaminhando-se, a seguir, a sede do Sindicato dos Estivadores, depois de novamente ovacionado pelos tecelões, o Cap. Agiberto tomou assento na mesa, com o Dr. Carlos Garcia, que depois de explicar as finalidades daquela reunião, onde se encontravam, além de operários de diversas categorias profissionais, intelectuais e elementos de vários setores sociais, convida para fazerem parte da mesa o Sr. Manuel Marinho presidente do Sindicato, Professor Franco Freire, presidente do Comitê Democrático Popular do Centro da Cidade, Dr. Hernani Prata, Sr. Tomaz Mutti e Sr. João Claro dos Santos, presidente da União dos Ferroviários.
Após Carlos Garcia passar a presidência da sessão ao Professor Franco Freire, que assume a assistência, dá a palavra ao Cap. Agliberto, que fez uma apreciação sobre a situação internacional e nacional analisando os problemas do país que exigem solução imediata, demonstra como a luta do proletariado e de todo o povo tem de ser orientada pacificamente para a democratização do país e solução daqueles problemas e resalta ainda o grande papel nessa luta dos Comitês Populares Democráticos.
Recife
Durante o IV Congresso Nacional dos Jornalistas, realizado em 1951, na Capital pernambucana, onde se encontrava delegados de vários Estados da classe, visitaram o ex-capitão Agliberto Vieira de Azevedo, preso há quase um ano e recolhido à Casa de Detenção. Sensibilizado com a visita, Agliberto Vieira depois de acentuar os perigos decorrentes dos preparativos guerreiros, e enaltecer os trabalhos do IV Congresso disse:
Estou acompanhando com entusiasmo os trabalhos desse conclave. Esse Congresso demonstrou que os jornalistas ligados como são, ao povo, melhor do que ninguém compreende os sofrimentos do povo, dos trabalhadores e dos intelectuais, seus anseios de paz e de progresso. Essa a razão porque foram aprovadas as teses e moções que dizem respeito não apenas aos jornalistas, como também a todos os trabalhadores, a todos os democratas e patriotas.
Continuando as suas explanações afirmou com ênfase:
Essas teses dizem respeito, por exemplo, a liberdade sindical, repulsa à ordem dos jornalistas, liberdade de imprensa, indicações de solidariedade à Câmara, Ferreira, Noé, Gertel e outros. Mais adiante, o capitão destacou a política do governo, caracterizada além de outros atos, pela prisão ilegal de Eliza Branco, que defraudou em São Paulo, numa parada militar de 7 de setembro, uma faixa com a legenda os soldados, nossos filhos, não irão para a Coreia”. E apelou para o reforçamento da luta, no ambiente nacional, a fim de libertar aquela grande patriota, heroína nacional da luta contra a guerra: – Ela é um símbolo, disse o capitão.
A Imprensa Popular (RJ), edição de 20 de março registra em artigo intitulado Espancado para acusar Agliberto, vejamos um trecho desse artigo:
Agliberto Vieira de Azevedo, o jovem capitão que em 1935 se ergueu à frente d punhado de bravos da Escola da Aviação contra à marcha ascendente do fascismo no país e no mundo, encontra-se agora preso, incomunicável, há quase um ano, na Detenção de Recife, respondendo a dois processos: um forjado pelos comandantes da Base Aérea do Recife; outro fabricado pela polícia carioca sob a assistência e “experts” do F.B.I.
Pelo primeiro processo, Agliberto, preso em sua casa quando dormia, é acusado de incitar os militares “à indisciplina e à rebeldia”. Os comandantes da Base Aérea, comensais dos gringos que a ocupam, procuram, como essa monstruosidade, atemorizar o povo patriota de Pernambuco e os próprios militares honestos, na esperança de que estes ficarão silenciosos ante a exigência ianque do envio de tropas para a guerra imperialista.
Esse mesmo periódico em edição de 31 de março, trás sobre o combatente nacional-libertador, Agliberto Azevedo, que já se encontrava preso há dez meses e preparava-se para depõe perante o Conselho de Justiça Militar, a seguinte manchete: Prossegue a monstruosa violência contra o capitão Agliberto de Azevedo:
Teve prosseguimento o processo-farsa movido contra o bravo Agliberto Vieira de Azevedo, há quase um ano preso por Iníqua perseguição política de cunho nazi-ianque, numa repetição da monstruosa violência praticada contra outro grande patriota, Gregório Bezerra. Ao ser iniciada pelo major Edi Espindola do Nascimento a audiência, só estavam presentes além dos membros do Conselho de Justiça Militar e do promotor Eraldo G. Leite, os advogados de defesa Carlos José Duarte, Juarez Vieira da Cunha e Bráulio Ferreira.
Aracaju
Em janeiro de 1960 o Centro Operário Sergipano convida o jornalista Agliberto Vieira de Azevedo, para pronunciar a esperada conferência na sede do COS. Durante os primeiros dias do mês foram divulgados na imprensa sergipana a realização da mesma, sendo convidados os lideres sindicais e de associações estudantis, intelectuais, jornalistas e parlamentares e trabalhadores em geral.
Na capital sergipana, Agliberto visita seus familiares e números amigos, recebendo calorosas homenagens dos trabalhadores e do povo sergipano. O destacado líder popular participou de várias manifestações e foi recebido pelo governado Luiz Garcia, pelo prefeito da Capital, Conrado de Araújo e pela Câmara de Vereadores.
Operários e operárias, comerciantes e comerciários, homens de profissão liberal e trabalhadores ouviram e aplaudiram o ilustre militante. Falou primeiramente o presidente do Centro Operário Sergipano, José Nunes da Silva. Em redor do conferencista, compondo a Mesa, viam-se: José Francisco de Souza Lima, presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria de Sergipe; professor Franco Freire; Manoel Francisco de Oliveira, presidente do Sindicato dos Estivadores; Dr. Yolando Vieira; jornalista Robério Garcia; Afrodízio Menezes, presidente do Sindicato dos Gráficos; Maria Pureza da Conceição, presidente da Associação das Mulheres de Sergipe; Vereador Agonalto Pacheco, representando o prefeito da capital, Conrado de Araújo entre outros:
As primeiras palavras do conferencista foram de agradecimentos ao carinho com que todos, sem distinção, o receberam em Aracaju e aquelas centenas de pessoas que ali no Centro estavam para ouvi-lo e com ele discutir os problemas nacionais, indicando meios, procurando ajudar a resolvê-los. Fazendo uma homenagem a filhos ilustres de Sergipe, referiu-se a Tobias Barreto, Silvio Romero e Fausto Cardoso, citando frase do grande tribuno sergipano “a liberdade só se prepara na história com o cimento do tempo e o sangue dos homens” para positivar com isto as gloriosas tradições de luta do povo sergipano em defesa da democracia.
O líder sindical aborda em sua conferência vários aspectos do momento enfrentado pelos trabalhadores, como a questão do salário, previdência e direito de revê, a luta política, o acordo Brasil-URSS, situação das massas camponesas e a unidade nacionalista e democrática. Agliberto Vieira Azevedo terminou a sua explanação esclarecendo a necessidade de forjar uma verdadeira unidade nacional e democrática com vistas à próxima sucessão presidencial.
Deve-se ao líder sindical e presidente do Centro Operário Sergipano, José Nunes da Silva (gráfico) a realização desse grande acontecimento, registrado para os Anais do Movimento Sindicalista em Sergipe, numa fotografia histórica tirada no momento em que se retirava do COS, José Nunes da Silva juntamente com Agliberto Azevedo e Robério Garcia.
Despede-se dos sergipanos
Meu caro Robério
Por ocasião de minha partida, queria agradecer a você e demais companheiros da valorosa Folha Popular, a calorosa acolhida que me proporcionaram, fazendo-a ao mesmo tempo interprete e minha despedida ao povo sergipano.
Profundamente sensibilizado com a carinhosa recepção de parentes, amigos, trabalhadores e povo do nosso Estado, desejo transmitir a todos a minha despedida e agradecimentos no momento em que deixo Sergipe.
Quero destacar aqui, em particular, quanto me orgulho desta terra onde trabalhadores e povo, honrando as gloriosas tradições de luta das liberdades democráticas, que tiveram em Tobias Barreto, Silvio Romero e Fausto Cardoso seus maiores expoentes, souberam repelir a altura as tentativas reacionárias daquelas que, inconformados com o avanço da democracia e do movimento nacionalista em nosso pai, pretenderam cercear os direitos conquistados e homologados na Constituição Federal. Mas, como os tempos são outros, como não há hoje condições para reeditar em nosso país o clima estadonovista, não encontraram eco, ficaram isolados. Exemplo disto nos foi dado pelos poderes constituídos em nosso Estado, que, repelindo assim as insinuações antidemocráticas de quem, exorbitando de suas funções, pretendeu traçar-lhes orientação, honraram as tradições de hospitalidade e respeito aos princípios constitucionais.
Neste sentido desejo expressar meus agradecimentos ao excelentíssimo senhor Governador, Prefeito de Aracaju, Câmara de Vereadores e ao excelentíssimo senhor deputado federal Passos Porto, pela honrosa acolhida que me foi proporcionada, extensivos aos jornais e emissoras desta Capital.
Ao Centro Operário Sergipano, que corajosamente patrocinou nossas palavras, reafirmando as tradições de independência e de luta pela livre manifestação do pensamento dos trabalhadores, quero transmitir meus efusivos agradecimentos e aos demais patrocinadores.
Finalizando, desejo expressar minha confiança de que com essa combatividade saberá o povo sergipano contribuir poderosamente para assegurar em 3 de outubro a vitória de candidato das forças nacionalistas e democráticas.
Aceite um grande abraço do amigo
Aracaju, 11 de janeiro de 1960
Agliberto
Exílio
Em outubro de 1962 Agliberto saiu candidato a deputado estadual no Paraná, pelo PDT, mas não conseguiu se eleger. Após março de 1964 que depôs o presidente João Goulart, teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº1 decretado em 9 de abril seguinte. Detido para interrogatório permaneceu preso até 1966. Apesar dos advogados José de Oliveira e Jorge Viana enviaram telegrama ao Ministro Hannemann Guimarães, comunicando que até aquela data não havia sido liberado o ex-oficial Agliberto Vieira de Azevedo, beneficiado com habeas-corpus pelo Supremo Tribunal. Embora a ordem da Suprema Corte tenha sido expedida há de 45 dias, Agliberto Azevedo permanecia recolhido à prisão provisória de Curitiba, à disposição das autoridades militares locais. O Ministro Hannemann Guimarães foi o relator do pedido de habeas-corpus, concedido por excesso de prazo para prisão.
Depois de libertado entrou na clandestinidade na Argentina, onde fez contatos com membros do PCA e passa a trabalhar como operário da construção civil. Três anos depois, viaja para França, onde trabalhou na organização dos exilados políticos e em vários jornais comunistas, colaborando com artigos, além de viajar por todos os países socialistas. Em 1973 foi enviado para Praga, onde desenvolve atividades de jornalista na Revista Internacional. Com a decretação da anistia em agosto de 1979, os membros do PC retornaram no mesmo ano para o Brasil. Agliberto Azevedo que residia em Praga só regressou em 1980, aderindo ao grupo de Luis Caros Prestes, que rompera com a direção do PCB. Em 1989, foi anistiado e promovido ao posto de coronel-aviador da reserva. Após o falecimento de Prestes em março de 1990, afastou-se das atividades político-partidárias.
O velho combatente faleceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 14 de dezembro de 1995, era casado com Maria da Glória de Oliveira Moura Castro, com quem teve um filho. Agliberto de Azevedo publicou o livro Minha vida de revolucionário, 1967, obra escrita na prisão em 1965, na qual relata sua trajetória de militante comunista.
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[*] É jornalista, pesquisador e professor. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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