GILFRANCISCO [*]
Manoel Franco Freire, filho de João Franco Freire e Eugênia de Carvalho Freire, natural de Estância (SE), nascido em 30 de julho de 1896, tinha como profissão o Magistério. Casado com Zulmira Alcides Freire, com quem teve sete filhos, em 1947 candidatou-se pelo Partido Comunista Brasileiro a deputado estadual. Foi preso em outubro de 1952 por atividades subversivas. Por ocasião das eleições municipais em que fora candidato Manoel Franco Freire, o companheiro de partido e jornalista Fragmon Carlos Borges, foi o principal orador nos comícios públicos, onde por várias vezes ergueu vivas a Rússia Soviética, a Stalin e a Luiz Carlos Prestes em detrimento das causas nacionais.
Ingressou na carreira do magistério como catedrático de Geometria do Colégio Ateneu Sergipense, nomeado pelo governo de Manoel Presciliano de Oliveiral Valadão (1849-1921), onde trabalhou por mais de quarenta anos, a maior parte na cadeira de Inglês. Franco Freire foi diretor da Instrução Pública em dois governos; o de Manoel Dantas (1929) e de Eronides Ferreira de Carvalho (1935-1941) era um entusiasta da educação, afinando com as modernas tendências pedagógicas da época, compartilhava das críticas à escola tradicional e defendia a filosofia do movimento da Escola Nova. Em sua gestão modernizou o ensino no Estado, inclusive introduzindo os estudos de Canto Orfeônico e Educação Física, trazendo para este fim técnico do Sul do País, como os professores José Vieira Brandão e Tito Pádua.
Cargos Públicos
Manoel Franco exerceu vários cargos de destaques no Estado: Primeiro Presidente da Comissão de Salário Mínimo de Sergipe (1939), cargo que ocupou por mais de oito anos, nomeado que fora pelo Presidente Getúlio Vargas, onde defendia: valorização do homem brasileiro, crédito e terra ao pequeno lavrador, aproveitamento dos recursos naturais, entre outros; fundador e primeiro presidente do Rotary Clube de Aracaju; presidente do Asilo de Mendicidade Rio Branco por mais de treze anos; membro da Loja Maçônica Capitular Cotinguiba; Conselheiro da Fundação Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite; representou Sergipe em vários Congressos de Educação no Sul do País; Tradutor oficial de línguas estrangeiras no Estado de Sergipe; Diretor Geral do Departamento de Educação de Sergipe; Inspetor Federal de Ensino Secundário; Professor Catedrático do Ateneu Sergipense; Diretor da Escola Normal. Foi ainda professor de diversas matérias no Colégio Estadual e no Colégio Tobias Barreto; professor do Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar; professor da Escola Técnica de Comércio de Sergipe e Inspetor Federal de Ensino do Colégio Salesiano.
Ensino Rural
A propósito do trabalho sobre organização do Ensino Rural por Franco Freire, divulgado na imprensa, mereceu do engenheiro agrônomo William Wilson Coelho de Souza, técnico especializado no assunto, escritor e organizador da nomeada Escola Rural, na época Diretor Geral de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, escreveu a seguinte expressiva carta:
“Niterói 24.02.1939 – Meu caro Franco Freire – Afetuosos abraços – Você tira-me do meu silêncio e dá-me a magnífica oportunidade de ler as produções que publicou na Folha da Manhã, pedindo minha opinião a respeito.
Não sou homem de lisonja. O seu trabalho está perfeito. Eu o subscrevo em toda linha. Veja nas suas palavras a afirmação de fé, de uma grande alma moça, vibrante de entusiasmo pela sacrossanta campanha ruralista, nosso sonho de hoje e realidade para os pósteros, quando o Brasil economicamente haja evoluído bastante, pois apenas saímos de período da indústria extrativa para darmos os primeiros passos na civilização do País.
O seu esplêndido programa é o sadio extravasamento de um bem pensada orientação ruralista do ensino, na direção da integração das zonas rurais no seu verdadeiro papel social, do meio de ida sadio, confortável e produtivo e de abastecedor consciente das cidades. Feliz do Brasil, felizes dos brasileiros, quando se puder praticar integralmente o seu programa ou as palavras que escrevo em “Escola Rural” possam ser compreendidas.
Por enquanto, deve bastar-nos a satisfação do lançamento das ideias e como bons “jardineiros” reguem essas sementeiras com palavras de fé e de entusiasmo, de confiança no futuro do Brasil. Esperemos que do seio generoso da Pátria estremecida brotem, um dia, em realidade construtiva, os meses de um futuro melhor pelo aperfeiçoamento do meio, da elevação do seu nível de vida e de progresso firme. Enquanto lançamos as ideias, seremos os semeadores visionários. Quando elas repousarem no seio da terra produtiva e os homens acionarem essas mesmas ideias, transformarem em ação o que hoje constituem palavras cheias de fé, os frutos brotarão com pujança e o Brasil se locupletará com a justeza do nosso idealismo. De minha parte continuo trabalhando pela educação rural do nosso hinterland, tal como a compreendeu. Estou às voltas com um trabalho sobre a matéria para ser enviado ao Ministério da Educação e Saúde. Trabalhemos, pois. Termino renovando-lhe os meus parabéns e avivando a fé no êxito da campanha”.
Candidato
Quando o professor Franco Freire, candidato comunista à Prefeitura de Aracaju, sob a legenda do PTN (Partido Trabalhista Nacional), não escondeu a sua íntima satisfação diante das adesões que vinha recebendo dos mais destacados elementos de todos os partidos. Sabe-se, por exemplo, que uma forte ala da UDN (União Democrática Nacional), votou com Franco Freire, acontecendo o mesmo com outra ala do PSD (Partido Social Democrático). As eleições de 1952 para a escolha do primeiro prefeito de Aracaju após o advento da nossa carta constitucional chamou à atenção do jornalista Paulo Costa, em uma de suas crônicas publicadas no Sergipe-Jornal (31.01.1952): “Mais evoluído politicamente e por isso mesmo mais independente, o eleitorado aracajuano não se deixará arrastar pela promessa dos politiqueiros, nem se deixará contagiar pelo suborno do dinheiro, tão degradante, em suma quanto a coação ou à violência”. Verdade é que a política sergipana estava se complicando cada vez mais. Os partidos usam como botes furados, esperando, apenas arrebentá-los, o vendaval das eleições municipais para Prefeito de Aracaju.
Por ocasião das eleições municipais em que fora candidato Manoel Franco Freire , o companheiro de partido e jornalista Fragmon Carlos Borges, foi o principal orador nos comícios públicos, onde por várias vezes ergueu vivas a Rússia Soviética, a Stalin e a Luiz Carlos Prestes em detrimento das causas nacionais.
Viagens ao Sul
Em maio de 1951 o professor Manoel Franco Freire e sua esposa Zulmira Alcides Freire, foram homenageados no Rio Grande do Sul, conforme notícia publicada no Boletim do Rotary Clube de Porto Alegre:
“Com grande satisfação recebemos a visita do companheiro M. Franco Freire, fundador do Rotary Clube de Aracaju e que grande brilhantismo emprestou à nossa 32º reunião.
O ilustre visitante acompanhado por sua exmª esposa D. Zulmira Alcides Freire, após visitar grande parte do norte brasileiro, onde constatou um grande progresso de nosso Brasil, não quis deixar de conhecer, também o Rio Grande do Sul e hei-lo entre nós!
Sua magnífica dissertação referente a sua tournée pelo norte do Brasil, impressionou vivamente o auditório, pela necessária clara, pelo elevado estilo com que nos transmitiu suas impressões de “cavaleiro viandante.
Esteve em São Paulo, em Friburgo, no Estado do Rio, onde visitou a Fundação Getúlio Vargas, exaltando tão magnífica iniciativa, que não visa formar homens de elite, porém está colaborando para formar homens de valor, homens que futuramente dirigirão os destinos de nossa Pátria!”
Denúncias
No início de 1948, Manoel Franco Freire se viu envolvido em denúncias por parte dos alunos do Colégio Estadual de Sergipe, pela reprovação de 70% destes, as quais foram inicialmente publicadas no jornal Tribuna Estudantil, nº7, março, dirigido por Tertuliano Azevedo, órgão do Centro Estudantil Sergipano, sob o título “Reprovações e Injustiças”, posteriormente reproduzidas na imprensa local. Vejamos:
“Na história do ensino secundário de Sergipe, nunca se registrou tanta reprovação, como no ano de mil novecentos e quarenta e sete. Mesmo os alunos que ficaram em segunda época não puderam escapar ao mais frio e traiçoeiro golpe, pois foram ainda mais filtrados pelo algoz Prof. Franco Freire. As aulas lecionadas pelo prof. Franco reire, eram humorísticas e não instrutivas; pois nas suas aulas havia sempre narrativas a respeito de sua sonhada viagem ao Paraná, viagem esta que ele nunca terminava de contar aos seus alunos; pois dia a dia surgia um novo episódio. Mas não foi só ao Paraná que ele foi; pois como disse, a sua viagem ao Rio de Janeiro foi verdadeiramente excepcional, pois os poucos dias que passou no “Quitandinha” valeram por um ano inteiro aqui em Aracaju. Prosseguindo com as suas historietas, ora de viagem, ora de vestuários era pouco o tempo que lhe restava para dar uma sólida explicação e ensinar a língua inglesa. Olhai bem Prof. Franco Freire, quantas vitimas foram sacrificadas pela sua atitude vingativa. Nunca sairá da nossa mente esta injusta resolução. Quantos pais de mãos calejadas sacrificadas por pesados trabalhos, não fizeram enormes despesas durante o ano letivo para ver o filho aprovado. E não viram senão cruelmente e injustamente reprovado. Todos estes acontecimentos, caem sobre seus ombros a responsabilidade. Franco Freire, não há coisa melhor do que um dia depois do outro. Chegará um dia em que sua consciência acusará todos os seus erros e ilegalidades; aquele costumeiro riso amarelo coberto por uma máscara amedrontadora, era a característica das suas injustiças. Hoje está sorridente porque contou com o apoio do Inspetor Federal, que é um baixote de sua mesmo Têmpera e irmãos partidários. Todos os professores censuraram ocultamente esta sua criminosa atitude sacrificando tantas vítimas. Todos os professores assistiram com prazer, a esta triste peça da autoria da Barbara dupla “comunista”, tendo com atores forçados os alunos do Colégio Estadual de Sergipe, que fizeram tudo para dar uma espécie da graça a esta cena profana.
Esperamos que Franco Freire nunca mais saia da lei; pois se ele quer ser exigente, ensine com eficiência e clareza, pois não somos ainda conhecedores da língua inglesa. Para bem da coletividade, faça todo esforço possível para angariar sua aposentadoria, pois já deve estar cansado de tantas manobras; manobras estas já conhecidas por todos; e que não engoliremos os seus velhos truques, pois já os conhecemos muito bem e até mesmo as suas partidas de velho astuto. Das suas criações lendárias contadas em aulas, já estamos fartos e não queremos mais ouvir, mas, contudo aconselhamos que as guardes, pois nada se perde na natureza, sendo as recordações os únicos astros que adornam a noite da velhice, servirão para adornar e lembrar o que nunca esqueceremos; as suas lendas servirão ainda como despertador daquelas aulas que nunca nos sairão da mente; daquelas aulas cheias de falsidades, reprovações, injustiças, hipocrisia, e cantigas humorísticas. Por fim queremos aconselhar para contar suas viagens aos seus netos, pois não há quem não durma com as suas cantigas. Agradecemos as injustiças e reprovações, por todos os colegas de infortúnio”.
Morte
Manoel Franco Freire faleceu em 5 de setembro de 1996 aos setenta e cinco anos em Aracaju, sendo sepultado pela manhã da segunda feira no cemitério Santa Izabel. Representações dos diversos colégios da capital, onde o professor Franco Freire exerceu o magistério, se fez presente e as aulas foram suspensas em todos os colégios da rede estadual e particular. Vejamos o registro da Gazeta de Sergipe: “O nosso diretor, jornalista Orlando Dantas, se fez presente ao sepultamento do professor Franco Freire, de quem era amigo pessoal, levando em seu nome e da Gazeta de Sergipe as condolências à família enlutada”. Em 1996, o Conselho Estadual de Educação lhe prestou homenagens pelo centenário de seu nascimento, com diversos discursos que foram publicados na Revista Educar-SE.
[*] É jornalista e professor universitário. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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Foto: Ascom Segrase
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