Por Neu Fontes [*]

Participei de uma festa protagonizada por garotos e garotas de pouco mais de 20 anos. E eu com meus 58 anos e 42 festivais nas costas adorei participar

O primeiro ninguém esquece e foi em 1978 no colégio Salesiano que fiz a minha primeira participação com duas músicas “Vida no Refrão” e “Liberdade 5”, em parceria com Alexi Pinheiro e Nestor Piva. Ganhamos o primeiro e o segundo lugares do Festival, e dali por diante, foram dezenas de participações pelo Brasil.

Considerava os festivais como uma “FESTA-BATALHA”, a festa do encontro da alegria, do aprendizado, da luz e da energia. A batalha se desenrola em duas frentes, no palco e nos bastidores. No palco as músicas apresentadas, suas letras, mensagens e performances e o principal, o entendimento e o gosto do público, que transformado em torcida, gera a competição. Nos bastidores, a batalha sempre foi para dar tudo certo, som perfeito, microfone no lugar, músicos afinados, sem microfonia e felicidade na diversão.

Claro que tem os mais estressados, e aí, fica mais divertido ainda, pois o nervosismo rola e a atenção dobra, e quem tem mais calma, às vezes, se dá bem, pois a única função do artista é levar sua música, sua mensagem da melhor maneira possível para o público, esse é o grande significado.

Nota, colocação, classificação, troféu, isso fica por conta de quem foi convidado a entrar nessa enrascada de escolher o melhor. O melhor não existe, pois todos tem a mesma função de levar música para as pessoas. E pode estar certo que terá alguém que se identifique com a mensagem, a melodia, a voz, o sentimento e a energia. A música vai alcançar alguém.

Paulo Machado de Carvalho, o criador da TV Record e um dos maiores incentivadores dos Festivais nas décadas de 60 comentou uma vez: – Eu comparo a concepção do festival à dos programas de luta livre. “Tinha que ter o mocinho, o bandido, a heroína”.

Naquela época os festivais brigavam por audiência, as emissoras e gravadoras existentes, queriam vender seus produtos. Hoje somos todos heróis e mocinhos. Heróis como o Sesc/Senac que produz o festival em tempos de tanta escassez de recursos para a cultura, e mocinhos que sobem ao palco levando a coragem e a certeza que podem contribuir para uma reflexão ou diversão para as pessoas, com suas músicas e mensagens, das mais complexas as mais simples.

O Sesc está de parabéns, me deu a possibilidade de subir mais uma vez nos palcos cantando minhas músicas e deixando sentir de novo uma felicidade imensa. Revivi todos os 41 festivais que participei, os seis discos que gravei, e os centenas de shows que realizei durante minha vida artística.

Pude constatar em loco, artistas com muito potencial, e destaco aqui sem medo de errar, que estradas que estão sendo construídas como a de Julico “The Baggios”, são infinitas. O menino sabe fazer som, como uma guitarra baixo e a voz pode sonorizar e harmonizar melodias tão bacanas e encher um ginásio tão ruim de acústica? Julico pode.

Assistimos ao Pedro Luan, “filho de peixe tubarão é”, o menino me orgulha demais, imagine ao Pai, o grande e saudoso Rogério, que com certeza está muito feliz. O garoto com seus 19 anos é hoje um dos grandes artistas sergipanos com futuro nacional, cantor, músico, compositor e um caráter ímpar.

Donali que tem na frente a bela e excelente cantora Fernanda, a moça já é de uma família musical, eu vi nascer musicalmente no meu estúdio Capitania do Som, ela foi levada pelo Emanuel Jorge para gravar uns vocais em sua primeira produção musical. Fernanda é afinada, bela dicção e um senso de palco impressionante e os músicos excelentes, futuro garantido.

Jeca conheci fazendo teatro com Jorge Lins e não imagina todo seu potencial, grande intérprete, performática e que agrada muito a quem está assistindo, além de fazer uma música com significados da cultura popular, já gosto.

Laressa Abreu e Mileide Silva, duas das novas cantoras do gospel sergipano, têm estilos diferentes, mas com grande potencial vocal.

E a Banda Brasas Viva de Forró Gospel uma novidade na música sergipana, mistura a nossa tradição forrozeiros com exaltação a Jesus e a vida.

A Festa do Sescanção foi bonita desde a sua eliminatória, bem organizada e produzida pela equipe do Sesc, com sonorização de Ricardo Sá com sua equipe de profissionais e amigos de muitos palcos, Iluminação de Daniel e produção técnica de Negão.

A solicitação é que seja realizado todos os anos, pois, possibilita o aumento da produção musical sergipana e a revelação de mais talentos da nossa música.

Todo sistema “S” presta um grande serviço a cultura brasileira, o Sesc em especial, vai do fomento a formação, com projetos importantes como: Palco Giratório, ArteSesc, BiblioSesc, Cinesesc, Premio Sesc de Literatura, Revista Palavra, Sonora Brasil, Sesc Partitura, além do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc com cursos nas áreas de Educação, Cultura, Arte, Gestão e Mediação Culturais. Então seria um crime acabar com tudo isso.

Deixei por último para comentar da experiência de voltar ao palco e como falei estou muito feliz, mas o melhor mesmo foi voltar ao lado de músicos jovens, modernos e talentosos, Alisson Coutto é o capitão da Nau, esse menino que poderia nascer em outro lugar qualquer do planeta, nasceu na Atalaia Nova, filho de uma amiga de juventude e que tem na cabeça o mundo e no coração a paixão pela música universal e pela cultura da sua terra, querido amigo que confio e respeito, ele me apresentou a Coutto Orquestra e foi um casamento perfeito a empatia foi imediata, Alberto Silveira, “que músico”! Ouvia falar muito bem dele, mas eram poucos todos os comentários, pois o rapaz é melhor que tudo que ouvi, ótimo músico, simples, gentil e generoso, ouvi dele a seguinte frase:

– Você pode não ganhar o festival, mas ganhou meu coração!

Mas, eu já tinha ganhado o festival, só de tocar e conviver com eles e aprender muito, foi meu grande prêmio.

Odilio Saminez na Bateria, que segurança e simplicidade só me deixou confortável, o Denyson Tubinha o moço dos contracantos com seu trompete mágico, e claro o meu convidado especial o Júlio Rego que é um gênio das gaitas.

Tenho uma história interessante com o Julinho, ele adorava e só tocava Blues, Jazz, MPB e músicas instrumentais, sempre eu ouvia em alguns shows as performances dele e um dia convidei para colocar em um forró do Bando de Mulheres, uma gaita, ele se espantou e disse que não combinava, insisti e ele foi, gostou tanto que não largou mais a música nordestina e tradicional, Julinho é um querubim, um humano como poucos e um músico único. Agradeço o presente de poder estar no mesmo palco com todos vocês.

A Final do Sescanção foi uma noite que demonstrou uma parcela da música sergipana nesse tempo e que fica registrado para todo sempre.

 

[*] É cantor, compositor, publicitário e gestor cultural.