Rafael Reolon (*)

Nos últimos anos, a sustentabilidade deixou de ser apenas um conceito aspiracional para se tornar um dos pilares mais discutidos no mercado, moldando decisões estratégicas em empresas de todos os setores. A demanda por produtos sustentáveis tem crescido de forma consistente, redefinindo comportamentos de consumo e exigindo novas posturas corporativas.

De acordo com um estudo da Nielsen, 66% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis — um salto considerável frente aos 50% registrados em 2013. No Brasil, a tendência é ainda mais evidente: uma pesquisa do Instituto Locomotiva revela que 9 em cada 10 brasileiros preferem adquirir produtos feitos com materiais sustentáveis. Mais do que isso, a maioria afirma sentir desconforto ao consumir itens com impacto ambiental negativo.

Para atender às mudanças no comportamento do consumidor, que busca marcas e produtos mais sustentáveis, o varejo de moda tem trabalhado para que a produção esteja alinhada à preservação ambiental. Nesse caminho, observamos o movimento de grandes varejistas, como a Renner, que implantou a produção sustentável de roupas a partir do uso de viscose e algodão certificados que não geram impactos ambientais negativos e utilizam fios reciclados, retirados da desfibragem das sobras de corte de tecidos ou de roupas já existentes.

Além de oferecer produtos com fabricação mais sustentável, o varejo de moda também passou a surfar na onda da sustentabilidade com os itens de segunda mão. Um levantamento da ThredUp revelou que, em 2024, os gastos com esses itens chegaram a US$227 bilhões em todo o mundo, representando quase 10% de todo o gasto global com roupas.

Com a venda de peças de segunda mão, as marcas criam uma nova fonte de renda a partir da logística reversa. Isso significa que os varejistas podem receber doações de roupas compradas na loja, em bom estado, e revendê-las por preços mais acessíveis. Além de promover a sustentabilidade, é um novo formato de negócio que traz maior rentabilidade.

As marcas de luxo também entraram na onda da sustentabilidade com a venda de itens de segunda mão. A oferta de roupas, bolsas, sapatos e acessórios de grandes marcas permite que pessoas de diferentes classes sociais tenham acesso aos produtos, que antes eram voltados apenas para as classes mais altas da sociedade.

Um grande exemplo de sucesso nesse mercado é a Peça Rara, uma rede de brechós de roupas infantis, femininas, masculinas e mobiliário. A franquia vende mais de 2,7 milhões de itens por ano e o número de fornecedores (clientes que levam peças para vender nas lojas), quase dobrou de 2022 para 2023, alcançando mais de 250 mil pessoas.

O mercado de segunda mão cresce cada vez mais ao longo dos anos. Além dos brechós e lojas físicas disponíveis, um ecossistema online de vendas se expandiu, abrindo espaço para os marketplaces focados em consumidores que buscam produtos usados. Um grande case nesse setor é a Beni, uma empresa californiana que desenvolveu uma extensão nos navegadores para que todas as buscas por produtos direcionem o consumidor a itens usados de boa qualidade. Dessa forma, as empresas têm ainda mais facilidade em disponibilizar suas opções de segunda mão para os clientes dentro de marketplaces, aplicativos ou sites.

Outro exemplo relevante no cenário nacional é a Enjoei, plataforma brasileira de compra e venda de roupas usadas, que vem reforçando o papel da tecnologia na promoção da sustentabilidade no varejo. Em 2023, a marca inaugurou sua primeira loja física, conectando o digital ao físico para criar uma jornada de compra mais tangível e próxima do consumidor. A Linx participou da operação com soluções como o Microvix, Venda Fácil, Reshop, QR Linx, TEF e SmartPOS Stone, que garantiram uma experiência mais fluida — desde a gestão de estoque até os meios de pagamento. Esse ecossistema tecnológico não só melhora a eficiência operacional como também contribui diretamente para práticas mais sustentáveis, reduzindo desperdícios e apoiando o modelo de economia circular.

Se antes essa prática ficava restrita a brechós e comércios locais, agora existem grandes varejistas investindo na economia circular, como reflexo de uma mudança significativa nos hábitos de consumo, impulsionada por uma preocupação maior dos consumidores com a sustentabilidade atrelada a preços mais acessíveis. Com a disponibilidade de marketplaces que incentivam a venda de itens usados, o mercado de segunda mão para o varejo de moda se tornou ainda mais acessível para os empreendedores que desejam surfar na onda da sustentabilidade. A economia circular é uma realidade e tende a se fortalecer ainda mais ao longo do tempo.

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(*) É diretor de Retail da Linx, empresa do grupo StoneCo e especialista em tecnologia para o varejo