Nos últimos anos, o mercado editorial brasileiro tem enfrentado uma crise sem precedentes, marcada pela queda nas vendas de livros e pelo fechamento de importantes livrarias e editoras. Um dos exemplos mais recentes dessa situação é a falência da Livraria Cultura, uma das maiores redes de livrarias do país, decretada pela Justiça de São Paulo em 9 de fevereiro.

De acordo com a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro ano-base 2020, realizada pela Nielsen Book, com coordenação da CBL (Câmara Brasileira do Livro) e do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), o mercado editorial brasileiro registrou uma queda de 8,8% do faturamento em 2020, em comparação ao ano anterior. O estudo mostra ainda  que o setor também sofreu uma redução de 20,5% na tiragem de exemplares e de 18,4% em sua venda.

Essa crise pode ser explicada por diversos fatores, como a recessão econômica, o aumento da concorrência de outros meios de entretenimento e a falta de políticas públicas de incentivo à leitura. Além disso, a pandemia de Covid-19 teve um impacto significativo no setor, com o fechamento de livrarias e a interrupção de eventos literários.

“A pandemia mudou o mercado em geral e no meio editorial não foi diferente”, explica Cleide Ane Barbosa da Cruz, professora do curso de Administração do Centro Universitário Estácio em Sergipe. “A maior mudança aconteceu devido às novas possibilidades que surgiram no meio virtual. As pessoas passaram a procurar mais publicações online e investir na compra de leitores digitais, a exemplo do Kindle, da Amazon. Com isso, a compra de livros físicos diminuiu”, complementa.

Se por um lado o mercado de livros impressos está em queda, a procura por livros digitais cresceu consideravelmente nos últimos anos. Segundo a pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, também desenvolvida pela Nielsen Book, CBL e SNEL, o faturamento total com conteúdo digital, levando em conta a inflação, apresentou um aumento de 36% entre 2019 e 2020. Além disso, estudo realizado pelo Itaú Cultural e Datafolha sobre os hábitos culturais dos brasileiros durante a pandemia mostra que 40% das pessoas declaram ter lido livros digitais durante o período pandêmico.

Esses dados indicam que há uma mudança significativa nos hábitos de leitura no Brasil e um dos fatores que aponta para essa tendência de busca por livros digitais é o custo reduzido destes em relação aos físicos. Cleide Ane explica: “Se compararmos o livro impresso com o livro digital, o preço do último é muito mais barato. Muitas vezes, com uma assinatura única em alguma plataforma, que custa cerca de 20 a 25 reais, você tem acesso a inúmeros livros digitais. E, com o mesmo valor, você não conseguiria comprar nenhum livro físico”.

Nesse cenário em crise, diversas livrarias tradicionais começaram a investir também na venda de outros produtos além de livros, a exemplo de aparelhos eletrônicos e materiais escolares. “Para sobreviver, estes estabelecimentos tiveram que passar a investir também em outros segmentos, além de realizar parcerias, vendas online, promoções e outras ações que os permitissem continuar no mercado”, destaca a especialista. “Alguns conseguiram se reinventar dessa maneira, mas a realidade é que a crise ainda permanece e precisamos aguardar para saber quais serão os seus desdobramentos futuros”.

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Fonte: Estácio