GILFRANCISCO [*]
Filho de Fiel Martins Fontes e Umbelina de Oliveira Fontes, nasceu na cidade de Riachuelo no dia 26 de junho de 1908, onde estudou as primeiras letras, cursando o secundário em Aracaju. Em 1930, juntamente com o amigo Abelardo Romero, colaboram em jornais estudantis, como O Estudante (órgão literário, humorístico e noticioso da Mocidade Estudiosa de Sergipe). Dessa província nunca saiu, vivendo incompreendido, sem moradia fixa, a falta constante de recursos financeiros para sobreviver e angustiado pelo ineditismo de sua obra. Devido a seu temperamento difícil, José Maria viveu, muitos, anos afastado, dos amigos e longe das tertúlias, literárias, recolhido ao lar, período este, em que produziu a maior parte de sua obra, retornando ao seio da convivência de amigos e companheiros das letras, somente em fins dos anos cinquenta.
O jornalista mineiro Lincoln de Souza (1894-1969) que conviveu em Aracaju com o poeta entre 1933/1937, desfrutando da sua amizade teimosa e confiante., com um coração cheio de sentimentos e brilhos, “mas de um brilho tão intenso, que lembra jorros de sol sobre espelhos”. Quatorze anos depois publicaria “Um poeta em Sergipe” Letras e Artes – Suplemento de A Manhã (RJ), edição de 26 de outubro de 1947:
A poesia de J. M. Fontes – que é primo do autor “A lâmpada Velada” – não tem semelhança com nenhuma outra. Ele é de uma personalidade tão estranha, tão impar, que impede comparações. Não apenas a técnica, mas a inspiração mesma é diferente de tudo que temos visto por aí. Confesso que não sei definir a maneira de Fontes. Ele foge a qualquer classificação seus pensamentos e sentimentos estão distantes do que sentimos e pensamos, mas jamais nuas de graça, de elegância, de invulgaridade, de esplendor.
Apesar de ter somente três livros publicados, Versos (1952); Sonho e Realidade (1955) e Trinta Poesias Curtas (1959), o poeta José Maria Fontes tem participação nas quatros melhores Antologia da Poesia Sergipana: Literatura Sergipana (org.) Acrísio Torres Araújo; O Realismo social na Poesia em Sergipe (org.) Austrogésilo Santana Porto), 1960; Poesia Sergipana (org.) José Olyntho e Márcia Maria, 1989; e A Poesia Sergipana no Século XX (org.) Assis Brasil, 1998. Portanto, grande parte da sua obra poética, encontra-se esparsas em vários jornais e revistas. Sua poesia se inspira num primeiro momento, nos mais espontâneos sentimentos do homem ao mesmo tempo que reflete, uma individualidade em desespero quase dissoluto ante a solidão, angústia e o tédio criados pela ideologia do mundo capitalista agonizante.
Revistas Culturais
Apesar de ser inédito em livro, o poeta José Maria desde 1928 vinha colaborando com várias publicações em revistas de grande circulação do Rio de Janeiro e de São Paulo:
O Malho (1928); Fon-Fon (1932); Souza Cruz (1932); Nação Brasileira (1933); Leitura (1948); Fundamentos (1948). Uma das suas primeiras publicações, ocorreu na revista ilustrada carioca O Malho, fundada por Luís Bartolomeu de Souza e Silva que circulou por mais de cinquenta anos, teve início em 1902. Tinha como principal característica a sátira política e o humor. Foi nessa revista que o poeta sergipano José Maria Fontes publicou em edições diferentes, na seção Versos-Colaboração, três poemas: Jaguar, edição, 24 de novembro; Meu Primeiro Soneto, edição 1º de dezembro e Minha Coroa, edição, 8 de dezembro.
Vejamos um desses poemas da fase Modernista:
Jaguar
Silenciosa, caminhando com patas de seda,
estirando suavemente pata por pata,
a linda fera brasileira arma um bote
para pegar um caçador poeta
que olhava, alheiado, uma flor da mata.
//
Naquela posição tensa o bicho é só pupilas
Verdes, hipnóticas; o pelo estica
e mostra as manchas tigrinas bem largas.
Quando ele pára para esperar si o homem se bole
não parece de carne e osso, mole:
parece uma escultura, obra-prima.
//
A luz do sol caía fiada pela mata fina, de cima,
e iluminava a cena duma luz mágica.
E a cena deixava de ser trágica
para ser um poema vivo. Tudo parou:
os besoiros de zunir.
Os passarinhos de fazer festa nacional com o bico,
a bicharada pequena de mexer no chão;
até o vento se calou.
A fera linda ia indo ia devagarinho,
dentuça à mostra já num arreganho trêmulo,
emocionada da sua própria glória felina…
//
O homem viu. Levou a arma à cara:
o tiro espantou um bando de passarinhos pretos.
Ele rolou rugindo, arranhando, agoniado;
o sangue veio bem vermelho sujando as plantas baixas.
Num estremeção, mostrando as manchas mais largas,
//
o jaguar morreu.
Como um romano do Império, suicidado,
dir-se-ia vivo
de tão belo assim morto.
//
E a bicharada de pena e pelo
que quando o jaguar passava tinha medo
ficou toda olhando com pena o jaguar estirado.
A mata chorava.
Na edição de abril – Ano XI, nº116 de 1933 da revista Nação Brasileira, o poeta publicou “Três poemas de Amor”: Vigília, Os dois invernos e o Espírito de tuas formas. O editor da revista, escreve:
José Maria Fontes não é como tantos poetas do Norte, colaborador de certas redações, da metrópole. Não. O que escreve e nos envia é publicado. Poeta como poucos, bem poucos mesmo, de inspiração delicada, lembra-nos Verlaine. Emotivo com um sentido nítido e bem seu da poesia, verseja com um aprumo e uma elegância encontradas em raros. Poesia é que Sergipe o retenha quando o seu talento pede horizontes mais longos, mais amplos para voo maior e mais altaneiro. A cabeça do poeta que se vê à direita do leitor, é de autoria de Arnaldo talento do lápis, que está vencendo no Rio.
Vigília
Não temo por estar só,
jogando armas
com fantasmas
que esta hora alta despertou.
//
Venço o pensamento negro,
pensamento de treva e morte,
– o tragimístico segredo
Que sai da boca da noite.
//
Só me atormenta (e, assim, não durmo)
que a mão imensa do pesadelo,
no gesto áspero e recurvo,
te pegue e arraste pelos cabelos.
O Jornalismo
Como jornalista, o poeta desenvolveu grande atividade em Aracaju, fundando e dirigindo vários jornais: A Ordem, Boletim Liberal, Jornal da Semana, Crítica e Vanguarda. Na revista Renovação e no jornal A República, fez crítica cinematográfica. Viveu como jornalista, funcionário público estadual e professor de inglês, falecendo nesta capital sergipana em 29 de agosto de 1994.
As histórias literárias sergipanas, sempre citam José Maria Fontes (1908-1994) e Abelardo Romero (1907-1979), como os dois poetas, que desencadearam as formas livres do Modernismo no Estado, antes mesmo de terem livros publicados, desempenhando importante papel na literatura sergipana. Têm razão os historiadores e críticos literários, pois José Maria Fontes inicia com o texto O Pensamento Novo, publicado em 14 de novembro de 1924, no Diário da Manhã. Vejamos:
Não é de estranho, que no Brasil, tão apegado ainda, ao seu antiguíssimo literário, a força fertilizadora das novas ideias motivasse um protesto implacável dos senhores inimigos da libertação mental.
Graça Aranha, que fez irromper um grito contra a velha, e melindrosa Academia, do momento em que esperavam dele um elogio formal ao Sr. Alberto de Oliveira, foi a nossa vítima mais em proeminência dos passadistas, que põem empanadas ao vento, tempestuoso embora, que visa expelir a poesia arquivada de uma literatura batida e banal, irrisoriamente emaranhada entre as carcomidas ameias de outros tempos.
Eu não sou futurista. Não li o “Manifesto del Futurismo” nem tive entre os dedos o delicioso papel de “Klaxon, como não sei se é justo Paulo Silveira na inesgotável mordacidade de seus folhetins d’O País”. O que sinto é o impulso vigoroso e desconcertante da torrente moderna: o que admiro é a luta empreendida, audaz e profícua, pelos propugnadores da modernização.
Inovada e luminosa, nas asas da reforma superior emanada da Itália, a alma ardente do nosso país sentir-se-á levada aos imensos horizontes do século em que existimos.
Graça Aranha, em 19 de junho passado, na sua conferência que será rememorada como o terremoto antecessor da completa ruína das letras de pastichas e saudado com apupos.
Sua proposta aos imortais é prontamente repelida, causando isto sua digna retirada.
Hoje, livres do autor de “Canãa”, eles ruminam, graves, sobre a prolongação silenciosa da inutilidade… Mas passamos…
Um ponto a que é preciso a nossa meditação é a obra infecunda dos falsos adeptos desse odiado futurismo. Escudados pela atual generalização dos epítetos de loucos e ridículos que atingem os rebelados, presos de sonhos de fama ou com o embuste pretensioso de incompreendidos, confeccionam sandices, facilmente provocadoras de riso, valendo-lhes tais extravagâncias o qualificativo de simples “camelô”.
O próprio Paulo Silveira, por quem se de um modo tenho um fraco, de outro reprovo, traz à plena luz meridiana um poema, no qual estampa versos, que considerando o bom senso, eu não pretendo citar. 1
O mais curioso é que a grande parte dos futuristas da nossa terra concorre, inconsciente, para o eminente fim de suas ideias grandiosas e incompreendidas, pois, fazendo a apologia de asneira, só lhes devem conhecer as decifrações dos seus, geniais trabalhos…
Lendo Paulo Silveira, vibrante pela firmeza rara de sua inteligência profundamente recamada de ilustração, no seu privilégio de seduzir “celebridades” a pequenos caramujos, é justo que ao deparar com certas cousas tortas, interrogue a mim mesmo…
De forma algumas estas minhas considerações queiram significar, ainda mesmo ao leve, qualquer tendência para o chamado passadismo. Não. Aplaudo os revoltados de Marinetti, cobrindo por suas grandezas, suas escabrosidades…
É F.T. Marinetti, o iniciador da difusão dos ideais libertadores, o fundador, o primeiro futurista, o primeiro também a exclamar que “uma corrida vertiginosa de automóvel é mais bela que a vitória de Samotrácia”…
Vacilo muito, a crer semelhante estranheza entendida, pelo autor.
Não devemos fazer a abolição de uma literatura patenteando os indícios de substituí-la por outra vaga e quase cômica. Tínhamos fatalmente de assistir sobressair-se, à despeito de sua aridez e inestética, a obra do passado, avultante, quase perfeita, diante de mediocridades vazias. Desvencilhemos da arte nova apenas iconoclasta, a arte brilhante, presa às grandes emoções, como a fonte rumorosa a entrar pelos assombramentos do futuro!
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¹ Paulo Ribeiro da Silveira, nascido em Aracaju em 1919, jornalista, foi repórter e redator de vários órgãos da imprensa carioca, diretor responsável da Última Hora e diretor produtor do Correio da Manhã (1969-1970).
Perderemos então verdadeiros lutadores iluminados para vê o fragoroso desmoronar do templo do passado, o que será feito pela ascensão irresistível do futurismo vencedor.
É certo que hão de vir ainda debates no natural desacordo dos sentimentos; mas acimando a cáfila de falsas filosofias teremos a vitória confiante das altas aspirações.
Havíamos de rir, irreverentes, de um Sr. Brito Broca da Paulicéia, “O futurismo entre nós, disse ele há alguns meses, está como o agonizar lento da chama de uma vela que ora cresce desmesuradamente, ora diminui quase que totalmente, até extinguir-se para sempre”. ² Agora eis me aqui a fazer uma sincera advertência aos dignos proprietários da Academia de Letras, ao Sr. Broca e aos passadistas em geral. Façam logo desaparecer a temível chama. Atemoriza-me vê-la bruxoleante, a dar os últimos arrancos, e, com ameaças sinistras para a alfafa seca da poesia parnasiana.
Antes de dar a volta do trinco quero dizer que reconheço ter vindo tarde, apesar da probabilidade de estarem os nossos “meninos do soneto” alheios, ao que tem dado indesejáveis incômodos a muitos eminentes poetas caramurus… Para terminar, almejo um céu de rosa e uma infinita felicidade, ao novo imortal, Sr. Cláudio de Sousa… ³
José Maria Fontes
Anos depois influenciado pelas ideias renovadoras, o amigo, e companheiro Abelardo Romero realiza em Estância, na noite de 10 de junho de 1928, um recital de poemas, dentro da mesma estética proposta pelo movimento paulista, o qual abolia inteiramente as formas fixas. Um ano depois em Aracaju, no dia 12 de outubro, às 20 horas no Cineteatro Guarani, ambos participam da célebre noite de Audição de Poesia Moderna. Conforme o programa foi lido trechos da “estranha” novela Hesmone, da autoria de Abelardo Romero, bem como seus poemas inéditos, além da leitura de textos de outros autores brasileiros, ingleses, franceses e espanhóis.
Podemos delimitar sua obra em duas fases: na primeira vamos encontrar os poemas produzidos anterior à Segunda Guerra Mundial, puramente restrito ao formal, apenas demonstra as emoções dos instantes de inspiração vividos, encontra-se o poeta
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² Brito Broca (1904-1961), escritor e pesquisador consciencioso, se especializou em literatura Brasileira e Francesa. Publicou: Vida Literária no Brasil 1900 e Horas de Leituras.
³ Cláudio Justiniano de Sousa (1876-1954) escritor e médico, membro da Academia Brasileira de Letras (cadeira nº29). Sua bibliografia é vasta, abrangendo diversos gêneros literários, sobretudo o dramático, com mais de 30 peças.
desinteressado da função social, talvez conformado espiritualmente, procurando fugir do tempo presente, buscando um mundo irreal, imaginário.
Versos, Escola Industrial de Aracaju, 1952, poemas baseados nos temas que a guerra ofereceu, dá início a sua segunda fase, onde o poeta volta-se a preocupar-se com o destino do homem, condenando os horrores da guerra imperialista que o povo é vítima. Apesar de encontrar-se ainda atrelado à fase esteticista do processo inicial, da “arte pela arte”, José Maria Fontes, guiado por sua formação humanista, aborda problemas sociais: os mutilados ou mortos da guerra, o pranto das crianças ou as angústias das mães, as cidades em trevas ou o homem em agonia. Esses temas predominam os versos do seu livro de estreia, tudo apresentado numa linguagem não contundente, mas repassada de muita emoção.
Três anos mais tarde, publicaria Sonho e Realidade, onde o poeta sergipano ignora as novas experiências de linguagem da “Geração de 45”, que propuseram a renovar a poesia (Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Mello Neto e outros), libertando-a dos padrões estéticos herdados do Modernismo, enfatizando sobretudo o apuro formal e o rigor semântico, buscando novos ritmos e novas imagens.
O importante é que José Maria Fontes deixou uma obra corajosa, fluente e reveladora, cuja marca de sua personalidade está sempre presente, um humanismo comovente, revoltado contra o desajuste social, que se identifica muito com a dos poetas Sampaio e Enoch. Apesar de sua poesia traduzir forte sentimento pessoal em alguns poemas de amor, cujo lirismo simples e envolvente está sempre ligado a um sentimento social mais amplo, numa poesia que não indaga, não provoca nem agride, pois, o poeta soube conservar bem em toda a sua obra a qualidade do caráter insólito.
Trinta Poesias Curtas
Somente com a publicação de Trinta Poesias Curtas, impressa pela Escola Industrial, de Aracaju, 1959, vamos encontrar o poeta mais amadurecido, evoluído no seu humanismo, já alcançado anteriormente e com maior plenitude na poesia sergipana de José Sampaio (1914-1956) e Enoch Santiago Filho (1919-1945). Vejamos uma crítica sobre seu livro Trinta Poesias Curtas, publicada no Diário Carioca de 1º de julho de 1959, intitulada Poesias Curtas:
Recebemos de Sergipe, da Rua Lagarto, 157, em Aracaju, este volume de menos de 70 páginas de J. M. Fontes intitulado 30 Poesias Curtas. Nele, escreve Zózimo Lima, “ encontra-se um doce, resignada filosofia, às vezes um humanismo comovente e revoltado contra o desajuste social, mas sempre a beleza singela do ritmo acolchetado no mais castiço rigor gramatical. ” Dele diria, também, Abelardo Romero que o “sentimentalismo nunca foi uma constante na sua poesia. Não sei bem porque a confecção gráfica deste pequeno volume lembra-nos de repente os valores perdidos na província ou naqueles conhecidos jornais domingueiros ou mesmo nas edições feitas na tipografia da “rua de cima”, perto da praça, ao lado da igreja. Valores que se estiolam muitas vezes por toda uma existência sem a possibilidade do voo largo que os grandes centros proporcionam. Mas a verdade é que justamente na “rua de cima” perto da praça, ao lado da igreja, este país, também se realiza numa outra literatura tão boa ou melhor do que aquela alicerçada nas amplas bases das editoras de renome e nos jornais e revistas de circulação sem limites. E o exemplo aí está deste pequeno exemplar onde encontramos a poesia-ilha elaborada na solidão, longe do rumor do mundo, dentro da província restauradora. Livro onde encontramos vestígios de uma fase de poesia social que teve em Whitman o seu cantor maior:
Alguém que veio muitos anos depois da tua morte.
A bela morte, que previste, e jubilosamente cantaste em teus poemas.
O sonhador de uma livre América!
Encontramos em J. M. Fontes, principalmente no poema Música de Ontem, uma tentativa de vestir a poesia com as roupagens externas do moderno – não aqui no sentido de forma. No cenário “aerodinâmico” ele fala no assobio e no “fox-trot”.
Outra vida vive, o extemporário
Fox-trot esquecido, e angustiante.
Poetizando os erros e as saudades.
Trinta Poesias Curtas é um livro que se lê com agrado ratificando, porém, a certeza de que restam ainda caminhos a percorrer. Como se por vezes a inspiração de Fontes deixasse de fluir naturalmente e o verso perdesse seu vigor sendo completado pelo acabamento intencional. Poeta alagoano de Aracaju, em cuja areia branca “criou raízes dentro da noite, solidão e tristezas, constituem o seu mundo de evasão da realidade. Poeta carregado de filhos vivendo da casa para o trabalho e do trabalho para a casa – como bem frisou Abelardo Romero em artigo recente. Poesia que traz a marca social e também o inevitável lirismo que em J. M. Fontes e quase frio com pudor de mostrar o lado mais profundo e verdadeiro da sua personalidade. Porque pressentimos nele o drama dos grandes solitários. – D. Q.
Anonimato
Tenho a impressão que José Maria Fontes não é o bastante valorizado no Estado, embora seja verbalmente unânime entre os poucos críticos literários da terra. Possivelmente, é mais falado que lido. Em parte, devido às pequenas tiragens dos seus livros e os anos em que foram publicados. Outras questões, agravante, são os livros inéditos organizados em vida pelo autor os quais, encontram-se. em poder da família ou melhor do filho Clarêncio Fontes.4 O historiador Jackson da Silva Lima, tentou por várias vezes convencer o poeta a publicar alguns desses inéditos, mas José Maria Fontes nunca entregava os originais, estava sempre adiando. Este é outro poeta sergipano que necessita urgentemente ser estudado e sua obra reeditada.
Vejamos o poema Paralelo, do seu segundo livro, onde o poeta faz voltar-se para a vida e condicionar em sua poesia os primeiros anseios de interesse pelo homem dentro da sociedade. Aqui, José Maria Fontes manifesta sua revolta ante o grande desajustamento social:
As máquinas, oleadas,
Dormem no bojo da fábrica,
Brunidas, reluzentes,
Prontas para o outro dia.
Mas mesmo assim parecem tristes e cansadas.
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4 Clarêncio Fontes, jornalista falecido em 2018, aos 78 anos.
Amanhã rodarão de novo,
Falando alto e grosso,
Ou lançarão para o ar vivas e vaias estridentes,
Cantarão aleluias de metal,
Abafando o planger de corações esmorecidos
– Amanhã – depois – e sempre.
//
Dorme no chão do casebre
O escravo da fábrica;
E, de tão fatigado, não tem tempo
//
Para estar triste.
– Já desgastado para o Dia – Já desgastado para o Dia de Amanhã. 5
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5 Jornal da Cidade. Aracaju, 03 de janeiro, 2000. SP, Revista da Literatura Brasileira, nº. 29, 2003.
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[* ]É jornalista e escritor.
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