Entre 1 e 15 de maio, a Itaú Cultural Play – plataforma de streaming gratuita de cinema brasileiro – exibe uma curadoria de filmes da 34ª edição do Festival Curta Cinema, importante evento destinado ao curta-metragem que acontece presencialmente até 30 de abril na cidade do Rio de Janeiro. Os sete curtas-metragens presentes na plataforma integram as categorias Mostra Competitiva Nacional, Mostra Competitiva Primeiros Quadros, destinada a filmes de estreia de realizadores, e Panorama carioca. Há 15 anos, o festival qualifica seus vencedores a pleitear uma indicação ao Oscar de melhor curta-metragem.
A seleção na IC Play traz ficções, documentário e animações, que dialogam com as diversas expressões da cultura brasileira e suas manifestações sociais. Lançados em 2024 e caracterizados pela experimentação de linguagem, que é a marca do festival, os curtas representam uma amostra do cinema independente produzido no país hoje.
O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível em www.itauculturalplay.com.br, nas smart TVs da Samsung, LG e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast.
Sobre os filmes
Em Inflamável (Distrito Federal, 2024), o diretor Rafael Ribeiro Gontijo apresenta um protagonista sincronizado com os tempos correntes no país. Carlos é um homem que tem dificuldade de controlar suas emoções. Bombeiro, ele retorna ao trabalho, após uma suspensão por ter participado dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. No filme, Gontijo buscou aprofundar o personagem, sem atribuí-lo diretamente ao bolsonarismo e às características comumente associadas ao movimento, como o uso de verde e amarelo.
Kabuki (São Paulo, 2024), que foi selecionado pelo programa de apoio à arte Rumos Itaú Cultural 2019-2020, é uma das animações da curadoria. Dirigido por Tiago Minamisawa, o filme acompanha o personagem-título, que vive triste por ter nascido em um corpo no qual não se reconhece. A partir da técnica do stop motion, com bonecos detalhados feitos a mão, a produção apresenta a história de uma pessoa trans em uma abordagem sensível e poética. Por esses feitos, Kabuki ganhou o Prêmio Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) de Melhor Curta-Metragem no 57º Festival de Brasília, no ano passado.
A outra animação, também feita em stop motion, é Mãe da manhã (Rio Grande do Sul, 2024), da artista Clara Trevisan. O curta-metragem adentra a madrugada, quando uma criatura branca, misteriosa e de olhos brilhantes, busca o que comer e dá continuidade ao ciclo diário. Com bonecos feitos por Clara, o filme participou de festivais internacionais, como o Athens Animfest 2025, em março deste ano.
Na janela de exibição da plataforma, há também espaço para ficção científica. O representante do gênero é filme indígena Javyju (São Paulo, 2024), dirigido pelo cineasta Carlos Eduardo Magalhães e a cacica Guarani Kunha Rete. A história se passa em um futuro próximo, quando a Terra foi destruída por um apocalipse. Os povos indígenas, no entanto, sobreviveram, pois foram protegidos pelos espíritos da natureza. Na aldeia Guarani no Jaraguá, na antiga capital paulista, o pajé convoca três jovens para irem até a cidade devastada e encontrarem respostas.
O drama O primo holandês (2024) é o representante alagoano da seleção. Nele, o diretor Nuno Lindoso apresenta Gilvan, um homem que, para ajudar seu primo em um esquema ilícito de venda de lotes num aterro sanitário desativado, invade um terreno. O que ele não imaginava é que seria impedido pelas funcionárias de uma cooperativa de reciclagem, que reivindicam a posse da terra. O filme foi gravado na Vila Emater, bairro de Maceió, capital de Alagoas, e contou com a participação de moradores do local.
Dois documentários encerram a curadoria: Mandinga de Gorila (Rio de Janeiro, 2024) e Mexeu Comigo (Sergipe, 2024). No primeiro, a dupla de diretoras Luzé e Juliana Gonçalves resgatam a tradição do gorila de saco, fantasia de carnaval comum na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Para imitar a “pelagem” do animal, o traje é feito com milhares de sacolas, que são amarradas na roupa. Devido a sua origem periférica, porém, ele foi esquecido e substituído por outras figuras.
Mexeu Comigo, por sua vez, viaja pelo interior de Sergipe para mostrar a influência do arrocha, que faz sucesso no estado. No filme, fãs e artistas compartilham depoimentos sobre o gênero que amam. A direção é de Danilo Rodrigues, João Hiago Oliveira e Sara Maylyne.



Serviço
Curadoria da 34ª edição do Festival Curta Cinema
1 a 15 de maio na Itaú Cultural Play
www.itauculturalplay.com.br
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Sinopses dos filmes
Mãe da manhã
De Clara Trevisan (8 min, Rio Grande do Sul, 2024)
Classificação indicativa: AL – livre (violência fantasiosa)
Sinopse: No vazio da noite, uma criatura faminta busca alimento e perpetua um ciclo cotidiano.
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Inflamável
De Rafael Ribeiro Gontijo (19 min, Distrito Federal, 2024)
Classificação indicativa: A14 – Temas sensíveis, linguagem imprópria e violência
Sinopse: Carlos é incapaz de compreender os próprios desejos. Após uma suspensão por envolvimento nos ataques golpistas de 8 de janeiro, ele retorna ao trabalho no corpo de bombeiros e volta a enfrentar situações que evocam seu lado mais sombrio.
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Mexeu comigo
De Danilo Rodrigues, João Hiago Oliveira e Sara Maylyne (23 min, Sergipe, 2024)
Classificação indicativa: A10 – Linguagem imprópria e drogas lícitas
Sinopse: No interior de Sergipe, um ritmo musical embala as festas e move as pessoas. Amantes da música e cantores do gênero compartilham suas histórias e como o arrocha os atravessa.
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O primo holandês
De Nuno Lindoso (20 min, Alagoas, 2024)
Classificação indicativa: A16 – Drogas, conteúdo sexual e linguagem imprópria
Sinopse: Para ajudar seu primo em um esquema ilícito de venda de lotes num aterro sanitário desativado, Gilvan invade um dos terrenos. Porém, entra em confronto com as trabalhadoras de uma cooperativa de reciclagem, que reivindicam o direito sobre a terra ocupada.
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Kabuki
De Tiago Minamisawa (14 min, São Paulo, 2024)
Classificação indicativa: AL – livre
Sinopse: Kabuki reside em um corpo masculino que não reconhece. Sem identidade desperta a Alma. Se nutre do mundo. Na impermanência do corpo material, transcende.
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Javyju
De Carlos Eduardo Magalhães e Kunha Rete (25 min, São Paulo, 2024)
Classificação indicativa: AL – livre
Sinopse: Num futuro próximo, a Terra foi destruída. Os povos indígenas sobreviveram graças à proteção dos espíritos da natureza. Na antiga cidade de São Paulo, a aldeia Guarani do Jaraguá é uma das sobreviventes e recebe, através de um sonho, uma mensagem de esperança. O pajé da aldeia convoca três jovens para viajar até a cidade vazia em busca de respostas.
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Mandinga de gorila
De Luzé & Juliana Gonçalves (20 min, Rio de Janeiro, 2024)
Classificação indicativa: A10 – Linguagem imprópria
Sinopse: Na Vila Vintém (Rio de Janeiro), existe uma entidade ainda muito presente na história dos antigos moradores. As tiras de saco plástico que constroem o seu corpo são as mesmas que nos conduzem ao encontro dessas memórias escondidas. O filme evoca a potência manifesta do Gorila de Saco nas travessas e becos onde ele ficou marcado pela violência, através do encantamento mandingueiro da nova entidade: o Gorila de Malha.
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Fonte: Itaú Cultural Play
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