GILFRANCISCO (*)
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O coronel estanciano (SE) José Augusto Cesar Ferraz (1848-1906), industrial, um dos diretores da fábrica de tecidos “Sergipe Industrial”, era casado com Anna Ferraz (1858-1918), com que teve quatro filhos: Thales Ferraz (1878-1927), Álvaro Ferraz (1888-1918), Lysippo Ferraz (- 1936) e Belisana Ferraz da\ Fonseca. José Augusto, coronel superior da guarda nacional de Aracaju, nomeado em maio de 1902 vice-cônsul (honorário) dos Países Baixos e Presidente (substituto da Junta Comercial do Estado de Sergipe. Seu sepultamento foi assistido por mais de 1000 pessoas, quer desta cidade e muitos lugares do interior, quer da “Sergipe Industrial”, cujos operários assistiram todos contristados e compungidos o enterro de seu benfeitor.
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Em 18 de agosto de 1919, às 16 horas efetuou-se o ato da inauguração de mais uma escola sob os auspícios da Liga Contra o Analfabetismo, 5ª. Em casa modesta, inaugurada no Largo São João, bairro de Santo Antônio, a escola que recebeu o título de Escola José Augusto Cezar Ferraz. No ato usou a palavra o Almirante Amynthas Jorge presidente da Liga, além de outras autoridades: Álvaro Silva, Ítala Silva de Oliveira a professora Clarinha Campos. Em nome de Thales Ferraz pronunciou expressivas palavras em homenagem ao saudoso coronel José Augusto Cezar Ferraz, Crisólito Chaves guarda livros da Sergipe Industrial. A escola tem o nome do notável industrial, como homenagem à sua memória. Ele foi de fato o iniciador da vida industrial aracajuana e sendo fundada a escola num bairro operário era justo que o seu nome não fosse esquecido. Com uma característica: a frequência dos alunos do sexo feminino comporia qualquer idade e os alunos do sexo masculino serão aceitos até a idade de 12 anos.
Homenagem – Grande ato de benemerência
José Augusto Cezar Ferraz
Graças ao espírito adiantado e altruísta do provecto engenheiro Dr. Thales Ferraz em comunhão de vistas com o esforço que notadamente vem despendendo a Liga Sergipense contra o Analfabetismo, terá esta capital, fundada no próximo domingo, mais um baluarte contra a ignorância.
Naquele dia, pelas 16 horas, será inaugurada no largo de S. João da Estrada Nova, próximo a S. Antônio, a escola – José Augusto Ferraz – justo e merecido tributo assim prestado à memória de quem em via reabilitou-se por atos de destaque em nossa vida social.
Aplausos não regateamos do critério que vai sendo adotado pela Diretoria da patriótica associação, rememorando, por esta forma, nomes que jamais passarão em esquecimento.
– José Augusto Ferraz, foi entre nós, o exemplo vivo da honradez comercial, do nobre e estimulante amor ao trabalho, quase o fundador do populoso bairro Industrial desta cidade, hoje sob o fluxo da votante bem orientada de seu digno seu filho Dr. Thales Ferraz, a quem deve agora a Diretoria da Liga mais esta glória para sua ação meritória.
Tais atos de benemerência não podem nem devem passar despercebidos; e daí os merecidos encômios que aqui registramos. A escola José Augusto Ferraz, será mista e noturna e dirigida pela estudiosa senhorinha Clara Campos, de quem certo será esperar todo o esforço em bem de suas novas e delicadas incumbências.
Após a sessão de domingo próximo quando terá lugar a eleição rara a nova Diretoria da Liga que terá de gerir seus destinos durante o ano social de 1919 a 1920, partirão em busca especial da Praça Fausto Cardoso para o afastado ponto, as autoridades oficiais e mais convidados a assistirem à tocante cerimônia.
Parabéns a todos que vão concorrendo para fins tão nobilitantes e que tais casos de filantropia se reproduzam sempre, são os votos que de coração formulamos.
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Recebemos e agradecemos o seguinte delicado convite:
A Diretoria da Liga Sergipense contra o Analfabetismo, honra se convidando esta redação a assistir, domingo, 17 do corrente, às 16 horas, à inauguração da sua 5º escola noturna.
Localizado que ficará o novo núcleo de ensino, à Rua S. João na Estrada Nova, põe à diretoria da aludida sociedade, à Praça Fausto Cardoso um bonde as 15 ½ horas à disposição dos que a tal ato queiram comparecer.
Confessa-se grata pela vossa competência.
14-8-1919¹
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Entre as pessoas que compareceram a essa solenidade, achava-se o Sr. Dr. Carvalho Neto, diretor da Instrução, diversos membros do magistério, representantes do Governo Municipal, muitas senhorinhas, diversas senhoras e grande número de pessoas gradas.
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¹ Diário da Manhã. Aracaju, nº 2.393, 15 de agosto de 1919.
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Mais uma escola – I.
Ainda bem que os sentimentos generosos vão frutificando dia a dia nas almas boas, e as obras de civismo vão surgindo em Aracaju com o aplauso de todos, e entre as bênçãos dos que se sentem mais diretamente beneficiados pela caridade.
No Brasil, constitui um problema grave e de dificultosa solução o analfabetismo que domina a maioria do povo brasileiro.
É uma questão geral e que só mesmo com os esforços de toda a população poderá ser resolvida.
Sergipe, como todos os demais Estados da União, ressente-se também desse grande mal; felizmente que entre nós está-se trabalhando com grande afinco para dissecar essa chaga cancerosa.
Há o trabalho ativo por parte do exmo. Sr. Presidente do Estado, que visa essa magna questão em seu programa de governo, e há o empenho de todos os sergipanos, que todos trabalham unidos para o mesmo fim.
Agora mesmo, um homem de bem, um nosso conterrâneo ilustre e abastado capitalista, o dr. Thales Ferraz, em cuja alma grande encontram abrigo todas as ideias de orientada filantropia e de patriotismo sólido, acaba de entregar completamente preparada a quinta escola que nesta capital será sustentada pela Liga Sergipense Contra o Analfabetismo.
O novo centro de instrução ficar-se-á chamando Escola José Augusto Ferraz, em homenagem a essa figura simpática do capitalista que lhe deu o nome, do falecido diretor gerente da Fábrica Sergipe Industrial, do homem que mais desenvolveu em Sergipe o industrialismo e que mais se interessou pelo bem do operário pobre; exemplos edificantes, que aliás vêm sendo seguidos e imitados por um herdeiro digno do seu nome, o benemérito dr. Thales Ferraz.
A criação da quinta escola da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo é um fato muito significante e revelados dos esforços dessa patriótica instituição, que tomou a seu cargo uma missão tão dignificadora e nobre, como seja o espancar as trevas da ignorância, que infelizmente ainda ensombram o espírito da maioria dos nossos conterrâneos.
A Liga vai em constante progresso; apesar dos muitos sacrifícios com que vem lutando para a realização das suas aspirações.
E se ela progride, se dia a dia se desenvolve no seio deste povo a sua ação benéfica, deve-o muito particularmente a um espírito altamente patriota e profundamente abnegado, o sr. Almirante Amyntha Jorge, que, na qualidade de diretor, não se poupa a trabalhar, e é a alma dessa bela obra para que quiséramos ver convergir os esforços e as simpatias de todos os nossos conterrâneos.
A Liga contra o Analfabetismo é uma instituição reveladora do civismo dos que a dirigem e dos que concorrem para a sua conservação.
A quinta escola, que ela inaugurará no próximo domingo, é um espelho do seu progresso e dos seus muitos sacrifícios, felizmente coroados de bom êxito.²
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Mais uma Escola – II.
Reuniram na sala ontem, no Instituto Histórico e Geográfico, diversos sócios da Liga Contra o Analfabetismo, afim de ser efetuada a eleição da nova diretoria que, tem de servir no período social de 7 de setembro próximo à mesma data do ano vindouro.
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Às 16 horas, como estava anunciado, efetuou-se o ato da inauguração de mais uma escola sob os auspícios da mesma liga, que vem prestando um grandioso benefício à nobre causa da instrução dos sergipanos que ainda não tiveram a dita de alcançar o sublime momento de desvendar os magníficos e feitos do saber ler.
Em casa modesta, mas preparada com o necessário, foi inaugurada no largo S. João, bairro S. Antônio, a escola que recebeu o título de “Escola José Augusto Cesar Ferraz”.
No ato usou da palavra o ilustre sr. Almirante Amymthas Jorge, dedicado presidente da “Liga” que leu um discurso de um fundo repleto de belos exemplos sobre a instrução, sendo muito aplaudido pelo sr. Dr. Álvaro Silva, ilustre secretário geral do Estado.
Falou também se congratulando com o aproveitosíssimo acontecimento a senhorinha Ítala Silva de Oliveira, inteligente secretária da “Liga” e uma das suas professoras, que se tem muito dedicado à instrução dos nossos patrícios que procuram iluminar o espírito.
Entregue que foi o título de nomeação da professora daquela escola à senhorinha Clarinha Campos, inteligente aluna do Atheneu Sergipense, esta agradeceu a sua escolha, prometendo concorrer para o bom funcionamento daquele templo de instrução.
Em nome do sr. Dr. Thales Ferraz pronunciou expressivas palavras de agradecimento àquela homenagem ao saudoso sergipano coronel José Augusto Cesar Ferraz, que deu nome à escola inaugurada, o sr. Chrysolito Chaves, inteligente guarda livros da fábrica de tecidos “Sergipe Industrial”.
Encerrado o ato pelo dr. Álvaro Silva, foi servido profuso copo de cerveja pelo sr. Dr. Thales Ferraz a todos os presentes.
– Em bondes especiais foram desta capital inúmeras pessoas assisti a inauguração.
A surpresa fez-se representar.
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² Correio de Aracaju, Ano XIII, nº 2.663, 15 de agosto de 1919.
Parabéns à Liga Contra o Analfabetismo, que vem prestando excelente serviço à grandiosa causa da instrução em nossa terra.³
Grupo Escolar José Augusto Ferraz
O Grupo Escolar José Augusto Ferraz, localizado na Av. João Rodrigues (antiga Rua Cruz) nº 55, esquina com as Ruas Belém e São João no Bairro Industrial, construído pelo Governo Graccho Cardoso (1874-1950) num terreno doado pelo engenheiro Thales Ferraz, filho do homenageado, Diretor da fábrica de tecidos Sergipe Industrial. Sendo a dimensão do terreno com testada frontal mais largo que profunda, 30 m², que totaliza uma área de 600 m². O edifício em bloco único com dois alpendres nas laterais situava-se no centro do terreno, foi projetado pelos engenheiros Hugo Bozzi, Artur Araújo e Alfredo Aranha, tinha seis salas de aulas. Segundo Demonstrativo dos bens imóveis pertencentes ao Estado de Sergipe, em 1929 o palacete Grupo Escolar José Augusto Ferraz estava no valor de 140:000$000.
A inauguração em 11 de abril de 1925, foi um presente para a comunidade operário do bairro, carente de acolhimento social. Quando o industrial Thales Ferraz faleceu em 27 de setembro de 1927, a diretora do Grupo Escolar José Augusto Ferraz, professora Maria Amélia Fontes enviou Portaria nº 2, do mesmo dia ao DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda. Vejamos o texto da Portaria:
Como diretora do Grupo Escolar “José Augusto Ferraz”, situado no bairro Industrial, num gesto também de gratidão, determino que as portas deste estabelecimento sejam cerradas por três dias em sinal de profundo pesar pelo prematuro passamento do Dr. Thales Ferraz, como uma homenagem prestada à memória de sua alma bem faceja que era tudo e para tudo no referido bairro.
Cumpra-se.4
Durante a pesquisa encontramos o quadro de funcionários do Grupo Escolar José Augusto Ferraz, publicado em 1927 no Diário Oficial:
Corpo docente e discente do Grupo Escolar José Augusto Ferraz.
Diretora: Maria Amélia Fontes
Professores: Anna Bezerra
Guiomar Tavares
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³ Diário da Manhã. Aracaju, 19 de agosto de 1919.
4 Grupos Escolares em Sergipe (1911-1930). Cristiane Barbosa de Azevedo, EDUFRN, 2009.
Maria de Aguiar Cruz
Rosentina Junqueira Leite
Sirena do Prado e Silva
Adjuntas: Anna Menezes
Dalila Cortes Rollemberg
Guiomar Alves
Maria José de Messias
Maria José de Souza
Inspetora de alunos: Dejanira Moura
Servente: Isaura de Carvalho Dantas
Porteiro: Luiz Lacerda
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Discurso de Graccho Cardoso
Conforme fora anunciado, efetuou-se ontem, as 14 horas, a cerimônia da inauguração do Grupo Escolar José Augusto Ferraz, no bairro Industrial, o terceiro que a atual administração oferece ao ensino popular, nesta capital.
O ato foi grandemente concorrido, notando-se o comparecimento do mundo oficial, pessoas gradas, senhoras e senhoritas, crescido número de operários e habitantes do populoso e progressista “boulevard”.
Entre as autoridades e pessoas gradas que abrilhantaram a inauguração, notamos as seguintes: Dr. Graccho Cardoso, Presidente do Estado; Dr. Paulo Fontes, juiz federal em Bahia, em Comissão em Sergipe; 1º tenente Luiz Padilha, representante do Sr. General Marçal Nonato de Faria; Dr. Parreiras Horta, Dr. Romero Estelita, Dr. Hunald Cardoso; professor Abdias Bezerra, diretor da Instrução; professor Artur Fortes, diretor da Escola Normal; D. Emilia Melo, diretora do Grupo Escolar General Valladão, Dr. Aragão e Mello, Dr. Carlos Cruz, Dr. Thales Ferraz; Dr. Paulo Fontes Filho e senhora; senhorita Maria e Vivi Fontes; Dr. Manoel Cruz; Desembargador Teixeira Fontes; Dr. Lauro Andrade, engenheiro construtor do prédio inaugurado; Dr. Ascendino Garcez, chefe de Polícia; coronel Sabino Ribeiro; professor Clodomir Silva; padre José Augusto; coronel Raymundo Ribeiro; Sr. Isaaac Pinna; Sr. Pedro Silva; Sr. Theodomiro Andrade; Sr. Alfredo Leite; Dr. Antônio Peryassu; Dr. Eleyson Cardoso; dr. Adherbal Cardoso; e 2º tenente Amynthas Gonçalves, ajudante de ordem do Sr. Presidente do Estado, além de muitas outras pessoas cujos nomes não nos foi possível apanhar.
Ao chegar ao edifício do novo Grupo Escolar, foi o Presidente do Estado, acompanhado do Sr. Dr. Paulo Fontes, recebido pelos Drs. Manoel Cruz e Thales Ferraz, e também pelo Sr. Diretor da Instrução Pública e corpo docente da novel casa de instrução.
Conduzidos à sala da congregação, as altas autoridades e convidados, teve início a cerimônia da inauguração, começando esta pela benção do novo edifício, a qual foi oficiada por monsenhor Adalberto Sobral, acolitado pelo revmo. Padre José Augusto.
Finda a benção, o Sr. Professor Abdias Bezerra abriu a sessão da congregação do corpo docente do Grupo José Augusto Ferraz, então reunida, dando, em seguida, a palavra ao Sr. Presidente do Estado, que, constantemente aplaudido, e recebendo, ao finalizar, prolongada salva de palmas, pronunciou o eloquente discurso a seguir:
Senhoras.
Senhores.
Celebra-se com esta solenidade um acontecimento altamente significativo para a coletividade prestadia e laboriosa que constitui o Bairro Industrial: desvenda-se um novo santuário para as requisições harmoniosas e fecundas do ensino popular e brasona-se no pórtico desse templo dulcíssimo, com o cálido afeto pela memória de um abnegado e o sentimento consolador de justiça que embalsama o preito que ora se lhe rende, o nome inolvidável e benemérito de um dos primeiros percursos do futuro industrial e econômico de Sergipe, exemplo sugestivo de tenacidade investigadora, descortino eficiente, dedicação inconfundível, arestas vivas de um caráter estruturado para as conquistas ásperas do porvir.
Esse nome que a morte não apagou, mantido por quem de direito, qual, herança preciosa, em curto ininterrupto e desvelado, pertence, com efeito, a uma dessas individualidades que elevam e engrandecem o nível moral da família humana sejam quais foram as origens de onde promanaram, perpetuam-se como ensinamento e fincam-se na história como padrão, porquanto oferecem às vicissitudes do mundo a imutabilidade de uma coragem irredutível e os feitos que objetivam-se resumem na devoção incoercível e estreme ao ideal a que se consagraram.
José Augusto Ferraz! Nenhum outro sergipano amou como ele apaixonadamente o progresso de sua terra, nenhum outro demonstrou mais praticamente que a inteligência, a honradez, a operosidade incansável e contagiosa são fatores orgânicos mais prolíficos e dominadores que o capital.
De posse dessas faculdades, tão difíceis de se irmanarem, o homem ousado tenta as iniciativas para que o solicitam as suas faculdades realizadoras, escudado apenas no alento preservador da fé que o inspira. A perseverança e a tenacidade acabam por infundir ânimo à descrença ambiente, de sorte que, pouco a pouco, a atenção impressiva cria as vinculações simpáticas e assimiladora. Alhana-se o caminho, e o desbravador impertérrito positiva o seu sonho e vence. E assim se explica porque não raro empresar se formam tateantes, escoradas em elementos débeis e, dentro em breve lapso, maravilham pelo tamanho e importância dos resultados.
Em 1882, Sergipe era já considerado um sofrível produtor de “ouro branco”, artigo depreciado nos mercados estrangeiros, para onde o remetiam os povos compradores nacionais. De outro porte, a indústria açucareira, indicando também pelo volume da produção o papel promissor que teria a desempenhar na futura economia do Estado, ansiava por libertar-se da importação do material de acondicionamento, tanto uma como outra cousa, pressentiu-se o atilado espírito comercial do comendador João Rodrigues da Cruz, cuja fortuna passou a ser um legado para os seus e um patrimônio para a comunhão, tão benfazeja e preponderantemente continua a influir no incremento da prosperidade geral do Estado. O comendador João Rodrigues da Cruz, ao mesmo tempo cavalheiro modelar e expoente notável na carreira de que era o tipo talvez mais representativo daquela época, imaginou obviar a carência de sacos para a embalagem do açúcar, manufaturando-os e empregando como matéria prima, nessa manufatura, o algodão.
O capital que outra cousa mais não é o fruto do trabalho, nunca se sente mais fortalecido de que em companhia deste. Fundou-se, pois, a “Sergipe Industrial” e a gerência da nascente empresa, dura e afanosa responsabilidade, foram cometidos experiências e talento de José Augusto Ferraz.
Todos sabemos que influxo deprimente está sujeito o mais ligeiro tentamos entre nós; e se isso ainda hoje observamos entristecidos, o que não seria há quarenta anos passado, quando mais densas e pesadas deviam ser as travas da cegueira e da rotina. Nada obstante, a organização trabalhada pela acumiosa competência do seu primeiro administrador pressagiava tais garantias de sucesso, que não tardou em vigar, bracejar e aprofundar raízes, assumir as proporções com que hoje em dia avulta no seu admirável triunfo.
Bem se diz que o êxito é o segredo de certas almas dotadas de vigor e da soma de energia necessária para jugular as resistências exteriores e perseverar no desígnio inflexível. Cremos interpretar a justiça ao enunciar que se não fora a ação de José Augusto Ferraz, mais tarde filiado à firma Cruz Ferraz Cia, sucessora de Cruz & Companhia, a Sergipe Industrial, não estaria a despertar neste momento à nossa lembrança o confronto do que ontem era, na sobriedade dos seus propósitos e na sua aparelhagem rudimentar, especializada tão somente no preparo de sacos para suprimento aos açucareiros patrícios, e o progresso que está aí a atestar com os seus bancos para 10.820 fusos e os seus 350 teares aperfeiçoados e aptos à produção de várias sortes de tecidos crus e tintos, capazes de rivalizarem com os melhores reputados no gênero, nos principais empórios de fabricação do norte e sul do país. Paradigma de empresas outras que posteriormente se formaram em Sergipe e no Brasil, se algumas lhe levaram vantagem n modernização dos recursos e dos maquinismos, de nenhuma, entretanto, chegara a receber lições no que concerne ao conforto e higiene dos seus pavimentos e aos benefícios da civilização aplicados nas relações entre patrões e operários. E tão sábia tem sido a política dessa florescente empresa em fiar os seus destinos à gratidão dos que nela mourejam, criando-lhes perspectivas de direção e de mando, que apesar de seus quarenta e sete anos de vida, a Sergipe Industrial jamais teve a registrar a mínima agitação de descontentamento e greve.
Do que vimos toscamente expondo, senhores, conclui-se que o comendador João Rodrigues da Cruz, substituído onze anos depois pelo seu digníssimo irmão, Dr. Thomaz Rodrigues da Cruz, e a José Augusto Ferraz, a princípio gerente, em seguida associado e um dos seus chefes, cabe sumo papel no impulso dado à atividade fabril no Estado, quanto à indústria têxtil. Foram eles que pronunciaram o surge et ambula. E a indústria de ficção e tecidos levantou-se e andou, constituiu-se em elemento auspicioso de evolução social e mercantil em Estância, Propriá, Vila Nova, São Cristóvão e Riachuelo, e ainda promete irradiar-se por todos pontos esperançosos.
Mas a alma principal dessa evolução foi sem dúvida alguma, senhores José Augusto Ferraz. Sem as suas qualidades extraordinárias, talvez que esse surto estivesse ainda por esboçar no Estado. E porque todas as emulações que agrilhoam o esforço, nobilitam o caráter e vigorizam a vontade, devem subordinar a sua eficiência à força íntima de um afeto, foi de algum modo esse sentimento supremo, o preço edificante dessa vitória sem par. E para o filho do povo que se altanou por si, graças à sua integridade sem alternativas, às fadigas vigílias de um labor sem tréguas e ao domínio completo de si mesmo, que conheceu, de perto, as durezas e os sacrifícios, nenhuma homenagem mais condigna, nenhum reconhecimento mais perdurável, do que esta casa, santa sanctorum do alfabeto destinada, pelos seus ritos, a banir a indiferença e a ignorância do seio das camadas populares, nas gerações sucessivas de obreiros que por aqui transitarem.
Chega, sem dúvida, em circunstância oportuna, a instalação deste Grupo Escolar, quando mais acentuada se entremostra a expansão deste bairro, embrião sociológico interessante, núcleo onde se vê condensado, não sabemos por que ditame inevitável, a grande massa sergipana operária de amanhã.
A forma de governo porque nos regemos exige, para a perfeita normalidade do seu mecanismo, a interferência ativa de todos os cidadãos. Essa participação direta, porém, só o ensino a pode, em realidade, assegurar. Da desigualdade de cultura entre os homens provém, no maior número de casos, os males e perturbações sociais. O governador Griggs, de Nova Jersey, discursando perante uma assembleia de comerciantes, pronunciou estas palavras memoráveis:
“Todas as dores e ânsias coletivas repousam em uma causa única e geradora: a ignorância imensa infortúnio que ameaça a República, porque obsta o discernimento e produz o demagogismo”. “Com, de fato, chegar ao conhecimento da verdade ou a possibilidade de conhece-la, o homem insuficientemente instruído e, portanto, destituído do primeiro elemento de vida coletiva, que é a liberdade mental? – pergunta comentando o asserto de Griggs, o professor Adolpho Posadas”.
Bem se compreende que o valor da instrução não consiste na beleza arquitetônica dos edifícios escolares, nem na sombra de uma árvore, como pensava Rousseau. O que importa são os processos, a utilidade social e pedagógica, em suma, a consciência profissional do mestre.
Não somos nem pessimistas, nem derrotistas, nem descrente do lugar reservado à nossa pequena pátria, entre os demais Estados da Federação. Temos, porém chegado à convicção inelutável de que só a instrução salvará Sergipe.
Se todos nós compenetrarmos dessa verdade, o remédio aos problemas da atualidade estará por si mesmo indicado: – a escola, baluarte na luta contra a ignorância, suscitando-nos amor santo às cousas santas e ideais.5
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5 Diário Oficial do Estado de Sergipe. Aracaju, 12 de abril de 1925.
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(*) É jornalista, escritor, Doutor Honoris Causa concedido pela UFS. Membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do GPCIR/CNPq/UFS. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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