Pioneirismo e Hospital de Cirurgia andam juntos desde a fundação da unidade hospitalar há 96 anos. Prova disso é que a instituição realizou uma neurocirurgia com paciente acordado com a participação inédita em Sergipe de equipe multidisciplinar, formada por profissionais da Fonoaudiologia e Psicologia, dentro do centro-cirúrgico. Devido à multidisciplinaridade e complexidade de uma operação cerebral, a técnica é utilizada em poucos centros de saúde no Brasil que atendem pacientes assistidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O método inovador, que reduz as sequelas e possibilita ao paciente uma melhor qualidade de vida, foi colocado em prática no dia 27 de dezembro de 2022, sob o comando do neurocirurgião Dr. Augusto Esmeraldo, coordenador do Serviço de Neurocirurgia do hospital; com apoio multidisciplinar da fonoaudióloga Ingrid Mesquita e da psicóloga Raquel Almeida; além da participação do neurocirurgião e neurofisiologista Dr. Franklin Borges – responsável pela monitorização neurofisiológica -, do anestesiologista Dr. York Lopes e do residente em Neurocirurgia Dr. Danilo Medeiros.

O procedimento – que retirou um tumor cerebral – ocorreu com sucesso e o paciente já teve alta hospitalar, com sinais satisfatórios de melhoria nas funções de memória e linguagem. “Enquanto fico operando e estimulando o cérebro, elas (fonoaudióloga e psicóloga) fazem testes específicos para cada região com o paciente acordado. A interação entre nós faz com que a remoção do tumor possa ser mais eficiente e com riscos mínimos de sequelas”, descreve o coordenador.

Pioneirismo em 2019

No âmbito do SUS, em 2019, Cirurgia também foi o primeiro hospital de Sergipe a oferecer neurocirurgia com paciente acordado. De lá para cá, já foram feitas vários procedimentos do tipo. “A técnica trata certos tumores cerebrais, epilepsia, doença de Parkinson, dentre outras. A partir do mapeamento intra-operatório (durante a cirurgia), é possível localizar as áreas responsáveis pelo movimento, linguagem, visão, senso espacial, emoções e comportamento”, informa o Dr. Augusto Esmeraldo.

Qualidade de vida

Por mexer em áreas responsáveis pela linguagem e emoções, a atuação de profissionais da Fonoaudiologia e Psicologia faz toda diferença para o sucesso do método. “Ao se indicar um procedimento com o paciente acordado, são indispensáveis testes pré-operatórios para determinar se há algum grau de comprometimento de tais funções. Além disso, após a cirurgia, o paciente necessita de reabilitação neurocognitiva para que retorne o mais rápido possível às suas funções habituais com boa qualidade de vida”, esclarece o coordenador do Serviço de Neurocirurgia.

“A incorporação de novos conhecimentos e a participação ativa de mais profissionais, como psicólogo e fonoaudiólogo, no período pré e pós-operatório trouxe melhores resultados para a técnica. Mas eu sentia que faltava algo: trazer esses profissionais para dentro do centro-cirúrgico”, relata Dr. Augusto Esmeraldo.

Experiência na França

Na França, Dr. Augusto Esmeraldo e professor Hugues Duffau – considerado um revolucionário da Neurocirurgia – Foto Ascom

A implantação da operação cerebral com paciente acordado com auxílio de equipe multi no Cirurgia ocorreu após visita recente do Dr. Augusto Esmeraldo ao Serviço de Neurocirurgia do professor Hugues Duffau – considerado um revolucionário da neurocirurgia e responsável pela criação da técnica -, na França. “Tive a oportunidade de acompanhá-lo durante um mês e vi como os resultados podem ser melhorados. Daí o desafio foi encontrar pessoas interessadas em abraçar esse projeto”, relata o coordenador, que encontrou profissionais empenhados no Cirurgia.

Cuidado humanizado

A intervenção da Psicologia durante a cirurgia reduz os níveis de ansiedade, melhora o bem-estar psicológico, aumenta a adesão ao tratamento, favorece o enfrentamento do procedimento, agiliza o processo de recuperação pós-operatória, e, sobretudo, humaniza os cuidados junto ao paciente.

“No pré-operatório, foi avaliado pela Psicologia os aspectos cognitivos, comportamentais e emocionais do paciente. Já no intra, avaliamos a função motora e cognitiva, memória, atenção, raciocínio, linguagem, entre outros aspectos. Isso tudo em tempo real, durante a ressecção do tumor. No pós, fizemos a avaliação psicológica a fim de traçar os aspectos cognitivos”, explica Raquel Almeida.

Ingrid Mesquita reforça a importância da atuação de um profissional da Fonoaudiologia durante a cirurgia. “Foi algo totalmente inovador para nossa categoria, pois nunca foi feito esse método em Sergipe com a intervenção de um fonoaudiólogo dentro do centro-cirúrgico. Atuamos como mediador para o mapeamento da função da linguagem durante o procedimento. Com essa abordagem, é possível prevenirmos os possíveis déficits de linguagem e fluência verbal”, ressalta.

Diferencial do time HC

“Felizmente, a vivência multidisciplinar que já ocorria no Cirurgia abriu uma janela para idealizarmos esse projeto. Após algumas reuniões, nasceu o nosso grupo multidisciplinar. Essa abordagem holística é o diferencial desse time do HC que já nasceu vencedor. É muito gratificante podermos oferecer esse serviço para usuários do SUS”, finaliza o Dr. Augusto Esmeraldo.

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Fonte: Hospital de Cirurgia

Fotos: Ascom