Valter Casarin (*)

Ingrediente essencial na agricultura moderna por ser amplamente utilizado na produção de fertilizantes, o fósforo também é incorporado em algumas baterias de lítio, que tem como um de seus principais usos, equipar carros elétricos.

Há diversos desafios com o uso de fosfato em baterias lítio-ferro-fosfato (LFP). Como o fósforo é amplamente utilizado na produção de fertilizantes, um aumento na demanda por baterias pode levar à competição com a indústria agrícola. Combinado com nitrogênio e potássio, o fósforo aumenta a fertilidade do solo e permite aumentar a produção de alimentos, a ponto de os cientistas se preocuparem regularmente com o risco de uma escassez de fosfato, afetando a segurança alimentar global.

O uso de fósforo em baterias permite atingir mercados além dos fertilizantes, e isso se tornou uma realidade por conta da grande oferta dos carros elétricos. Além do mercado automotivo, muitos analistas da indústria consideram que a bateria LFP desempenha um papel fundamental no mercado de armazenamento de energia.

Entretanto, os fosfatos não podem ser produzidos artificialmente e apenas uma quantidade limitada pode ser extraída. Os fertilizantes são responsáveis ​​por cerca de 50% da nossa produção global de alimentos. Com as produções agrícolas mais intensivas a cada ano, ocorre a redução da quantidade de fósforo nos solos, por isso é importante que tenhamos mais fertilizantes, sejam minerais ou orgânicos, para garantir que a produção de alimentos seja mantida diante do aumento populacional mundial.

O nutriente fósforo desempenha um papel vital no desenvolvimento dos vegetais, atuando como um macronutriente essencial. Ele é fundamental para o crescimento das raízes, a formação de sementes e frutos e a produção de energia (ATP). A falta de fósforo pode levar a sintomas como menor desenvolvimento de raízes, plantas mais suscetíveis a doenças e frutos menores, como consequência menores produções.

Enquanto o esgotamento do petróleo está no centro de muitos debates, a escassez de fósforo está longe de ser um assunto de grande repercussão e dificilmente mobiliza a esfera política. Seu declínio diante de uma demanda exponencialmente crescente pode, no entanto, sinalizar uma ruptura com o modelo agroindustrial dominante. Se uma transição não for bem pensada, ela na verdade ameaça a segurança alimentar global.

Vale ressaltar que a exploração massiva de depósitos de fosfato, que não são um recurso renovável e o fósforo é insubstituível, pode levar a sérios problemas futuros, uma vez que o fósforo é um elemento sem o qual a vida não existiria. Os cientistas mais otimistas sustentam que restam centenas de anos até que o fósforo se esgote, enquanto outros dão menos de um século para que ocorra uma deficiência.

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(*) É coordenador geral e científico da Nutrientes Para a Vida, graduado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Jaboticabal, em 1986 e em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP, Piracicaba, em 1994. Concluiu o Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, em 1994, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Recebeu o título de Doutor em Ciência do Solo pela École Supérieure Agronomique de Montpellier, França, em 1999. Atualmente é professor do Programa SolloAgro, ESALQ/USP e Sócio-Diretor da Fertilità Consultoria Agronômica.

Foto: Arquivo Pessoal