Trabalhos desenvolvidos por mulheres artesãs de todas as partes do Brasil estão em exposição na Expoartesanías 2024, uma das maiores feiras de artesanato da América Latina, que ocorre até o dia 17 de dezembro, em Bogotá, Colômbia. A representação brasileira foi organizada pela ApexBrasil, no âmbito do programa Mulheres e Negócios Internacionais (MNI), em parceria com o Ministério das Mulheres, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional), o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), por meio do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Nesta edição, o Brasil é o país convidado de honra do evento.

O Pavilhão Brasil teve início no dia 4 de dezembro e conta com a exposição e a comercialização de mais de 240 peças produzidas por mais de 100 artesãs vindas de 77 iniciativas, como cooperativas, associações, empresas e grupos, envolvendo representantes de 23 estados. Do total de iniciativas, 37 são da região Nordeste. A seleção, realizada pela ApexBrasil em parceria com a arquiteta Roberta Borsoi –profissional com experiência em projetos que integram elementos culturais regionais do país –, reúne categorias como moda, cestaria, decoração, cerâmica e instrumentos musicais, entre outras.

“A Expoartesanías é uma oportunidade única de mostrarmos ao mundo o que o Brasil tem de melhor. Com artesanatos feitos exclusivamente por mulheres, pretendemos mostrar parte da riqueza que temos no nosso país”, destaca Ana Repezza, diretora de Negócios da ApexBrasil e idealizadora do programa Mulheres e Negócios Internacionais (MNI) da Agência, que visa apoiar o empreendedorismo feminino brasileiro no mercado global e contribuir com a autonomia e empoderamento social e econômico das mulheres.

Iniciativas da região Nordeste

Entre as iniciativas de mulheres participantes, 37 são da região Nordeste, dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. A Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora, em Sergipe, é uma delas. A associação busca valorizar a renda irlandesa, tradição secular do município sergipano e patrimônio cultural brasileiro desde 2008, produzindo peças de vestuário, acessórios, artigos para casa, entre outros. Composta por 30 mulheres, a associação foi fundada em 2022, após a pandemia, para fortalecer a produção e comercialização dos produtos. “O objetivo é dar autonomia financeira às rendeiras, muitas das quais ainda enfrentam situações de vulnerabilidade. A associação é um espaço de apoio, empoderamento e geração de renda”, afirma Neidiele de Jesus Silva, presidente da Asdrin.

Neidiele Silva é uma das artesãs que está acompanhando a Expoartesanías presencialmente e representando o trabalho da Associação. “Essa oportunidade é muito significativa. Queremos mostrar nossa tradição ao mundo e, quem sabe, alcançar novos mercados. Estamos confiantes de que esse passo vai agregar muito valor à nossa história e aos nossos produtos”, diz, acrescentando que participar de uma feira internacional é um sonho. “Só de expor nossos produtos já vale a pena. Conseguir um investidor ou comprador é a realização de muitos dos nossos objetivos”.

Artesã Oziana Oliveira Vitória de Santo Antão, PE – Foto: Divulgação/ApexBrasil

Outra representante do Nordeste na Expoartesanías é a Oziana Oliveira, artesã de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco, que transforma o que antes era considerado praga nas pastagens em arte. Trabalhando há quatro anos com fibras vegetais, ela inova ao utilizar o capim-luca, um material descartado na região, em suas criações. “É um capim muito conhecido nas pastagens, mas que não serve para o gado porque envelhece rápido e atrapalha a pastagem. Então, eu trouxe ele para a arte”, explica.

Além de participar de feiras locais e nacionais, Oziana já ministrou oficinas sobre a técnica utilizada e ganhou prêmio. Essa é a primeira vez que a artesã expõe fora do estado e participa presencialmente de uma feira internacional. “É muito importante o apoio que tivemos. Estou muito grata por todo o aprendizado e pelas novas culturas que estamos conhecendo aqui na Expoartesanías. Essa experiência está abrindo portas para o meu trabalho e trazendo muitas oportunidades”, afirma. Inspirada no Mandacaru, símbolo do Nordeste, a artesã levou para a exposição no Pavilhão Brasil sua versão da planta produzida em capim-luca.

Artesã Maria do Carmo dos Santos Guimarães, de Belo Jardim, PE

A artesã Maria do Carmo dos Santos Guimarães, conhecida como Mestra Neguinha, também está expondo e acompanhando a feira em Bogotá. Ela é uma referência no artesanato de Belo Jardim, Pernambuco. Sua jornada começou cedo, aos oito anos, ajudando a mãe na produção de panelas tradicionais de barro vendidas em feiras locais. “A gente trabalhava muito e não via nenhum resultado. Era como se estivéssemos escondidos, sem experiência de nada”, relembrou. A grande virada veio em 2005, quando, incentivada pela artista plástica Ana Veloso, e outros apoiadores, ela passou a criar peças decorativas. “Fiquei de cabeça virada, sem saber o que pensar. Mas no outro dia, me veio a criação do tamanduá, da Nossa Senhora Aparecida, de vasos decorativos e cabeças também. Mudou completamente as nossas vidas”, comemora.

Hoje, Mestra Neguinha é reconhecida no Brasil e no exterior por suas obras, que misturam tradição e criatividade. Ao final do primeiro dia da Expoartesanías, todos as suas peças já tinham sido vendidas. Entre elas, os tamanduás, que se tornaram ícones de sua produção. “Até gente discutindo para pegar os tamanduás eu vi! Essa experiência é algo que ninguém vai me tirar”, conta.

Confira as peças expostas no Pavilhão Brasil no catálogo Mãos que cuidam e criam.

Conceito do Pavilhão Brasil na Expoartesanías 

Sob o conceito “Um passeio pelo Brasil e suas regiões, tipologias e expressões, guiado pelas mãos que cuidam e criam”, o Pavilhão Brasil valoriza o protagonismo das artesãs brasileiras, ressaltando como o cuidado, historicamente associado às mulheres, se reflete em sua produção artesanal e na sua relevância econômica. Dados do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab) mostram que 76% dos artesãos cadastrados no Brasil são mulheres, que não só preservam as tradições artesanais, mas também promovem sua transmissão às novas gerações.

——————————

Fonte: ApexBrasil

Fotos: Divulgação/ApexBrasil