Silvaney Silva Santos [*]
A história sempre nos apresenta coisas novas. Não tratamos de velharias. Muito menos temos condições de reconstruir o passado dando conta dos silenciamentos, das lacunas, das emoções, das memórias, enfim, das subjetividades em sua totalidade. Interrogamos o passado a partir de um problema do presente. E neste aspecto, a história possui uma utilidade prática e importante, serve para tentar resolver problemas do passado que insiste em permanecer no presente. O próprio texto em tela foi motivado pelo momento vivido. Quem o escreve está imerso neste presente motivador. Diria mais… a própria imagem do passado, de alguma forma, dialoga com o presente em questão, e faz-nos conhecer, não somente este passado, mas a si mesmo.
É como parte destas representações que o presente texto vem, das teclas do meu velho notebook, para tratar de um evento inaugural, de cunho educativo e filantrópico em terras SANTOAMARENSES, a 9ª escola da LIGA SERGIPENSE CONTRA O ANALFABETISMO.
Imagem 1: Antigo Cinema Ayres da Rocha, erguido sobre os alicerces do Antigo Paço da Intendência Municipal.
Travessa Comendador Travassos, Santo Amaro das Brotas, Sergipe. Um prédio em ruínas (foto acima). Conforme contemporâneos, na década de 1970, ele serviu à cultura santoamarense como um cinema, nominado “Cine Ayres da Rocha”, por Nelson Ferreira Lima, antigo proprietário e prefeito do município (1960/1963-1972/1976).
Pesquisas mostram que este prédio foi erguido sobre os alicerces do antigo Paço da Intendência Municipal, local que representou, por muito tempo, o poder administrativo local e que, em primeiro de agosto de 1920, foi cedido, pela municipalidade, para instalar-se a 9ª escola da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo, ESCOLA “COMENDADOR TRAVASSOS”.
Conforme o sr. Zequinha dos Correios, ex-aluno da referida repartição, filha da filantropia, o prédio da intendência, servido à instalação da referida unidade, ficava na “antiga Baixa do Quiberre”. Um lugar insalubre, devido a uma lagoa, com água parada, que fazia proliferar mosquitos e a consequente transmissão da malária, a qual vitimou muitos santoamarenses, inclusive o pai do referido aluno. A lagoa do “Quiberre” foi aterrada na gestão do prefeito Agenor Martins Fontes (1935/1938-1941/1945/1947).
Sob o olhar das memórias, a referida imagem, principalmente para quem participou das práticas políticas, das atas a “bico de pena”, das fraudes eleitorais, do voto em cédulas e de cabresto, das práticas culturais e sociais através do cinema, dos shows de calouros… multiplica-se pelos corpos que produzem outros olhares e significados a respeito. Todavia, como ressaltado anteriormente, enfatizaremos a inauguração da “Escola Comendador Travassos”, pela Liga Sergipense Contra o Analfabetismo.
Para este fim, fizemos uso do noticiário da imprensa, através dos jornais sergipanos, o Correio de Sergipe, o Jornal do Povo, o Diário da Manhã e os relatórios do presidente do Estado, entre os anos de 1919 e 1920.
A Liga Sergipense Contra o Analfabetismo esteve inserida num contexto geral, como parte de um movimento nacionalista e “civilizador” do Brasil, na primeira
República, através da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. Apesar destas representações para construção de uma nacionalidade, o Brasil vivia uma “cidadania em negativo”, parafraseando José Murilo de Carvalho (2012, p. 83).
Nos trinta primeiros anos do novo regime, os números sobre o analfabetismo eram altíssimos. “O censo de 1920 mostrava que, em 30 milhões de habitantes, apenas cerca de 24 % sabiam ler e escrever” (CARVALHO, 2012, p. 65). Conforme os resultados publicados, Sergipe apareceu com o “menor índice de alfabetização do país, com um percentual de 60,1% para 75% no Brasil” (SOUSA, 2016, p. 71). Logo, o fosso era profundo. As camadas populares, uma grande leva de ex escravizados, ainda buscavam reatar laços e reconstruir sociabilidades numa realidade muito excludente.
Na contramão deste quadro negativo, analisando por dentro dos relatórios do presidente do Estado, José Joaquim Pereira Lobo, os índices desapareciam e davam lugar à cargas ideológicas repetitivas, a exemplo do “patriotismo” como o caminho para o “progresso” do Estado menor. Os textos, verdadeiros “instrumentos da dominação simbólica”; uma maneira de “representar”, através do floreamento das palavras, uma realidade distante da ideal. Neste sentido, o Estado aparecia como o mentor de todas as coisas. E para sacralizá-lo, uma série de representações foram usadas, a exemplo das inaugurações de retratos, bandas de música, girândolas a pipocar nas nuvens acinzentadas de Aracaju; cerimônias, missas, exposições de produtos “in natura”, quando do primeiro centenário da independência de Sergipe da Bahia.
1920 foi o ano do primeiro centenário de independência de Sergipe da província baiana. A Liga Sergipense Contra o Analfabetismo foi fundada quatro anos antes, em 24 de setembro de 1916 e teve a garantia do apoio do governo estadual, há época o general Oliveira Valadão. O centenário de emancipação de Sergipe era um marco para a Liga que, neste ano, tinha que apresentar resultados satisfatórios quanto a alfabetização dos sergipanos e continuar com a fundação de novas escolas.
Para manutenção de tamanha empreitada, “os recursos de que dispõe para manutenção de seu trabalho são as contribuições dos associados e as subvenções do Estado, deste município e da Loja Maçônica Cotinguiba”.
Sobre o apoio estatal à Liga:
“O Estado, que mantem uma revista de propaganda da Liga, também a subvenciona com a importância de 200$000 mensais; por igual o município da capital com a quantia de 80$000, também ao mês” (LOBO, 1920, p. 25).
Acrescido a este apoio, é importante enfatizar as ações filantrópicas para uma série de eventos com fins de angariar recursos para a longevidade da Liga, a exemplo de festivais, shows, palestras, peças teatrais, doações dos associados e a ajuda das administrações municipais. A parceria com os cinemas da capital também merece destaque. Entre eles, os cinemas “Cine Rio Branco” e o Cinema Eden, foram veículos que, junto à Liga, contribuíram com a arrecadação de proventos para mais de três dezenas de escolas fundadas ao longo dos trinta e quatro anos de existência. Dentre estas, a nona escola da Liga, a “Comendador Travassos”, em Santo Amaro das Brotas.
O Presidente do Estado de Sergipe, José Joaquim Pereira Lobo, em Relatório à Assembleia Legislativa, em setembro de 1920, falou sobre a luta da Liga em favor da alfabetização dos sergipanos e cita os lugares onde foram fundadas as nove escolas:
[…] falar-vos agora da Liga Sergipense contra o Analphabetismo, instituição que peleja na mais linda cruzada e no mais dignificante propósito de alluir pelas bases a pesada bastilha da ignorância, de fundos alicerces nas camadas populares do nosso caro Sergipe. Nove escolas, regularmente montadas, já se acham funcionado sob os auspícios da Liga benemérita. Destas, 6 na capital; 1 na Barra dos Coqueiros; 1 no povoado Lagoa Funda, município de Gararu; e 1 na villa de Santo Amaro. Presentemente é mais de 300 o número de alunos matriculados. […] (LOBO, 1920, p.24).
No dia 17 de agosto de 1919 a Liga Sergipense Contra o Analfabetismo se reunia no são nobre do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe para eleição e composição da sua diretoria. O Correio de Aracaju de 19 de agosto daquele ano veiculava aquele acontecimento:
Nova diretoria da Liga Contra o Analphabetismo
No salão do Instituto Histórico e Geográphico teve ante-hontem realização uma assembleia geral da “Liga contra o Analphabetismo”, para a eleição da nova directoria.
O sr. Almirante Amintas Jorge começou por ler o relatório referentes aos trabalhos e desenvolvimento da Liga durante o anno findo da sua gestão, e depois, entre os vários assuptos de interesse geral, suggerio a criação de um livro de honra, em que fosse inscritos os nomes dos seus beneméritos.
A nova diretoria ficou assim constituída:
Presidente: Almirante Amynthas Jorge; vice-diretor- dr. Gentil Tavares; 1ª secretária – d Ítala Silva; segundo dito- prof. Antônio de Oliveira; Orador – Enock Sant’iago; fiscal- Edgar Coelho; vice dito – prof. Lindolpho Salles.
Os novos eleitos foram logo proclamados. Appelamos para eles no sentido de que a liga continue a prestar os seus magníficos serviços.
Quanto às matérias ensinadas aos estudantes da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo, boletim publicado no Diário da Manhã de 27 junho de 1919 informa: “[…] Leitura elementar, Arithmetica, Contabilidade, Operações Fundamentais, Caligraphia, Noções de História Pátria e Geographia do Brasil, Lições de Cousas.
Santo Amaro das Brotas em 1919 foi uma das vilas sergipanas que sofreu com a varíola, com 448 casos e o número superior de falecimentos, 28 óbitos. Neste mesmo ano a comunidade perdeu o seu pároco e ex-intendente, Pe. Leonardo da Silveira Dantas e viveu uma verdadeira cruzada pelo soerguimento do sua Matriz que passou por uma das suas maiores reformas. As escolas eram as cadeiras isoladas; logo a ação da Liga, no ano seguinte (1920) inaugurava a escola “Comendador Travassos” e fazia os santoamarenses “esperançar” por dias melhores.
O Brasil vivia a chamada República Velha, caracterizada pelo coronelismo, clientelismo, voto de cabresto e o predomínio das oligarquias agrárias, no campo político e econômico.
Em 1920 a vila de Santo Amaro tinha como intendente o proprietário do Engenho Campo Grande, José Soares de Melo, conhecido, conforme memória do Sr. Zequinha dos Correios, por Juca do Campo Grande.
Imagem 2: José Soares de Mello, Intendente de Santo Amaro das Brotas em 1920.
Segue abaixo os ofícios trocados pelo intendente de Santo Amaro e os representantes legais da Liga:
Exmo. Sr. Almirante Aminthas Jorge. – Tenho tido ciência do festival realizado em o “Cinema Rio Branco” promovido pela pessoa de v.ex. como abnegado presidente, em prol da Liga Sergipense contra o analfabetismo para ser fundada a 8ª escola da Liga nesta vila, associo-me a v.ex. por alcance, aliás tão elevado pondo a vossa disposição a minha humilde pessoa, como também o prédio onde se acha instalado o paço da Intendência Municipal.
Apresento a v.ex. os meus protestos de verdadeira consideração.
Saudações. (a). JOSÉ SOARES DE MELO, Intendente Municipal.
Em seguida, Baltazarina Goes, representando o Presidente da Liga, o almirante Aminthas Jorge, respondia em forma de ofício:
Liga Sergipense Contra o Analfabetismo – Ofício nº 10.
Aracaju, 5 de junho de 1920. – Excelentíssimo sr. José Soares de Mello, d. d. Intendente Municipal de Santo Amaro- Sergipe. – Em nome do presidente da Liga Sergipense contra o Analfabetismo, cumpro o grato dever de acusar recebido vosso ofício de 25 do p. passado sob n. 15, pelo qual vos dignastes aplaudir o ato do projetado estabelecimento, na sede do vosso governo municipal, da nona escola noturna desta associação, bem como do vosso significativo e alevantado rasgo patriótico, pondo ao dispor desta diretoria vosso valioso concurso para a feliz realização do melhoramento planejado.
Este louvável proceder, que tão em destaque vos coloca pelo magnífico exemplo cívico e administrativo que representa; se transforma ainda em poderoso estímulo para o prosseguimento dos nobres fins visados pela Liga e é assim que, no duplo caráter de animação moral e material, o senhor presidente me determinou apresentar-vos, em nome de toda diretoria, os mais vivos e reconhecidos agradecimentos pelo benefício que resultará da comunhão de vistas do vosso governo com a atual administração da Liga, por ele presidida.
Manda ainda o senhor presidente que vos informe de sua próxima visita a essa vila, quando pessoalmente se entenderá com v.ex. a propósito do magno assunto.
Valendo-me do ensejo, tenho a honra de ser de v. ex. attª admrª. Baltazarina Goes, 1ª Secretária.
Coube a José Soares de Melo a busca pela implantação da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo para os pobres santoamarenses. Além disso, José Soares de Melo corrigiu o nome que a Liga daria à nona escola da Liga; de Sílvio Romero para Comendador Travassos. Através de representação feita pelo intendente, publicada no Jornal do Povo de 26 de junho de 1920. A matéria nos revela a pronta aprovação em assembleia pela diretoria da Liga devido a justificativa dada alusiva ao homenageado, sem contar que o maior estudioso do Comendador era o orador oficial da Liga Sergipense, Enoch Sant’iago.
Abaixo vemos os rituais da formalidade entre o intendente em prol da mudança do nome da escola e a direção da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo:
O ilustre major José Soares de Mello, intendente de Santo Amaro, querendo traduzir a homenagem dos seus patrícios à memória do seu valoroso historiador e político, commendador Antônio José da Silva Travassos, solicitou a graça de alterar a denominação dada à Escola compenetrado de que ia de encontro aos desejos dos seus munícipes, assim como que em nada atentaria contra a primeira lembrança da sociedade, uma vez que ela prossegue no seu afã de fundar escolas pelo interior do Estado.
Assim entendendo, o intendente de Santo Amaro enviou a Liga o seguinte ofício:
Illustríssimo Sr. Presidente da Liga Sergipense Contra o Analphabetismo.
O abaixo assinado, intendente de Santo Amaro, vem expor aos diretores desta sociedade uma circunstância muito merecedora do seu juízo, no sentido de ser prestada uma homenagem ao grande vulto sergipano do antigo regimem, que foi o commendador Antônio José da Silva Travassos.
Sendo ele natural da villa e tendo e tendo o seu nome pelos grandes serviços prestados a Sergipe, ficado no rol dos filhos ilustre deste Estado, que muito avulta no país, venho muito humildemente ponderar à essa Diretoria que seria de efeito mais expressivo que a dita Escola se chamasse Commendador Travassos, ficando a Liga para denominar Sylvio Romero a primeira escola que venha fundar ao depois desta.
Não fosse baseado no valor do grande historiador santoamarista, de certo não me avantajaria a propor aos ilustres membros dessa benemérita sociedade a mudança do nome extraordinário de Sylvio Romero, para o incansável batalhador, pelo facto único de ser ele natural desta villa e estar em igualdade de condições, quanto ao figurar entre os mais illustres filhos de Sergipe.
Com muito apreço mais uma vez testemunho à Liga Sergipense Contra o Analphabetismo as minhas saudações (José Soares de Mello, Intendente de Santo Amaro).
Este ofício teve a seguinte resposta:
Exmo. Sr. José Soares de Mello DD Intendente Municipal da villa de Santo Amaro:
De ordem do Exmo Sr. Presidente da Liga scientifico-vos de eu foi lida no expediente da sessão de hontem a petição na qual V. Ex. manifesta a esta Directoria desejar que fosse mudado o nome da Escola que brevemente deverá ser fundada nessa Villa.
Posto em discussão, foi unanimemente approvado o vosso parecer, determinando a Directoria que o novo núcleo de educação terá o nome de “Escola Comendador Travassos”.
Sirvo-me do ensejo para manifestar a V. Exa. O meu grande respeito e muita consideração.
Saudações – Baltazarina Góes, 1ª Secretária.
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Foi muito justa a ideia do major José Soares de Mello, pois que assim, o nome do eminente sergipano, sobre cuja vida e cuja ação política apenas existe em Sergipe um trabalho do nosso patrício Enoch Santiago, lido no Instituto histórico, começa a receber as homenagens a que tem direito, n’um culto de justiça e patriotismo.
Estava formada uma alma. Um importante empresário do Império, da província sergipana, agora imortalizado na República. Depois da definição do nome da nona escola da Liga viriam os encaminhamentos para o grande dia, a fundação da “Escola Comendador Travassos”.
Os ofícios trocados entre a municipalidade e os administradores da Liga, faz-nos entrever uma sequência de medidas administrativas para a efetivação do empreendimento. Sendo assim, percebamos como se deu esse transcurso para a inauguração da nona escola da Liga Sergipe Contra o Analfabetismo.
Os jornais sergipanos eram os principais veículos de divulgação da Liga, pôs, ela conseguiu construir uma rede de sociabilidade que reunia instituições como teatros, Biblioteca Pública, Instituto Histórico e Geográfico, entre outros. Segue abaixo o noticiário do Correio de Aracaju, 16 de julho de 1920:
Vai ser fundada a 9ª escola da Liga contra o analphabetismo
Para a Villa de Santo Amaro seguiu hontem o sr. almirante Aminthas Jorge, que conduziu consigo o mobiliário de duma escola que a Liga contra o Analphabetismo, de que é presidente, vai fundar naquela localidade.
Folgamos de ver o empenho e o desinteresse com que o operoso marinheiro vem trabalhando em prol da instrução, ideal nobre que, longe de desmerecer das inacessíveis glórias alcançadas sobre os navios, mais o dignificam e exalçam aos olhos dos seus conterrâneos.
A nova escola, que terá o nome de Commendador Travassos, deve inaugurar-se no primeiro de agosto próximo.
Quinze dias depois a Liga voltava a noticiar, no Correio de Aracaju, de 29 de julho de 1920, agora sobre o dia da inauguração da Escola “Comendador Travassos”:
Datado do 27 do corrente, da exma. Sra. D. Balthazarina Góes, secretária da Liga Sergipense contra o Analphabetismo. – Devendo realizar-se na villa de Santo Amaro o ato de inauguração da Escola “Comendador Travassos” no dia 1º de agosto próximo vindouro, tenho a honra de, em nome da diretoria desta Associação roga a v.ex. a fineza de comparecer a esta solenidade. Da ponte do governador partirá a condução às 6 horas e 30 minutos do referido dia. Certo de que abrilhantareis o ato com a vossa comparência, apresento-vos desde já os meus agradecimentos, subscrevendo-me de v. exa. Atenciosa veneradora (GOES,1920.p. 2-3).
A efeméride do dia 1 de agosto de 1920, no paço da intendência da Vila de Santo Amaro, foi divulgada no Correio de Aracaju do dia 3 de agosto daquele ano:
Foi fundada em Santo Amaro a 9ª escola da Liga contra o Analphabetismo
Agora foi a aprazível vila de Santo Amaro que tocou a sorte de ver fundar-se, pela Liga contra o Analphabetismo, uma escola donde se irradie o ensino para seus filhos.
De Aracaju transportou-se anteontem para lá a Diretoria da benemérita instituição, juntamente com seus convidados oficiais, na lancha dá Saude do Porto, posta gentilmente às suas ordens pelo sr. Dr. Berillo Leite.
Fizeram-se representar as autoridades convidadas, bem como grande número de outras pessoas da capital e da própria vila.
A sessão inaugural, a convite do sr. almirante Amynthas Jorge, foi presidida pelo sr. intendente de Santo Amaro.
Ao iniciar-se o ato, o distinto presidente da Liga, em palavras muito sentidas, relembrou aos presentes o doloroso fato do passamento prematuro dum associado ilustre e saudoso colega, o Dr. Jayme de Oliveira, falecido na véspera, nesta capital, e propôs que fosse inserido na ata um voto de saudade como agradecimento à ação do pranteado extinto.
Em seguida falou em referência ao ato, e deu a palavra ao orador oficial, o senhor Enock Santiago, que leu um bom discurso em que enalteceu a memória do saudoso homem de letras, o comendador Travassos, que deu seu nome à recém-fundada escola, a nona da Liga contra o Analphabetismo.
Às 14 horas foi oferecida pelo senhor intendente uma lauta refeição aos dignos hóspedes, sendo nesse momento trocados amistosos brindes.
A lotação da escola é de 36 alunos de ambos os sexos, e as aulas correm a cargo da professora d. Antônia Rosa Cardoso e funcionam no próprio edifício da Intendência Municipal, espontaneamente cedido para tal fim pelo espírito adiantado do sr. Intendente municipal, José Soares de Mello.
O mobiliário é todo novo.
O regresso à Aracaju deu-se às 18 horas, chegando a esta capital uma hora mais tarde, com excelente viagem.
Por mais de vinte anos a “Escola Comendador Travassos” atuou na alfabetização dos santoamarenses mais pobres. Com certeza, muitas histórias foram construídas a partir da prática cotiadiana, da iluminação de muitas professoras e professores que por ali passaram, a exemplo de América Araújo Guimarães e do professor Josias Freire da Silva, comissário de ensino, professor de inglês e francês. Por meio destes nomes deixamos aqui um registro em homenagem a todas e a todos que fizeram da educação uma arma de combate a ignorância e transformação da nossa sociedade.
Referências:
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: um longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
Correio de Aracaju, 9 de junho de 1920. Nº 2893, p. 1.
_____, 16 de julho de 1920. Nº 2.918. p1.
_____, 29 de julho de 1920. Nº 2.929. p. 2-3.
_____, 3 de agosto de 1920. Nº 2933
_____, 19 de agosto de 1919.
_____, 24 de agosto de 1919.
Diário da Manhã, 26 de junho de 1919.
_____, 27 de junho de 1919.
_____, 12 de junho de 1919.
_____, 3 de agosto de 1919.
_____, 15 de agosto de 1919.
_____, 19 de agosto de 1919.
Entrevista com José Felix da Silva concedida em 5 de outubro de 2021.
Jornal do Povo, 26 de junho de 1920.
Mensagem apresentada à assembleia Legislativa, em 7 de setembro de 1920, ao instalar-se a primeira sessão ordinária da 14ª legislatura, pelo coronel Dr. José Joaquim Pereira Lobo, Presidente do Estado.
SOUSA, Clotildes Farias de. A Liga Sergipense contra o analfabetismo. Aracaju: Edise, 2016.
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[*] É historiador, pedagogo e pesquisador. Autor do livro “Santo Amaro das Brotas, do histórico ao lúdico (Séc. XX)”, 2017. Professor do sistema estadual de educação e do sistema municipal de educação de Santo Amaro das Brotas.
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