Vitrine Literária e o aluno como protagonista do aprendizado

Por Sueli Carvalho

Em meados do próximo mês de fevereiro será realizada em Aracaju a III Edição do Projeto Vitrine Literária. A iniciativa da Central de Estudos Linguísticos e Literários Centro de Excelência Dom Luciano José Cabral Duarte, que tem como idealizador e coordenador o professor e mestre em Linguística pela Universidade Federal de Sergipe – UFS -, Fabiano Oliveira, traz como temática “O papel da mulher na Literatura Brasileira: um passeio pelas páginas”. Um tema atual e que por meio do trabalho realizado do Dom Luciano, com a orientação do educador e apoio da equipe diretiva da unidade de ensino se transformará em espetáculo de dança, música, poesia, teatro e cinema. Em entrevista concedida ao Evidencie-se.com o professor Fabiano Oliveira contou os detalhes da Vitrine Literária 2018. Confira!

 

Evidencie-se.com – A Vitrine Literária chega a terceira edição. Qual será o enfoque deste ano?

Fabiano Oliveira – O projeto cresceu e este ano promete ser mais que uma apresentação, pretende ser um espetáculo. Na primeira edição do projeto falamos sobre minorias, na segunda abordamos religiões e este ano o tema é “O papel da mulher na Literatura Brasileira: um passeio pelas páginas”.

 

Evidencie-se.com – Como será feita a abordagem deste tema dentro do ensino integral?

Fabiano Oliveira – Vamos revisitar os perfis femininos daquela mulher passiva, às vezes cínica, ousada até a mulher nas páginas da literatura atual.

 

Evidencie-se.com – Quais são os autores que serviram como objeto de estudo do projeto?

Fabiano Oliveira – Vamos trabalhar a literatura de Jorge Amado, com Tieta; Fernando Sabino, com Amor de Capitu; Clarice Lispector, Macabéa, fazendo um recorte do livro A Hora da Estrela; Adélia Prado e Cecília Meireles, com suas poesias que falam sobre mulher. Nelson Motta, com O Canto da Sereia. Este ano o projeto Vitrine Literária vai estar bastante diversificado. Teremos autores de diversas fases da literatura.

Alunos ensaiam para o Vitrine Literária  Fotos: Fabiano Oliveira

 

Evidencie-se.com – Com esta proposta temática tão atual, o que o projeto pretende revelar?

Fabiano Oliveira – A nossa intenção é observar como a mulher aparecia nas páginas da literatura. Às vezes idealizada e às vezes reproduzida de forma real. Temos a Tieta, por exemplo, ousada e atrevida, que saiu das páginas de Jorge Amado e vai virar filme na película dos alunos do 1º ano do Dom Luciano; O filme com base no romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, vai ganhar o nome de Macabéa ela não sabe gritar. Vamos observar a passividade da Macabéa diante do mundo; Nós vamos dar a Capitu a voz que ela não teve em Dom Casmurro, romance de Machado de Assis; e vamos trazer para o teatro O Canto da Sereia de Nelson Motta, e Geni, de Chico Buarque de Holanda, que na adaptação virou Bendita Geni. É um projeto, portanto, que liga a literatura ao cinema, a dança, a música, a poesia e ao teatro. O foco dessa metologia é aprender fazendo. Ler um texto é uma coisa, refazer esse texto dando vida a ele, é outra.

 

Evidencie-se.com – Quando é que a Vitrine Literária acontecerá?

Fabiano Oliveira – A data ainda está sendo definida, mas o projeto acontecerá em meados de fevereiro, às 18h, no Centro de Arte e Cultura J. Inácio, na Orla da Atalaia. No local, teremos toda a estrutura tecnológica – luz, palco, som. Será uma estrutura digna de tirar a literatura do nível de disciplina de escola e leva-la para a rua com o patamar de arte maior, já que o objetivo do projeto é fazer esta ligação da literatura com as outras artes.

 

Evidencie-se.com – Como é possível trabalhar para abranger tantas formas de arte?

Fabiano Oliveira – Está sendo um desafio. Dar uma aula de literatura de forma tradicional, com quadro, giz, falando em datas e horas é fácil. Difícil é você mostrar as características de uma obra de Jorge Amado ou de Machado de Assis dialogando com outras artes. A gente busca as características das personagens nas páginas dos livros e traz para a realidade. Nossa grande dificuldade é sair do tradicionalismo e perceber que a literatura está conectada a outras artes.

 

Evidencie-se.com – E quanto ao formato, como será?

Fabiano Oliveira – O formato do programa é de auditório. Eu entro, apresento e depois disso é saindo uma arte e entrando outra. Tudo isso, com apresentações de quatro minutos, no máximo.

 

Evidencie-se.com – Para as apresentações de cinema, como tudo será feito?

Fabiano Oliveira – Estamos gravando os filmes. Tieta está sendo gravado em Santa Rosa de Lima. Vamos gravar, fazer o making of e lançar tudo isso. Temos o roteiro pronto, vamos viajar para Santa Rosa de Lima, com a equipe toda de produção, figurino, de locação para gravar. Os filmes Amor de Capitu e Macabéa serão gravados em São Cristóvão. Os alunos estão se dividindo cada um com o seu roteiro e a sua produção porque isso aí provoca o protagonismo, eles têm uma responsabilidade.

Equipe de cinema se preparando para as gravações 

 

Evidencie-se.com – Para realizar a produção, vocês contam com parcerias?

Fabiano Oliveira – Sim. Uma coisa que é interessante este ano é que o cinema ganhou o apoio de profissionais. Eu convidei parceiros para mostrar aos alunos na prática o que é o cinema. Juntou-se a nós, o sergipano André Zaady, que é diretor de cinema e vai lançar em breve o filme Amor Fluído. Conto ainda com Eliakim Shunk, Helber Reis, Deivison Hutz, Antônio França Neto e Pedro Henrique Batista Coelho, vencedores do concurso 11ª Primavera dos Museus, com o filme curta-metragem intitulado Raízes, eles também estão apoiando o projeto. O interessante é que o trabalho é realizado por profissionais e alunos. Na dança, contamos com apoio de estudantes do Curso de Dança da Universidade Federal de Sergipe – Joélio Moura e Luara Thaysa. Eles estão mostrando como unir os a literatura aos movimentos da dança. Temos também o importante apoio da Secretaria de Estado da Educação, por meio do secretário Jorge Carvalho do Nascimento e da equipe diretora do Colégio Dom Luciano.

 

Evidencie-se.com – A abertura do evento é feita por você. Alguma novidade este ano?

Fabiano Oliveira – Este ano teremos novidades sim. Convidei a Banda Quilombo para fazer a abertura da Vitrine Literária comigo. Eles vão cantar a história da mulher na Literatura Brasileira junto comigo. Antes mesmo de fevereiro chegar, irei participar dos ensaios do Carnaval como um preparativo para o show de abertura da Vitrine Literária, e no dia 25 deste mês, a Banda Quilombo estará no Colégio Dom Luciano para o ensaio geral do projeto.

 

Evidencie-se.com – Quantos alunos estão envolvidos no projeto?

Fabiano Oliveira – Ao todo temos uma equipe de cerca de 80 alunos. A equipe de cinema conta com o envolvimento de 30 alunos. Em um filme como o da Capitu são poucos personagens, mas aí entra o pessoal da produção, maquiagem, do figurino, então eles se dividiram de tal forma que quem for fazer o papel de ator ou atriz se preocupe só em contracenar. Alguns são muitos bons em encenar, outros em roteirizar. Eles formam equipes e aí se tem as equipes de teatro, dança, cinema, poesia e da música.

Alunos do Dom Luciano ensaiam as performances do Vitrine Literária

 

Evidencie-se.com – Com relação ao formato, este seria um espetáculo inédito no Estado?

Fabiano Oliveira – No formato sim. É o maior espetáculo de literatura da escola pública, pela forma como é apresentado. Há uma grande estrutura. Os alunos parecem profissionais, já há uma consagração de dois anos, já entra para o calendário do Estado, não mais da escola. Então, a Vitrine Literária deixou de ser um projeto de escola para ser um projeto profissional voltado para um público maior. No nosso primeiro ano, foi um sucesso, um choque para nós. No segundo ano, consagramos. E este ano será de ir além da consagração, de tornar a Vitrine Literária um evento esperado no calendário do Estado. O meu grande desafio este ano é que são alunos do 1º ano e nós focamos mais na leitura dos roteiros. No próximo ano, eles farão tanto a leitura como a construção dos roteiros.

 

Evidencie-se.com – Para o aluno, qual a importância de participar de um projeto como este?

Fabiano Oliveira – É importantíssimo porque o aluno pode descobrir o próprio talento. Ele pode se reconhecer enquanto ator e escritor, por exemplo. A vitrine Literária é um projeto que trabalha as bases dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Trabalho a literatura, mas essa literatura tem como ponto de partida o que os livros nos trazem. A ideia do projeto é ir além dos livros e dar vida a personagens que a gente conhece e que muitas vezes as pessoas nunca viram. Então, na Vitrine Literária será possível reconhecer O Canto da Sereia, Geni, Pagu e muitos outros.

 

Evidencie-se.com – E qual o reflexo disso tudo para a Educação em tempo integral?

Fabiano Oliveira – O reflexo disso para Educação é ter um aluno que consegue ler, fazer reflexões sobre a história da mulher, fazer pontes de como era a mulher na literatura e como ela aparece hoje. O projeto foi feito para tornar o aluno crítico, leitor e unido a isso descobrir talentos. Na música, por exemplo, o aluno que não conhece Chico Buarque de Holanda tem a oportunidade de conhecê-lo, aquele que não conhece Adélia Prado também passa a conhecer. A Vitrine Literária vai além das datas e coloca em prática a Literatura como deveria ser. O reflexo para o aluno é a aprendizagem.

 

Evidencie-se.com – O trabalho é realizado em cima de quais bases teóricas?

Fabiano Oliveira – As bases utilizadas no trabalho que desenvolvo são Jean Piaget, Vigotski, Freinet, Maria Montessori, Paulo Freire e Anísio Teixeira. Aqui o aluno aprende literatura fazendo. O que a gente faz na Vitrine Literária é tirar os personagens das páginas, dar vida e presentear pais, familiares e público em geral. O Vitrine Literária é um presente que o Dom Luciano dá a sociedade sergipana.