Por Sueli Carvalho
Setransp pede reajuste de 30% na tarifa de transporte da Capital
O setor de transporte de passageiros de Aracaju movimenta na economia local e regional por mês R$ 17 milhões e por ano mais de 204 milhões. Trata-se de um segmento muito importante porque além de transportar 215 mil passageiros por dia e seis milhões por ano, emprega mais de 3,5 mil pessoas no sistema diretamente, fora os empregos indiretos que são gerados. Para manter o setor funcionando, de acordo com o presidente do Setransp, Alberto Almeida, será preciso aumentar a tarifa em 30%. Ele alega como principais pontos para a necessidade de reajuste o déficit acumulado das sete empresas que atuam no sistema atualmente. Segundo ele, de janeiro para cá o déficit chega a mais de R$ 30 milhões. “Já estamos com todas as empresas de Aracaju com dificuldade de pagar fornecedor e pessoal . Qual o próximo passo se não tem outra fonte de custeio?”. Na entrevista concedida ao evidencie-se.com, Alberto Almeida dá mais detalhes da situação do transporte público de Aracaju. Confira!
Evidencie-se.com – Como é que se chega ao cálculo da tarifa? E quanto o Setransp está pedindo de aumento?
Alberto Almeida – O cálculo da tarifa é medido pela divisão da quantidade de pessoas que pagam e pelo custo do sistema. Para calcular o custo eu pego todos os insumos – pessoal, óleo diesel, peças – calculo quanto dá e divido por quem paga. Então, o que faz com que a tarifa aumente primeiro é o acréscimo nos insumos e no sentido inverso a queda do número de passageiros. A gente teve um aumento de 16% a 17% de custo e este mesmo percentual de redução no número de passageiros. Com isto se tem a necessidade de perto de 30% de aumento tarifário. Aracaju é a única Capital que tem uma lei que normatiza o aumento da passagem. É uma lei que estabelece como eu devo calcular e eu não posso sair do que diz a lei, a não ser que uma lei superior venha modificar a existente. Pegamos todos os insumos e deu uma tarifa de R$ 3,98. Lembrando aí que não é um reajuste de um ano, mas de dois anos. Estamos completando o segundo ano sem reajuste tarifário. É preciso que se tenha essa correção, porque sem ela não se terá investimentos, não será possível colocar em dias o pagamento de pessoal e de fornecedores e nem de fazer a renovação de frota. Ninguém consegue operar com frota velha, antiga, e sem os funcionários recebendo em dias.
Evidencie-se.com – Como é que está sendo trabalhada essa negociação da majoração da tarifa?
AA – Vale registrar que passamos o aumento tarifário em dezembro de 2016, e o Governo anterior não deu o reajuste da tarifa em dezembro. Foi muito ruim. Este Governo que chegou está se ambientando pra poder tocar no assunto. Mandamos o cálculo tarifário para a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito – SMTT – estamos em contato frequentemente, mas não recebemos nenhum retorno efetivo de quanto e quando esse aumento será dado. Enviamos em dezembro do ano passado, em março deste ano e notificamos novamente agora em junho, pedindo providências. O prefeito Edvaldo Nogueira sinalizou que dará o aumento e a gente está confiando.
Evidencie-se.com – Com o aumento da tarifa há garantia de melhoria dos serviços prestados pelas empresas do sistema?
AA – Com esse aumento o sistema primeiro vai buscar atualizar os pagamentos junto aos funcionários e depois buscar investimento para recompor a frota.
Evidencie-se.com – Quando aconteceu a última renovação de frota?
AA – A última renovação de frota ocorreu em 2015. Com exceção dos dez ônibus articulados que chegaram no final do ano de 2015 e que começaram a operar em 2016, há quase dois que não há renovação de frota. A frota de Aracaju está com seis anos de idade enquanto que a nacional é de cerca de cinco anos. Já tivemos frota aqui com intervalo de menos quatro anos de idade. Há dois anos chegaram mais de 200 carros novos. Pra voltar ao que era antes é preciso ter mais dois ou três anos de investimento, isso se vier a normalização da tarifa agora.
Evidencie-se.com – A gratuidade também interfere neste custo?
AA – Nossa gratuidade cresceu nos últimos três anos, perto de 60%. Tivemos o crescimento de 60% da gratuidade e uma queda de passageiros de 16%. São contas totalmente invertidas. É menos gente pagando quando se precisa que mais gente pague. Eu não estou dizendo que a gratuidade é errada não, mas que ela impacta na tarifa. E quem paga a gratuidade de todas essas pessoas é o próprio usuário. É aquele camarada que paga a tarifa, que reclama do valor dela, mas que já está pagando por outro. Em algumas cidades, como Maceió (AL), por exemplo, quem paga a gratuidade é o Governo Municipal. Ele compra algumas gratuidades de saúde e entrega em passagens. Em outras cidades brasileiras há o subsídio direto do Estado, de alguns valores das multas de trânsito, do combustível, de muitas fontes que são canalizadas para subsidiar o transporte público. São Paulo hoje disponibiliza R$ 1 bilhão por ano de subsidio para poder amenizar o valor da tarifa para o usuário. Recife coloca R$ 120 milhões. Aqui em Aracaju nós não temos este incentivo. Não temos nenhum dinheiro extra tarifário, nenhum valor que não seja da tarifa é colocado no sistema.
Evidencie-se.com – Os índices de assaltos nos ônibus têm aumentado ou diminuído?
AA – Houve uma melhoria muito grande quando comparado ao ano passado. Foram registrados mais de 40% de queda no número de assaltos. A Polícia Militar, SMTT, Guarda Municipal, o Setransp e o Sindicato dos Trabalhadores se juntaram e se ajudaram mutualmente e o em razão desse trabalho conjunto já é possível sentir um reflexo grande este ano.
Evidencie-se.com – E o registro do número de casos de vandalismo tem aumentado?
AA – Sim. Tem aumentado muito. São pessoas que atiram pedras, geralmente de sexta a domingo, à noite e em determinados locais mais ermos, mais afastados do Centro, ou quando tem algum evento. Esta é uma questão que se deve ter muito cuidado porque se uma pedra dessas atingir a um passageiro. Também tivemos um caso, em que dos 31 vidros do ônibus foram quebrados 19. Isso ocorreu porque alguns usuários ficaram revoltados em razão do motorista ter parado o carro em uma estrada onde não havia condições de tráfego. Quebraram o ônibus todo – dois para-brisas dianteiros, o para-brisa traseiro e 19 vidros laterais das janelas.
Evidencie-se.com – De que maneira o senhor vê a questão da mobilidade em Aracaju e cidades da Grande Aracaju. Há projetos neste sentido?
AA – Estamos confiantes no projeto que está se desenhando para a implantação dos corredores de ônibus. E também com a vinda da licitação que irá trazer estrutura viária, terminais e uma infraestrutura adequada do transporte público. A expectativa é de no início do ano que vem comece a funcionar o Consórcio Metropolitano que liga as quatro cidades da Grande Aracaju – Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros – e em seguida será colocada à licitação na rua. Esta é uma necessidade do setor e os empresários estão prontos para participar da licitação. Outro problema enfrentado pelas empresas do sistema atualmente, é que muitos veículos são prejudicados com vias precárias, e a arrecadação nestas linhas não suprem os gastos com manutenção. Além disso, em muitos casos é necessário o suporte de tratores para ajudar a retirar os ônibus de linhas em zonas rurais. Eles ficam atolados em vias precárias de alguns povoados da Grande Aracaju, principalmente no período de chuva.
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