Gustavo Tenório [*]

Existe um indiscutível patrimônio imaterial do Club Sportivo Sergipe: Dona Gisélia! Mas imaterial!? Sim, por suposto! Não se trata de mais uma espécime de homo sapiens sapiens rubrus. É muito mais do que isso.

Foi um dia chuvoso o da estreia do Gipão no campeonato brasileiro da série D 2018. Aquele dia digno de ficar em casa tomando um cafezinho e lendo um livro, ou fazendo qualquer outra coisa que desse na telha – mas que fosse dentro de casa, claro. Não para Dona Gisélia e um milhar de torcedores irredutíveis que empurraram o Vermelhinho em mais uma partida.

Aliás, Dona Gisélia recusou-se a sentar sob a marquise das cadeiras vermelhas para se proteger da chuva. Sua fidelidade, diga-se, não é feita de açúcar. Ficou no mesmo lugar onde costumeiramente assiste aos jogos do seu grande amor, ali entre os setores 02 e 03. Confesso que me espremi na cobertura do meio do campo – em minha defesa, uma crise asmática ainda assolava meus pobres pulmões (juro!).

De lá do meio da cancha, avistei uma sombrinha vermelha a proteger uma senhorinha com sua longa saia de mesma cor. Aliás, uma bela combinação. Seus braços vibravam como que a chacoalhar a equipe em campo. Foi um primeiro tempo nada empolgante. O time parecia ainda de ressaca do título estadual. Assim também pareciam a torcida, o clima preguiçoso, a chuva que caía de mansinho… um bocejo sincero. Mas Dona Gisélia pulava e cantava na chuva. Ouso sugerir que Gene Kelly deveria lhe entregar o Oscar de 1952. I’m happy again! I’m laughing at clouds! Dona Gisélia nos chamava, sorrindo, para a chuva. Ai, meus pulmões que me sabotam! Após o intervalo, o chuvisco cessou e fui me juntar a ela.

O Gipão melhorou um pouquinho no segundo tempo. No entanto, não o bastante para abrir o marcador. A equipe arapiraquense (leia devagar, pausadamente), por sua vez, fez um show de “cera”: atirava-se ao chão, encenava lesões, demorava a repor a bola ao jogo. Um verdadeiro dramalhão mexicano – não foram sequer indicados ao Oscar. E acabou. Um zero a zero com pouca emoção. Há dias assim. Fazer o quê?

Ou melhor, Dona Gisélia venceu! 1×0! 2×0! 3×0! 4×0! Enfim, seus gols tendem ao infinito. O garoto do placar ficaria uma eternidade mudando os números. Imagina uma crônica sem fim! Uma coisa é certa e precisa: Dona Gisélia nunca nos decepciona!

[*] É advogado e torcedor apaixonado pelo Sergipe