Quando o elogio deixa de ser elogio e passa a ser assédio? Frases como: “Você vai morrer porque é mulher” e “Até que a morte nos separe”. Essa relação de poder entre gêneros é o tema da disciplina eletiva “Fiu fiu não é elogio” lançada pelo professor Fabiano Oliveira no CE Dom Luciano.
De acordo com Fabiano Oliveira, o tema surgiu da necessidade de expor aos alunos que o discurso patriarcal internalizado de forma histórica vem sendo combatido em prol de uma sociedade mais igualitária.
Segundo ele, a matéria contará a história do amor ao longo dos anos em suas mais diferentes nuances. “Da ideia mais sublime do sentimento, passando pela errônea ideia de posse, um dos fatores que levam a atos violentos (Até que a morte nos separe?)”.
Com o tema “Do machismo ao femismo; das Cavernas ao feminicídio”, as aulas serão ministradas por Fabiano Oliveira sempre às quintas-feiras, a partir do mês de maio, com convidados de diversas áreas do conhecimento, buscando as mais diferentes visões. “A ideia é despertar no aluno o discurso mais crítico por trás do machismo banalizado em músicas, propagandas, matérias jornalísticas e históricas”.
Os convidados
Para debater o tema, o professor convidou as jornalistas Suzane Vidal, Priscila Bitencourt, Maristela Niz, Jaqueline Cruz, e os psicólogos João Paes Neto e Michele Marques, que abordarão temáticas comportamentais do perfil dos envolvidos em crimes, também participará da aula, a capitã da Polícia Militar, Fabíola Góes, responsável pelo projeto “Ronda Maria da Penha”, com dicas de proteção e números de casos de violência contra mulher em Sergipe.
Os alunos entrevistarão os convidados após as palestras e discursos. Conforme o professor Fabiano Oliveira, foram criados quadros para dinamizar os encontros: Quem sou eu? Qual a sua posição sobre o assunto? O que tem a dizer sobre a música?
Segundo Fabiano, os alunos escolherão trechos polêmicos de músicas, análises de imagens, propagandas e discursos ordinários como “a culpa é dela porque estava de short curto!”. Ele disse ainda que as letras de canções de sucesso como “Atrasadinha, “Esse cara sou” e “Amélia” também serão fontes de pensamentos sociais que representam épocas e serão analisadas com lentes contemporâneas.
“O entrevistado terá oportunidade de discursar sobre o amplo tema do ‘machismo, do femismo, do feminismo e do feminicídio’ e dará sua colaboração na construção da aprendizagem”, explica o professor.
Outro propósito da disciplina é abordar o polêmico “Lugar de fala”. Um homem pode falar por uma mulher? Pode ser porta-voz? Questões como estas, tão comuns, no campo do feminismo não faltarão nas rodas de debates. Verdades e mentiras sobre o feminismo também farão parte da ementa da disciplina.
“Todos os discursos orais serão transformados em propagandas de conscientização, pequenos filmes e textos dos mais diversos tipos, dialogando diretamente com a temática. Para a culminância, pensa-se em propagandas para serem veiculadas em redes sociais”, revela.
Aulas transmitidas pelas redes sociais
As aulas da disciplina serão transmitidas, ao vivo, pelas redes sociais para que as pessoas de casa possam participar e interagir com alunos e convidados. “Afinal, a escola está inserida na sociedade e traz nela todos os problemas que estão fora dos muros escolares. A escola é a síntese da sociedade”, diz o professor.
Discursos comuns
“Psiu”, “Gostosa”, “Pego fácil”, “Você é incapaz”, “Não faz nada direito”: o assédio tem várias vozes. Ele pode ser, inclusive, silencioso. Olhares intimidadores e toques indesejados, também, configuram o crime, que pode ser de cunho sexual, moral e até mesmo religioso. Com base neste pensamento, músicas brasileiras que fizeram história serão revisitadas como objeto de análise desses discursos utilizados para perpetuar a inferioridade feminina, muitas vezes, vistas como objetos de posse em discursos romantizados.
“Psiu não é elogio, cara! É mais que uma disciplina é um alerta que nos permite fazer análises mais críticas de discursos antes naturalizados pela sociedade”, afirma Fabiano Oliveira.
Fotos: Arquivo Pessoal / Fabiano Oliveira
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