Por Rosa Meire Carvalho [*]

O debate entre candidatos a prefeito, realizado pela TVE Bahia no sábado à noite, 24/10, refletiu a polarização das candidaturas entre os dois grupos políticos: do prefeito ACM Neto, do DEM, representado pelo Candidato Bruno Reis, e o grupo integrado pela ala de centro-esquerda, no qual se encontram as candidaturas apoiadas pelo Avante/PSD, Podemos, PROS, PT e PC do B que têm por patrono o governador do Estado, Rui Costa. O candidato do PSOL, deputado Hilton Coelho, posicionou-se de forma crítica, distribuindo farpas à gestão de ACM Neto e Rui Costa, ao dizer que a política que defende, “não combina com o conservadorismo”.

Candidatos fizeram críticas à falta de espaços na televisão para os debates. Major Denice foi incisiva sobre a importância da difusão das ideias aos eleitores. A candidata propôs que um documento conjunto assinado pelos colegas seja levado às emissoras em defesa da realização de novos debates. Denice recebeu apoio de Olívia Santana e do candidato Bacelar, do Podemos, além de Hilton, do PSOL. A candidata Olívia Santana disse que as televisões “derrubaram” os debates, fato que, segundo a candidata, “afeta a democracia”. O candidato do PSOL se queixou de que o processo eleitoral é “desigual”, pois o seu partido só dispõe de 21 segundos na TV. Bacelar  observou que “o debate é o instrumento mais moderno e mais transparente para apresentar propostas ao eleitor”, e concordou com a assinatura do documento. 

Estilo propositivo

O que se viu nesse debate foi o crescimento da deputada estadual Olívia Santana (PC do B), ao sustentar estilo discursivo mais enfático e um pouco mais propositivo, em relação à presença da major Denice. A candidata do PT apresentou, por sua vez, estilo mais solto, mais posicionado e mais combativo do que vem apresentado na propaganda eleitoral gratuita, na disputa por espaços nessa campanha. Ambas superaram nesse debate o representante do DEM, atual vice-prefeito, Bruno Reis.

O candidato de ACM Neto demonstrou momentos de fragilidades e nervosismo, não conseguindo sustentar uma boa perfomance. Sua presença ficou limitada ainda por  ter sido menos  listado pelos adversários para responder a perguntas. Finalizou o debate pressionado, sem conseguir responder, mesmo com a palavra, à afirmação que lhe fez o representante do Podemos, Bacelar, que acusou o governo do prefeito ACM Neto de cortar R$200,00 do auxílio-alimentação dos professores municipais durante a pandemia.

Os ataques à atual administração do prefeito ACM Neto vieram de todos os lados. Um dos temas valorizados pelos candidatos Bacelar (Podemos) e Major Denice (PT) foi a política tributária. Bacelar denunciou o que chamou de “arrocho tributário”, com a majoração de 216% do IPTU nos últimos 8 anos. A candidata do PT, lembrou durante questionamento ao candidato Hilton (PSOL), o fato de Salvador estar vivendo o que considera “uma política tributária perversa”.  O candidato do PSOL, por sua vez, voltou sua atenção para o governador Rui Costa, a quem acusou de atrapalhar o desenvolvimento regional do sistema de transporte suburbano. Também não poupou farpas ao prefeito ACM Neto, associando-o ao bolsonarismo e a ações que beneficiam empresários do transporte e “à própria família”. Disse que o  candidato do DEM, Bruno Reis, “mente” em relação aos dados de Salvador relacionados ao desemprego. Hilton disse que  ACM Neto encontrou em 2012 o desemprego em Salvador com taxa de 7,2% e essa taxa em 2019 foi de 17%, “mais do que duplicou”.

O candidato Bruno Reis, por sua vez, focou o debate nas realizações da administração atual do prefeito ACM Neto, ao valorizar a importância da iluminação em Led, devendo levar “até o final do ano” o equipamento a “80% da cidade”. O candidato do DEM remeteu-se também à gestão fiscal realizada e a implantação do novo Centro de Convenções como iniciativas importantes da gestão que se finda. Sobre a iluminação em Led, o candidato Celso Cotrim disse que caso vença a eleição pretende valorizar a iluminação para promover atividades esportivas no turno noturno.

O pastor Isidório exerceu papel crítico em relação à administração do DEM em Salvador. Questionou a gestão do transporte, acusando o prefeito ACM Neto de “desrespeitar” o Ministério Público e de não colocar 100% da frota durante a pandemia, expondo os usuários aos riscos da COVID-19. Mas, o sargento Isidório também recebeu críticas do candidato Bacelar, do Podemos, quando se referiu à implantação de ensino militarizado.

A Educação transformou-se em um tema transversal à maioria dos candidatos, com propostas para a implantação do ensino integral. A candidata Olívia Santana mencionou que 500 mil jovens em Salvador não têm ensino fundamental completo. E a necessidade de valorização de ações para a Educação de jovens e adultos e de uma política de qualificação de mão-de-obra.

Dentre os temas tratados pela candidata Olívia Santana  (PC do B) estiveram a questão habitacional, o transporte, o microcrédito, a política de prevenção a desastres e a educação ambiental.Ainda durante o debate, Olívia saiu em defesa do governador Rui Costa, acusado pelo deputado do PSOL e candidato Hilton, de ter realizado na Bahia uma reforma da Previdência e de fechar escolas, o que considerou como “perversidades”. A candidata Olívia replicou dizendo que faz parte com o governador do “campo democrático”. Criticou no candidato o que chamou de “atitude de metralhadora giratória” e ponderou dizendo “que isso não é bom para a democracia, não é bom para nossas lutas”, afirmando a necessidade de formarem “uma grande frente em favor de dias melhores”.

Major Denice (PT) lembrou a importância da geração de empregos e da capacitação profissional.  Trouxe como proposta o “turismo étnico”, que valorize a cultura negra, e o Programa de geração de renda, denominado “O Meu corre certo”. Disse  que “todas as pessoas importam” e nesse sentido mencionou a necessidade de construir “uma nova cidade que acolhe e protege”. A candidata observou que “obras não estarão acima das pessoas”. Já o candidato Bacelar, do Podemos, mencionou também a educação integral como o pilar de sua agenda. Ao finalizar o debate, a candidata Olívia Santana (PC do B) fez um apelo à militância do movimento negro, estudantes, mulheres e feministas, em defesa de “um Brasil mais democrático”. Bruno Reis lembrou das realizações do governo ACM Neto e disse que pretende, dentre seus programas, contemplar os jovens com programas novos e com a criação de empregos em um novo pólo de economia criativa.

——————————–

[*] É jornalista, graduanda em Estudos de Gênero e Diversidade | UFBA, Doutora em Educação, Comunicação e Tecnologias |UFBA