Globo rebate e diz que “novelas são obras de ficção, sem compromisso algum com a realidade”
O Conselho Federal de Psicologia – CFP – disse em nota, na segunda-feira, 5, que a novela “O outro lado do paraíso”, da Rede Globo, presta um desserviço à população brasileira. Segundo a nota publicada no site do Conselho, o sofrimento psíquico grave da personagem Laura, interpretada pela atriz Bella Piero foi abordado sem o cuidado que o tema exige.
Na novela, Laura tem dificuldades de se relacionar intimamente com o marido Rafael, vivido pelo ator Igor Angelkorte por causa dos abusos que sofreu na infância pelo padrasto Vinicius, representado pelo ator Flavio Tolezani. A personagem Laura é incentivada por Clara, a atriz Bianca Bin, a procurar ajuda profissional, mas recorre a um coach e a sessões de hipnose com a personagem Adriana, vivida por Julia Dalavia, e não um psicólogo, o que ocasionou a desaprovação do CFP.
Conforme a nota do Conselho Federal de Psicologia, “mesmo compreendendo o caráter de uma obra de ficção, o Conselho Federal de Psicologia – CFP – entende que a telenovela “O outro lado do paraíso”, por se tratar de uma obra capaz de formar opinião, presta um desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos um tema tão grave como o sofrimento psíquico de personagem cuja origem é o abuso sexual sofrido na infância.
E ressalta que “quanto ao argumento de que se trata ‘’apenas’’ de ficção, lembramos que são as novelas da Rede Globo que, como estratégia de elevar a audiência, frequentemente buscam embaralhar as barreiras do ficcional e do real, entre outras formas, introduzindo nas tramas fatos e temas candentes da sociedade.
De acordo com o CFP, “é consenso no Brasil de que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que tem a habilitação adequada. Isso é amplamente reconhecido por diversas políticas públicas, entre elas o Sistema Único de Saúde – SUS – e o Sistema Único de Assistência Social – SUAS -, que empregam essas profissionais em larga escala. Mesmo na saúde suplementar, o exercício do cuidado psicológico é reconhecido e regulamentado. Há normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS – que obrigam os planos de saúde a oferecerem atendimento por profissionais da Psicologia.
E continua “somos uma profissão regulamentada pela Lei 4.119, de 27 de agosto de 1962, os cursos de Psicologia são aprovados e fiscalizados pelo Ministério da Educação e o Ministério da Saúde reconhece a Psicologia como uma profissão da saúde. As mais prestigiadas universidades públicas e privadas oferecem formação em Psicologia e nossa ciência e profissão passam rotineiramente pelo escrutínio das pesquisas acadêmicas. Tudo isso confere segurança à sociedade de que se trata de uma ciência e profissão respaldadas ética e tecnicamente.
Segundo o Conselho “saudamos como positiva a manifestação de diversos grupos e escolas de coaching, que, manifestando-se sobre o ocorrido, afirmaram compreender que os transtornos mentais devem ser cuidados por profissionais da saúde mental”.
E ao finalizar diz “o CFP faz um alerta à sociedade para que não se deixe iludir. As pessoas devem buscar terapias adequadas conduzidas por profissionais habilitadas para os cuidados com a saúde, particularmente a saúde mental”.
Nota da Globo
Em resposta ao Conselho Federal de Psicologia, a Globo ressalta em nota que as “novelas são obras de ficção, sem compromisso algum com a realidade. A Globo reconhece a importância de todos os seus programas para discussões e reflexões sobre assuntos de interesse da sociedade e está atenta à responsabilidade que lhe é atribuída sobre todos os temas abordados. O que a novela O outro lado do paraíso quer mostrar com o desenvolvimento da trama da personagem Laura é o processo pelo qual passa uma pessoa que precisa de ajuda, recorrendo a diferentes e variadas formas de apoio e terapias, das mais às menos ortodoxas”.
E reforça “é importante reiterar, ainda, a seriedade com que a novela O outro lado do paraíso tem abordado, desde a estreia, questões relacionadas a diferentes tipos de abuso e preconceito. Corroborando o compromisso da Globo com a sociedade, está prevista a exibição, ao final de alguns capítulos, de cartela de divulgação do Ligue 100, número oficial para denúncias de violação de direitos humanos”.
* Com informações do CFP e da Rede Globo
Foto: TV Globo / Divulgação
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