GILFRANCISCO: Jornalista, pesquisador, professor e escritor. Doutor Honores Causa pela Universidade Federal de Sergipe – UFS e membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do CPCIR/CNPq/UFS. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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Série de orações e práticas litúrgicas realizadas durante um período de nove dias para obtenção de alguma graça divina. Teve sua origem na tradição católica, mas pode ser encontrada também em outras religiões ou crença. É uma prática de espiritualidade que fazemos durante nove dias, geralmente para um Santo, afim de que ele nos ajude a entrar em contato com Deus, pedindo por uma causa.
São João Batista, segundo a Bíblia nasceu milagrosamente em Aim Karim, cidade de Israel que fica a 6 quilômetros do centro de Jerusalém. Seu pai era um sacerdote do templo de Jerusalém chamado Zacarias. Sua mãe foi Santa Isabel, que era prima de Maria, Mãe de Jesus foi chamado por Deus para a missão de anunciar a vinda do Messias.
João Batista morreu martirizado, tendo sido degolado. Para os cristãos, São João Batista é conhecido como São João do Carneirinho por estar sua imagem rodeada de carneiros. Já em diversos grupos que praticam o Candomblé no Nordeste, o Orixá Xangô divindade do fogo é sincretizado com São João Batista.
Nessas novenas, rezamos com São João Batista, o maior de todos os profetas, aquele que viu o Cordeiro de Deus. As novenas do glorioso São João Batista, padroeiro da capelinha do bairro Industrial, teve início a partir do dia 15 de junho.
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Bairro Industrial – Novenas de S. João
Começaram anteontem as honrosas novenas de S. João Batista em sua Capelinha no Bairro Industrial.
Contou a noite o Rvm. Vigário João Florêncio da Silva Cardoso, auxiliado pelo Rvm. Padre Salesiano, Lourenço Giordani.
Entoou a ladainha e os hinos do costume o mesmo grupo cantante do ano passado, que se desempenhou primorosamente desse harmonioso encargo, sendo ele composto de gentis e graciosas senhoritas desta cidade, dirigidas pelas inteligentes e espirituosas D. Marianna Barreto e D. Antônia de Santiago.
O pequeno templo ostentava-se decorado com muito gosto e arte; e a Rua do Cayçá era digna de ver-se pelos enfeites e luzes bem combinadas que apresentava.
A banda do Grupo Policial fez-se ouvir condignamente durante o ato.
Muitas girandolas espocavam no ar ininterruptamente, de momento a momento.
Os novenários das 7 primeiras noites são todos do pessoal da Fábrica e das 2 últimas são os Srs. Tenentes coronéis José Victor de Mattos e Eduardo Cruz.
Daremos oportunamente o programa da festa.
À tardinha e horas de costume, as pessoas que quiserem assistir às novenas do “Bairro Industrial” encontrarão na ponte do Governador uma embarcação ao seu dispor. 2
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Novenas de S. João Batista no Bairro Industrial
Continuam a fazer-se com toda a pompa e esplendor as novenas de S. João Batista naquele bairro.
Anteontem, domingo, houve Missa solene, celebrada pelo Revm. Vigário forâneo, Manoel Raymundo de Mello, sendo os hinos entoados pelas mesmas cantoras e pelo Sr. Abraham de Britto Lima.
Depois do ato, inaugurou-se a nova “Filarmônica” da Sergipe Industrial, tendo por protetor o Divino Espírito-Santo, por ser aquele dia consagrado à devoção da SS. Trindade.
A banda, confiada ao inteligente maestro José Pequeno, desempenhou-se com a máxima perfeição e todo gosto.
À tarde fez-se a mesma ouvir, em delicada retreta, intervalando com a banda do Corpo Policial, ambas executando, à porfia, excelentes trechos, que nada deixaram a desejar.
Muitos cavalheiros desta Capital honraram com sua presença o vistoso bairro.
Teve lugar à noite a novena, que se celebrou com extraordinário realce.
Programa da Festa
Foi-nos enviada a seguinte nota – programa da festa, que se realizará no dia 24 do corrente, na mimosa capelinha do Bairro Industrial, para darmos à mesma a devida publicidade, o que fazemos com o máximo prazer.
A missa principiará às 10 horas, sendo celebrante o Rvm. Cônego Fonseca, acolitado pelos Rvms. Vigário João Florêncio e Padre Antidio.
Ao Evangelho ocupará a tribuna sagrada o Rvm. Cônego Manoel Raimundo de Mello, que pronunciará um sermão, na altura de sua erudição e talento.
Às 7 horas da noite, haverá Te-Deum solene, pregando nessa ocasião o inteligente o ilustrado vigário João Florêncio. 3
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Novenas de S. João Batista – Bairro Industrial
Completaram-se ontem as 7 ª noite de novenas, realizadas com o mais notável esplendor pelos operários e pessoal do escritório da Sergipe Industrial.
São dignos de elogios todos os que se incumbiram ao realce e brilhantismo desses anos, que não destoaram dos do ano passado, especialmente o ilustre gerente da fábrica, Sr. Dr. Thales Ferraz.
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Espera-se hoje uma novena de muita in fluência, sendo o mordomo respectivo o honrado cavalheiro, Sr. Coronel Eduardo Cruz, que já se acha com sua exmª família, tendo-se instalado, há dias, naquele pitoresco bairro.
À tardinha achar-se-á em frente do sagrado templo a banda de música da fábrica e da polícia, executando lindas peças, em retreta.
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Terá lugar amanhã a novena do digno Sr. Coronel José Victor de Mattos, e espera-se igualmente muita pompa e todo o esplendor. O ato será celebrado muito cedo, por causa do brinquedo de busca-pés à noite.
Depois de amanhã, dia da festa, logo após o Te-Deum, à noite, será queimado um lindo fogo de artifício, preparado por um hábil artista. 4
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Novenas de S. João Batista no Bairro Industrial
A última noite de novena no Bairro Industrial foi um verdadeiro deslumbramento, concorrendo para isso grande afluência de povo desta capital.
A capelinha apresentou-se decorado com gosto e arte.
As duas bandas de músicas fizeram-se ouvir com distinção, tocando em retreta, formosas peças do seu repertório até 9 horas da noite.
A iluminação esteve vistosa e foi de grande efeito ótico.
O grupo encarregado dos hinos, ainda, esta vez, fez honra aos créditos já adquiridos, agradando de um modo excepcional.
Os Srs. Coronéis Eduardo Cruz e José Victor, de Mattos, são dignos de muitos aplausos e parabéns, pelo empenho que o ponderam realce de suas noites de novenas.
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Teve lugar a festa no dia 25, começando a animação com as salvas e saudações matinais.
Às 10 horas cantou a Missa festiva o Rvm. Vigário João Florêncio, e foram seus acólitos os Revms. Padres Antidio e Fonseca.
Incumbiu-se do sermão o Rvm. Vigário forâneo, Manoel Raimundo de Mello, que brilhantemente fez o panegirico do Precursor João Batista, com a beleza e encanto de que sabe dispor em destas ocasiões pelo que foi grandemente aplaudido.
O grupo das moças cantoras esteve digno de elogio e recebeu muitas flores de ovações e aplausos populares.
Por falta de dados, deixamos de publicar os nomes das distintas cantoras, mencionado, apenas, os das dignas e talentosas diretoras do elenco d. Antônia de S. Thiago e d. Mariana Barreto, incansáveis em promover o brilhantismo e esplendor de todos os atos da capelinha do Bairro Industrial.
Vem de molde consignar também aqui um elogio aos inteligentes Abrahão de Britto Lima e Francisco Avelino, que muitos concorreram para o resultado das festas, um cantando as novenas e outros dirigindo a pequena orquestra da Missa.
O Te-Deum foi celebrado à tarde, correndo tudo na melhor ordem, e animada retreta das duas bandas marciais, disputaram a palma da vitória até a hora do fogo de artifício, que esteve bom, e merecem os encômios dos espectadores.
Queimado o fogo, improvisaram-se danças que estiveram sempre animadas até alta noite.
Sinceros parabéns aos honrados juízes da festa.
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Juízes da festa e mordomos das novenas do Glorioso S. João do Bairro Industrial, para o ano de 1906:
Juízes da festa – Cruz, Ferraz & Cia
Mordomos das novenas:
1ª noite – Pessoal da preparação, fiação e enrolador; 2ª – Pessoal da máquina e do escritório; 3ª –Srs. Fenelon Lobão, José Carneiro de Mello e José Victor de Mattos; 4ª – Pessoal da tecelagem, engomadeira e dobrador; 5ª – Srs. Coronéis Adolpho Rollemberg e José Augusto Cezar Ferraz; 6ª – José de Barros França, Sebastião Meneses e José da Silva Ribeiro; 7ª – Srs. Coronel José Dória Neto, Nelson Dória e João Góes Junior; 8 – Srs. Dr. Thomaz Cruz e João Rodrigues da Cruz; 9ª –Família Diniz e Cantoras. 5
NOTAS
[1] Capítulo do livro A Fábrica de Tecidos Sergipe Industrial, GILFRANCISCO (inédito), 600 páginas.
2 Estado de Sergipe. Aracaju, nº 1950, 20 de junho de 1905.
3 Estado de Sergipe. Aracaju, nº 1955, 22 de junho de 1905.
4 Estado de Sergipe. Aracaju, nº 1953, 27 de junho de 1905.
5 Estado de Sergipe. Aracaju, 28 de junho de 1905.
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