Janaina Koenen [*]
Zero açúcar, baixo teor de gordura, adição de grãos integrais: entenda o que está por trás desses e outros termos
Há algumas décadas, ao escolher o que comer, era fácil encontrar carne fresca no açougue da esquina, vegetais sem aditivos no sacolão do bairro e leite ensacado direto da roça. Os tempos mudaram, aos hábitos também e, como era de se esperar, a indústria adaptou-se ao novo contexto. Os conservantes entraram com tudo, vieram também os corantes e tantos itens adicionados a cada mercadoria, tudo explícito nos rótulos, certo? Errado!
Infelizmente, é comum que as descrições dos produtos tenham informações omitidas (ou equivocadas), confira:
“Zero gordura” ou “baixo teor de gordura”
Como a gordura foi, por anos, tratada como vilã de um organismo saudável, criou-se o mito de que ela deveria ser eliminada das dietas de quem busca emagrecimento, por exemplo. Uma das consequências dessa guerra contra ela foi a criação dos produtos “zero gordura” ou “baixo teor de gorduras”. No entanto, o resultado, quando se tira esse item de qualquer alimento, é algo sem sabor, que não atrai nossos paladares e, para resolver isso, é comum a adição de açúcar, edulcorantes artificiais e outros produtos químicos industrializados que fazem mal ao organismo. Ou seja, aquilo que tem “baixo teor de gordura” é, geralmente, muito pior do que o regular.
Produto integral
O consumo desse tipo de alimento cresceu ao longo dos anos, junto à crença de que eles são mais saudáveis. É fato que grãos integrais são melhores do que os refinados, porem, quando se trata de processados, o problema é que os grãos integrais não são sempre integrais. Como assim? Eles são pulverizados em farinha muito fina, que pode sequer conter todos os ingredientes do grão e acaba por colaborar com picos de açúcar no sangue, realizando uma digestão tão rápida quanto à feita com grãos refinados. Fora a adição de diversos outros itens prejudiciais na composição, como açúcar e xarope de milho. Ou seja, há uma série de produtos rotulados como integrais que não são integrais de fato.
“Zero lactose” ou “Livre de glúten”
Criou-se, erroneamente, um discurso de que dietas sem glúten ou lactose ajudam a emagrecer. É sabido que grande parte da população pode ser sensível ao glúten mesmo sem ter doença celíaca e, por isso, sua restrição pode, de fato ser recomendada. O mesmo ocorre com a lactose. No entanto, produtos rotulados como “sem glúten” não são saudáveis. Usualmente, eles são feitos a partir de refino, e apresentam altos índices glicêmicos, provenientes de amido de milho, batata ou tapioca; além de conterem açúcar. Já os “sem lactose” apresentam sim lactose, pois ainda não existe forma de retirá-la dos produtos que a contêm. Por isso, eles ainda têm em sua composição a enzima sintética lactase, responsável pela “quebra” da lactose em nosso organismo. Por ter lactase, fica no leite glicose + galactose, mais facilmente absorvidos e que geram uma resposta insulínica maior, o que é pior para quem quer perder peso. Além disso, a proteína do leite também faz aumentar a insulina, o que contribui para o ganho de peso.
Sem gorduras Trans
Para exibir essa mensagem no rótulo é necessário que o produto contenha menos de 0.5g no rótulo, só que não é o que ocorre. Alimentos processados que têm itens hidrogenados, por exemplo, têm gordura trans. Além disso, eles podem ter, em sua composição, óleos vegetais, como milho e óleo de soja, que também podem ser muito prejudiciais pela presença de ômega-6.
Não contém açúcar
Para começar, é preciso saber que existem diversos típicos de açúcares, naturais e artificiais. É comum que os rótulos aproveitem isso para disfarçar a presença do item. Um alimento pode conter “açúcar”, “xarope de milho” ou “sacarose”, diferentes nomes para uma mesma coisa e, muitas vezes, eles aparecem separados nas informações nutricionais, mas se somarmos os valores, eles podem ser assustadores. Além disso, o “não contém açúcar” que aparece nos rótulos ignora a sacarose, presente em praticamente todos os alimentos industrializados e nas frutas. Há, ainda, a maltodextrina, muito presente em chocolates e paçocas diet.
Baixa ou nenhuma caloria
Aparecem como alternativa saudável para quem quer perder peso, mas não funcionam, por terem, em sua composição, adoçantes artificiais em vez de açúcar. O problema é que adoçantes podem afetar a ingestão de alimentos e levar os indivíduos a comerem mais.
Saiba, ainda, que o teor de calorias, assim como o de açúcar, é disfarçado, por meio da divisão de porções. O rótulo indica os valores nutricionais referentes a apenas um pedaço do produto, por exemplo, quando, naturalmente, as pessoas costumam ingeri-lo por inteiro.
[*] É graduada em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM); Mestre em Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM); Membro da Sociedade Brasileira de Diabetes (Comissão Científica da Diretoria da Regional de Minas Gerais); Membro da Endocrine Society.
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