O estado de Sergipe estará representado por cinco artistas naexposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, a mais abrangente mostra dedicada exclusivamente à produção de artistas negros já realizada no país. Com abertura agendada para o dia 2 de agosto, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, a mostra parte da premissa de dar luz à centralidade do pensamento negro no campo das artes visuais brasileiras, em diferentes tempos e lugares.

Com curadoria assinada por Igor Simões, em parceria com Lorraine Mendes e Marcelo Campos, Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, apresentará ao público obras de 240 artistas negros – entre homens e mulheres cis e trans, de todos os Estados do Brasil – em diversas linguagens como pintura, fotografia, escultura, instalações e videoinstalações, produzidos entre o fim do século XVIII até o século XXI.

Representando o estado estarão presentes obras de Arthur Bispo do Rosário, Davi Cavalcante, Rayanne Ellem, Larissa Vieira e Manuel Messias.

“Como uma instituição que tem na diversidade uma de suas principais marcas, o Sesc busca por meio de suas ações dar voz aos mais diversos segmentos sociais, estimulando o debate e ajudando a registrar a história e cultura de nosso povo em toda sua abrangência e riqueza. Dentro dessas premissas, o projeto Dos Brasis lançou um olhar aprofundado sobre a produção artística afro-brasileira e sua presença na construção da história da arte no Brasil. Um trabalho que contou com nossos analistas de cultura em todo o país, em um grande alinhamento nacional. A exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro é a culminância desse processo e oferece ao público não só a oportunidade de conhecer a obra de artistas e intelectuais negros, com também de refletir sobre sua participação nos diversos contextos sociais”, disse o Diretor-Geral do Departamento Nacional do Sesc, José Carlos Cirilo.

Trajetória – A ideia nasceu em 2018, um projeto de pesquisa fruto do desejo institucional do Sesc em conhecer, dar visibilidade e promover a produção afro-brasileira. Para sua realização, foram convidados os curadores Hélio Menezes e Igor Simões. Em 2022, o projeto passa a ter a curadoria geral de Simões com os curadores adjuntos Marcelo Campos e Lorraine Mendes. A partir de 2024 uma parte da mostra circulará em espaços do Sesc por todo o Brasil pelos próximos 10 anos.

Para se chegar a esse expressivo e representativo número de artistas negros, presentes em todo o território nacional, foram abertas duas importantes frentes. Na primeira, foram realizadas pesquisas in loco em todas as regiões do Brasil com a participação do Sesc em cada estado, com o objetivo de trazer a público vozes negras da arte brasileira. Essas ações desdobraram-se em atividades e programas como palestras, leituras de portfólio, exposições, entre outros, com foco local. Vale ressaltar que esse processo teve uma atenção especial para que não se limitasse apenas às capitais do país, englobando também a produção artística da população negra de diversas localidades, como cidades do interior e comunidades quilombolas.

A equipe curatorial pesquisou obras e documentos em ateliês, portfólios e coleções públicas e particulares, para oferecer ao público a oportunidade de conhecer um recorte da história da arte produzida pela população negra do Brasil e entender a centralidade do pensamento negro na arte brasileira.

A segunda frente foi a realização de um programa de residência artística online intitulado “Pemba: Residência Preta”, que contou com mais de 450 inscrições e selecionou 150 residentes. De maio a agosto de 2022, os integrantes foram orientados por Ariana Nuala (PE), Juliana dos Santos (SP), Rafael Bqueer (PA), Renata Sampaio (RJ) e Yhuri Cruz (RJ). A residência, que reuniu artistas, educadores e curadores/críticos, contou ainda com uma série de aulas públicas com a participação de Denise Ferreira da Silva, Kleber Amâncio, Renata Bittencourt, Renata Sampaio, Rosana Paulino e Rosane Borges, disponíveis no canal do Sesc Brasil no YouTube.

Núcleos – A proposta curatorial rompe com divisões como cronologia, estilo ou linguagem. Para esta exposição de arte negra, não caberá a junção formal, estilística ou estética.

Dessa maneira, os espaços expositivos do Sesc Belenzinho contarão com sete núcleos: Romper, Branco Tema, Negro Vida, Amefricanas, Organização Já, Legítima Defesa e Baobá, que têm como referência pensamentos de importantes intelectuais negros da história do Brasil como Beatriz Nascimento, Emanoel Araújo, Guerreiro Ramos, Lélia Gonzales e Luiz Gama.

EXPOSIÇÃO DOS BRASIS – ARTE E PENSAMENTO NEGRO

De Sergipe

Arthur Bispo do Rosário – Japaratuba (SE), 1911 – Rio de Janeiro (RJ), 1989

Núcleo Negro Vida

Por décadas, Bispo do Rosário dedicou-se a inventariar os momentos do seu internato no hospício. Com seus barcos, bordados, mantos e estandartes, criou um registro visual do seu cotidiano, escrevendo o nome dos pacientes e visitantes, acessando as memórias de sua infância no interior de Sergipe e de sua experiência na marinha. Declarava que suas invenções eram uma tarefa divina. Sua genialidade é índice de potência que subverte a lógica excludente das instituições normativas.

Davi Cavalcante – Aracaju (SE), 1994 e Rayanne Ellem – Aracaju (SE), 1998

Núcleo Branco Tema

Comunicólogo formado pela Universidade Tiradentes (Unit), Davi Cavalcante desenvolve pesquisa sobre linguagem não verbal a partir do corpo humano. Em sua produção artística faz uso de fotografia, performance, objeto e audiovisual, entendendo o caráter limitante do suporte. Suas obras abordam questões como a persistência do racismo e a necessidade de ocupação negra nos espaços de poder.

Graduanda em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá, Rayanne Ellem utiliza a autoexpressão como base de suas obras. Por meio de escrita, música, vídeo, fotografia, colagem, entre outras linguagens, suas criações abordam temas que partem de uma reflexão individual sobre a realidade que a cerca enquanto mulher negra, no contexto social ou histórico. Nos últimos anos, dedica-se a entender como seus estudos em psicologia podem atravessar as relações entre arte e indivíduo.

Larissa Vieira – Aracaju (SE), 1993

Núcleo Amefricanas

Licenciada em Artes Visuais, pela Universidade Federal de Sergipe, trabalha com Arte afro-brasileira, educação, artesanato, moda sustentável, ilustração, muralismo e produção cultural afro-diaspórica. Em suas obras, Larissa Vieira – numa explosão de cores e figuras geométricas -resgata a história do povo negro, dando uma nova configuração aos signos adquiridos de suas origens, celebrando a ancestralidade e a cosmovisão africana, na criação de uma potência que da luz a razão do sentido de ser dos povos africanos e afro-brasileiros.

Manuel Messias Aracaju (SE), 1945 – Rio de Janeiro (RJ), 2001

Núcleo Negro Vida

Sua formação se dá pela experiência das aulas que teve com Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do do Rio, onde começou a desenvolver sua carreira artística, com foco principal na gravura. Sua produção apresenta influência expressionista, sobretudo trazendo símbolos e expressões fortes, contrapondo-se a partir do preto e branco e das cores primárias, que podem ser relacionadas a sua vivência, igualmente árdua e reflexiva.