GILFRANCISCO (*)
Os Corumbas, com o sr. Amando Fontes estreia brilhantemente, nos domínios da literatura de ficção, é toda a pungentíssima história de uma família de proletariado, que a falta de recursos e de assistência social arrastam a mais completa ruína.
João Cordeiro (1905-1938)
O romance Os Corumbas, filia-se à corrente de romances nordestinos da geração de 32, que veio encarar sob o aspecto realista e social os dramas da vida brasileira naquela região. Mas não existe nada de estritamente regionalista nesse livro: a universalidade da dor humana nele se exprime, da maneira mais sensível, através de personagens e de situações, não apenas do Nordeste, mas de toda parte do mundo. Amando Fontes nasceu a 15 de maio de 1899, em Santos (SP), filho de Turíbio da Silveira Fontes e Rosa do Nascimento Fontes. Órfão de pai aos cinco meses de idade, a família volta para Sergipe, de onde era oriunda. Em Aracaju, fez os primeiros estudos, cursando o secundário no Atheneu Sergipense. Por motivo de saúde e de viagem, seus estudos foram interrompidos várias vezes e só em 1928 bacharelou-se pela Faculdade de Direito da Bahia.
No princípio de 1917 regressou a Aracaju, instalando-se por mais de um ano na fazenda onde transcorreu parte de sua infância. Em 1919, após fazer, de uma só vez, todos os preparatórios que lhe faltavam, seguiu para o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Escola Nacional de Medicina. Ainda por motivo de doença, teve que abandonar o curso antes de terminar o ano, retornando a Sergipe.
Em meados de 1922 submete-se a um concurso público para agente fiscal do imposto de consumo, em Salvador, tendo sido classificado em primeiro lugar, exercendo o cargo no interior da Bahia. Leitor voraz desde cedo, leu os clássicos portugueses e o melhor da literatura brasileira e europeia, dedicou especial atenção a Shakespeare, Goethe, Dante, Machado de Assis e interessou-se pelo pensamento de Comte, Schopenhauer e Spencer.
Amando Fontes tinha o hábito de frequentar rodas literárias, como na casa do poeta Garcia Rosa, que exercia forte influência na juventude intelectual de Aracaju; em Salvador gozava das amizades do crítico Carlos Chiacchio (1884-1947) e Herman Lima (1897-1981). No Rio de Janeiro, tinha como interlocutor Jackson de Figueiredo (1891-1928), de quem era amigo desde a infância.
A partir de 1930, fixou-se no Rio de Janeiro, pois era funcionário do Ministério da Fazenda, dedicando-se à advocacia e retornando a escrita de Os Corumbas, interrompida doze anos atrás. Eleito deputado federal por Sergipe, para a legislatura de 1934 a 1937, voltando a se reeleger em 1946 e em 1950. Concluído este último mandato, voltou ao exercício de seu cargo efetivo, no Ministério da Fazenda.
Amando Fontes faleceu em 1º de dezembro de 1967, deixando quase pronto um novo romance, O Deputado Santos Lima, que focaliza os últimos anos da República Velha e os anos que lhe seguiram, até 1933. Sobre o autor, existe uma dissertação de mestrado defendida pela professora Ivonete Santos, Amando Fontes e o Romance Industrial, publicada pela Fundação Estadual de Cultura (Fundesc), de Sergipe, em parceria com a Fundação Universidade de Brasília, 73 páginas, 1991:
O forte conteúdo social dos romances Os Corumbas (1933) e Rua de Siriri (1934), de Amando Fontes, é uma marca que indica com bastante clareza o momento literário a que pertencem. Atrelado a circunstâncias históricas e sociais da maior importância, esse momento é único e terá, portanto, uma maneira particular de solucionar os problemas que se colocam como obstáculo à realização de uma das finalidades máximas da literatura brasileira: a transposição da realidade histórica e social para um plano literário acessível a um público leitor em permanente estado de transformação.
Romance de 30
A chamada literatura do Nordeste é a denominação corrente que se dá a um conjunto de obras cujo assunto se prende ao Nordeste do Brasil, escrita por nordestinos direta ou indiretamente ligados ao I Congresso Brasileiro de Regionalismo, reunido em Recife, em fevereiro de 1926. Esta denominação não se sabe por quem foi dada pela primeira vez, mas refere-se à reunião de obras de ficção mais significativa do período que vai de 1928 a 1945, em que ocorreu uma revitalização do gênero. O grupo não é homogêneo e nem definido.
A Literatura do Nordeste tende para a observação dos fatos sociais, registro orgulhoso do passado, é memorialista e, portanto, tem um aspecto “saudosista”, na sua forma, está mais próxima da língua falada, situando-se como mais rural que urbana.
Na verdade, o Romance de 30 é a expressão do neorrealismo regionalista nordestino, uma fisionomia própria, ligada à tradição romanesca do século XIX, notadamente a que vinha de Aluízio de Azevedo, com O Mulato e O Cortiço. O Romance do Nordeste, também uma forma do Modernismo, evoluirá no sentido de denúncia de inspiração social. É a literatura das secas, do ciclo da cana-de-açúcar, do romance de testemunho.
Ela procura descrever particularidades geográficas e socioculturais, além de estudar as condições da organização social em suas raízes históricas, para proceder a uma análise mais ampla das condições de vida dos trabalhadores rurais e urbanos.
Os romancistas desse período empenharam-se, igualmente, em verticalizar o conhecimento das projeções emocionais e psicológicas desses trabalhadores, ampliando-lhes o sentido de humanização. A melhor realização artística da proposta neo-regionalista encontra-se nas obras como A Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida (1887-1980); O quinze (1930), Raquel de Queirós (1910); Os Corumbas (1933) e Rua do Siriri (1937), Amando Fontes (1899-1967); Cacau (1933), Jubiabá (1935), Jorge Amado (1912-2001); Vidas Secas (1938), Graciliano Ramos (1892-1953); e Fogo Morto (1945), José Lins do Rego (1901-1957).
No caso de Os Corumbas, seria o mais antigo projeto de romance à maneira de 30 de que se tem notícia. Sua vinculação ao tema das secas talvez decorresse do regionalismo da belle époque e anterior; é possível, se não possível que o capítulo em torno do operariado provenha da Revolução Russa de 1917, ou de suas ressonâncias onde se processava a industrialização e, consequentemente, a formação do proletariado urbano.
Os Corumbas
A estreia de Amando Fontes na literatura ocorreu com o romance Os Corumbas (Prêmio Felipe d’Oliveira), Rio de Janeiro, Schimdt Editora, julho 1933, obteve sucesso, ao mesmo tempo, na crítica e nas livrarias, bastante elogiado pelos intelectuais e muito lido pelo público.
Como bem disse o crítico Álvaro Lins (1912-1970), ao enfocar a valorização d’Os Corumbas:
O que faz deste livro um romance de categoria superior, com um decisivo poder de comoção e aceitação literária, é o seu drama, a construção pura e simples da sua história.
Na verdade, Os Corumbas descreve simplesmente a miséria física e moral gerada pela impiedosa exploração da mão-de-obra proletária durante o primeiro grande surto de industrialização no país.
Nela, fixou a odisseia de um casal de camponeses (a família Corumba – Geraldo e Josefa, os pais, Pedro, Rosenda, Bela, Albertina e Caçulinha, os filhos) expulso pelo flagelo (1905) e, não tendo como alimentar uma penca de filhos, atraído pelos melhores salários da indústria de fiação (no início da década de 1920, as primeiras grandes tecelagens funcionavam a todo vapor), emigra para Aracaju em busca de uma vida melhor.
No entanto, às condições de trabalho e salário impostas aos operários das fábricas ferem o princípio da dignidade humana. Ao trabalhador é entregue um leque de deveres, no qual os direitos são esquecidos. O jovem empregado é engolido pelas correias que o fazem girar por entre os teares mecânicos. A morte da criança não é um fenômeno acidental. É através dela que Amando Fontes relata a monstruosidade que se pratica em nome do progresso.
Na capital sergipana, onde a miséria, a tuberculose e a prostituição acabam por levar-lhes os filhos, obrigando-os a regressar, derrotados, à gleba. Não foi necessário muito tempo para que o sonho se desfizesse. Numa situação de quase miséria, comum a todos os operários das indústrias de fiação de Aracaju e, além disso, enfrentando valores comportamentais que os homens do mundo agrário de proeira, a família Corumba vai se desagregando rápida e inevitavelmente, como se uma maldição pesasse sobre ela e a tivesse condenado sem misericórdia. Ao final, restam apenas os dois velhos que, cansados do rosário de degradação e miséria, retornam sem esperança ao interior.
Amando Fontes pinta um painel incomum para a época; as crianças raquíticas, os moços tuberculosos, as mulheres grávidas, os operários mortos pela falta de segurança, as operárias, para as quais resta a prostituição como única alternativa de sobrevivência, e os agitadores políticos que marcham para a cadeia. E, do outro lado, o capital explorador da época da primeira fase da substituição da importação no Brasil, no início dos anos de 1920, quando as leis trabalhistas ainda não existiam e quando as situações descritas em Os Corumbas eram comuns.
Rua do Siriri
A despeito de Os Corumbas ser algo na estrutura, na linguagem, na caracterização dos personagens e no empenho de crítica social, não lhe faltam força expressiva e interesse humano. O mesmo já não se poderá dizer de Rua do Siriri (1937), romance em que, ao retratar o drama social do meretrício em Aracaju, lugar-comum perenemente cinzento, cansativamente repetido ao longo de cerca de 300 páginas, do viver miserável das mulheres da vida, igual ao de quaisquer outras pelo mundo afora. Não há propriamente ação, apenas a melancolia dessas existências para quem o vício se tornou uma fatalidade: hoje, uma humilhação, amanhã, a miséria, mais tarde, a Santa Casa e a morte. Tudo isso narrado com absoluta simplicidade, incidindo, por vezes, na monotonia, mas nunca perdendo a nota profundamente humana.
Premiação
A Sociedade Felippe d’Oliveira instituída para incentivar a produção literária nacional, concedeu o seu primeiro prêmio em valor de cinco mil contos de réis. A escolha recaiu no interessante romance de costumes Os Corumbas, de autoria do jovem escritor sergipano Amando Fontes, que foi considerado o melhor livro publicado em 1933. Votaram a favor d’Os Corumbas nomes de muita expressão, entre as quais figuram Álvaro Moreyra, Assis Chateubriand, Rodrigo Otávio Filho, João Dandt Oliveira, Renato de Almeida, Edmundo da Luz Pinto, Augusto Schimdt, O. Tarquínio de Souza, Freitas Valle e Renato Toledo Lopes.
Numa sessão em 1º de março de 1934 na Sociedade Felippe de Oliveira, para fazer entrega do prêmio de 5:000$000 que aquela organização instituiu para a melhor obra de literatura nacional publicada durante o ano. A reunião foi presidida pelo ministro Tarquínio de Souza, do Tribunal de Contas. Depois de normalmente iniciada a sessão, teve a palavra o escritor ministro Ronald de Carvalho, que num discurso feliz e bem lançado analisou a pessoa e a obra de Felippe de Oliveira, tecendo encômios à sua ação no meio intelectual brasileiro.
A seguir referiu-se ao romance Os Corumbas distinguido pelo prêmio da Sociedade em 1933, examinando, em frases belas e expressivas, não só os pendores do seu autor, Amando Fontes, como sobretudo o poder de sua fértil imaginação.
Sucessivas Edições
Os Corumbas, livro constituído simplesmente como uma descrição rigorosamente realista e teve o mérito de chamar a atenção para o submundo das populações marginais urbanas do Nordeste. Por isso, Amando Fontes é considerado dentro do movimento literário regional de 1930, o primeiro romancista da vida urbana, ou seja, do romance proletário.
Mesmo tendo sido adotado pelo vestibular da Universidade Federal de Sergipe, o Programa de Avaliação Seriada – PAS, no período de 1998 a 2000, e o romance se encontrar em sua 23a edição (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1999), Amando Fontes é um dos menos conhecido entre os romancistas de 30 – um crítico chegou a afirmar que sua obra principal, Os Corumbas, não pode ser qualificada de romance.
Apesar de tudo, não é suficiente para que se tenha uma ideia da vitalidade e do poder de resistência desse livro, mesmo pela sua presença e atualidade em sucessivas edições. É mais que preciso ler Os Corumbas, para sair do semiesquecimento a que, compreensível, mas, injustamente, foi relegado até hoje.
Em nenhuma outra obra do romance de 30, mesmo naquelas da fase panfletária de Jorge Amado, a exploração e a miséria foram tão dramaticamente denunciadas. João Ribeiro (1860-1934) foi o primeiro crítico a manifestar-se na imprensa brasileira sobre o novo romancista, através da coluna Registro Literário, do dia, 3 de agosto do ano de 1933, publicado pelo Jornal do Brasil:
Esse romance forte é realmente um milagre da nossa literatura tão preocupada de futilidades e de luxuria. O Sr. Amando Fontes é um escritor raro e destemido a ser um dos mestres da geração nova. Tudo é belo nesse livro. Os personagens, a alma que os aviventa, o céu a terra, os campos, as árvores e o rio que sussurra levando para o mar as lágrimas dos homens e das coisas.
Otávio de Faria (1908-1980), um dos principais vultos da geração pré-modernista, num dos primeiros artigos sobre Os Corumbas, publicado na revista Boletim de Ariel (RJ), no 1, outubro de 1933, mensário, órgão da segunda fase do movimento modernista, diz o seguinte:
Não sei se o sr. Amando Fontes é superior, como romancista, ao sr. Jorge Amado. É muito cedo para afirmar qualquer coisa nesse sentido. Mas, por enquanto, uma coisa já é evidente: Os Corumbas é muito superior a Cacau. Os Corumbas têm mesmo, como romance, uma importância muito pouco comum¹.
Proibição
Um fato curioso ocorreu no Estado de Pernambuco, quando da proibição do romance de Armando Fontes Os Corumbas, quando o Interventor Lima Cavalcanti enviou ao também interventor (interino) de Pernambuco o seguinte telegrama a propósito da proibição da venda do romance Os Corumbas naquele Estado. O Telegrama foi publicado no Correio da Manhã, Rio de Janeiro, de 4 de fevereiro de 1934:
Interventor – Recife – Acabo de saber que a Ordem Social daí proibiu a venda de “Os Corumbas”, romance de Amando Fontes. Trata-se de um grande livro, de enorme sucesso em todo o país. Julgo verdadeiro disparate a proibição, pedindo-lhe falar com urgência ao capitão Rossini sobre essa inexplicável proibição, determinando ao mesmo tempo à Ordem Social que não continue proibindo a divulgação de um livro que aquém, como em todos os Estados, é largamente lido. Abraços – a) Lima Cavalcanti.
Fortuna Crítica
Plenamente vitoriosa a estreia deste excelente escritor sergipano, com o romance Os Corumbas, que segundo Jorge Amado “ler Os Corumbas equivale a fazer uma viagem a Sergipe, onde decorrem os acontecimentos do livro”. Basta realizar uma rápida consulta nos jornais sergipanos, entre 1933 a 1937 e verá a quantidade de artigos publicados sobre “Os Corumbas”, assinados pelos melhores críticos literários da época: Pinheiro de Lemos; Almiro R. Barbosa, Mário Cabral, Pedro Calmon, Jair Silva, Jorge Amado, Joel Silveira, Tasso da Silveira e outros.
————————-
¹ Aracaju. Jornal da Cidade, 4/5 de abril, 2001.
P. S.
Jorge Amado
Não o classificarei nessa ou naquela escola, mesmo porque não entendo disso. Também essa questão de escola e aproximações deixo para os críticos oficiais, que têm a obrigação do descobrir intenções sutis no volume.
No entanto, quero notar coisa, Os Corumbas não é um romance proletário. Se faço essa anotação é porque várias pessoas têm me afirmando que Amando Fontes realizou literatura proletária como o seu livro.
Primeiro, acho que as fronteiras que separam o romance proletário do romance burguês não estão ainda perfeitamente delimitadas. Mas já se advinham algumas. A literatura proletária é uma literatura de luta e de revolta. E de movimento de massa. Sem enredo e sem senso de imoralidade. Fixando vidas miseráveis sem piedade, mas com revolta. É mais crônica e panfleto (ver Judeus sem dinheiro, Passageiros de Terceira, O Cimento) do que romance no sentido burguês.
Boletim de Ariel. Rio de Janeiro, (292), julho de 1933.
==========
Amando Fontes
Andrade Muricy
Os Corumbas são um romance. Autêntico. Forte. Denso. Construído. Ninguém mais romancista do que Amando Fontes, nesta geração em que há tão poucos, mas tão preciosos ficcionistas. Outros levaram a expressão a requinte ou a precisão admirável; Aqui o estilo “flamboyant” de Plínio Salgado e, por vezes, de José Américo. Além, a matéria aglutinada, gelatinosa, substancial e caótica de Adelmo Magalhães. E a vivacidade camarada, sincera cheia de seiva, de João Alphonsus. E a abstração sensualíssima de Barreto Filho. E mais. Tanta riqueza. Talvez essencialmente mais rica do que a poesia, a prosa de ficção e de ensaio, desta vivaz gente nova.
A Nação – Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1933.
===================
Impressões Literárias
Manoel Bandeira
Os Corumbas é um romance indigesto.
Preciso explicar-me. Geralmente se diz da má literatura, dos livros mal feitos, que são indigestos. A expressão me parece imprópria. A má literatura é intragável, isso é o que ela é. Agora o bom livro, o livro rico de substância humana, rico de ensinamento ou de poesia, esse a gente o fecha pensando que acabou e o danado continua a remexer dentro da gente, coisa viva e imperecível que nunca pode ser inteiramente assimilada em nossa própria substância. Assim Os Corumbas. À proporção que me afasta da primeira impressão da leitura, as suas personagens passaram a me preocupar como gente que conheci de fato, cujo destino me abalou profundamente e de cuja lembrança nunca mais me libertei. E agora mesmo, virando-lhe as páginas em procura das notas que risquei à margem, senti as pontadas da emoção reavivarem-se aqui e ali, como a gente costuma sentir com elementos da própria experiência. Sobretudo com o caso de Caçulinha, a mais nova das Corumbas, talvez a figura feminina mais tocante de todos os romances brasileiros, criação admirável que por si só revela um grande romancista.
Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1933.
================
Os Corumbas
Gilberto Amado
Peço aos meus leitores que não vejam nas linhas abaixo uma manifestação de benevolência por ser o autor dos Corumbas sergipano. O meu bairrismo não influencia minhas simpatias literárias.
Esse romance que se passa em Sergipe é um dos raros livros sérios, compostos, orgânicos que têm sido feitos no Brasil. É um verdadeiro romance, sem enchimentos literários, sem rodeios críticos, sem amplificações, sem conversa fiada. Não é livro de um letrado. É produto de um talento ingênuo simples, mas forte e amplo, e apto, pela própria virgindade em que ficou, no alheamento da cultura, à representação direta da vida.
Boletim de Ariel. Rio de Janeiro (313) setembro de 1933.
============
Os Corumbas
Jordão de Oliveira
Trago comigo, estes dias, o orgulho de ter sido um dos primeiros a anunciar o grande livro de Amando Fontes – Os Corumbas.
Foi o ano passado, Amando convida-nos, alguns amigos, ao ouvirmos a leitura do seu manuscrito. Todos deram uma opinião. Lembro-me ter dito, apenas, que era um livro triste, para os católicos, um belo livro para os intelectuais, e um livro útil, para mim.
Tenho-o nas mãos, agora, editado pelo bom gosto de Frederico Schmidt. Li-o demoradamente, interrompendo, aos pedaços, como quem fala soluçando. E já não pude formular nenhum conceito, porque ele caiu de chofre e em bloco sobre a minha sensibilidade, com a imposição inevitável dos grandes acontecimentos naturais.
Um escritor feliz Amando Fontes. Teve a sorte de ofertar-nos um romance vigoroso que o coloca ao lado dos maiores escritores brasileiros.
Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1933.
==========
(*) É jornalista, professor universitário, membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do GPCIR/CNPq/UFS. Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Sergipe – E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
Deixar Um Comentário