GILFRANCISCO [*]
Capela antigamente era igreja ou oratório sem qualificação paroquial. Hoje, edifício religioso que geralmente, tem um altar, mas não é uma igreja paroquial ou monástica. É um templo cristão secundário. Normalmente são locais para atendimento religioso de grupo específico de pessoas ou comunidades religiosas. São usuais as capelas de aldeias, colégios, universidades, presídios, conventos, quartéis, hospitais, repartições públicas, fazendas, propriedades particulares, etc.
Uma das capelas mais famosa é A Capela Sistina, situada no Palácio Apostólico, residência oficial do Papa na Cidade-Estado do Vaticano. É famosa pela sua arquitetura, inspirada no templo de Salomão do Antigo Testamento e sua decoração em afrescos, pintada pelos maiores artistas da Renascença, incluindo Michelangelo, Rafael, Peru Gino e Sandro Botticelli. Sua construção iniciou-se em 1473, somente dez anos depois foi inaugurada.
Localizada no interior da fábrica de tecidos Sergipe Industrial, Bairro de Aracaju, encontra-se tombada, pelo Decreto nº 30.079, de 6 de outubro de 2015. Está sepultado na capela, o coronel José Augusto Cesar Ferraz e Thomaz Rodrigues da Cruz, ambos os diretores da fábrica. Vejamos a publicação do Estado de Sergipe de 20 de junho de 1905:
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A pequena Capela particular pertence à fábrica de tecidos “Sergipe Industrial”, ereta a São João Baptista, está situada na rua “Cayça”, nas imediações da mesma fábrica, e é tão mimosa e tão corretamente decorada, que merece as honras de uma descrição.
O edifício está para dentro de um gradil de ferro, que tem seu portão no centro para o mesmo, e cujos pilares em número de quatro, são cilíndricos e têm caneluras ou estrias.
Cada um deles sustenta uma das quatro virtudes, representadas por estatuetas de cimento: a Esperança, a Fé, a Prudência e a Temperança.
O espaço em que está construída a Igreja mede vinte um metros e oito centímetros (21m 08) de comprimento, sobre quatorze metros e noventa e sete centímetros de largura (14m 97). A Igreja mede exteriormente quinze metros e sessenta centímetros de comprida (15m 60), sobre sete metros e setenta e cinco centímetros de largura (7m 75). Tem três portas de frente e três janelas e uma porta cada um dos lados, sendo todas as portas e janelas semicirculares ou romanas.
Seus arcos são formados de bandeiras fixas construídas de caixinhas contendo seis vidros simetricamente disposto, sendo dois de cada uma das três cores: azul, vermelha e verde.
A construção da Capela obedece, mais ou menos, ao estilo da renascença, por quanto é uma combinação das ordens toscana e dórica com o estilo suíço, hoje muito em voga e conhecido sob a denominação comum de “Chalet”.
É a Capelinha toda rodeada de varandas ou alpendres, que tem como sustentáculo doze colunas de madeira de pequeno diâmetro; fiadas de lambrequins ornam todas as varandas.
Defronte do altar-mor sobre a porta principal, está o palanque ou estrada de altura conveniente, que serve de coro aos músicos e aos cantores da igreja. Em frente, em vez de balaústres ou colunelos, há uma grade envernizada sustentando a travessa ou corrimão, e uma pequena escola que dá acesso para esse lugar harmonioso.
Veem-se na Capela mor e no corpo da igreja quatro quadros parietais pintados a óleo pelo Sr. Ozéas Santos, talentoso artista, natural de Maroim e atualmente professor de desenho no “Instituto Nacional da Bahia”. Desses quadros um representa S. Thomaz, o outro Sta. Clara, outro São Eduardo e outro Santa Maria.
No centro do teto acha-se como linda decoração um circo formado de cinco grandes rosas, donde partem para diversos pontos das paredes da Capela oito raios compostos de fiadas de pequenas rosas belamente combinadas. No alto das portas e das janelas, bem como nos cantos da igreja, deparam-se nas quatorzes dálias de cores diferentes, lembrando muito bem a extraordinária variedade dessas flores que atualmente enriquecem os nossos jardins.
Há uma grande profusão de flores em ramalhetes no trono, e em grinaldas pelas paredes.
Todas as flores foram feitas pela hábil senhorita d. Julia Ribeiro, da Estância, e por um hábil florista desta cidade.
Na sacristia da direita está um assaz, onde guardam as alfais e paramentos, que possui a Capelinha em abundância, e, sobre ele, ergue-se uma bonita cruz, símbolo da redenção da humanidade. É aí que si revestem os Sacerdotes para os atos a executar.
Na sacristia da esquerda existe um lavatório, tendo como fundo um quadro de N. S. de Lourdes pintado na parede e de cujos pés jorram água, quando necessário. É um símile da prodigiosa fonte que dá origem a excelsa e venerável Senhora.
Capela: Quintino dos Santos, pedreiro; Manoel José de Cerqueira, carpinteiro e marceneiro; Leopoldo Regis, ferreiro; Isaias Profeta, pintor.
Celebram-se missas, quando em vez, e com a maior pompa as novenas e festas do excelso Padroeiro, na linda Capela que fica em ligeiros traços descrita, todos os anos, desde a sua inauguração; e foi nela que teve lugar o ato comovente e edificante da primeira comunhão solene, em 24 de junho passado, das distintas senhoritas, D. Belisana Ferraz, filha do coronel José Augusto Cezar Ferraz, D. Clarisse Barbosa, filha do Sr. Gustavo Barbosa e sobrinha do mesmo coronel; D. Lydia da Costa Bicho, filha de Antônio da Costa Bicho e D. Alberlina Iracema da Silva, filha de José Francisco da Silva.
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O Estado de Sergipe, edição nº 3463 de 10 de janeiro de 1911, registra a união matrimonial de Belisana e Genulpho:
O casamento de Belisana Ferraz na capela
Como noticiamos se realizou a 5 do corrente na chácara Ferraz, residência do ilustre Thales Ferraz o consórcio da exma. Senhorita Belisana Ferraz com o Dr. Genulpho Freire, escriturário do Tesouro Nacional.
As 6 horas da tarde no magnífico salão do elegante chalet se efetuou o ato civil, sendo, testemunhas os Drs. Thomaz Cruz e Daniel Campos.
A cerimônia religiosa foi celebrada na capela da Sergipe Industrial, importante estabelecimento fabril, dirigido pelo Dr. Thales Ferraz.
Foram padrinhos os mesmos cavalheiros testemunhas do ato civil e as exma. Sras. D. Anna Ferraz e madame Cornélio da Fonseca, genitoras dos noivos.
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O Diário da Manhã, edição nº01, de 1º de fevereiro de 1911, regista o consórcio do juiz Armando e Clara Cruz, filha do industrial Dr. Thomaz Cruz:
Casamento de Armando com Clara na Capela São João Batista
No domingo último, receberam-se por marido e mulher o ilustre conterrâneo Dr. Armando de Mesquita, íntegro juiz municipal do termo da capital, e a exma. D. Clara Cruz, digna e virtuosa filha do conceituado capitalista estimado cavalheiro, Sr. Dr. Thomaz Cruz.
Os atos civil e religioso realizaram-se no palacete dos pais da noiva, sendo testemunhas do civil os Drs. Oscar Prado e Manoel Cruz e as exma. dd. Carolina Cruz e Maria Rollemberg, e do religioso os Drs. Gonçalo Rollemberg e Felino Fontes e as exmas. Dd. Marietta da Cruz Prado e Rosa Prata.
Findas as cerimônias, e trocados os cumprimentos do estilo fez-se música e dança, prolongando-se estas até pela madrugada, sempre em crescente animação, quando retiraram-se os noivos para a sua residência à Rua da Aurora, acompanhados por todas as pessoas presentes.
O palacete do Sr. Dr. Thomas Cruz ostentava magnífica iluminação a álcool e acetileno, e estava decorado com arte e gosto.
Apresentada aos felizes noivos os nossos parabéns, fazendo sincero votos para que nenhuma sombra de desgosto venha esmaecer os seus dias futuros, sendo interminada a sua luz de mel.
Agradecemos o convite com que fomos distinguidos.
E março de 1912, depois de terminar sua visita na Barra dos Coqueiros, o bispo diocesano de Aracaju, José Thomaz Gomes da Silva foi transportado para o Bairro Industrial em escaler especial, sendo acompanhado pelos Srs. Conego João Florêncio, cura da Sé; major Costa Filho, deputado estadual. Na ponte da fábrica Sergipe Industrial o revmo. prelado foi recebido por numerosas pessoas. O palacete do Dr. Thales Ferraz teve em seus mastros hasteadas bandeiras à passagem do bispo, como também abriu suas portas e repicou seus sinos, a formosa capela da família Ferraz. O bispo entrou nessa capela São João Batista, onde fez orações, visitando em seguida todos os seus compartimentos.
Sete anos depois, a Coluna Vida Social do Correio de Aracaju de 30 de dezembro, anuncia o enlace Chaves-Ferraz: Eurídice Chaves e Lysippo Ferraz, realizado na Capela de São João Baptista, da fábrica de tecidos Sergipe Industrial:
Esteve requintadamente agradável e gracioso na sua intimidade o enlace nupcial realizado ontem às 11 horas da manhã, entre a senhorinha Eurydice Chaves e o Sr. Lysippo Ferraz; foi um casamento simultaneamente simples e encantador.
A noiva, angélica como todas as noivas no dia de uma união feliz; o noivo, o cavalheiro fino e possuidor de qualidades ilustres que todos n’ele reconhecem e admiram, formavam um conjunto harmonioso e distinto.
O ato civil, levado a efeito na residência dos pais da noiva, foi paraninfado pelo Dr. Thales Ferraz, coronel Gonçalo Rollemberg e mlls. Clarice Brandão e Berenice Chaves; do religioso, realizado na capela da fábrica “Sergipe Industrial”, foram testemunhas o Dr. Antônio Rollemberg e José Rollemberg.
Seguidamente foi oferecido lauto almoço aos convidados, servido no palacete da residência do ilustre Dr. Thales Ferraz. As champagne foram os recém-casados brindados com votos numerosos e repetidos de felicitações.
Ao novo e distinto casal desejamos que a aleluia de felicidade que hoje para ele se desfiou se prolongue muito extensamente, envolvendo-se nas sombras alegres de uma continua e longa ventura.
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No início do ano de 1949, segundo o Sergipe-Jornal de 6 de fevereiro, a Capela de São João Batista da fábrica Sergipe Industrial, passa por grande reforma; como ampliação, dotada de torre, altar de mármore, nova bancada e magnífica pintura:
Aproveitando a passagem de mais um aniversário da fundação da Fábrica Sergipe Industrial, agora no mês de fevereiro será realizada a cerimônia de inauguração da reforma da Capela.
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[*] É jornalista e escritor. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com
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