Por Rosa Meire, De Salvador

A Bahia amanheceu hoje enlutada com a morte em casa, no Bairro do Garcia, do sambista Clementino Rodrigues, o Riachão. Artista da velha guarda, Riachão morreu às 5 horas, junto à família, aos 98 anos. Durante a noite o artista sentiu-se mal, reclamou de dor estomacal e foi atendido por uma equipe médica em casa. A família do cantor e compositor confirmou a morte por causas naturais, através de um comunicado em uma rede social. O corpo de Riachão está sendo velado no Cemitério do Campo Santo, para onde foi levado. O enterro ocorreu às 16 horas, 30/3.

Embora com a idade avançada, Riachão gozava de boa saúde física e mental e se preparava para lançar um novo disco. A morte pegou a todos de surpresa. Riachão nasceu em 24 de novembro de 1921. Iniciou a carreira  batucando desde os 9 anos e passou a compor a partir dos 12 anos. Algumas de suas 500 canções foram interpretadas por artistas como Gilberto Gil e Caetano Veloso que regravaram “Cada macaco em seu galho” (Expresso 2222, 1972). Uma delas “Vá morar com o diabo” (Acústico MTV)  ganhou  interpretação única e fez muito sucesso em 2001 na voz da cantora Cássia Eller. Em 2013 lançou o CD Mundão de Ouro, em colaboração com a cantora e produtora Vania Abreu.

Recentemente durante o Carnaval 2020, Riachão demonstrou sua natural alegria durante a saída do bloco Mudança do Garcia, no bairro onde nasceu. Como vinha fazendo já há alguns anos,  assistiu à saída do cortejo da varanda de casa,  fim de linha do bairro e área de concentração do bloco.  Em 2015  Riachão ganhou homenagem, quando o circuito em que o bloco desfila na segunda-feira de Carnaval passou oficialmente a levar seu nome. O bloco sem cordas é conhecido pela irreverência e alegria, traduzidas em formas de protesto popular contra os políticos e as condições  econômicas e sociais do país.

Riachão deixou seu grande legado musical em uma pequena discografia, gravada já a partir da meia idade e distribuída por dezenas de intérpretes. Desde Umbigada da Baleia, 78 rotações (por volta da década de 1960); Sonho de Malandro (1973), Samba da Bahia (1975), Humanenochum, primeiro CD (2000), Riachão, segundo cd, (2001) e Mundão de Ouro, último cd (2013). Seu trabalho é comparável aos melhores da Velha Guarda do samba nacional, como a carioca Dona Ivone Lara; e a sambistas baianos, como Batatinha e Nelson Rufino.  O CD que planejava lançar este ano tinha como título provisório “Se Deus quiser, vou chegar aos 100”.  O samba da Bahia está hoje mais triste.

 

Foto: Wikipedia/ II_Encontro_Afro-Latino