Tereza Cristina Cerqueira da Graça (IHGSE)

José Vieira da Cruz (UFS/IHGSE)

A Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (RIHGSE), fundada em 1913, um dos periódicos mais longevos em atividade, tem como finalidade divulgar, difundir e estimular os conhecimentos relacionados à cultura, à memória e à história do Brasil a partir de Sergipe. Enlaçada por este propósito, assim como o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) ao qual está associada, os intelectuais que contribuem com este periódico ressoam valores republicanos, democráticos, culturais e do presente histórico de interesse da sociedade.

Desde a criação do Instituto e de sua Revista, inúmeros são os exemplos deste compromisso, envolvimento e relevância, dentre eles o apoio a campanha contra o analfabetismo e as diversas campanhas favoráveis a temáticas do desenvolvimento, direitos humanos e democracia, como: o petróleo é nosso, criação da Universidade Federal de Sergipe, o potássio é nosso, anistia de presos políticos da ditadura, uma nova Assembleia Nacional Constituinte, reforma agrária, Diretas-já entre outras; bem como de reuniões de partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais; além de atividades culturais como as da Sociedade de Cultura Artística (SCAS), grupos teatrais, Movimento Cultural Mandacaru e outros.

Inspirada neste histórico de significados a edição número 54, publicada em dois volumes, recentemente lançada, homenageia o legado evidenciado pela Instituição e por sua Revista, em particular, no que tange ao protagonismo intelectual em favor da cultura, consciência histórica e da democracia

Sob este foco, o primeiro volume desta publicação de 2024, denominado “Dossiê O Golpe de 1964+60: democracia, ditaduras e direitos humanos”, sob a coordenação dos pesquisadores José Vieira da Cruz, Célia Costa Cardoso e Anderson da Silva Almeida, selecionou sete artigos (disponível em: https://periodicos.ufs.br/rihgse/issue/view/1349 ). O primeiro, “A Vida pelo avesso: investigação e infiltração no setor público: o caso Nilton Pedro”, de autoria de Alexandre Firmo dos Santos – discute os impactos da vigilância política na vida de um servidor público. O segundo, ”Desvendando o enigma vermelho: Operação Cajueiro, PCB e crise partidária em Sergipe”, de Ronaldo de Jesus Nunes, estuda os desdobramentos da repressão política sobre os militantes e partidos de esquerda na década de 1970. O terceiro, “O encontro entre a Diocese de Propriá e o Golpe Militar de 1964”, de Osnar Santos, e o quarto artigo, “Jaime Wright: o reverendo dos Direitos Humanos durante a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985)”, de Felipe Duccini, analisam a posição de religiosos católicos e protestantes, respectivamente, em face da ordem imposta pelos golpistas e pela ditadura. Os dois seguintes, “Agentes da sétima arte: descortinamento histórico do Clube de Cinema na Ditadura Militar”, de Onesino Elias Miranda Neto, e “A censura na música sergipana (1964-1988)”, escrito por Tereza Cristina Cerqueira da Graça, descortinam a interferência da censura sobre os agentes culturais, bem como, sobre a circulação e a produção cinematográfica e musical. O sétimo “Os combates nas trevas de Milton Coelho: o petroleiro tornado cego pela Ditadura Militar”, de Afonso Nascimento, analisa a trajetória de um militante político torturado pela ditadura. Esta edição conta também com a resenha “Terezinha, uma intérprete de Manoel Bomfim”, de Samuel Albuquerque, e do “Maria do Carmo Alves, um gesto sempre lembrado”, escrito por Ibarê Dantas.

Capa da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (RIHGSE) – Foto: Divulgação

Este volume, pelos significados dos temas abordados e pela relevância do IHGSE – enquanto espaço de resistência democrática apropriado pelos movimentos políticos, sociais e culturais – é dedicado a José Silvério Leite Fontes, Maria Thetis Nunes, José Ibarê Costa Dantas, Aglaé D’Ávila Fontes e Beatriz Góes Dantas – intelectuais monitorados, vigiados e/ou processados pelos órgãos de segurança e informação a serviço dos golpistas e da ditadura.

O volume 2, por sua vez, acolhe contribuições do fluxo contínuo, avaliadas sob os cuidados editoriais das pesquisadoras Neide Sobral e Terezinha Oliva (disponível em: https://periodicos.ufs.br/rihgse/issue/view/1348 ). Dentre os temas selecionados: dois artigos versam sobre estudos da história política, três centram suas análises no campo da história de famílias e, por fim, o último artigo aborda a seara do campo religioso. Além de três textos da “Seção Casa de Sergipe”.

O primeiro artigo, “Cem anos da revolta de 1924”, de Ibarê Dantas, discute o centenário dos desdobramentos das revoltas tenentistas em Sergipe. O segundo, “Centralização de poder nos diretórios partidários: desafios na seleção de candidatos e a necessidade de uma Justiça Transicional Participativa”, escrito por Filipe Cortes de Menezes, analisa os modelos de representação político-partidária-participativa. No outro bloco de artigos, o texto “Um crescei e multiplicai… mulheres de família em Itabaiana”, de Maria Neide Sobral; o texto “Francisco Joze de Souza: um homem de família (1794)”, de Simone Amorim; e o texto

“Adiantando terras e gado: estratégias familiares e transmissão de propriedade em Porto da Folha (SE) no século XIX – a família Gonçalves Lima/Alves Feitosa”, de Lucas Oliveira de Jesus, focalizam trajetórias biográficas e significados históricos de enlaces familiares. O artigo “O Senhor dos Passos e a mudança da capital de Sergipe: histórias cruzadas entre a política e as devoções”, de Magno Francisco, por sua vez, discute o jogo político e religioso da mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju.

Já a “Seção Casa de Sergipe”, cumprindo o papel institucional deste periódico centenário, apresenta os escritos: “A interminável: uma gestão em tempos de obras que não acabam”, de Aglaé dÁvila Fontes, descrevendo os desafios atualmente enfrentados no curso da reforma do prédio do sodalício. Já o escrito coletivo “O estro e a presença de Aglaé d’Ávila Fontes: homenagem em seus 90 anos”, assinado pelos membros da Diretoria do IHGSE, Conselhos Editoriais da Revista e por colaboradores, homenageia a trajetória biográfica da atual presidente do Instituto. E, finalizando a seção, o texto “Museu da Gente Sergipana e IHGSE homenageiam Aglaé D’Ávila Fontes: um registro de Nove Atos de uma Vida”, de Tereza Cristina Cerqueira da Graça, descreve um momento cultural de homenagem acerca das contribuições de Aglaé Fontes para o campo da cultura.

Em síntese, a referida edição cumpre o ofício de discutir o passado, o presente e os significados para os horizontes de expectativas futuras, ao tempo que reconhece, destaca e homenageia intelectuais, ativistas e cidadãos que contribuíram para a cultura, consciência histórica e a democracia.