GILFRANCISCO (*)

“Não posso pensar como sindicalista. Tenho que pensar como governador do estado”

Marcelo Déda

Ouvi falar pela primeira vez do deputado Marcelo Déda, em 1994, por intermédio de meu irmão Jaime Francisco, na época profissional de vendas nesse estado, dos Tubos e Conexões Tigre. Como representante atuante nos 75 municípios, teve tempo suficiente para obter um panorama político do Estado e construir uma ideia própria, baseando-se em comentários de eleitores em território sergipano. Ao retornar ao final de cada semana a Salvador, durante o almoço ou uma caminhada pelas alamedas de Ipitanga, Lauro de Freitas, comentava a atuação de um jovem parlamentar sergipano, que vinha se destacando no cenário político nacional.

Quando cheguei à Aracaju, no início de fevereiro de 1996, para coordenar e chefiar o Departamento do curso de Letras, da Universidade Tiradentes – UNIT –, passei a acompanhá-lo melhor na sua trajetória política e a endossar as observações feitas por Jaime, sobre o estreante parlamentar federal.

Jornalista Marcos Cardoso, Marcelo Déda e o jornalista GILFRANCISCO – Foto: Arquivo Pessoal/GILFRANCISCO

Apesar de sermos de partidos diferentes, ideologicamente, comungamos no mesmo rosário, no mesmo abecê socialista, quis conhecê-lo pessoalmente. Nosso encontro foi breve e de impressão forte, não falei com ele, mas observei que seu rosto tinha a estampa viva de um triunfante jovem parlamentar. O ocorrido deu-se em 2004, quando da abertura da via de interligação do Conjunto Beira Mar I e II ao Conjunto Santa Tereza (rota de fuga). Ali tive a oportunidade de cumprimentá-lo, no momento em que passava pela porta da minha residência, dirigindo-se ao palanque, armado em frente ao Bar de Buarque, popular arrumadinho. Mas os vereadores Sérgio Góis e Emanuel Nascimento haviam me chamado para perguntar algo que no momento não me recordo, e fui desviado do tão esperado encontro com o prefeito. (…)

Jornal do Dia. Aracaju, Evoé Governador! 2 de outubro de 2012

Marcelo Déda Chagas

Marcelo Déda – Imagem: Reprodução

Nascido em Simão Dias (SE), localizada na região Centro-Sul, extremo Oeste do Estado, a 120 km de Aracaju, em 11 de março de 1960, o caçula de uma família de cinco irmãos: Claudio Dinart, Selma, Aparecida e Maria do Carmo, filhos de Manoel Celestino Chagas e de Zilda Déda Chagas. Déda cresceu na cidadezinha do interior sergipano, uma infância marcada pelas brincadeiras de ruas e por brinquedos feitos por artesãos. Em 11 de setembro de 1981, casa-se na igreja São José, em Aracaju, com Márcia Farias Barreto, a Bel Barreto, com quem teve três filhas: Marcela, Luísa e Yasmim. Separados desde 1999, Déda conhece em Brasília Eliane Aquino sua segundo esposa e desse relacionamento tiveram dois filhos, João Marcelo e Mateus.

Estudos

Aprendeu a ler e escrever no Grupo Escolar Fausto Cardoso, na cidade onde nascera. Nesse Grupo estudara a maior escritora sergipana, criada em Simão Dias, Alina Paim (1919-2011). Em 1969 seus pais vieram morar em Aracaju, mas ele permanece em Simão Dias, com a tia Eunice Oliveira. Somente aos treze anos o adolescente veio morar com os pais, no bairro São José e matriculou-se no Colégio Atheneu Sergipense, onde concluiu o ensino médio. O amor pelos livros deve ter ocorrido aos 15 anos quando conhece a biblioteca do avô José Carvalho Déda (1898-1968), que além de jornalista era escritor e político.

Leitura

José Carvalho Déda, avô de Marcelo Déda – Foto: Reprodução

As constantes leituras dos livros da Biblioteca do avô, lia também Alina Paim, principalmente o romance “Simão Dias” publicado em 1949, Jorge Amado, os próprios livros do avô, lia também os jornais da Imprensa Alternativa, como Pasquim, Movimento, Opinião e outros. Acompanhando as eleições de 1974 apaixonou-se pela política e participa de uma greve no Atheneu, contra a exigência da farda de gala para o desfile de Sete de Setembro, próximo a conclusão do ensino médio. O resultado da greve, foi a suspensão dos alunos além da obrigação de desfilarem com a farda usada no dia a dia.

Atheneu Sergipense

Nessa instituição de ensino, Déda foi presidente do cineclube, cineasta amador na bitola Super/8mm e, em 1979 recebe o Prêmio Especial do Juro no Festival de Cinema Amador de Sergipe. Nessa época, Déda e outros jovens de escolas pública e particulares, organizaram o Movimento Secundarista e a União Sergipana dos Estudantes Secundaristas – USES, época em que juntamente com alguns amigos, iniciou o processo de criação do Partido dos Trabalhadores – PT.

Diretas já – Eleição indireta de Tancredo Neves e aprovação da Constituinte

Diretas já foi o movimento político de cunho popular (1983) que teve com objetivo a retomada das eleições direta ao cargo de presidente da República no Brasil, durante a ditadura militar e civil brasileira. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República no Brasil durante o regime ditatorial, se concretizou com a votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso. No entanto, a proposta foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira. Ainda assim, os adeptos do movimento conquistaram uma vitória parcial em janeiro do ano seguinte (1984) quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral.

Manifestações

O movimento foi lançado em 1983, pelo então senador alagoano Teotônio Vilela (1917-1983), no programa Canal Livre da Rede Bandeirante. A primeira manifestação pública a favor das eleições diretas ocorreu no recém-emancipado município de Abreu e Lima-PE, em 31 de março de 1983, organizado por membros do Partido do MDB. Foi seguido por manifestações em Goiânia, em 15 de junho e em Curitiba em novembro do mesmo ano. Em 1984, o movimento ganhou massa crítica e reuniu condições para se mobilizar abertamente e os protestos começavam a acontecer em todo o país.

Em 25 de janeiro na cidade de São Paulo, mais de 1,5 milhão de pessoas se reuniram para declarar apoio ao Movimento das Diretas Já, ato liderado por Tancredo Neves, Franco Montoro, Orestes Quércia, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Luiz Inácio Lula da Silva e Pedro Simon, além de artistas e intelectuais engajados na causa.

Fenômeno Déda

Foto: Reprodução Capa do livro Marcelo Déda na Construção
da Democracia, de Ibarê Dantas

Título do editorial da Gazeta de Sergipe, fundada por Orlando Dantas (1900- 1982) e dirigida por Paulo Dantas Brandão edição nº8.415 de 22 de novembro de 1986:

Marcelo Déda, apesar da pouca idade, tem já um perfil político que é digno de louvores. Foi como Presidente do Diretório Central dos Estudantes que ele projetor o seu jeito simpático de fazer política, ainda que tenha vivido um dos mais estranhos e intrigantes episódios, quando se meteu quase em briga corporal com o então Prefeito Heráclito Rollemberg. Fez uma primeira incursão política pelo PT, para deputado e consegui somar, em todo o Estado, 236 votos. Isto mesmo, e mais nada. No ano passado retornou à cena, candidatando-se a Prefeitura de Aracaju, numa espécie de ousadia que surpreendeu a todos. A campanha, no entanto, resultou no grande êxito de chegar no honroso segundo lugar, batendo a candidato do PDS, o deputado federal Gilton Garcia, pessoa reconhecidamente mais conhecida, com mais traquejo e mais desenvoltura política.

A experiência de Aracaju animou a Marcelo Déda e ele se fez, muito naturalmente, um dos candidatos do PT à Assembleia Estadual. Nas conversas de rua, nos locais de trabalho, se falava sempre do nome do candidato, como se estivesse fadado a receber uma votação histórica como recorde. E assim foi. Uma votação que deixa os grandes partidos e os políticos sem uma justificativa final, da mesma forma com o revela a capacidade do povo em escolher, sempre que é possível, acima dos partidos e das divergências, aquele a quem quer colocar na glorificação do voto. Assim foi com Marcelo Déda, e ele obteve, em Aracaju, a mais espetacular, a maior e mais consagradora vitória que um candidato já obteve nesta cidade cheia de surpresas, cabeça do Estado e caixa de ressonância de todos os problemas sergipanos. (…)

Universidade

Em 1980, Marcelo Déda ingressou no curso de Direito, da Universidade Federal de Sergipe – UFS, período em que fundou o Cine Clube do Diretório Central dos Estudantes. Envolvido na política estudantil aos 22 anos, Déda concorreu pela primeira vez, a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe, mas só conseguiu 300 votos. Bacharel em Ciências Jurídicas em 1984, em plena campanha das Diretas já, Déda promoveu comícios em todo o Estado, até a realização do maior deles, em Aracaju, com mais de 30 mil pessoas e a presença de Ulisses Guimarães e Lula. Em 1985, o Partido dos Trabalhadores lançou Marcelo Déda candidato à Prefeitura da Capital, ficando em segundo lugar com quase 19 mil votos. Um ano depois, foi eleito deputado estadual com mais de 32 mil votos e quatro anos depois amargou uma derrota na tentativa de se reeleger.

Em 1994, com 26 mil votos, Marcelo Déda chegou à Câmara Federal e foi reeleito, em 1998 com 8.3 mil votos, a segunda maior votação proporcional do Brasil. Em 26 de maio de 2000 Marcelo Déda, na época um dos mais atuantes deputados federais do Brasil, ingressa no processo eleitoral como candidato a prefeito de Aracaju, sendo um dos últimos colocados nas pesquisa. Durante três meses de campanhas, Déda começa a colecionar saltos nas pesquisas, ganhando a eleição ainda no Primeiro turno. E com o título PT ganha eleição em Aracaju em primeiro turno, a Folha de São Paulo, publica em edição de 2 de outubro de 2000:

Após 16 anos de uma última vitória em uma capital no Nordeste, o PT vai comandar a prefeitura de Aracaju. O deputado federal Marcelo Déda venceu as eleições da capital sergipana, no primeiro turno, com 52,8 dos votos. A última vitória do PT em uma capital do Nordeste aconteceu em 1984, em Fortaleza (CE), com Maria Luiza Fontenelle. O segundo lugar em Aracaju ficou para o ex-prefeito José de Almeida Lima (PDT), com 22,5%, pouco à frente do senador Antônio Carlos Valadares (PSB), que ficou com 22,08 dos votos, Adelmo Macedo do (PHS), ficou com 1,53% dos votos e Ismael Silva, do PV, com 1,09%.

Déda comemorou a vitória em praça pública, no centro de Aracaju: “É a vitória de uma nova geração política de Sergipe, afirmou ele.

Em apenas duas das 2.972 seções eleitorais de Sergipe houve votação em cédula de papel por problemas irreparáveis com as urnas eletrônicas.

Jairo Marques

Em 2004, foi reeleito prefeito com 71,38% dos votos válidos. Em 31 de março de 2006, Déda renunciou ao mandato de Prefeito de Aracaju para encarar a disputa pelo Governo do Estado, sendo seu vice Belivaldo Chagas, também filho de Simão Dias, sendo eleito com 52,485 dos votos. Quatro anos mais tarde (2010) foi reeleito para o mesmo cargo.

Discurso de Posse

Marcelo Déda – Foto: Divulgação

Discurso de posse do Governador Marcelo Déda Chagas, realizado em 1º de janeiro de 2007, no Teatro Tobias Barreto. Vejamos um trecho:

Meus senhores e minhas senhoras, meus amigos e minhas amigas, meus companheiros e minhas companheiras, sou sergipano de Simão Dias e a minha vida inteira aqui travei a disputa política. Primeiro no movimento estudantil, organizando com tantos outros a resistência ao regime militar e a luta pela educação de qualidade, pela construção da democracia. Sempre fui, e não é hoje, quando os cabelos brancos começam a hegemonizar a minha cabeça que deixarei de ser, um homem de esquerda. Acredito na igualdade e no valor, acredito na luta popular como instrumento e creio, sinceramente, nas possibilidades que a humanidade tem de ser mais feliz, mais justa, longe de certas mazelas que a disputa, muitas vezes ilimitada, pelo que o lucro impõe.

Aprendi na minha trajetória que de fato o grande político que liderou a Inglaterra na resistência a Hitler, aqui citado pelo governador João Alves, tem razão. Não há regime mais desejado por quem ama a liberdade do que a democracia, e com todos os seus defeitos é o que melhor há para possibilitar a convivência entre os homens.

A democracia se alimenta da política e a política vive da disputa. A disputa permite que cada um de nós exponha os seus pontos de vista, represente os interesses sociais com quais temos base e proponhamos à população os projetos e programas que legitimarão nossa trajetória e a própria chegada ao poder.

Sou um adversário histórico do doutor João Alves. Pertenço a um partido que também enfrenta historicamente politicamente o PFL, mas devo dizer que o valor do adversário enobrece a vitória. Vossa Excelência é um líder de luta e eu fui criado na luta. Portanto, aqui hoje face a face recebendo de suas mãos o governo do Estado, é meu dever registrar que foi dura a campanha porque eu enfrentei um guerreiro.

Quero dizer que acredito na tolerância. Muitos filósofos franceses têm problemas semânticos em expressar a tolerância, mas também é uma expressão que nem a filosofia e nem a ciência política produziu outra a substituir. A tolerância não significa concordar com aquilo que as pessoas dizem.

A tolerância não significa aderir àquilo que as pessoas querem, mas a tolerância é fundamental à vida civilizada e indispensável à democracia. É preciso saber ouvir quem pensa diferente. Quando não, para produzir melhores argumentos e construir maiores vitórias, mas é indispensável o respeito na política e na vida cotidiana.

Recebo o governo do Estado e assumo as altas responsabilidades que essa investidura significa.

Tenho a exata dimensão do momento histórico que vivo. Tenho preservadas as minhas posições e conservadas as minhas críticas, mas sem dúvida de que nada é fruto de apenas um, nada surge de uma experiência isolada.

A construção do Estado de Sergipe se valeu dos esforços de muitos grandes ilustres sergipanos. Muitos dos quais não comungavam as minhas teses, nem apoiavam as minhas ideias, mas todos deram a sua contribuição, e o povo, do alto da sua sabedoria e exercitando a sua soberania, escolhe-os, muda-os, premia-os, pune-os, porque essa também é a grande lei da democracia. A democracia não tem donos: os governadores, presidentes e prefeitos não são monarcas, nem déspotas, cuja vontade é indiscutível e os objetivos incontestáveis.

Reeleição

Após vencer novamente no 1º turno em 2010, sendo que nesse pleito a sua vitória já foi mais apertada, tinha como vice, Jackson Barreto, e mais uma vez derrotaram João Alves Filho. A cerimônia de posse do Governador Marcelo Déda Chagas, ocorreu no dia 1º de janeiro de 2011no Teatro Tobias Barreto.

Entre os muitos convidados, estavam a primeira dama do Estado, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Luiz Mendonça, o presidente do Tribunal de Contas do Estado – TCE, conselheiro Reinaldo Moura, além de vários deputados estaduais, secretários de Estado, vereadores e prefeitos de municípios do interior sergipano. Vejamos um trecho do discurso:

Exmº Sra. Deputada Angélica Guimarães, Presidente da Assembleia Legislativa

Exmº Sr. Desembargador Roberto Porto, Presidente do Tribunal de Justiça

Exmº Sr. Promotor de Justiça Orlando Rochadel, Procurador Geral de Justiça,

Exmº Sr. Conselheiro Reinaldo Moura, Presidente do Tribunal de Contas

Sergipanas e Sergipanos,

No alvorecer da civilização ocidental, quando o chamado milagre grego apresentava ao mundo a Filosofia, um homem chamado Heráclito, nascido em Éfeso, na Jônia, e considerado o mais importante dos filósofos pré-socráticos, pensava o mundo como expressão de mudança contínua e o movimento como realidade última e verdadeira. No decorrer das suas reflexões, Heráclito de Éfeso produziu um pensamento, dos mais conhecidos e citados, que pode assim ser exposto: Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio: suas águas não são as mesmas e nós jamais seremos os mesmos.

Há quatro anos, num primeiro de janeiro como hoje, compareci a esta casa para prestar juramento de fidelidade à Constituição e assumir o Governo do Estado de Sergipe, eleito que fora, em primeiro turno nas eleições do dia 01 de outubro de 2006.

Hoje, retorno a esta Casa para, mais uma vez, prestar compromisso e assumir, por mais um mandato o Governo do meu Estado, eleito que fui, também em primeiro turno, nas eleições do dia 03 de outubro do ano que ontem se findou.

Mas, o rio em que hora mergulho já não é mais o mesmo e eu, como homem e político, carrego agora uma experiência pessoal e política que não possuía naquela solenidade de outrora.

O Governo que assumo neste momento, já não é o mesmo que assumi há quatro anos. Um processo complexo e difícil, mas, também, inexorável, produziu mudanças na qualidade da gestão, nas práticas administrativas e no conteúdo das políticas públicas que executa.

O Estado de Sergipe experimentou um período de transformações e mudanças, cujos resultados se espalham em todo o seu território, se fazem presente em todas as áreas da sua vida social e econômica e já podem ser aferidos e mensurados, traduzindo-se em vida nova para milhares de sergipanos.

No já distante primeiro de janeiro de 2007, adentrei este plenário acompanhado deste extraordinário homem público sergipano que é Belivaldo Chagas, companheiro fiel, vice- governador leal, amigo solidário, cuja competência e capacidade de trabalho, somadas às qualidades do seu caráter, mereceram a admiração e o aplauso da nossa gente.

Hoje, venho em companhia desta legenda da luta política e social de Sergipe, o ex-prefeito, ex- deputado federal, ex-deputado estadual e ex-vereador, Jackson Barreto, vice-governador do nosso estado, ora empossado. Referência da luta contra o regime militar, nos mandatos parlamentares que exerceu àquela época, Jackson foi o prefeito que incorporou a periferia à geografia administrativa da Prefeitura de Aracaju, tirando da retórica para a prática o compromisso efetivo com os mais pobres da nossa cidade. Não conheço quem o ultrapasse em sincero e devotado amor ao nosso povo. Filho de uma família pobre de Santa Rosa de Lima, Jackson Barreto, aprendeu com a sua mãe, a professora Neuzice Barreto, o exemplo da resistência à opressão e as lições de coragem cívica. Militante do antigo PSD, foi constantemente perseguida pelos adversários e inúmeras vezes transferida para os recantos mais longínquos do nosso estado. Mas não se dobrou aos poderosos nem aceitou a sentença de um senhor de engenho que, ao negar-lhe uma oportunidade para educar os filhos, lhe dissera que ainda havia vagas no eito da usina para os seus meninos cortarem cana. Neuzice, como aquela mãe coragem eternizada na personagem de Máximo Górky, não aceitou que o futuro dos seus filhos fosse definido pelo desprezo e pela insensibilidade do oligarca. Enfrentou-o. Engajou-se na política e no trabalho e ao lado do seu querido esposo…………, conheceu as maiores privações, mas não cedeu à humilhação, criando a sua família com amor e desvelo e legando a todos o seu exemplo de mulher, de mãe, de cidadã brasileira.

A única razão de um político que tem uma referência ideológica concorrer a uma reeleição, é a vontade de fazer melhor, no segundo governo, do que fez no primeiro. Se não houver essa vontade e esse desejo, a reeleição fica sendo apenas um ato de vaidade. E, não é isso que eu vejo na política. A política não é um instrumento para massagear o ego, é uma ferramenta para fazer bem ao povo.

Marcelo Déda

Morte e Repercussão

Afastado do cargo de governador desde o dia 28 de maio de 2013, passando o cargo ao vice-governador Jackson Barreto, desde então, Déda dedicou-se ao tratamento em tempo integral, sempre acompanhado da mulher, Eliane Aquino e frequentemente dos filhos. Marcelo Déda foi diagnosticado com câncer em 2009, mas não resistiu a luta corporal e faleceu aos 53 anos, às 4h 45 da madrugada do dia 2 de dezembro de 2013, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde estava internado para tratar de problemas decorrente de câncer no estômago e no pâncreas.

O Brasil e o Estado de Sergipe perderam hoje um grande homem. Marcelo Deda exerceu a Política com P maiúsculo. Eu perdi hoje um grande amigo, daqueles das horas boas e más. Deda fará falta. Mas seu exemplo nos guiará. 

Dilma Rousseff, presidente da República

Marcelo Déda foi um exemplo de dignidade e compromisso público na atividade política. Ajudou a construir o Partido dos Trabalhadores e teve uma trajetória brilhante como representante do povo na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados, como prefeito de Aracaju e finalmente como governador de Sergipe, sempre com sua atenção voltada aos mais pobres e ao desenvolvimento do seu estado. O legado do seu trabalho viverá para sempre na memória dos sergipanos e de todos que o conheceram. Sergipe perdeu um grande governador, o Brasil perdeu um excepcional homem público e Marisa e eu perdemos também um grande amigo, compadre e irmão.

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República

Cheguei em Montevidéu (Uruguai) agora para uma reunião do Parlamento do Mercosul e lamento muito por não estar em São Paulo neste momento. O governador Marcelo Déda constituiu uma das principais lideranças da história do PT e sempre se distinguiu. Quando deputado federal, deu uma contribuição extraordinária para o estado de Sergipe e também para o Brasil. Era uma pessoa tão querida pelo povo de Sergipe que foi duas vezes eleito governador, e sempre com um grau de aprovação por parte do povo muito forte. Nas reuniões da direção do PT, onde tantas vezes estive com ele, ele sempre deu uma contribuição extremamente positiva, com muito bom senso e sempre caracterizado também por uma percepção do que era o melhor caminho para a realização da justiça. Certamente, perdemos um dos nossos principais valores, mas cujo exemplo de determinação e vontade inabalável de construir um Brasil justo vai ficar sempre muito presente entre nós.

Senador Eduardo Suplicy (PT-SP)

Instituto Marcelo Déda

Fundado em 22 de abril em 22 de abril de 2014, em Aracaju, é uma organização da sociedade civil, apartidária e sem fins lucrativo, que entre seus objetivos e finalidades visa o tratamento, custódia e a promoção, lato sensu, do arquivo pessoal de Marcelo Déda Chagas. Conforme o diretor executivo, José de Oliveira Junior:

O IMD também tem por finalidade a difusão das crenças, do ideário político, social e cultural que fundamentaram Marcelo Déda em vida, além do estabelecimento, articulação e fomento de programas da igualdade, da cidadania, da justiça social e da promoção do desenvolvimento econômico e social para o combate à pobreza.

O acervo do Instituto Marcelo Déda encontra-se na sala “Marcelo Déda” que foi criada na Biblioteca Pública Epifânio Dória por se tornar acessível ao público. Lá, os visitantes poderão conhecer documentos, objetos, livros relacionados à história do ex-governador. São mais de 100 mil documentos no banco de dados.

Foto: Reprodução Capa do livro Improvável Poética, de Marcelo Déda

Em 2017 a Universidade Federal de Sergipe e o Instituto Marcelo Déda celebraram termo de cooperação técnica, científica e pedagógica. Segundo Eliane Aquino, viúva de Marcelo Déda e ex-presidente do IMD, afirma que a parceria tem dois objetivos:

Um deles é disponibilizar todo o acervo de que dispomos – que dizem respeito à sua atuação como político, estadista, poeta, intelectual – para a comunidade acadêmica, a quem queira utilizar esse material em projetos de extensão, de pesquisa. Outro objetivo é a promoção de projetos com atuação na responsabilidade social.

Fotos: Reprodução

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(*) É jornalista, escritor, Doutor Honoris Causa concedido pela UFS. Membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do CPCIR/CNPq/UFS. E-mail: gilfrancisco.santos@gmail.com